‘Deus não deixa ninguém para trás’

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21 de abril de 2020

Mesmo depois de os discípulos O terem abandonado em seus últimos dias, Jesus voltou e os encontrou. Na missa do Domingo da Divina Misericórdia, no dia 19, o Papa Francisco refletiu sobre as passagens bíblicas que contam os primeiros dias após a Ressurreição. Mesmo Tomé, o apóstolo inicialmente incrédulo, foi capaz de acreditar em Jesus ressuscitado diante de si e confessar: “Meu Senhor e meu Deus”.

Também nós, disse o Papa, somos acompanhados por Deus e não podemos deixar os mais fracos para trás. “Somos todos frágeis, todos preciosos”, declarou o Santo Padre. “Nesta provação que estamos atravessando, também nós, como Tomé, com nossos temores e dúvidas, nos encontramos frágeis”, afirmou, referindo-se à atual pandemia de COVID-19. “O Senhor, no entanto, o esperou. A misericórdia não abandona quem ficou para trás.”

Contra o ‘vírus do egoísmo’

Nas palavras de Francisco, mesmo na possibilidade de se retomar a vida normal lentamente após a pandemia do novo coronavírus, é necessário garantir que ninguém tenha ficado para trás, abandonado no caminho.

Ele alertou: “O risco é que nos atinja um vírus ainda pior, aquele do egoísmo indiferente. Ele se transmite a partir da ideia de que a vida melhora se está melhor para mim, que tudo vai ficar bem, se ficar bem para mim. Parte-se daqui e chega-se a selecionar as pessoas, a descartar os pobres, a imolar quem está atrás no altar do progresso”.

O Pontífice pediu que toda a comunidade humana trabalhe para dissolver as desigualdades e acabe com “a injustiça que mina pela raiz a saúde da humanidade inteira”. 

Apresentar fraquezas a Deus

Assim como os primeiros cristãos, que vivenciaram a presença de Jesus ressuscitado, também nós temos que apresentar a Ele as nossas “misérias”, as fraquezas de cada um, pois é Ele o caminho.

“O amor desarmado e desarmante de Jesus ressuscita o coração do discípulo”, disse. “Usemos a misericórdia com quem é mais fraco: só assim reconstruiremos um mundo novo.”

Após um mês fechado no Vaticano e sem eventos públicos, o Papa saiu dos limites do pequeno país e caminhou até a Igreja do Espírito Santo, em Sassia, que fica a alguns quarteirões de distância, onde celebrou a missa.

A basílica é dedicada à devoção da Divina Misericórdia, que se baseia nos escritos de Santa Faustina e a qual foi instituída na liturgia pelo Papa João Paulo II, em abril de 2000.

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Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano manifesta-se sobre a COVID-19

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16 de abril de 2020

Diante da atual pandemia do novo coronavírus, as Academias Pontifícias de Ciências e de Ciências Sociais do Vaticano divulgaram uma declaração em 20 de março.

O trabalho das Academias compreende seis grandes áreas: ciência fundamental, ciência e tecnologia de problemas globais; ciência para os problemas do mundo em desenvolvimento, política científica; bioética, epistemologia. Um de seus objetivos é fomentar a interação entre fé e razão e incentivar o diálogo entre ciência e valores espirituais, culturais, filosóficos e religiosos.

LEIA A ÍNTEGRA DE DECLARAÇÃO EM INGLÊS

No documento, assinado por pesquisadores e cientistas de diferentes partes do mundo, entre os quais o brasileiro Vanderlei Bagnato, professor do Departamento de Física e Ciência dos Materiais da Universidade de São Paulo e Instituto de Física de São Carlos, se ressalta os esforços prestados pelos profissionais de saúde.

“A COVID-19 é um desafio para as sociedades, seus sistemas de saúde e economias, e especialmente para as pessoas afetadas direta e indiretamente, bem como suas famílias. Na história da humanidade, as pandemias sempre foram trágicas e muitas vezes mais mortais que as guerras. Hoje, graças à ciência, nosso conhecimento é mais avançado e pode cada vez mais nos defender contra novas formas de pandemia. Nossa declaração pretende focar em ciência, política científica e ações de políticas de saúde em um contexto social mais amplo”.

Na declaração é destacada a necessidade de ação, as lições de curto e longo prazo e ajustes futuros de prioridades em cinco pontos.

