Comportamento

Da livre e espontânea vontade

Conforme prometido em 29 de janeiro deste ano, continuaremos com o tema do casamento e suas dificuldades na atualidade. Das três condições fundamentais para se casar – livre e espontânea vontade; fidelidade incondicional até a morte e abertura generosa e responsável aos filhos –, a primeira diz respeito aos noivos separadamente, ou seja, cada um responde por si mesmo. É certo que nas outras duas condições os dois participam individualmente, mas na fidelidade já há o compromisso de um para com o outro. A fidelidade sempre implica compromisso com algo ou com alguém em concreto, como trataremos depois. Na terceira condição, a relação implica compromisso dos dois com Deus, o que será apresentado posteriormente. 
Certa vez, ao perguntar a um homem num curso de noivos porque iria casar-se na Igreja, obtive a seguinte resposta: “Porque o pai dela quer”. Quebra-se aqui a condição de liberdade. Não se está decidindo por si mesmo, mas porque outro quer ou, de certa forma, exige. Quem se apresenta para casar, apresenta-se por querer próprio, despertado e chamado a viver um amor que não poderia existir a não ser pelo encontro da pessoa amada. E aí apresenta-se livre e espontaneamente; ninguém o empurra para isso. Ocorre em consequência da alegria que brota da intimidade do coração, de modo sincero, natural, simples e voluntário, por ter encontrado aquele(a) que o(a) complementa, como ser que ama e se sente amado(a). 
A liberdade é um dos principais assuntos da educação durante toda a vida, apresentando seus primeiros passos ainda na infância, embora só poderá se concretizar plenamente com os anos do amadurecimento. Desde criança, precisamos aprender a escolher. Para tanto, precisamos ser educados em critérios que formem o nosso discernimento:  “Escolher o quê? E para quê?” Se uma criança não aprende a escolher um doce na vitrina, depois uma roupa para vestir, mais tarde uma profissão a se dedicar... como poderá estar preparada para “escolher” a pessoa com quem deseja passar a sua vida?! 
Casar não é escolher um doce, ou mesmo uma profissão. Escolher não é o verbo mais apropriado para casamento. Como foi dito, casar implica uma manifestação espontânea que nos toca de modo singular nas entranhas do coração que ama. Como diriam alguns, não escolho aquele amor, mas me sinto alegremente escolhido, chamado por ele. Tudo muito romântico, como em contos de fadas. Contudo, a decisão de casar-se não se faz súbita, em decorrência de uma paixão. É possível, e se encontram histórias de paixões avassaladoras, em casamentos que ocorreram como um raio, mas que tiveram duração eterna. O leitor concordará que são exceções à regra. Qual regra? O casamento é ato de Amor. E o Amor está vinculado ao querer, e para querer é necessário conhecer, e eu só posso querer se tenho liberdade; e mais, se estou preparado a exercê-la pelo melhor caminho. Daí saber escolher doces e roupas na infância, para posteriormente estar amadurecido a assumir o casamento.
Nos tempos atuais, para qualquer decisão, a quantidade de opções se multiplica cada vez mais. Vai se tornando cada vez mais difícil saber escolher. Pesquisas apontam que, quando cresce exageradamente as opções, crescem junto a angústia e insegurança de quem escolhe. Isso é facilmente verificado naquela moça que, após entrar em quatro lojas, repletas de calçados, consegue sair delas sem nenhum par. E caso tenha muito dinheiro, sairá com muitos, alguns que nem sequer usará, porque não soube escolher o que queria. A falta de educação que nos propicie discernimento acarreta a angústia da insegurança de estar tomando a decisão errada. Esta é uma característica frequente em nossos jovens. Discernir, como dito, é escolher o quê e para quê. Isso implica formação de uma personalidade que saiba distinguir entre escolher um prato para o almoço ou férias em Portugal. No primeiro caso, não há muito o que ficar pensando. Mas, no segundo, pode exigir uma avaliação de muitos aspectos que envolvem não só a própria pessoa, como os acompanhantes, custo de passagens e estadas, que poderão exigir certo sacrifício econômico. O querer do segundo caso é mais exigente do que o do primeiro. 
Concluindo, sem exaurir o assunto, tomar a decisão de querer casar-se com aquela pessoa (que não será um almoço ou uma viagem) exigirá um conhecimento maior, sem que falte a magia dos sentimentos e reações imprevisíveis. É um comprometimento que não se fará com qualquer outra pessoa e que nos acompanhará por toda a vida. Aprender a querer, com discernimento, para sermos livres na decisão de casar é fundamental. Esta é uma das dificuldades de hoje. “Não está fácil se casar”.

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