Editorial

A força do Legislativo

No Brasil, era comum dizer que o Legislativo tinha pouco poder, sendo cooptado e dominado pelo Executivo. O “presidencialismo de coalizão” fortalecia ainda mais essa imagem. O impeachment de Dilma Roussef e os embates políticos que se seguiram mostraram, ao menos na esfera federal, um quadro bem diferente, com um presidente acuado e fazendo continuas concessões a deputados e senadores.

Por isso, nessas eleições, a composição do Poder Legislativo é tão ou mais importante do que os nomes dos governadores e do presidente. E aí voltamos a um velho problema do eleitor brasileiro: pouco conhece sobre os candidatos e não acompanha seu desempenho depois de eleitos. Nossos representantes pouco nos representam e nem nos damos conta disso.

A população quer mudanças no cenário político brasileiro, mas a recente reforma eleitoral dificultou ainda mais a renovação. Para reduzir o número de partidos, se dificultou o acesso das pequenas agremiações a recursos para campanha; para evitar a influência do poder econômico, se reduziu o tempo e o valor das contribuições individuais às campanhas. Com isso, concentrou-se o poder nas mãos das lideranças dos grandes partidos, que farão tudo para perpetuar-se nos cargos e tentarão forçar os futuros eleitos a seguir as diretrizes partidárias – e esse é um problema a mais, quando vemos que a maioria de nossos partidos são agremiações corporativas, com poucos vínculos programáticos, isto é, os políticos estão juntos porque assim chegam ao poder e não porque compartilham os mesmos ideais. 

É fundamental que aprendamos, como cidadãos e como comunidades, a ser mais cuidadosos na escolha dos candidatos, que acompanhemos mais de perto a atuação de nossos deputados e senadores. Mas mesmo isso não basta. Temos que entender que a atuação desses políticos não é fruto apenas de seus compromissos conosco, mas também de sua obrigação de manter-se fiel ao partido e às bancadas, que têm sido até mais preponderantes nas decisões do Legislativo do que os partidos. Essas bancadas (do agronegócio, evangélica, das empreiteiras, pró-vida e etc.) têm se estruturado e ganhado reconhecimento público, não podendo mais ser vistas como associações espúrias de interesse, mas, sim, como realidades que devem ser conhecidas, apoiadas quando comprometidas com o bem comum, combatidas quando voltadas apenas a interesses privados.

Seria ideal, no momento presente, que novos candidatos tivessem facilidade de se inscrever e fazer campanha, aumentando o leque de opções e permitindo que os eleitores escolhessem com mais rigor os nomes que mais correspondem a seus ideais. Infelizmente, o processo não será assim. Isso faz com que tenhamos que fazer um esforço maior para encontrarmos os bons candidatos, sejam eles novos ou estejam procurando a reeleição.

Nesse processo, as famílias, as comunidades e os grupos de amigos têm uma importância fundamental. Temos de estar atentos, trocar informações sobre os candidatos, nos ajudarmos a escolher bem. Não é bom para o Brasil a prática de dizer: “olha, eu tenho um bom candidato, vota nele”, e entregar um santinho sem explicar porque consideramos aquele um bom candidato, quais são suas propostas, o que deveremos esperar dele. 

Nenhum político é bom sozinho. Por isso, precisamos escolher candidatos vinculados aos grupos e partidos  comprometidos com os valores cristãos e o bem comum – e nós próprios temos que nos manter ligados a esses candidatos, apoiando-os e cobrando sua coerência, conforme a situação.
 

 

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.