Um dos aspectos é que os sistemas de saúde precisam ser fortalecidos em todos os países, na perspectiva de antecipação de problemas. “É de vital importância estar à frente da curva ao lidar com essas crises globais. Enfatizamos que medidas de saúde pública devem ser iniciadas instantaneamente em todos os países para combater a propagação contínua desse vírus. A necessidade de testes deve ser adotada, e as pessoas que obtiverem resultados positivos para o COVID-19 devem ser colocadas em quarentena, juntamente com seus contatos próximos”.

A declaração também aponta para a necessidade de expandir o apoio à ciência e às ações da comunidade científica, posto que “o fortalecimento da pesquisa básica aumenta a capacidade de detectar, responder e, em última análise, prevenir ou pelo menos mitigar catástrofes como a que estamos vivendo presentemente. A ciência precisa de financiamento garantido a nível nacional e transnacional, para que os cientistas tenham os meios para descobrir as drogas e vacinas certas.  Tais resultados devem ser transmitidos ao setor produtivo.  Por sua vez, empresas farmacêuticas têm a principal responsabilidade de produzir esses medicamentos em escala, e demais empresas de produzir equipamentos de suporte , dentro da realidade econômica”.

A terceira perspectiva tratada é a proteção para as pessoas pobres e vulneráveis. “Uma ação política de base ampla no campo da saúde pública é essencial em todos os países para proteger as pessoas pobres e vulneráveis ao vírus. A COVID-19 também terá um impacto adverso nas economias mundiais. A menos que sejam mitigadas, as consequências perturbadoras previstas na produção e suprimento de alimentos e em vários outros sistemas, os mais afetados serão os pobres e desprovidos de instrução”, consta na declaração, que alerta ainda que as pandemias são especialmente uma ameaça para refugiados, imigrantes e deslocados à força.

Modelar interdependências globais e ajudar entre e dentro das nações também é uma preocupação expressa na declaração. “A escala e o escopo do globalismo atual tornaram o mundo sem precedentes interdependentes - e, portanto, vulneráveis e disfuncionais durante as crises. Por exemplo, o surto de COVID-19 está levando a demanda por mais isolamento nacional. No entanto, buscar proteção por meio do isolacionismo seria equivocado e contraproducente. Uma tendência que vale a pena apoiar seria uma forte demanda por maior cooperação global. As organizações transnacionais e internacionais precisam estar equipadas e apoiadas para servir a esse propósito”.

Ainda sobre esse aspecto, é apontado que as medidas para conter a rápida propagação da doença exigem, por vezes, o fechamento de fronteiras. “No entanto, as fronteiras nacionais não devem se tornar barreiras que dificultam a ajuda entre nações. Recursos humanos, equipamentos, conhecimento sobre melhores práticas, tratamentos e suprimentos devem ser compartilhados”.

Ressalta-se, ainda, a importância de fortalecer a solidariedade e a compaixão entre todos, e que, de modo especial, “as igrejas, assim como todas as comunidades baseadas na fé e nos valores, são chamadas à ação”.

“Uma lição que o vírus está nos ensinando é que a liberdade não pode ser desfrutada sem responsabilidade e solidariedade. A liberdade divorciada da solidariedade gera egoísmo puro e destrutivo. Ninguém pode ter sucesso sozinho. A pandemia da COVID-19 é uma oportunidade de nos tornarmos mais conscientes de quão importantes são os bons relacionamentos em nossas vidas”.

A declaração é concluída apontando para um aparente paradoxo: cada pessoa hoje precisa cooperar com as outras, mesmo tendo que se isolar por razões de saúde. Porém, “o ato de ficar em casa é um ato de profunda solidariedade. É ‘amar o seu próximo como a si mesmo’. A lição que a pandemia nos ensina é que, sem solidariedade, os direitos mais profundos do homem de liberdade e igualdade são apenas palavras vazias”.

(Com informações de Pontificies Academy of Sciences e site São Carlos Agora)

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Festa do Perdão de Assis, fonte de misericórdia

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02 de agosto de 2019

Celebra-se nestes dias 1º e 2 de agosto o Perdão de Assis, uma “porta sempre aberta” para todos aqueles que querem alcançar a graça de Deus por meio da experiência da reconciliação.

