Liturgia e Vida

‘Conhecerão que sois meus discípulos se tiverdes amor’ (Jo 13,35)

O Evangelho deste domingo inicia-se com a saída de Judas da Última Ceia: depois de comer do mesmo prato, levantou-se para trair o Senhor, conforme estava previsto (cf. Sl 41,9). E conclui-se com a declaração de Jesus sobre o traço característico dos Seus verdadeiros seguidores: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13,35). Que contraste! De um lado, a traição; do outro, o Mandamento Novo do amor: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13,34).

Judas não era verdadeiro discípulo. Não amava o Senhor e tampouco os irmãos. Sua traição não foi somente uma ofensa gravíssima a Jesus. Além de contribuir decisivamente para o sofrimento da Paixão, esse ato influiu diretamente na vida dos demais membros da Igreja: Pedro, João, Maria Madalena e, principalmente, Nossa Senhora… Todos padeceriam, na “pele” e no coração, as consequências de sua infidelidade. Afinal, a Igreja é um corpo! A ruína de um membro enfermo multiplica os sofrimentos e trabalhos dos membros sãos.

Porém, a traição infligida a Cristo e à comunidade não prevaleceria. Por isso, assim que Judas virou as costas, Nosso Senhor disse: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele” (Jo 13,31). De certo modo, era inevitável que houvesse infidelidade e traição. O Senhor mesmo dissera: “O Filho do Homem será entregue, segundo o que está determinado, mas ai daquele homem por quem Ele é traído!” (Lc 22,22). Contudo, Deus – maior e mais poderoso – utilizaria a maldade humana para nos salvar e ser glorificado.

Traído, Cristo praticaria o Seu maior ato de Amor e Redenção. Bebendo o cálice até a última gota, daria o exemplo de amor por excelência, pois “ninguém possui amor maior do que aquele que dá a vida pelos amigos” (Jo 15,13). Entregue à morte de Cruz pelo beijo de Judas, deixar-nos-ia os meios necessários para que também nós sejamos capazes de amar. Pois, do Sacrifício da Cruz – renovado diariamente na Santa Missa – vem toda a força e a eficácia dos cristãos. Do sangue e água que correm do Coração perfurado pela lança, vêm-nos os sacramentos que comunicam o Amor sobrenatural.

O mistério de Judas acompanhará a Igreja até o fim dos tempos. Enquanto muitos trabalham e amam, outros destroem, traem e fazem sofrer. Porém, em meio a tudo isso, o Senhor será sempre glorificado. Pois sempre haverá discípulos verdadeiros, isto é, cristãos fiéis, que, em meio a dificuldades e num mundo adverso, continuarão amando e dando frutos de conversão e santidade. Afinal, “nisto é glorificado Meu Pai: em que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos. Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Permanecei no meu amor” (Jo 15,8-9). Que o Senhor nos ensine a amar! E que participemos com alegria e esperança – por amor! – dos sofrimentos infligidos ao Seu Corpo.

 

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