Liturgia e Vida

‘Esforçai-vos não pelo alimento que se perde’

18º DOMINGO DO TEMPO COMUM

O demônio oferecera pão a Jesus no deserto. Nada mais “justo” do que, depois de 40 dias jejuando, usar os poderes divinos para comer esse alimento humilde e essencial. O Senhor, porém, rechaçou a proposta como uma tentação: “Não só de pão vive o homem, mas de tudo o que sai da boca de Deus” (Dt 8,3). 

A velha serpente sabe que, para os justos, a tentação não reside no que é imoral e vergonhoso, e sim no que é aparentemente bom e não ultrapassa critérios meramente humanos. Propõe- -lhes uma “justiça” que exclui o sobrenatural, o sacrifício e a Revelação, e que, portanto, é terrena, mundana e demoníaca. “Se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5,20): o Senhor nos pede uma justiça excedente, para além do “razoável”; pede-nos a justiça da fé, que somente Ele realiza em nós! 

Por isso, ao introduzir o discurso sobre a Eucaristia, Jesus repreendeu aqueles que O buscavam por se haverem saciado na multiplicação dos pães: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna” (Jo 6,27). Não existe perigo maior a homens “bons” do que preocupar-se com coisas nobres e legítimas - como a manutenção da vida e da saúde -, mas esquecer-se da oração, dos sacramentos, dos mandamentos… do próprio Deus! 

Há quem ande por caminhos claramente maus: “imoralidade sexual, impureza, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, ciúmes, iras, intrigas, discórdias, facções, invejas, bebedeiras, orgias” e que “não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5,21). Mas há outros que, embora sejam até “bons”, arriscam-se por esquecerem-se do Primeiro e principal Mandamento: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6,5).

São os que cuidam da família, não roubam, trabalham, não mentem, são até altruístas… mas esquecem-se de que sem amor e obediência a Deus não há verdadeira Sabedoria, nem Justiça, nem Salvação. E de que precisamos d’Ele mais do que do alimento, do ar e da saúde. Por isso, em outra passagem, Jesus revela: “o Meu alimento é fazer a vontade do Pai” (cf. Jo 4,34): aqui está a verdadeira Vida do homem.  

Não à toa, Padres da Igreja viam o pedido do Pai-Nosso “O pão nosso de cada dia nos dai hoje” (Mt 6,11) como uma súplica não pelo alimento corporal, mas pelo Pão espiritual, que excede toda substância (“epiousios”). Por meio desta oração, pedimos “que permaneçamos em Cristo, não nos separemos de Sua santificação e do Seu Corpo” (São Cipriano); ou “Aquele Pão que supera todas as criaturas, ou seja, o Corpo de Cristo” (São Jerônimo); ou ainda “que recebamos o pão cotidiano e espiritual, isto é, os preceitos divinos” (Santo Agostinho). 

Que a Eucaristia, a Palavra de Deus e a obediência a Seus preceitos sejam para nós o verdadeiro alimento cotidiano! 

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