Espiritualidade

Jesus, o pão da vida

São João, no capítulo sexto de seu Evangelho, apresenta a Boa Nova em torno do quarto sinal, o pão. Nesse relato, Jesus alimenta uma multidão faminta em lugar distante dos vilarejos, após os discípulos lhe apresentarem “cinco pães e dois peixes” para serem repartidos. Após este fato, aqueles que vivenciaram a experiência da ‘multiplicação dos pães’ passaram a buscar Jesus incessantemente. Mas, no reencontro, foram repreendidos pelo Mestre, que disse-lhes: “comeram os pães e ficaram saciados, e não viram sinais” (Jo 6, 26). 

Talvez a dura realidade não lhes permitia vislumbrar um horizonte maior, sobretudo porque quem tinha a incumbência de lhes dar pão se preocupava apenas em acumular para proveito próprio. Quando Jesus diz que “não viram sinais”, certamente estava se referindo ao fato de que a partilha que se seguiu à oferta dos “cinco pães e dois peixes” não os sensibilizou a ponto de assumirem um novo modo de vida. Haviam participado de ‘uma bela ceia’, e não foram capazes de perceber o seu significado mais profundo.  

A situação descrita nessa altura do capítulo sexto de João encontra paralelos na atualidade. Hoje, a proposta do bem-estar tem sido o grande norte para muitos. A busca dessa satisfação tem tornado essas pessoas cada vez mais ciosas de seus próprios interesses. E, em consequência, tendem à atitude de indiferença ao sofrer alheio e para com os desafios postos pela realidade social. 

O Papa Francisco, reiteradamente, tem feito alusão ao perigo deste fenômeno que se dissemina nas sociedades juntamente com a globalização. Pois portas vão se fechando aos migrantes, retrocessos ocorrem em alguns direitos já consagrados, o mesmo com políticas públicas, um agravante à dura rotina dos mais pobres. Além do mais, o descaso com a alteridade sedimenta a via para a circulação das fake news , devastadoras para a honra alheia, recurso letal em tempos de eleição. A situação acenada tem gerado crises na vida das pessoas e nas várias dimensões da vida social. O agravante é que tal situação se aprofunda sem que surja uma resposta adequada para esta travessia.

Jesus é a resposta às dificuldades da convivência humana e das situações existências de cada ser humano. A figura do pão associada a Jesus neste trecho do Evangelho de João é expressiva. Neste pão que se parte, até ficar desfigurado, Deus sacia de amor eterno a humanidade. Este alimento que “permanece até a vida eterna” (Jo 6, 27) é a resposta de Deus aos seus filhos e filhas para que não lhes falte o alento na caminhada.

A Igreja recebe o pão da vida eterna na celebração eucarística. Esse dom maior sustenta a vida nova dos discípulos e discípulas de Jesus, que deve se pautar na partilha do ‘pão e do peixe’. A comunhão com Cristo implica a comunhão com o irmão. 

A Eucaristia, assim celebrada, tem o poder de fecundar o momento presente em vista do advento de um ambiente permeado de fraternidade, solidariedade e paz. Que nossa Senhora Assunta aos céus interceda para que não falte este pão.
 

 

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