Editorial

‘Eu te mostrarei o caminho para o céu’

Duzentos anos após a chegada, em 1818, do Padre João Maria Vianney a Ars, os peregrinos que entram no vilarejo francês se deparam com uma curiosa estátua. Nela, Padre Vianney – o “Cura d’Ars” - inclina-se para um menino, olhando-o ao mesmo tempo em que, com o indicador direito, aponta para o céu. Trata-se do primeiro encontro que o santo teve com um paroquiano local, assim que chegou. A uma criança que lhe indicara a direção por onde se entrava na cidade, respondeu: “Mostraste-me o caminho para Ars; eu te mostrarei o caminho para o Céu!”. 

Mostrar o caminho para o Céu: conduzir o povo à vida eterna, indicando-lhe Aquele que disse “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6) …. Este é o resumo da biografia do Cura d’Ars, escolhido pela Igreja como Patrono dos padres. “Ó, meus queridos paroquianos, esforcemo-nos para ir para o Céu! Lá, haveremos de ver a Deus. Como seremos felizes!”, repetia do púlpito com amor.

São João Maria se preocupava com o bem-estar de seu povo. Construiu uma grande obra para abrigar crianças pobres e pregava enfaticamente sobre a necessidade das esmolas e obras de misericórdia corporais: dar comida e roupas aos pobres, visitar os enfermos, acolher desabrigados, enterrar os mortos…. Mas, a sua preocupação, digamos, “social” possuía uma motivação e uma finalidade muito claras: Deus. Cuidar do próximo era, para ele, condição para se estar com Deus e se alcançar a vida eterna. 

Desdobrava-se entre muitas tarefas: oração, caridade, sacramentos, pregação, visitas, ensino, estudo… Mas o que lhe conferia unidade de vida era uma só coisa: ser, principalmente, um homem de Deus. Era justamente isso que procuravam as multidões sedentas que iam a Ars para se confessar, pedir um conselho ou bênção; e é isso que as pessoas (católicas ou não) esperam, ainda hoje, de um padre: que seja um homem de Deus! 

O Cura d’Ars era “de Deus” porque vivia “em Deus”. Dava à oração prioridade absoluta, pois sabia que dela provinha a sua eficácia extraordinária: conversões, milagres, surgimento de vocações…. Ele descobriu o prazer da oração, à qual chamava a “íntima união em que Deus e a alma são como dois pedaços de cera fundidos num só”. A Santa Missa diária era a fonte da fecundidade de seu ministério, para a qual se preparava já de madrugada, no silêncio, a sós com Deus. Trabalhando muito e dormindo pouco, aprendeu a descansar no Senhor, encontrando no Sacrário “uma suavidade e doçura que inebria e uma luz que envolve”. Por causa dessa união, fruía, ao longo de todo o dia, da presença do Senhor, de Nossa Senhora e de Santa Filomena, a quem recorria tanto

Sua oração era fortalecida pela penitência. O Santo dizia que, nas confissões, impunha aos fiéis penitências pequenas porque ele mesmo se encarregava de desagravar, com jejuns e noites no chão, os pecados com que seu povo ofendia a Deus. Atendendo até 17 horas de confissões por dia, mesmo extenuado, continuava a administrar o perdão: “Vamos despregar o Senhor da Cruz…”. E a cada sofrimento ou dificuldade, longe de se irritar ou abater, sabia-se ainda mais unido Àquele que era a causa e o fim do seu trabalho: Jesus. “Pregado” no confessionário, podia dizer com São Paulo: “Estou crucificado com Cristo. Eu vivo, mas não eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,1920). Certa vez, um indivíduo incrédulo que fora a Ars por mera curiosidade acabou voltando convertido, após confessar-se e recuperar a fé cristã. O motivo? “Encontrei a Deus em um homem”. 

Nesta semana, em que celebramos o dia da memória litúrgica do Cura d´Ars, pedimos a Deus por todos os padres da Arquidiocese de São Paulo, para que, sob sua intercessão, sejam sacerdotes bons e fiéis, homens de Deus. E pedimos também que o exemplo de sua vida santa nos faça a todos compreender que, como ele mesmo costumava ensinar, “o tesouro do cristão não está na terra, mas nos céus”.
 

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