‘Eu te absolvo dos teus pecados’

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05 de abril de 2019

O Catecismo da Igreja Católica, em seu parágrafo 1457, afirma que “todo fiel que tenha atingido a idade da razão está obrigado a confessar fielmente os pecados graves, ao menos uma vez por ano”. Muitos cristãos, movidos por esse mandamento da Igreja, privilegiam o tempo da Quaresma, propício para a conversão e reconciliação, para se aproximar do sacramento da Confissão.

Contudo, da mesma forma que as práticas da oração, do jejum e da esmola não se resumem somente ao tempo quaresmal, também a confissão dos pecados não pode ser praticada de uma forma minimalista, como algo extraordinário, mas deve fazer parte de uma vida cristã corrente.

 

FONTE DE GRAÇA

A confissão – instituída por Jesus Cristo na tarde da Páscoa, quando disse aos Apóstolos: “Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados lhes serão perdoados, e àqueles a quem os retiverdes lhes serão retidos” (Jo 20, 22-23) – não é só uma obrigação de todos e cada um dos cristãos, mas, antes, é um canal de Graça, que perdoa-nos os pecados, reconcilia-nos com Deus e a Igreja e nos confere as forças necessárias e abundantes para lutar pela santidade.

Tal sacramento, muitas vezes chamado de Sacramento da Alegria, pois traz ao coração a paz e a alegria da amizade com Deus, não é uma simples conversa com o padre, nem ao menos um aconselhamento espiritual, em que se pedem luzes para melhor praticar as virtudes cristãs, mas é, sim, um encontro pessoal com Cristo, que diz a cada um dos penitentes: “Meu filho, os teus pecados te são perdoados”; é um correr ao encontro do Pai, como o filho pródigo, e deixar-se amar e querer por Ele.

 

PRÁTICA DE CONFISSÃO

Assim, entende-se o motivo da atual prática da confissão, individual e auricular. No começo do Cristianismo, a prática era a acusação pública dos pecados, e só se admitia a confissão de um mesmo pecado, em algumas regiões, uma vez na vida. Era algo raro e extremamente árduo conseguir o perdão vindo de Deus.

A partir do século VII, os missionários irlandeses, dentre eles São Patrício, levaram à Europa continental a prática privada da penitência, em que a confissão se dava somente entre o sacerdote, que age na pessoa de Cristo, e o penitente, que quer se reconciliar com Deus. Abriase, assim, a possibilidade de, guardada a privacidade e, até mesmo, o anonimato – se usado o confessionário –, os cristãos se aproximarem com mais frequência da misericórdia divina, experimentando em suas vidas o amor individual que Deus tem por cada um.

 

MAS COMO ME CONFESSAR?

Para fazer uma boa confissão, a Igreja aconselha a seguir cinco passos, chamados os atos do penitente, que vão desde a preparação para a confissão até a penitência que se faz depois dela.

 

1° PASSO: O EXAME DE CONSCIÊNCIA

Auxiliado pela luz do Espírito Santo, ver quais são os pecados que mancham a alma. Partindo da verdade revelada por Cristo, o pecador veja em que ainda não está de acordo com a vontade de Deus. 

 

2° PASSO: A CONTRIÇÃO

Buscar ter um sincero arrependimento por ter ofendido a Deus e ao próximo; não é necessário nenhum tipo de sentimento, mas, sim, uma dor interior por ter ofendido Aquele que tanto amou, e ama, a humanidade!

 

3° PASSO: PROPÓSITO DECONVERSÃO

Fazer o firme propósito diante de Deus de não pecar mais, de mudar de vida, de se converter; é olhar para os pecados, para o mal que foi feito, e decidir-se, de uma vez para sempre, nunca mais abandonar o amor de Deus.

 

4° PASSO: A CONFISSÃO

Fazer a confissão a um sacerdote, que tem a autoridade dada por Deus para perdoar. O ato de confessar deve ser objetivo, de forma clara, concisa e completa. Deve-se confessar todos os pecados mortais de que se tiver consciência, chamando-os pelo nome, mas de forma muito breve, sem ficar entrando em detalhes ou tentando se justificar.

