Liturgia e Vida

‘A paz esteja convosco’

SEGUNDO DOMINGO DA PÁSCOA – 19 DE ABRIL DE 2020

No Evangelho do Domingo na Oitava da Páscoa, Jesus ressuscitado faz duas visitas aos Apóstolos que se encontravam “a portas fechadas” e “com medo” (Jo 20,19). Numa situação de reclusão e temor, não muito diferente da que vivemos hoje, por três vezes o Senhor lhes disse: “A paz esteja convosco!”

Não era um simples apoio motivacional. Jesus insistiu - “A paz esteja convosco!” - porque Ele veio ao mundo para trazer a paz. No seu nascimento, os Anjos cantaram: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados!” (Lc 2,14). Na sua morte, Ele “restabeleceu a paz pelo seu sangue derramado na cruz” (Cl 1,20). O Senhor veio para reconciliar os homens com Deus e, por consequência, entre si.

Afinal, o pecado é o que gera a divisão da alma e da sociedade. Dele provém os homicídios, roubos e a violência, mas também os medos, aflições, tristezas e desesperações que cindem os corações e roubam a paz. Por isso, no Evangelho, depois de dizer “A paz esteja convosco”, o Senhor instituiu o “Sacramento da Paz”, a Confissão: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados” (Jo 20,22s). No Céu, libertos de uma vez por todas do pecado e da divisão interior que traz consigo, viveremos um amor perfeito a Deus, cujo fruto será uma paz que supera todo entendimento.

Porém, já neste mundo, a busca pela santidade consiste em uma cotidiana busca pela paz de Cristo. Não à toa, na Última Ceia, o Senhor disse: “Eu vos deixo a paz, a minha paz vos dou; não como o mundo dá, Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração, nem se intimide” (Jo 14,27). A paz é fruto da caridade de Jesus, que recebemos no Batismo e nos demais sacramentos. Assim como a caridade, ela não é simplesmente um sentimento bom, mas um dom de Deus que deve ser buscado e exercitado.

A manutenção da paz em situações difíceis supõe um contínuo exercício da fé, da esperança e do amor. Exige que nos esqueçamos de nós mesmos e deixemos de lado a imaginação, os temores e a preocupação com o futuro. Para se receber a paz, são necessárias algumas atitudes que por si mesmas nos unem a Deus e ao próximo: a oração contínua, o pensamento voltado aos demais, o otimismo, a alegria, a fortaleza de ânimo, a confiança no Senhor. A paz requer também a humildade de recomeçarmos sua busca com simplicidade sempre que a perdermos!

Ao contrário do que a maioria pensa, a paz não é o resultado espontâneo de circunstâncias externas favoráveis! A paz é fruto de uma árdua e contínua luta interior que se alicerça em dois fundamentos: a esperança na vida eterna e a certeza de que somos filhos de Deus. Jesus, o Príncipe da Paz (cf. Is 9,5), é o maior exemplo disso. Diante do cansaço, das calúnias, da injustiça e da morte, Ele manteve a paz, ainda que atormentado pela dor. Ao Se reencontrar com os Apóstolos após a Ressurreição, não usa de dureza ou indignação, apesar de terem fugido no momento difícil… Apenas diz: “A paz esteja convosco!”. E nós Lhe dizemos: Dai-nos a Vossa paz!

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