O perdão de Assis é um forte chamado a aproxima-se do Senhor no Sacramento da Misericórdia e também da Comunhão. Muitos tem medo de se aproximar da confissão pois esquecem que lá não encontramos um juiz severo – disse o Papa Francisco - mas um pai imensamente misericordioso. É verdade que quando vamos ao confessionário sentimos um pouco de vergonha isso acontece com todos. Mas devemos lembrar que também essa vergonha é uma graça que nos prepara ao abraço do Pai, que sempre perdoa e sempre perdoa tudo.

Neste sentido, celebrar o Perdão de Assis é a expressão do desejo de receber a graça da libertação interior e da libertação a nível relacional, a fim de que não sendo mais escravos do nosso passado e dos nossos limites humanos, possamos entrar no Reino dos filhos e das filhas de Deus. Significa tornar-se, de certo modo, uma bênção e portadores da misericórdia espiritual e material rumo a toda a humanidade e também rumo a toda a Criação.

Porciúncula

O Perdão de Assis está intimamente ligado à Ponciúncula, a pequena igrejinha reconstruída por São Francisco e hoje no interior da Basílica Santa Maria dos Anjos, em Assis.

Em uma noite de inverno do ano 1216, o Pobre de Assis foi circundado por uma luz suave que o convidou a ir até a esta capela. Ali se prostrou e adorou Jesus e venerou a Virgem e os Anjos.

Vendo a sua humildade e desprendimento, Jesus lhe deu a possibilidade de pedir a graça que mais lhe agradasse. Francisco respondeu: “Senhor, peço que todos aqueles que, arrependidos e confessados, entrando nesta igrejinha, tenham o perdão de todos os seus pecados e a completa remissão das penas devidas às suas culpas”. Jesus então lhe disse: “Grande é a graça que me pedes, Francisco; no entanto, eu lha concedo, por intermédio da minha Mãe”. Assim, ele invocou a mediação de Nossa Senhora, que a concedeu pela súplica ao seu Filho Divino. Porém, o Senhor pediu-lhe para se apresentar ao seu Vigário na terra, o Sumo Pontífice, para obter a confirmação da graça.

Dito isto, a visão de Francisco cessou. Ele, imediatamente, foi até ao Papa Honório III, que, depois de várias dificuldades, lhe confirmou a graça, limitando-a, porém, apenas a um dia, por todos os anos, fixando a sua data para o dia 2 de agosto, começando com as Vésperas da Vigília.

Assim, em 2 de agosto de 1216, na presença dos Bispos de Assis e das regiões vizinhas, convidados para a consagração da igrejinha da “Porciúncula” e diante de uma multidão extraordinária de fiéis, São Francisco promulgou a “grande indulgência”, concedendo o incomparável tesouro do “Perdão de Assis” a todos os homens de boa vontade.

O contexto em que São Francisco pediu esta graça do Perdão de Assis era de um mundo em guerra, em conflito, em que os ricos buscavam manter o poder; além disso, havia a guerra entre a França e a Alemanha, havia as Cruzadas na Terra Santa entre os cristãos e os muçulmanos; mas havia também conflitos no seio das famílias e também conflitos dentro da Igreja. Esse é o contexto que se deve ter em mente para entender melhor o significado desta Festa do Perdão de Assis.

A extensão da Indulgência

Com a Bula de 4 de julho de 1622, o Papa Gregório XV estendeu esta “Indulgência da Porciúncula” a todas as igrejas da Ordem Franciscana. Em 12 de janeiro de 1678, o Papa Inocêncio XI declarou que esta indulgência podia ser aplicada também às almas do Purgatório.

Para facilitar o “Perdão de Assis” aos fiéis do mundo inteiro, o Papa Pio X deu a possibilidade de obtê-lo também nas igrejas ou oratórios. Por sua vez, Bento XV, em 16 de abril de 1921, com um solene documento, estendeu esta indulgência a todos os dias do ano, mas, de modo solene, na Basílica de Santa Maria dos Anjos, em Assis. Assim se concretizou o desejo de São Francisco.

Programação

Esta quarta-feira marca a abertura da Solenidade do Perdão. Às 11 horas, como de costume, o Ministro geral da Ordem dos Frades Menores, padre Michael Perry, presidiu a Solene Celebração Eucarística, que se concluiu com a Procissão de “Abertura do Perdão”, assim denominada pois, a partir daquele momento até às 24 horas do dia 2 de agosto, a Indulgência Plenária concedida à Porciúncula se estende a todas as igrejas paroquiais espalhadas no mundo e também a todas as igrejas franciscanas.

