Editorial

Acolher, proteger, promover e integrar

Todo estrangeiro que bate à nossa porta é uma ocasião de encontro com Cristo. Assim afirmou o Papa Francisco em sua mensagem para a Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado, publicada no dia 21. Muito antes, São Bento já dizia em sua regra monástica que os hóspedes deveriam ser recebidos “como o próprio Cristo”, o que originou a forte tradição de hospitalidade entre religiosos beneditinos. Para eles, o hóspede deve ter a mesma proteção e cuidado conferidos aos próprios monges, inclusive aos superiores das comunidades. 

De forma semelhante, o Papa Francisco nos ensina que a Igreja, assim como Jesus, deve acolher as pessoas em situação de dificuldade. Nesse sentido, o migrante e o refugiado merecem ser acompanhados da partida à chegada, diz o Papa. “Acolher, proteger, promover e integrar” são os quatro verbos da sua mensagem sobre o problema migratório – questão que, no Vaticano, ele tem conduzido em primeira pessoa.

“Acolher” não significa simplesmente deixar todos entrarem no país indiscriminadamente, mas “oferecer a migrantes e refugiados possibilidades mais amplas de ingresso seguro e legal”, melhorar as entradas, oferecer vistos temporários para casos especiais e, acima de tudo, não expulsar arbitrariamente aqueles que já chegaram, mandando-os de volta para um cenário de guerra.

Para um refugiado, muitas vezes voltar para o seu país é caminhar na direção da morte. Se sair é arriscar a vida, ficar ou voltar é encontrar certamente seu fim. A Igreja defende a vida da concepção à morte natural. Ser a favor da vida é, sim, ser contrário ao aborto ou qualquer ameaça ao nascituro. Mas, é também defender a vida humana em todas as suas etapas. Em todos os casos, a Igreja se coloca ao lado dos mais frágeis.

O segundo verbo é “proteger” a dignidade humana, de forma a encontrá-la em toda e qualquer pessoa, com o intuito de garantir seus direitos básicos. No caso dos migrantes, ajudá-los a se estabelecer, a encontrar um trabalho digno e, quando apropriado, colaborar para que voltem para casa em segurança são formas concretas de aplicação desse princípio. O status de “migrante” não deveria torná-lo cidadão de segunda classe.

“Promover” é, portanto, contribuir para que a população anfitriã e os hóspedes possam se enriquecer com a presença do outro e realizar-se como seres humanos. No caso dos migrantes, trata-se de reconhecer valores, estimular e mesmo aprender  o que há de bom. 

Por fim, “integrar”. Como dizia São João Paulo II, “o contato com o outro nos leva a descobrir o seu ‘segredo’, para abrirse a ele e para acolher os seus aspectos válidos e, assim, contribuir para um maior conhecimento mútuo”. Integrar é favorecer o encontro. Como dizia São Bento: “Se queremos encontrar um lar sob a tenda [do Senhor], no seu reino, recordemos que é impossível chegar lá sem correr na direção da meta, operando o bem”.
 

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