 

5° PASSO: A SATISFAÇÃO

Tendo o sacerdote dado a absolvição e algum conselho oportuno, o penitente, já reconciliado, deve cumprir a penitência que o padre indicar para pagar a pena temporal que se deve pelo pecado. É, ainda, a hora de agradecer a Deus a graça de ter concedido o perdão.

 

EXEMPLO DE EXAME DE CONSCIÊNCIA

Neguei ou abandonei a minha fé? Tenho a preocupação de conhecê-la melhor? Recusei-me a defender a minha fé ou tive vergonha dela?

Disse o nome de Deus em vão? Fiz juramentos falsos? Tenho sido supersticioso ou realizei práticas religiosas estranhas à fé cristã? Manifestei falta de respeito pelas pessoas, lugares ou coisas santas?

Faltei voluntariamente à missa aos domingos ou dias de preceito? Recebi a Sagrada Comunhão tendo algum pecado grave não confessado? Recebi a Comunhão sem agradecimento ou sem a devida reverência?

Fui impaciente, fiquei irritado ou fui invejoso? Guardei ressentimentos ou fiquei relutante em perdoar? Fui violento nas palavras ou ações com outros? Fui intolerante alimentando discórdias e inimizades com pessoas que têm opiniões diferentes? Colaborei ou encorajei alguém a fazer um aborto, a praticar eutanásia ou qualquer outro meio de acabar com a vida? Tive ódio ou fiz juízos críticos, em pensamentos ou ações? Falei mal dos outros, levando à maledicência? Abusei de bebidas alcoólicas? Usei drogas?

Vi vídeos pornográficos? Cometi atos impuros, sozinho ou com outras pessoas? Vivo com alguém como se fosse casado, sem que o seja na Igreja? Se sou casado, procuro amar o meu cônjuge mais do que a qualquer outra pessoa? Coloco o meu casamento em primeiro lugar?

E os meus filhos? Tenho uma atitude aberta a novos filhos?

Trabalho de modo desordenado, ocupando o tempo e energias que deveria dedicar à minha família e amigos? Fui orgulhoso ou egoísta nos meus pensamentos e ações? Deixei de ajudar os pobres e os necessitados? Gastei dinheiro com o meu conforto e luxo, esquecendo as minhas responsabilidades para com os outros e para com a Igreja?

Disse mentiras? Fui desonesto ou displicente no meu trabalho? Roubei ou enganei alguém no trabalho? Cedi à preguiça? Preferi a comodidade ao serviço aos outros? Descuidei da minha responsabilidade de aproximar os outros de Deus?

 

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Frei Cantalamessa: "O lugar onde entramos em contato com o Deus vivo é a Igreja é o nosso coração”

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22 de março de 2019

Na manhã desta sexta-feira (22), na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano, foi realizada a segunda Pregação de Quaresma do Frei Raniero Cantalamessa, Pregador oficial da Casa Pontifícia. O tema que o Capuchinho está desenvolvendo, nestas sextas-feiras de Quaresma, é “Voltar para dentro de si” extraído do pensamento de Santo Agostinho.

Com efeito, - disse Frei Cantalamessa - Santo Agostinho lançou um apelo que, muitos séculos depois, manteve intacta a sua relevância: ”Voltar para dentro de si”, pois a verdade reside no interior do homem.

Neste sentido, citando o Salmo "A minha alma tem sede do Deus vivo", refletimos sobre o "lugar" onde cada um de nós entra em contato com o Deus vivo. No sentido universal e sacramental este "lugar" é a “Igreja”, mas no sentido pessoal e existencial é o “nosso coração”, que a Escritura chama "o homem interior, o homem oculto no coração".

Neste período de Quaresma refletimos sobre “os quarenta dias que Jesus passou no deserto”. Ali devemos ir para nos encontrarmos com Ele. Mas, nem todos podem ir a um deserto exterior, mas sim no deserto interior, que é o nosso coração. "Cristo habita na interioridade do homem", disse Santo Agostinho.