Às 19 horas, as Primeiras Vésperas serão presididas pelo bispo de Assis - Nocera - Umbra,  Dom Domenico Sorrentino. Seguirá a oferta de incenso pela Prefeita de Assis, Stefania Proietti.

A tradicional Vigília de Oração terá lugar às 21h15, com procissão luminosa, e será conduzida pelo padre Giuseppe Renda, Custódio da Porciúncula.

No dia 2 de agosto será possível participar de numerosas Celebrações Eucarísticas, algumas celebradas por Dom Domenico Sorrentino,  Dom Luciano Paolucci Bedini e pelo padre Claudio Durighetto, Ministro Provincial dos Frades Menores da Úmbria e Sardenha.

A partir das 14h30, os jovens participantes de XXXVIII Marcha Franciscana – provenientes de todas as regiões da Itália e de outros países – passarão pela porta da Porciúncula, após terem caminhado por mais de uma semana, guiados pelo tema “Com um nome novo”.

Às 19 horas, as Vésperas Solenes do Perdão conduzidas pelo padre Claudio Durighetto.

Durante os dois dias da festa, a Basílica permanece aberta durante todo o dia para permitir aos peregrinos aproximarem-se do Sacramento da Reconciliação.

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‘A Economia de Francisco’

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19 de julho de 2019

O Vaticano planeja, de 26 a 28 de março de 2020, um encontro de economistas, empresários e outros especialistas da área para pensar sobre como promover um sistema econômico mais humano. O evento ocorrerá na cidade de Assis (Itália), a pedido do Papa Francisco. E, também a pedido dele, muitos jovens comparecerão. As informações sobre o evento serão publicadas no site: www.francescoeconomy.org.
Pensando nisso, O SÃO PAULO conversou com o Padre jesuíta português Andreas Lind, formado em Economia e articulista do site “Ponto SJ”, para entender o que define o ensinamento do Papa Francisco sobre a economia. 

O São Paulo – Qual é o papel do dinheiro na vida do cristão?
Padre Andreas Lind – Jesus nos diz que não é possível servir “a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24). Se vivermos com o objetivo de fazer cada vez mais dinheiro, usando das nossas forças, dos nossos talentos, das nossas relações, tendo em vista apenas esse fim, caímos na idolatria, porque nos tornamos escravos do dinheiro.
Isso não significa que o dinheiro seja mau em si mesmo, ou que as atividades empresariais lucrativas devam ser rejeitadas. Pelo contrário, devem ser estimuladas e postas a serviço do Reino, onde vigora a lei da caridade. O dinheiro é um meio indispensável para a nossa vida social e para o nosso desenvolvimento coletivo. Devemos saber geri-lo e partilhá-lo em prol do bem comum.

Então, como devemos interpretar a passagem do Evangelho: “é mais fácil passar um camelo numa agulha do que um rico entrar no reino dos céus” (Mt 19,24)?
Eis uma passagem muito discutida pelos exegetas bíblicos, sobretudo no que diz respeito às palavras “agulha” e “camelo”, que provavelmente teriam significados, na cultura de Jesus, que hoje não abarcamos imediatamente.
No entanto, tendo em conta o contexto onde a citação surge, percebemos que essas palavras vêm no seguimento do apelo que Jesus lança ao jovem rico: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me” (Mt 19,21).
Jesus fala da dificuldade dos ricos em entrar no Reino, referindo-se a alguém que tem muito e que não é capaz de partilhar, a ponto de se fechar aos outros e de perder a comunhão com Jesus e com o próximo. Jesus não critica o fato de o jovem rico ter muitas coisas; apenas lamenta a falta de liberdade que o impede de partilhar.

Como podemos definir a “Economia do Papa Francisco”?
O Papa Francisco não pretende substituir os especialistas em economia. Limita-se a anunciar a Doutrina Social da Igreja, nomeadamente o princípio do “destino universal dos bens” e a “opção preferencial pelos pobres”. É por fidelidade à Igreja, e não a uma ideologia política, que o Papa denuncia o perigo de uma “economia que mata” (Evangelii Gaudium 53).
Com isso, ele procura colocar a economia a serviço do desenvolvimento integral do ser humano, em vez de o escravizar em função de um crescimento puramente financeiro, cujos beneficiários são poucos e cujos efeitos podem ser nefastos para as próximas gerações. Francisco não menospreza as potencialidades positivas da “atividade empresarial” (Laudato Si’ 129).
Denuncia apenas o perigo de se absolutizar a racionalidade que procura exclusivamente o lucro, mesmo em detrimento de outros valores que confluem para o desenvolvimento do homem e das suas sociedades. Creio que a influência da teologia argentina do povo explica o distanciamento, da parte de Francisco, quer do liberalismo, quer do socialismo marxista.

