Opinião

Deus nos criou à sua imagem

“Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou” (Gn 1,27). Belíssima passagem da Sagrada Escritura.  Estamos no coração de Deus desde todo o sempre. Nós refletimos o tempo e o conjugamos em períodos: passado, presente e futuro. Porém, Deus é sempre presente. Portanto, estamos no presente de Deus na criação, como dom gratuito, e no hoje de Deus, como ressurreição, para o Eterno. Nascemos de Deus e seremos eternamente por e com Deus.
No período da Patrística, muitos foram os Padres da Igreja que sustentaram a Doutrina Católica, segura e reta, tendo os Livros Sagrados como fonte e a santidade pessoal como instrumento para a graça. Santo Irineu de Lion, nascido em 130 e falecido em 202, foi o grande defensor do homem como Imago Dei, isto é, o homem como Imagem de Deus.  Santo Irineu utilizou a passagem bíblica relatada no livro do Gênesis. 
Quando falamos em imagem, logo nos transportamos a um espelho. O espelho reflete a imagem que vemos ou a imagem que gostaríamos de ver. Excelente argumento para enxergarmos nós mesmos, pelo menos aquilo que vemos refletido. Há quem não goste de ver a própria imagem. Outros utilizam inúmeros recursos para retocar ou mudar completamente sua imagem. Em tempos midiáticos, alguns se valem de perfis falsos para se apresentar. Um espelho limpo tende a mostrar, de fato, com nitidez aquilo que somos.  
Como vemos o mundo?  Como ele se mostra? Encontramos uma imagem querida e projetada por Deus? Ou observamos uma imagem horrenda e distorcida da obra criada por Deus? Como estão as relações humanas? Certamente no coração de Deus não havia guerra, morte, fome, peste, calamidade, destruição e tantas outras situações adversas. No livro do Gênesis, lemos que Deus criou o mundo, e, ao final de cada dia, disse: “E Deus viu tudo quanto havia feito e achou que era muito bom” (Gn 1,31). Como entender o caos que a sociedade está vivendo? Como compreender os distúrbios das relações humanas? Onde entra a nossa colaboração para diagnosticar e perceber o caos, para postular e assumir a harmonia e ordem desejadas por Deus?
Somos chamados a refletir sobre a situação em que o mundo se encontra. Aí entra nitidamente a imagem do espelho. Devemos tomar um espelho do tamanho natural de cada um de nós. Diante dele, vemos a nossa própria imagem refletida. O que vemos por fora é o que somos por dentro. “Pois é de dentro, do coração humano, que saem as más intenções: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios, ambições desmedidas, perversidades, fraude, devassidão, inveja, calúnia, orgulho e insensatez. Todas essas coisas saem de dentro, e são elas que tornam alguém impuro” (Mc 7,21). 
Estamos vivendo um momento riquíssimo na Liturgia da Igreja. A Quaresma é o tempo de conversão por excelência. Enquanto estamos no tempo presente, os nossos olhos miram o tempo eterno. De fato, “é agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6,2). A figura do espelho vem para mostrar a imagem do que somos ou como nos encontramos. Para vivermos o tempo da Quaresma como momento oportuno de transformação, mais que olharmos o outro como referência dos nossos questionamentos, devemos querer mudança pessoal, sobretudo naquilo que vemos refletidos no espelho e que faz o indicativo de nós mesmos. Quaresma, portanto, nos faz propor caminharmos bem para o querer em Deus.

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