Comportamento

Copa do Mundo: a que assistimos?

Terminada a Copa do Mundo, com uma participação tímida do Brasil, por não dizer melancólica, a exemplo de outros grandes como Alemanha, Argentina, Espanha e a esperançosa Seleção de Portugal, é necessário fazer uma reflexão comportamental a respeito do assunto. Não é uma análise técnica futebolística, apesar de sermos 200 milhões de técnicos no Brasil. 

A preparação: Incrível a fortuna investida no evento maior do futebol. Mais uma vez, o país sede deverá ficar com vários “elefantes brancos”, visto que em algumas cidades, a exemplo do que ocorreu em 2010 na África do Sul, sequer existem times de futebol. Uma fábula por um mês, num país onde os problemas sociais não são pequenos, mas escondidos, como no nosso querido Brasil em 2014. É semelhante ao casal que prepara uma festa no melhor salão da cidade e quando volta da lua de mel em Paris, endividado, vai morar de favor num quarto e cozinha na periferia mais distante, por longos anos... Algo de se estranhar. 

Segundo: As expectativas diante das estrelas que chegaram com uma luminosidade de ofuscar o sol, e rapidamente não eram mais do que fósforos apagados, com queda na bolsa de valores de seus títulos. Os jogadores são avaliados nos seus méritos pela cotação na bolsa! Assim, outros que entraram em baixa, tiveram suas ações hipervalorizadas e agora serão negociados, até a próxima Copa, a preço de petróleo em alta. 

Terceiro: O desempenho dos jogadores. Alguns fatos. Incrível que um time constituído por atletas amadores venceu espantosamente, com elenco que somado não valeria a chuteira em leilão do atleta principal do adversário! A constatação que muitos atletas já entravam cansados era visível. Desgastados por treinos? Nunca! Um desgaste decorrente de uma vida totalmente contra o esporte. Lá estavam modelos de propagandas de marcas famosas, figurantes de grandes festas sociais que se prolongam noites adentro, e outras atividades pouco esportivas que não devem ser mencionadas. É evidente que tudo regado a milhões de dólares, deixando jovens imaturos e totalmente despreparados para a fama, como drogados pelo sucesso. E agora querem que corram em campo. Alguns técnicos afirmaram que nunca conseguiram fazer um coletivo completo devido à impossibilidade de reunir todo o elenco, em função das agendas sociais e marqueteiras exaustivas de seus atletas. Atletas que perderam o fôlego... 

Mais: Assistimos o desmoronamento de ídolos, apresentados a crianças e jovens como modelos de sucesso no mundo atual. Todos perfeitamente produzidos em registros fantasiosos fantásticos, com cenas computadorizadas, que deixam os olhos de qualquer inocente, inexperiente, achando que aquilo é realidade. No campo, assistiu-se à frustração da inexistência da magia, de uma representação ridícula por faltas suspeitas, de solicitações lamuriosas de cartões contra seus “agressores”, de desculpas sem argumentações que se sustentem. Um cenário lamentável, em que ainda se escuta por gritos isolados de apoio e compaixão, procedentes de uma torcida transtornada e triste, ou de alguns representantes da imprensa. O hexa virá mais tarde. Na próxima... Quem sabe?!

Grande festa, com uma final inesperada. Tudo correu bem. Uma fortuna foi angariada para instituições que não revertem seus lucros em benefício do verdadeiro esporte ou de iniciativas para o lazer sadio da população. Antes que a tristeza tome conta da realidade, já se anunciou a próxima: Catar, o mundo da fantasia. Promete superar todas as copas anteriores. Esperamos que o faça no nível do futebol, na qualificação de seus atletas, nos desdobramentos de seus lucros para uma população carente que tanto necessita de uma vida em que existam atividades com esportes saudáveis. Uma sociedade que precisa ver em seus ídolos verdadeiros homens dedicados e comprometidos ao que se destinam fazer. E mais: com salários dignos, sim, mas que não aviltem a miséria da humanidade, sendo cotados na bolsa de valores como mercadorias. Do quarto e cozinha na periferia, onde se mora, olhar-se-á para os monumentais estádios construídos, agora silenciosos, com certa nostalgia: que saudades quando assistíamos somente ao futebol, com suor na camisa e bola nos pés. 

 

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