Espiritualidade

A cruz e a atualidade de sua mensagem

O mês de setembro no calendário litúrgico da Igreja é dedicado à Bíblia. É um período propício para os seguidores de Jesus Cristo aprofundarem sua relação com a Palavra, a qual leva ao encontro do amor transformador de Deus, como ressalta o tema proposto para este “Mês da Bíblia”: “Nós amamos porque Deus nos amou primeiro” (1Jo 4,19).

Neste mês, o tema da cruz aparece na liturgia do segundo domingo (23º Domingo do Tempo Comum), na festa da Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro) e também na memória de Nossa Senhora das Dores (15 de setembro). A cruz expressa por excelência que “Deus nos amou por primeiro” para suscitar o verdadeiro amor nos seus filhos e filhas. 

A cruz, por isso, é uma autêntica fronteira entre os verdadeiros discípulos de Jesus e aqueles que   não comungam com seu projeto. E se compreende a ênfase do Senhor quanto à necessidade de se tomar a cruz para os seus seguidores: “Quem não carrega sua cruz e não vem após mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27). Ele deixa claro a todos que o seu seguimento exige uma disposição mais profunda, um amor capaz de renúncia a afetos e bens, e mesmo à própria vida (cf. Lc 14,28-33).

Diante do exposto, a cruz é o avesso do pecado, pois convida o ser humano a se abrir a Deus, aos irmãos e à realidade circundante em vista da justiça do Reino. Já o pecado fecha a pessoa em   si mesma, bloqueia sua capacidade de servir os semelhantes, até mesmo a Deus, restringindo o horizonte vivencial aos interesses pessoais. Tal atitude desvincula a pessoa do caminho proposto pelo Senhor e, pode levá-la a oferecer aos outros não aquilo que têm de melhor, mas o de pior.

A mensagem da cruz, convidando à abertura e à superação da autorreferencialidade, continua atualíssima, dada a tendência ao fechamento em âmbito pessoal, de grupo ou mesmo de nação, facilmente perceptível em nossos dias. Isso é preocupante, pois as sociedades ainda contam com   sinais   de   experiências  históricas  recentes   de  sofrimento  e   horror,   originadas justamente pelo enclausuramento. Postura como esta  não   fomenta   a  cultura  do   encontro   e da  comunhão,   necessárias   para equacionar as diferenças, naturais ou construídas, entre os seres humanos e seus grupos, bem como   para   se   enfrentar   em   sociedade   os   desafios   hodiernos   em   vista   de  um   convívio edificante e pacífico. 

O estilo de vida egoístico é normalmente acompanhado  de transtornos com a alteridade, perceptível   no   medo   do   outro,   nos   excessivos   aparatos   de   defesa,   em   narrativa desqualificadora   de   quem   “ameaça”,   autoritarismo   etc.   Também   a   “verdade” gravitará segundo o gosto ou interesse pessoal, mesmo contrariando fatos evidentes. O diálogo e a convivência pacífica serão dificultados, o que abre portas para inúmeras injustiças avançarem e punirem sobretudo os mais frágeis da sociedade.

Nesse contexto, o significado da cruz é profético e norteador para as pessoas em sociedade vislumbrarem um caminho para o encontro do melhor que possuem e a liberdade de oferecê-lo em vista da edificação do outro, passo necessário para a sociedade superar seu grande espectro de crises. 

A cruz, portanto, é fonte de vida. Por meio dela, o próprio Mestre conduz o(a) discípulo(a) a tornar   sua   existência   fecunda   e   realizadora,   libertando-o(a)   para   a   vivência   do amor incondicional, o amor com o qual “Deus nos amou por primeiro”.
Em nome deste imenso amor, o Senhor continua a fazer ressoar aquele mesmo convite feito aos primeiros discípulos, “tome a sua cruz e siga-me!”.

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