Uma imagem simbólica do Evangelho, que nos ajuda a realizar a nossa conversão interior, é o episódio de Zaqueu. Ele quer conhecer Jesus. Por isso, sai da sua casa, entra no meio da multidão, sobe em uma árvore e o procura. Ao vê-lo Jesus disse-lhe: "Zaqueu, desce imediatamente, porque hoje tenho de entrar em tua casa". Assim ele conheceu, realmente, quem era Jesus e encontrou a salvação.

Nós somos muito parecidos com Zaqueu, disse Cantalamessa: procuramos Jesus fora de nós, nas ruas, na multidão. Mas, Jesus nos convida a voltar à nossa casa, aos nossos corações para se encontrar conosco.

Por isso, com esta passagem evangélica, o Pregador explicou o significado de “interioridade”, um valor que está em crise.

A "vida interior", que antes era sinônimo de “vida espiritual”, agora parece ser encarada com desconfiança. Algumas das causas desta crise interior dizem respeito à nossa natureza humana; outras referem-se à emergência "social".

Para o cristianismo, a crise de um valor tradicional deve partir da Palavra de Deus.

Vivemos em uma civilização projetada para o exterior. Não são apenas os jovens sobrecarregados de exterioridade, mas também os religiosos! Dissipação é a doença mortal que mina a todos.

Aqui, o Pregador da Casa Pontifícia citou a obra de Santa Teresa de Ávila intitulada “O Castelo Interior”, um dos frutos mais maduros da doutrina cristã da interioridade. Mas, infelizmente, há também um "castelo exterior", do qual somos prisioneiros. Por isso, devemos redescobrir e preservar nossa interioridade.

 

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Por meio da oração, a alma contempla a Deus na vida cotidiana

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15 de março de 2019

Oração, jejum e esmola são o caminho indicado para os cristãos viverem intensamente a preparação para a Páscoa. No entanto, essas práticas não se restringem ao período quaresmal. São hábitos que devem fazer parte da vida dos cristãos e que ganham maior destaque nesse tempo litúrgico. Nesta edição, o O SÃO PAULO dá destaque à oração.

 

O QUE É?

O exercício da oração indica todas as formas de relacionamento pessoal com Deus. “Pela oração, entramos em comunhão com Deus, diante de quem reconhecemo-nos criaturas e filhos”, disse o Papa Francisco na homilia da Quarta-feira de Cinzas de 2014. “Jesus rezou e ensinou a rezar. Sem oração, a vida cristã torna-se abstrata e corre o risco de se converter num extenuante esforço pessoal de busca da perfeição ética sem esperança nem alegria”, completou o Pontífice.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) ressalta que a humildade é o fundamento da oração. “A humildade é a disposição necessária para receber gratuitamente o dom da oração: o homem é um mendigo de Deus” (nº 2559).

 

IMPULSO DO CORAÇÃO

São João Damasceno define a oração como “a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens convenientes”. A doutora da Igreja Santa Teresa de Jesus definia a oração como “um trato de amizade com Deus”.

“Seja qual for a linguagem da oração (gestos e palavras), é o homem todo que ora. Mas, para designar o lugar de onde brota a oração, as Escrituras falam, às vezes, da alma ou do espírito ou, com mais frequência, do coração (mais de mil vezes). É o coração que ora. Se ele estiver longe de Deus, a expressão da oração será vã”, acrescenta o C

 

EXEMPLO DO MESTRE

O próprio Jesus Cristo é o modelo do cristão para a oração. São muitas as passagens dos Evangelhos que mostram o Filho de Deus se retirando a sós para rezar. Esse fato ganha especial destaque nos momentos mais importantes do seu ministério público, por exemplo, na ocasião de seu batismo, na escolha dos apóstolos, na multiplicação dos pães, na transfiguração e antes de viver a Paixão. “A oração de Jesus antes dos acontecimentos da salvação de que o Pai O encarrega é uma entrega humilde e confiante da sua vontade à vontade amorosa do Pai”, reforça o CIC (nº 2600).

