Comportamento

Enxergar a criança

Em minhas aventuras educativas, muito tenho vivido e aprendido no que diz respeito às relações entre adultos e crianças! É muito rica a oportunidade de conhecer as pessoas, ouvi-las, buscar uma sintonia com o que sentem, com seus medos, suas fantasias...  Às vezes, encanto-me, outras me surpreendo, outras me assusto. Estamos vivendo uma época de muitas mudanças, de muitas novidades, de excessivas informações e teorias. Isso tudo dificulta, e muito, o papel educativo dos pais. Dificulta no sentido de torná-lo um desafio maior, mais exigente, que pede mais reflexões e mais ações. 

As crianças são tão estimuladas e participam de tal modo do mundo adulto que, por vezes, os próprios pais têm dificuldades de enxergá-las como crianças, ou seja, pessoas regidas por desejos e impulsos, que ainda não têm plena consciência do que é real e do que é imaginário, que ainda apresentam uma fala incoerente, que precisam aprender valores e critérios, ou seja, que têm um funcionamento próprio de quem está em processo de crescimento, aprendizagem e desenvolvimento. 

Nessa sociedade capitalista em que vivemos, as crianças são o tempo todo usadas para estimular o consumo e, sem que percebamos, vamos comprando a ideia de que são pequenos adultos. As roupas das crianças são miniaturas das roupas dos adultos, o “cardápio” de programas e aplicativos infantis é imenso, os pequenos ganham o “direito” de escolherem e de falarem em pé de igualdade com os adultos, ou melhor, direito de escolher maior do que o dos adultos – afinal, vejo muitos pais abrindo mão do que consideram melhor, porque os filhos querem algo diferente.  Pais dividem com filhos pequenos preocupações e observações próprias dos adultos, crendo que de algum modo isso os ajudará a formar critérios e adequar comportamentos.  No entanto, isso somente os confunde, tornando-os inseguros e ansiosos.

Atenção, pais: quando fazemos isso, estamos enxergando nossas crianças como miniaturas de adultos e não estamos sendo continentes às suas necessidades para um desenvolvimento saudável. Acabamos gerando angústias e ansiedades excessivas, deixando- -as submetidas aos seus impulsos, ou seja, à deriva. Deixamos os pequenos ao sabor dos ventos e tempestades, e o que é pior: sem percebermos que ainda não têm os instrumentos necessários para enfrentar essa situação. 

Que grande alegria se, por trás de todo esse aparato criado em torno dos filhos, conseguirmos enxergar crianças que necessitam de nós – de nossos cuidados, de orientações e de limites firmes, claros e amorosos. Enxergar a fragilidade de quem está iniciando a vida, de quem entrou num campo e precisa de orientações para entender como se joga, para saber que habilidades precisa ter para jogar, o que e quando se perde e se ganha, o que é considerado jogada boa, falta, penalidade.... Aos poucos, nós adultos, vamos percebendo se estão aptos ao jogo, em que posição jogam melhor, em que aspectos precisam ser mais treinados, quando precisam ser tirados do jogo.  Enfim, somos os treinadores e isso precisa ficar claro para nós e para eles. Serem vistos com as possibilidades que têm é libertador, confortante, e produz extrema sensação de acolhimento e alegria nos pequenos. Precisamos protegê-los de seus próprios impulsos e, principalmente, dessa mentalidade capitalista que os incita o tempo todo a querer, querer e querer.

 Ser criança é maravilhoso, é uma parte pequena e fascinante da vida. Uma fase de grandes pequenas alegrias, conquistas, aprendizagens. Não vamos privá-los dessa riqueza! 

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