Por que a Igreja precisa falar de economia?
Para Marx, a religião é negativa – uma alienação – e nos afasta da realidade presente onde nos situamos: se a fé no Paraíso futuro nos imobilizar na miséria, na injustiça, ou nos incapacitar de lutar pela transformação da realidade presente, então a religião se reduz a um “ópio do povo”. 
Porém, antes de assumir a Cátedra de Pedro, Jorge Mario Bergoglio assumiu a seriedade dessa crítica (como fica claro no livro “Sobre el Cielo y la Tierra”, de 2012), enfatizando que, ao contrário do que diz Marx, a fé, como encontro com Jesus, nos compromete com a justiça no presente. A preocupação da Igreja com as questões econômicas ou políticas brota desse compromisso com o Reino de Deus ao qual Jesus nos chama sempre aqui e agora.

Qual a razão de o Papa convocar esse encontro em Assis?
Em primeiro lugar, inspirado na figura de São Francisco, para quem todas as criaturas eram como irmãs, o encontro “A Economia de Francisco” procura responder à urgência dos nossos tempos: hoje sentimos uma fragilidade coletiva pelo fato de o nosso sistema econômico, aliado a um estilo de vida excessivamente consumista, poder pôr em risco a sustentabilidade do planeta, a nossa “casa comum”.
Em segundo lugar, esse encontro se alarga para além da esfera meramente eclesial, pois a gravidade do problema exige a capacidade de unir sinergias, estabelecendo uma cooperação ou um diálogo entre pessoas de credos diferentes e entre diversas esferas da sociedade. 

Quais as semelhanças entre a Laudato si’, de Francisco, e a Caritas in veritate, de Bento XVI?
Francisco cita muito Bento XVI. Enquanto o atual Papa insiste muito na dimensão da “misericórdia”, o seu predecessor não se cansava de falar no “amor” (caritas). Ambos sonham com a possibilidade do dom, da gratuidade, ter um lugar nas relações econômicas. Concretamente, na Laudato Si’ (LS), a encíclica Caritas in Veritate (CV) é 12 vezes diretamente citada.
Por um lado, ambos chamam a atenção para a necessidade de mudar de “estilo de vida”, apelando à “responsabilidade social dos consumidores”, pois “comprar é sempre um ato moral” (LS, 206; CV, 66).
Por outro lado, em um nível mais macroeconômico, Bento XVI insiste nos temas perenes do atual pontificado: “Como afirmou Bento XVI, na linha desenvolvida até agora pela Doutrina Social da Igreja, «para o governo da economia mundial, para sanar as economias atingidas pela crise de modo a prevenir o agravamento da mesma e consequentes maiores desequilíbrios, para realizar um oportuno e integral desarmamento, a segurança alimentar e a paz, para garantir a salvaguarda do ambiente e para regulamentar os fluxos migratórios, urge a presença de uma verdadeira autoridade política mundial, delineada já pelo meu predecessor, João XXIII»” (LS175).

Como a Igreja nos propõe conciliar as liberdades individuais e a busca pelo bem comum?
Segundo o relato bíblico da Criação, Deus confere ao homem o mandato de “dominar” ou “administrar” os outros seres do mundo (cf. Gn 1, 26-28), por um lado, e, por outro, de agir como um jardineiro que “cultiva” e que “guarda” (cf. Gn 2,15).
A imagem do administrador, complementada com a figura do jardineiro, conduz-nos a um enorme respeito pelo planeta na multiplicidade dos seus seres. Não se trata de “dominar” e de “subjugar” o mundo com desdém, mas de estar afetivamente ligado a toda a criação, deixando-se surpreender pelo dom que é habitar o mundo e viver enquanto homem ou mulher.
Sendo assim filhos de Deus, devemos assumir a responsabilidade de exercer o dom da liberdade que temos na administração dos bens de que dispomos e com os quais vivem

As opiniões expressas na seção “Com a Palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.