Quando ora, Jesus instrui seus seguidores a orar. O maior exemplo disso é a passagem bíblica na qual Ele ensina o Pai-Nosso. É Cristo também quem ensina os cristãos a “procurar”, “bater à porta”, “pedir e receber”.

 

ORAÇÃO DE MARIA

A doutrina católica também apresenta a Mãe de Jesus como modelo de mulher orante. O Catecismo ressalta, ainda, que aquela que Deus fez “cheia de graça” responde pelo oferecimento de todo o seu ser: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. “‘Façase’ é a oração cristã: ser todo para ele, já que ele é todo para nós”, completa o CIC.

 

NO COTIDIANO

A oração é o principal alimento para a santificação da alma em meio à vida cotidiana. A exemplo disso, os santos da Igreja sempre remetem como modelo o período da vida oculta de Jesus, antes de iniciar o seu ministério público, quando tinha uma vida voltada ao trabalho, oração e estudo na Sagrada Família de Nazaré.

No discurso feito em 2002, São João Paulo II salientou que as atividades diárias se apresentam como um precioso meio de união com Cristo. “O espírito de oração transforma o trabalho e, assim, torna-se possível estar em contemplação de Deus ainda que permanecendo nas ocupações mais variadas”, afirmou.

 

EM FAMÍLIA

Desde a Quaresma do ano passado, a engenheira civil Mércia Maria Bottura de Barros, 56, tem feito o propósito de intensificar suas práticas de oração com seu esposo, o engenheiro eletrônico Marcelo Freire de Barros, 60, a começar pelo esforço de rezar juntos todas as manhãs por meio do oferecimento do dia e da meditação do Evangelho, antes de seguir para o trabalho.

Ao longo do dia, pequenos gestos, como o agradecimento antes das refeições, ajudam a renovar a sua comunhão com Deus. “Eu sempre programo o meu celular para despertar às 15h, hora da misericórdia, para fazer uma oração pessoal”, acrescentou. “Busco estar sempre em sintonia com Deus, mesmo que não seja por meio de orações formais. Quando vou à sala de aula, sempre peço para que Nossa Senhora me auxilie e que eu consiga realizar bem o meu trabalho, iluminada pelo Espírito Santo”, explicou Mércia, que leciona na Escola Politécnica da USP.

 

NO TRABALHO

O jornalista Tiago Oliveira Machado Miranda, 39, busca viver sua rotina diária em meio ao seu trabalho e o cuidado da família, em Brasília (DF).

“Todas as manhãs, após acordar, eu leio a Bíblia e faço uma breve meditação, seguida do exame de consciência. Ao chegar à empresa, faço uma oração oferecendo aquelas horas de trabalho. E, entre uma tarefa e outra, busco agradecer a Deus e oferecer a nova tarefa a Ele e também rezar por alguns colegas”, relatou, explicando que costuma escolher um colega por mês para fazer orações.

À noite, ele realiza uma leitura espiritual acompanhada de algumas orações da Igreja. Para o jornalista, a prática da oração dá um sentido sobrenatural a seus afazeres diários. “Acho que é importante lembrar de Deus ao longo da jornada de trabalho, até para ressignificar o que estou fazendo”, concluiu Tiago.

TIPOS DE ORAÇÃO

* Bênção e a adoração, pela qual se exalta Deus como o Senhor;

* Súplica, pela qual se implora com insistência alguma coisa;

* Intercessão, pela qual se pede por alguém;

* Ação de graças, principalmente a oferta da Igreja por meio da Missa;

* Louvor: dar glória a Deus;

* A oração ao Pai, Filho, Espírito Santo, anjos ou santos intercessores.

 

EXPRESSÕES DE ORAÇÃO

* Oração vocal: por meio da recitação de orações da tradição da Igreja (Liturgia das Horas, cânticos, novenas e devoções etc.);

* Meditação: reflexão por meio do pensamento, da imaginação, da emoção e do desejo. Normalmente, utiliza-se a Palavra de Deus, um livro espiritual ou a meditação dos mistérios do Rosário de Nossa Senhora;

* Oração mental: diálogo espontâneo e silencioso com Deus, sobre a própria vida, trabalhos, anseios, problemas, dúvidas e indecisões.

