Editorial

Ignorar as Sagradas Escrituras é ignorar a Cristo

A Santa Igreja Católica, em sua missão de santificação universal, sempre propôs e sustentou o mais belo e pleno ideal de vida: a identificação total de cada pessoa em particular – respeitando e elevando toda a riqueza de sua inigualável individualidade – com Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. É essa a nossa cristificação, obra inefável da graça, que implica também a nossa cooperação. O Cristianismo não é, portanto, a religião de um livro, mas da própria Palavra de Deus, que – ó bondade admirável! – se fez homem (cf. Catecismo da Igreja Católica, CIC 108).

Esse incomparável ideal, por estar envolto por tão esplêndida claridade, como que imerso no oceano infinito do mistério divino, corre o risco de ser apequenado pelo nosso orgulho ou pelas nossas debilidades.

Mas Deus, nosso Pai, em sua infinita misericórdia, não quis nos deixar desamparados. Tendo oferecido o amorosíssimo sacrifício de seu Filho unigênito na Cruz em prol de nossa salvação, deixou-nos a sua Igreja para nos guiar com seus ensinamentos e nos confirmar com a efusão da graça pelos sacramentos no caminho de fé e amor que devemos trilhar nesta vida. Esta mesma Igreja, dotada do carisma do Magistério infalível no que tange à Tradição apostólica, recolheu os livros da Bíblia, o “Cânon” das Escrituras (46 escritos para o Antigo Testamento e 27 para o Novo), pois é a ela que estão confiadas a transmissão e a interpretação da Revelação. Desse modo, a autoridade das Sagradas Escrituras depende diretamente da autoridade da Igreja, Corpo Místico da única verdadeira Autoridade, Nosso Senhor Jesus Cristo. Considerar a Bíblia como autoridade única ou máxima conduz a uma insuperável contradição: em nenhum lugar a Bíblia afirma isso de si mesma!

Portanto, é somente a Igreja que tem autoridade para afirmar que “na redação dos livros sagrados, Deus escolheu homens [...], a fim de que, agindo Ele próprio neles e por meio deles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que ele queria” (Dei Verbum, DV, 11). Desse modo, Deus é verdadeiramente o autor da Sagrada Escritura.

Podemos, então, entender a importância das Escrituras, “que a Igreja venera como venera também o Corpo do Senhor” (CIC, 103). É nelas que a Igreja encontra seu alimento e sua força, pois elas são realmente Palavra de Deus e “ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus, em vista de nossa salvação, quis que fosse consignada” (DV, 11). De maneira muito especial, é nos Evangelhos que conhecemos o próprio Cristo e aprendemos a amá-lo e a imitá-lo.

Ora, se assim o é para a Igreja, assim deve ser para cada um de nós: devemos também nos alimentar espiritualmente com a leitura da Bíblia, fonte de vida interior e de fecundidade apostólica. Um bom modo de fazê-lo é a lectio divina, a leitura pausada e meditada de uma passagem bíblica que permite alcançar seu sentido mais profundo, e à qual se segue um diálogo pessoal com o próprio Deus em filial abandono. Lembremo-nos de que, como tudo o que Jesus Cristo disse ou fez nesta terra tem valor de eternidade, Ele o disse e fez para nós hoje!

Que aproveitemos este mês de setembro, que é o “Mês da Bíblia”, para cultivar uma maior intimidade com a Palavra de Deus escrita. Como diz São Jerônimo, “quem ignora as Escrituras, ignora o próprio Cristo”, e não podemos amar o que não conhecemos.

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