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Papa nomeia Cardeal da Rocha membro da Congregação para o Clero

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18 de julho de 2019

O Papa Francisco nomeou no sábado, 13, novos membros para a Congregação para o Clero. Entre os cardeais, há o brasileiro Cardeal Sérgio da Rocha, Arcebispo de Brasília (DF).
O Cardeal da Rocha até maio deste ano exerceu a função de Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e também foi, em outubro do ano passado, o Relator-Geral da XV Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, o Sínodo dos Jovens.
Integram a Congregação outros dois cardeais brasileiros: João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, e o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo e vice-presidente do Celam.
 

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Francisco pede solução para crise venezuelana

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18 de julho de 2019

Antes de se despedir dos fiéis presentes na Praça de São Pedro para a oração dominical, o Papa Francisco quis expressar sua solidariedade à população da Venezuela, pedindo um acordo político:
“Mais uma vez, desejo expressar a minha proximidade ao amado povo venezuelano, particularmente provado com o perdurar da crise. Peçamos ao Senhor que inspire e ilumine as partes em causa, para que possam quanto antes chegar a um acordo que coloque fim aos sofrimentos das pessoas pelo bem do País e de toda a região”.
O governo da Venezuela e a oposição concordaram em estabelecer um grupo de trabalho permanente para tentar tirar o País do impasse político, após concluírem uma rodada de negociações em Barbados, na última quinta-feira.
Enquanto isso, o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) expressou plena solidariedade ao povo e à Igreja venezuelana depois que os bispos do País pediram uma mudança de rota.
Em carta assinada pelo presidente do Celam, Dom Miguel Cabrejos, os bispos sul-americanos reiteram sua proximidade “diante da complexa e dramática situação política, econômica e social” da Venezuela.

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Angelus: ‘A compaixão é a chave da vida cristã’

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18 de julho de 2019

O Papa Francisco, no domingo, 14, dedicou a alocução que antecede a oração do Angelus à parábola do Bom Samaritano, proposta da liturgia do XV Domingo do Tempo Comum. Nesse episódio, Jesus é interrogado por um doutor da lei sobre o que é necessário para herdar a vida eterna.

“Ele nos faz entender que não somos nós, com base nos nossos critérios, que definimos quem é o próximo e quem não é, mas é a pessoa em situação de necessidade que deve poder reconhecer quem é o seu próximo, isto é, quem usou de misericórdia para com ele”, prosseguiu o Papa.

“Ser capazes de sentir compaixão: esta é a chave. Esta é a nossa chave. Se diante de uma pessoa necessitada você não sente compaixão, o seu coração não se comove, significa que algo não funciona. Fique atento, estejamos atentos. Não nos deixemos levar pela insensibilidade egoísta. A capacidade de compaixão tornou-se a medida do cristão, ou melhor, do ensinamento de Jesus”, acrescenou.

O Pontífice tomou o exemplo dos moradores de rua e de como nos comportamos diante de alguém caído no chão. “Pergunte-se se o seu coração não endureceu, se não se tornou gelo. (...) A misericórdia diante de uma vida humana na situação de necessidade é a verdadeira face do amor.” “Que a Virgem Maria nos ajude a compreender e, sobretudo, a viver sempre mais o elo indissolúvel que existe entre o amor a Deus, nosso Pai, e o amor concreto e generoso pelos nossos irmãos, e nos dê a graça de ter e crescer na compaixão”, concluiu o Papa.

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Hospital Bambino Gesù, do Vaticano, assina acordo de cooperação com a Rússia

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12 de julho de 2019

No dia 4, a Secretaria de Estado da Santa Sé, em nome do hospital pediátrico Bambino Gesù, assinou com a Rússia um memorando de acordo para reforçar a colaboração bilateral no campo da assistência médica e da pesquisa científica entre hospitais pediátricos de ambos os países. 


Esse documento, que prevê o desenvolvimento de projetos científicos, foi assinado pelo Monsenhor Paolo Borgia, Assessor da Secretaria do Estado da Santa Sé, e por Veronika Skvortsova, ministra da Saúde da Rússia. O acordo ocorreu no contexto da visita do presidente russo, Vladimir Putin, ao Vaticano na última semana.


