Editorial

Imagem Viva de Cristo

A expressão utilizada no Antigo Testamento para falar a respeito da investidura de sacerdotes, se traduzida literalmente do Grego, significa “encher as mãos”, no sentido de que as mãos do sacerdote são enchidas com pedaços do sacrifício que deve ser queimado no altar (Ex 29,22-35 – ver nota na Bíblia de Jerusalém). Mas que sacrifício é esse? Naquela época, poderia tratar-se, por exemplo, de incenso - hoje, após o nascimento, morte e ressurreição de Nosso Senhor, é conhecido o que enche as mãos de todos os sacerdotes: o próprio Cristo, que se ofereceu por nós na Cruz, num sacrifício que perdura e se manifesta diariamente em todos os altares sobre os quais reza- -se a Santa Missa. 

Talvez seja por isso que uma antiga tradição da Igreja diz que um sacerdote pode dar à própria mãe o pano que, durante sua ordenação, o Bispo utilizou para limpar o óleo com que ungiu suas mãos. Caso isso aconteça, a mãe do sacerdote poderá ser enterrada com este pano - chamado manustérgio - e quando estiver diante de Deus e Ele lhe perguntar, “Eu te dei a vida. O que você me deu?”, ela, entregando-Lhe o manustérgio, responderá: “Eu Te entreguei meu filho como sacerdote” - e o Senhor lhe abrirá as portas do Paraíso. As mãos do sacerdote são preparadas para se encherem de Cristo, e as mãos de sua mãe, que o deram a Deus, recebem a prova de sua entrega. 

Há nessa imagem, da mãe que entrega o filho a Deus para que seja sacerdote, uma verdade: o abandono nas mãos de Deus para que Ele mesmo faça, a partir do homem, um padre. Separado do mundo para servir a Deus, mas vivendo em meio ao Povo de Deus no mundo, o sacerdote é mais do que homem - de acordo com São João Paulo II, na Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis, de 1992: a verdade plena da identidade do presbítero encontra-se em ser uma “derivação, uma participação específica e uma continuação única do próprio Cristo, sumo e único sacerdote da Nova e Eterna Aliança”, como “uma imagem viva e transparente de Cristo Sacerdote”.

É pela pessoa do sacerdote que a Igreja se torna capaz de cumprir as ordens de Cristo para que anuncie o Evangelho - “Ide, pois, ensinai todas as nações” (Mt 28,19) - e para que, nas palavras de São João Paulo II, renovem “todos os dias o sacrifício do seu Corpo entregue e do seu Sangue derramado pela vida do mundo” - “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). 

São João Maria Vianney, que viveu no interior da França no século XIX, é um exemplo de presbítero que se tornou “imagem viva e transparente de Cristo Sacerdote”. Chamado de Cura D’ars, ele conseguiu, por meio de uma vida santa, graças para converter toda uma cidade, outrora entregue a um ateísmo não muito diferente do que se vê nos dias de hoje. Padroeiro de todos os sacerdotes, São João Maria Vianney enxergava nos padres o que os separa dos homens - que é, também, o que os une a eles: “Com fé, vemos Deus escondido no padre como a luz atrás do vidro, como vinho misturado com água”.

 

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