Editorial

A casa e a beleza

O bom e o verdadeiro se apresentam sempre como belos. O ser humano nasceu para viver cercado pela beleza.

Infelizmente, quem olha para uma cidade como São Paulo frequentemente se vê cercado por uma feiura atroz, sinal tanto da mentira e da falta de bondade que organiza nossa sociedade quanto da nossa incapacidade de ver a beleza que nunca deixa de existir nos recantos mais inesperados da realidade – manifestações do Deus escondido, que insiste em estar conosco mesmo quando não O reconhecemos ou até mesmo não queremos reconhecê-Lo.

Deus e sua beleza estão em todo lugar e nosso problema é não ter olhos treinados para ver essa beleza quando foge a nossos esquemas e preconceitos. Por outro lado, somos sempre chamados, em nossa liberdade, a construir lugares onde essa beleza se evidencia a nossos olhos e aos olhos daqueles que amamos. A Regra de São Bento ensina que todos os objetos do mosteiro devem ser cuidados como vasos sagrados. Isso quer dizer que tudo que existe na casa que é o mosteiro deve ser pensado e cuidado como um sinal de Deus e de seu amor no meio de nós. De fato, o visitante que chega ao mosteiro com o coração aberto – mesmo o ateu ou principalmente ele – encontra ali um clima diverso, uma promessa de paz e amor que se choca com nosso mundo.

Até que ponto as casas dos paulistanos são oásis no deserto de humanidade em nossa cidade? Até onde podemos – ao chegar em nossos lares

– encontrar espaços de beleza que nos ajudem a recompor nossa humanidade constantemente ferida por uma realidade onde o amor de Deus parece distante ou até mesmo não manifesto?

Nesta edição, o jornal O SÃO PAULO foi até um dos mais importantes eventos de arquitetura e decoração da América Latina, o Casa Cor, para conhecer as propostas de beleza ali expostas. Encontrou coisas belas e coisas não tão belas, propostas onde predomina a ostentação que quer se apresentar como bela e outras que mostram uma atenção à realidade que expressa, mesmo que inconscientemente, a busca por essa união entre beleza, bondade e verdade.

Nossa sociedade associa beleza a luxo, riqueza e ostentação. Não reconhece a beleza que pode haver numa casa humilde onde os objetos, ainda que pobres e surrados, atestam o amor e a atenção ao outro que dominam o coração dos que moram ali. Com isso, essa sociedade corre o risco de criar casas que podem parecer belas, mas onde o coração humano não encontra a paz.

A beleza verdadeira, que pode rebrilhar tanto no Casa Cor quanto na casa mais simples dessa cidade, nasce do amor que as pessoas procuram manifestar ao organizar seus espaços de vida, independentemente da riqueza material dos objetos.

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