A ministra russa, acompanhada pelo embaixador da Rússia na Santa Sé, Alexandre Avdeev, visitou os laboratórios de pesquisa do Bambino Gesù, em presença da diretora do Hospital, Mariella Enoc. O diretor científico e o diretor do Departamento de Neurociências apresentaram os laboratórios de pesquisa, que desenvolvem, principalmente, pesquisa de terapias celulares e genéticas para o tratamento de leucemias. 


O Hospital Bambino Gesù já está presente na Rússia com programas de formação especializados no campo da neurologia e da neurocirurgia em dois hospitais de Moscou, capital da Rússia. Esses programas buscam estudar o diagnóstico e o tratamento de crianças afetadas pela epilepsia. 


Pertencente ao Vaticano, o Hospital Bambino Gesù é referência internacional no tratamento pediátrico. Apesar de sua especialização em tratamento de crianças, o Hospital dispõe também de departamento de ortopedia, oftalmologia, otorrinolaringologia e de tratamento de doenças cardíacas. Fundado em 1869 por uma família católica italiana, o Hospital foi confiado à administração das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Em 1978, São Paulo VI concedeu uma vasta área próxima de Roma ao Bambino Gesù.

Fontes: Vatican News/ Aleteia

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Com câncer terminal, homem é ordenado sacerdote e preside primeira missa em hospital

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26 de junho de 2019

Um jovem religioso, Michał Łos, diagnosticado com câncer terminal, foi ordenado sacerdote e presidiu sua primeira missa em um hospital militar na cidade de Varsóvia, na Polônia. 
Em 24 de maio, Łos foi ordenado diácono e presbítero na mesma cerimônia, devido à dispensa concedida pelo Papa Francisco a pedido do Diretor-Geral da Congregação dos Filhos da Divina Providência (Orionitas), Padre Tarcisio Vieira. 
Michał foi ordenado por Dom Marek Solarczyk, Bispo Auxiliar da Diocese de Warszawa-Praga. Também presentes na celebração estavam, além do Diretor-Geral da Congregação, o Padre Oreste Ferrari, Vigário Geral dos Padre Orionitas, o Padre Fernando Fornerod, Conselheiro Geral da Congregação, e o Padre Krzysztof  
Mis, Diretor da Província Orionita de Nossa Senhora de Czestochowa.
“A cerimônia aconteceu em um clima de grande e profunda espiritualidade. Após a oração inicial, seguiu-se a Ladainha para pedir a intercessão dos santos pela vida de Michał e por sua Congregação”, disse Padre Fornerod. 
No dia anterior à ordenação, Michał professou seus votos perpétuos na Congregação Orionita, também com a dispensa do Santo Padre. A sua primeira missa foi celebrada em 25 de maio e transmitida ao vivo pela internet. O vídeo da missa já teve mais de 350 mil visualizações. 
A história de Michał rodou o mundo pelas redes sociais e, em pouco tempo, pode-se ver os seus frutos. Muitos pacientes internados no mesmo hospital começaram a ir ao quarto do neossacerdote para pedir-lhe bênçãos, confessar-se ou ouvir palavras de consolo. Além disso, muitas pessoas ao redor do mundo passaram a rezar pela recuperação do Sacerdote.
O maior sonho de Michał era presidir a Santa Missa, para sentir-se mais unido a Cristo. “Louvado seja Jesus Cristo. Agradeço todas as orações e espero que vocês continuem rezando por mim, e abençoo a todos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, disse o jovem Padre no vídeo da missa.  

Fontes: ACI Digital, O Globo
 

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Papa: Igreja sairá das tempestades mais bela e purificada

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21 de dezembro de 2018

O Papa Francisco recebeu na manhã desta sexta-feira os seus colaboradores da Cúria Romana, para as felicitações de Natal – uma das audiências mais tradicionais e aguardadas do ano.

Como nos anos precedentes, o Pontífice fez um longo discurso, franco, falando das mazelas e das alegrias que afligem o trabalho de quem se dedica à Igreja.

Tempestades e furacões

“No mundo turbulento, a barca da Igreja viveu este ano e vive momentos difíceis, sendo acometida por tempestades e furacões”, analisou o Papa.

“Entretanto, a Esposa de Cristo prossegue a sua peregrinação entre alegrias e aflições, entre sucessos e dificuldades, externas e internas. Com certeza, as dificuldades internas continuam sempre a ser as mais dolorosas e destrutivas.”