 

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Exercícios espirituais: na Quaresma deixar que Deus restaure a nossa beleza

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12 de março de 2019

Um convite a refletir sobre a indiferença, “proteção de si” para proteger-se dos outros e da responsabilidade para com a realidade, sobre a erradicação da vida da cidade, procurando a beleza e a medida que vem do ser amado por Deus e amá-lo também nós.

Este é o centro da terceira meditação oferecida, na manhã desta terça-feira (12/03), pelo abade de São Miniato ao Monte em Florença, Bernardo Francesco Maria Gianni, beneditino, ao Papa Francisco e seus colaboradores da Cúria Romana. O tema das reflexões do pregador “O presente de infâmia, de sangue e indiferença”, é extraído dos versos de Mario Luzi em “Felicità turbate”, a poesia dedicada à abadia florentina em dezembro de 1997.

Olhar paras as feridas da cidade

Quando ele escreve, recordou o abade beneditino, Luzi tem nos olhos o massacre perpetrado pela máfia quatro anos antes na Via dei Georgofili, as cinco vítimas inocentes e a destruição de “uma parte preciosa do centro artístico de nossa cidade”, disse ele.

“Somos convidados, a partir daquele evento dramático, a olhar, como sempre estamos procurando fazer, as feridas das cidades do mundo inteiro, até mesmo aquelas muito mais complexas e marcadas pelas injustiças de todos os tipos, em todo o nosso planeta, e fazê-lo com um olhar sobre a realidade que o nosso Papa nos ensinou, como prevalente respeito à ideia.

A indiferença, “proteção de si” para proteger-se dos outros

O pregador se deteve num dos três “sinais do mal”, a indiferença, tão distante do “alcance caritativo” da poesia de Luzi e da ação política de Giorgio La Pira. A indiferença “que muitas vezes de forma sutil paralisa o nosso coração, torna o nosso olhar” opaco, nebuloso. O que Charles Taylor descreveu como a “proteção do eu”.

É como se a nossa pessoa vestisse uma tela, da qual e com a qual se proteger dos outros, daquela responsabilidade que os problemas do nosso tempo solicitam, à luz daquela paixão evangélica que o Senhor quer acender com a força do seu Santo Espírito em nosso coração.

Olhar para a realidade sem sonhar cidades ideais

Citando o teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer e sua preocupação pela vida das gerações futuras, o abade Gianni sublinhou que deve estar em nosso coração a possibilidade de deixar para as novas gerações “um futuro melhor que o presente que vivemos, confiando nele, com um espírito radicalmente contrário à indiferença, mas todos movidos pela ardente participação”. Romano Guardini nos convidou ontem, recordou o beneditino, a acolher o futuro com responsabilidade “realizando-o o mais próximo possível junto com o Senhor”:

Olhar para a realidade evidentemente sem sonhar cidades ideais ou utópicas de nenhum tipo. A utopia não é uma perspectiva autenticamente evangélica. A Jerusalém celeste, que o visionário do Apocalipse contempla, não é uma utopia: é de fato o conteúdo de uma promessa real e confiável que o Senhor dá às suas igrejas na provação.

“A ação da Igreja e dos homens e mulheres de boa vontade”, esclareceu o abade Bernardo Francesco Maria Gianni, “acredito que seja realmente essa fecundidade gerada pela escuta obediente e apaixonada do Evangelho da vida” de Jesus. E a poesia de Mario Luzi, segundo o pregador, nos restitui a consciência “da tradição representada pelo fogo de seus antigos santos”. É aquela brasa que “com a santidade do tempo presente”, “pode realmente voltar a inflamar para ser uma luz de esperança na noite das cidades do nosso mundo”.

A erradicação da pessoa da vida da cidade

O abade de São Miniato ao Monte relatou as palavras de La Pira num encontro de prefeitos do mundo inteiro, em 2 de outubro de 1955: a crise do nosso tempo, disse o prefeito de Florença, “é uma crise de desproporção e desmedida em relação ao que é verdadeiramente humano”.

