Fé e Cidadania

‘Caminho Suave’: da cartilha ao discipulado

No dia 15 de outubro, comemorou-se o Dia do Professor. A data me fez lembrar da cartilha “Caminho Suave”, escrita pela educadora paulista Branca Alves de Lima, em 1948. Ela nasceu em São Paulo, em 1911, e faleceu em 2001. Essa cartilha, recheada de desenhos e cores, foi a base do meu processo formativo. Digo, com todas as letras, que fui presenteado no meu caminho educativo e de formação humano-cristã. 

Fui educado em Monte Alto (SP), na Escola Pública Dr. Raul da Rocha Medeiros. Os anos 60, do século passado, com inúmeros acontecimentos e desenvolvimento no campo das ciências, novos saberes e novas descobertas, ora se entrelaçavam, ora buscavam rumos diversos. A educação nas escolas públicas, sem sombra de dúvida, formava cidadãos e, simultaneamente, alicerçava os valores familiares e religiosos. Tínhamos, além da grade curricular, o Ensino Religioso. Tenho muito presente na memória que raríssimos alunos saíam da classe quando a professora nos ensinava a disciplina.

 
Lembro-me de que nós aprendíamos as vogais clara e suavemente, com as letras e referências lúdicas do cotidiano, chamada alfabetização pela imagem, que reportavam nosso imaginário e nosso mundo conhecido: A de abelha; E de elefante; O de ovo e U de unha. Recordo-me de que, quando estava na letra I, era indicado o I de Igreja. Na sala de aula, como memória fotográfica e registrada, a Igreja do desenho assemelhava-se ao Santuário do Senhor Bom Jesus. Isto é, a Igreja da cartilha identificava-se com a igreja matriz da cidade.

 
Hoje, parece-nos que, quando ouvimos ou lemos sobre Igreja, o I da cartilha “Caminho Suave” se distanciou das primeiras horas do meu processo formativo humano e religioso. Por vezes, e em tempo liquidificado, o I se identifica com insatisfação, indiferença, intolerância, incompreensão, incerteza etc. Mudaram-se os tempos e vieram outras cartilhas e outros modos no ensino-aprendizagem. Revolucionou-se o método de ensinar? Diferenciou-se o lugar da Igreja na sociedade? Qual, de fato, é o papel da Igreja no momento hodierno?

Do caminho suave da minha primeira cartilha, do século passado, surgiram novos caminhos. Vê-se, hoje, a sociedade pluralista, tanto no campo da Educação quanto na temática religiosa. Sabemos que, desde a época da Proclamação da República, em 1889, o Catolicismo deixou de ser a religião oficial do Estado. Porém, nos anos 1960, das muitas revoluções, ainda persistíamos no educar e aprender, identificando a letra I com a Igreja, formalmente apresentada com a Igreja Católica.   

Mudaram-se os tempos! Como devemos nos portar, como cristãos católicos, no hoje da História? Sem melancolia ou saudosismo, podemos apresentar a letra I de indicar propostas, instruir com respeito ao outro, incrementar nosso diálogo; e apontar Jesus Cristo como o Caminho que queremos conhecer e trilhar. Sem dúvida alguma, o caminho nem sempre é suave, mas deve ser a meta que devemos buscar e alcançar.

Recordemo-nos sempre de que, ao indicar Jesus Cristo como nosso itinerário cotidiano – “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6) –, devemos, também, apresentar as condições do discipulado, que Ele mesmo nos mostra: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me” (Lc 9,23).  

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