Bioética e defesa da vida

A aceitação da morte e a eutanásia

Na minha atuação como médica neurologista, acompanhando a dor de muitas famílias com pacientes terminais, tenho observado a importância de esclarecer a diferença entre a saudável ortotanásia e a perigosa eutanásia. 

A ortotanásia (do grego orto – reto; thanos – morte) diz respeito à aceitação da morte em seu momento. É a renúncia voluntária a tratamentos inúteis, extraordinários ou desproporcionais aos resultados esperados, que dariam somente um prolongamento precário e penoso da vida. Ou seja, ortotanásia é a recusa à obstinação terapêutica. Não se quer dessa maneira provocar a morte; aceita-se não poder impedi-la.

A eutanásia (do grego eu - boa; ou morte por motivos de bondade) – que felizmente em nosso país não é admitida - é bem diferente: trata-se de “matar” deliberadamente um doente incurável para pôr fim aos seus sofrimentos. Ou seja, tenta-se justifica-la por motivos de piedade, podendo ser provocada por uma ação positiva ou por uma omissão dos cuidados normais devidos ao paciente, como alimentação e hidratação.           

Há casos em que o próprio doente, em situações muito graves, solicita a morte. Porém, tais súplicas não devem ser compreendidas como argumento em favor da aceitação da eutanásia. Esses pedidos angustiados são próprios de seu desespero, e revelam quase sempre, uma profunda carência de ajuda e de afeto. Para além dos cuidados médicos, o doente tem necessidade de amor, de calor humano e sobrenatural, e isto está ao alcance de todos os que o rodeiam: pais e filhos, médicos e enfermeiros.

A vida humana é o fundamento de todos os bens, a fonte e a condição necessária de toda a atividade humana e de toda a convivência social. Se a maior parte dos homens considera que a vida tem um caráter sagrado e admite que ninguém pode dispor dela a seu bel-prazer, os crentes vêem nela também um dom do amor de Deus, que eles têm a responsabilidade de conservar e fazer frutificar.

Mesmo quando não é motivada pela recusa de cuidar da vida de quem sofre, a eutanásia corresponde a uma compaixão falsa, na verdade uma preocupante “perversão” da verdadeira “compaixão”. Ser solidário não é suprimir aquele de quem não se pode suportar o sofrimento. A decisão da eutanásia torna-se mais grave, quando alguns médicos ou legisladores se arrogam o poder de decidir quem deve viver e quem deve morrer. Assim, a vida do mais fraco é abandonada às mãos do mais forte; na sociedade, perde-se o sentido de justiça e fica minada, pela raiz, a confiança mútua, fundamento de qualquer relação autêntica entre as pessoas.

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