Aflições

Para o Pontífice, muitas são as aflições, citando os migrantes que encontram a morte ou aqueles que, ao sobreviverem, acham as portas fechadas. “Quanto medo e preconceito!”, lamentou Francisco.

“Quantas pessoas e quantas crianças morrem diariamente por falta de água, comida e remédios! Quanta pobreza e miséria! Quanta violência contra os frágeis e contra as mulheres! Quantos cenários de guerras declaradas e não declaradas! Quantas pessoas são sistematicamente torturadas.”

Francisco falou também que se vive hoje uma “nova era de «mártires»”. “A cruel e atroz perseguição do Império Romano parece não conhecer fim”, constatou. Outro motivo de aflição apontado pelo Papa é o contratestemunho e os escândalos de alguns filhos e ministros da Igreja através do flagelo dos abusos e da infidelidade.

Abusos

“Desde há vários anos que a Igreja está seriamente empenhada em erradicar o mal dos abusos”, garantiu o Pontífce.

Hoje, afirmou o Papa, também existem homens consagrados que “cometem abomínios e continuam a exercer o seu ministério como se nada tivesse acontecido; não temem a Deus nem o seu juízo, mas apenas ser descobertos e desmascarados”.

Francisco então foi contundente:

“ Fique claro que a Igreja, perante estes abomínios, não poupará esforços fazendo tudo o que for necessário para entregar à justiça toda a pessoa que tenha cometido tais delitos. (...) Esta é a opção e a decisão de toda a Igreja. ”

A propósito, o Pontífice citou o encontro de fevereiro próximo, no Vaticano, com todos os presidentes das Conferências Episcopais, para reiterar a vontade da Igreja de prosseguir pelo “caminho da purificação”.

Ainda sobre o tema dos abusos, Francisco agradeceu o trabalho dos jornalistas “que foram honestos e objetivos e que procuraram desmascarar estes lobos e dar voz às vítimas”.

“Por favor, ajudemos a Santa Mãe Igreja na sua tarefa difícil que é reconhecer os casos verdadeiros distinguindo-os dos falsos, as acusações das calúnias, os rancores das insinuações, os boatos das difamações.”

Aos abusadores, o Papa pediu que se convertem e se entreguem à justiça humana e se preparem para aquela divina.

Infidelidades

Outra aflição apontada por Francisco é a da infidelidade, citando o famoso provérbio: «De boas intenções, o inferno está cheio».

São as pessoas que “traem a sua vocação, o seu juramento, a sua missão, a sua consagração a Deus e à Igreja; aqueles que se escondem, por detrás de boas intenções, para apunhalar os seus irmãos e semear joio, divisão e perplexidade; pessoas que sempre encontram justificações, até lógicas e espirituais, para continuar a percorrer, imperturbáveis, o caminho da perdição”.

Para fazer resplandecer a luz de Cristo, portanto, o Papa recorda que todos temos o dever de combater a “corrupção espiritual”.

Alegrias

Francisco deixou para o final do seu discurso os motivos de alegrias:

“O bom êxito do Sínodo dedicado aos jovens. Os passos realizados até agora na reforma da Cúria: os trabalhos de clarificação e transparência na economia” são alguns deles.

Também são motivos de alegrias os novos Beatos e Santos, de modo especial os recentes dezanove mártires da Argélia.

Acrescentam-se o aumento do número de fiéis, as famílias e os pais que vivem seriamente a fé e a transmitem diariamente aos próprios filhos e o testemunho de muitos jovens que escolhem “corajosamente” a vida consagrada e o sacerdócio.

“Um verdadeiro motivo de alegria é também o grande número de consagrados e consagradas, bispos e sacerdotes, que vivem diariamente a sua vocação com fidelidade, em silêncio, na santidade e abnegação. São pessoas que iluminam a escuridão da humanidade, com o seu testemunho de fé, esperança e caridade.”

Transformar as trevas em luz

O Santo Padre recordou que a força de toda e qualquer instituição não reside em ser composta por homens perfeitos, mas na sua vontade de se purificar continuamente:

“ Por isso, é necessário abrir o nosso coração à verdadeira luz: Jesus Cristo. Ele é a luz que pode iluminar a vida e transformar as nossas trevas em luz. ”

O Papa concluiu seu discurso com uma mensagem de esperança, recordando que o Natal dá a certeza de que “a Igreja sairá destas tribulações ainda mais bela, purificada e esplêndida”.

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