Espiritualidade

Como ovelhas sem pastor

"Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34). A Arquidiocese de São Paulo entrou recentemente no caminho sinodal e vive este bonito momento de sua história evangelizadora nesta cidade imensa. Sabemos que depois de ter enviado os doze discípulos em missão, no retorno, estes são convidados por Jesus para um descanso, que é interrompido pela numerosa multidão que busca por Jesus incansavelmente (Mc 6,33). Ao ver a multidão como ovelhas sem pastor, Jesus abandona o descanso para poder atendê-las. Como Jesus, somos interpelados a ver as numerosas multidões que na cidade de São Paulo vagueiam de um lado para o outro, como ovelhas sem pastor.

Entre tantas outras, os analfabetos, os sem-teto, os desempregados, os dependentes químicos, os encarcerados, o povo de rua, são multidões que não podem ficar escondidas ou fora do nosso olhar compassivo de cristãos e pastores. Andando pelas ruas da cidade, choca- -nos a realidade na qual vivem tantos irmãos e irmãs nossos. 

O Papa Francisco nos convida para uma Igreja em saída. Para uma igreja compromissada com a causa daqueles que mais sofrem, aberta às necessidades e desafios de uma evangelização renovadora. 

O sínodo da Arquidiocese nos convida a um caminho de conversão, comunhão e renovação missionária. Jesus é o nosso modelo. Com a sua vida e atitudes, Ele nos indica o caminho a seguir, o caminho da compaixão (Mc 6,34). A vivência da fé cristã, tanto pessoal como comunitária, requer amor, misericórdia, compaixão. Ter compaixão é saber se colocar no lugar do outro, sentir as suas dores, os seus sofrimentos, os seus apelos. Amor, misericórdia, piedade são sinônimos de um mesmo e profundo sentimento. O contrário é a frieza, a insensibilidade, a impassibilidade, a apatia, o distanciamento, a indiferença. Ver essa grande multidão de pobres e sofredores de nossa cidade desperta em mim e em você um sentimento de compaixão ou de indiferença?

O sentimento de compaixão despertado em Jesus o levou a imediatamente se colocar a serviço dessa multidão, de modo que Ele se pôs a ensiná-la. A ensiná-la que Deus ama a todos igualmente (Tg 2, 1-6), razão pela qual não se justificam os sofrimentos causados pela desigualdade social, pela violência, pelas injustiças. No seguimento de Jesus, abraçando a caminhada sinodal da Arquidiocese de São Paulo, somos também interpelados a ensinar com o testemunho de nossa vida, sobretudo às multidões que mais sofrem, que Deus não faz distinção de pessoas. Que Ele ama a todos como filhos e filhas e que a todos perdoa. Ensinar que os doentes, os marginalizados, os empobrecidos são os filhos prediletos de Deus, e que suas vidas e seus sofrimentos clamam diretamente aos céus. Ensiná-la que a proposta de amor de Deus por nós não é imposição ou exclusiva, mas de liberdade e inclusiva. Que é força que renova a pessoa inteira e todas as coisas, obras da sua criação.

Ensinar que Cristo nasceu e por nós morreu, deixando-nos o amor de uns pelos outros: “Amais-vos, uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,12).
 

Dom Eduardo Vieira dos Santos
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.