Espiritualidade

A liberdade de Deus

“ Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha!’ O filho respondeu: ‘Não quero’. Mas, depois, mudou de opinião e foi. O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: ‘Sim, senhor, eu vou”. Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do Pai? (Mt 21, 28-31)”.

O Evangelho do 26º Domingo do Tempo Comum nos apresenta Jesus em confronto com as autoridades judaicas, sumos sacerdotes e anciãos do povo, aos quais Ele dirige a pergunta acima. A resposta destes é a que certamente também nós responderíamos, a saber, o primeiro, que se arrependendo fez o que o pai lhe havia mandado. Jesus conclui dizendo: “as prostitutas e os cobradores de impostos vos precedem no Reino de Deus”.

Sim, é com essa liberdade que Deus convida a cada um de nós para servi-lo. Nossa resposta de amor ao chamado que Deus nos faz também é livre, como foi a resposta de Jesus em toda a sua vida. Acolher e fazer a vontade de Deus em nossa vida, não com palavras vagas e bonitas, maquiadas de piedade e religiosidade, mas no concreto da nossa vida de serviço, partilha e aceitação dos irmãos, particularmente dos que mais sofrem, é o que revela concretamente o nosso desejo de fazer a vontade de Deus.

A nossa fidelidade a Deus não se julga pelo nosso sim dado a Ele de modo leviano, mas pela nossa adesão à Sua vontade, pelas boas obras por nós realizadas. “Nem todo aquele que me diz: senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus” (Mt 7, 21). Nossas palavras e nossas ideologias muitas vezes não passam de ilusões. Pelas nossas ações, revelamos quem somos. Jesus diz que os pecadores públicos entrarão primeiro que nós no Reino de Deus. Ele conhece o coração e as disposições de cada um em atender ao seu convite de conversão, de mudança de vida.

Diante de Deus e das pessoas, não podemos esconder-nos atrás de aparências, de pertença ou práticas religiosas, de classe social. Reconheçamo-nos necessitados do amor misericordioso de Deus. Saibamos ser solidários e generosos uns com os outros, sermos humildes, não nos julgando maior nem melhor que ninguém. Nossa Arquidiocese de São Paulo se encontra em caminho sinodal. Somos convidados a abandonar nossas atitudes individualistas e egoístas e adotar a caridade e a humildade entre nós, a caminharmos juntos, unidos, tendo como exemplo Cristo, que não excluiu ninguém, mas a todos acolheu e amou. Ele é o único modelo de vida cristã, que foi “obediente até a morte, e morte de cruz.” Hoje, Ele nos chama a praticar a vontade do Pai, vivendo plenamente a caridade e a humildade que gera entre nós a conversão, a comunhão e a nossa renovação em Seu amor.

 

Dom Eduardo Vieira dos Santos
Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé
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