“A crise do nosso tempo pode ser definida como a erradicação da pessoa do contexto orgânico - isto é, vivo, conectivo - da cidade. Bem, essa crise só pode ser resolvida através de uma nova radicação, mais profunda, mais orgânica, da pessoa na cidade em que nasceu e em cuja história e tradição está organicamente inserida”.

Os remédios da beleza e medida

Deve ser vencida a tentação da indiferença, da “proteção de si”, da erradicação que também leva os homens da Igreja, a “sentirem-se estranhos, não interpelados pelo tecido vivo com as suas dificuldades, os  seus problemas, suas contradições, que são as cidades onde somos chamados a levar, seja qual for o custo, a Palavra de Deus, encarnando-a”. Por isso, o pregador propõe os medicamentos da beleza e da medida: “Uma dimensão coral contra todo individualismo, um grande testemunho que a Igreja não pode deixar de dar, com sua índole radicalmente fraterna”.

Santo Agostinho: amando a Deus nos tornamos belos

Santo Agostinho, comentando a Primeira Carta de São João, “nos lembra o que é a verdadeira beleza e como é recebida”. “Que fundamento”, diz Agostinho, “teremos para amar se Ele não nos tivesse amado por primeiro? Amando, tornamo-nos amigos, mas Ele nos amou quando éramos seus inimigos para nos tornar amigos”:

Novamente, a primazia de Deus, a anterioridade de seu agir, o nosso ser amados, ser feitos e ser decorados por sua beleza. Ele nos amou por primeiro e nos deu a capacidade de amá-lo: amando-o, nos tornamos belos.

Falar aos jovens da beleza, é a sua única medida

“Num mundo que olha muito para as aparências”, concluiu o pregador dos Exercícios ao Papa Francisco e à Cúria Romana, “a beleza é a única medida com a qual os jovens se aceitam e aceitam outros jovens”. Então, voltamos a Agostinho: “A nossa alma, irmãos, é feia por causa do pecado. Ela torna-se bonita amando a Deus”:

“Como seremos belos? Amando Ele que é sempre belo. Quanto mais cresce o amor em nós, cresce também a beleza, a caridade, de fato, a beleza da alma. No entanto, Agostinho reconhece que o Senhor Jesus, a fim de nos dar a sua beleza, também se tornou feio, e o fez na cruz, aceitando aquela mudança também em seu corpo.”

 

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‘Escolher Deus em primeiro lugar’

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11 de março de 2019

Os retiros de carnaval são uma alternativa para muitos católicos que desejam passar os dias de festas que antecedem o início da Quaresma. São muitas as opções voltadas paras diferentes idades, realizadas por paróquias, comunidades e movimentos. Uma delas é o “Reviver”, que foi promovido pela Comunidade Católica Shalom do domingo, 3, a terça-feira, 5.

Na Arquidiocese de São Paulo, o “Reviver” aconteceu simultaneamente em três lugares diferentes, na Comunidade São Pio, no Parque de Taipas, Região Episcopal Brasilândia; no Colégio Agostiano Mendel, no Tatuapé, Região Episcopal Belém; e na Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, na Vila Guilherme, Região Episcopal Santana, onde o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu a missa de encerramento do retiro.

Realizado em todo Brasil, o Reviver tem o objetivo de oferecer uma experiência de fé e espiritualidade para as pessoas no período do carnaval. “Muitas vezes, as pessoas acham que o Carnaval é só folia e festa, mas também pode ser ocasião de viver uma experiência com o amor de Deus”, explicou, ao O SÃO PAULO, Breno André Alves Dias, responsável pela missão da Comunidade Shalom na Arquidiocese de São Paulo.

 

PARA TODAS AS IDADES

Este ano, o evento teve como tema “Cristo é a nossa paz” (Ef 2,19). “Diante de tudo o que vivemos no mundo, anunciar a paz é essencial. Só que, para nós, a paz não é simplesmente a ausência de guerras e conflitos. A paz é uma pessoa, Jesus Cristo”, destacou o Responsável.

Durante a manhã, o tema central é desenvolvido e, à tarde, acontecem cursos voltados para jovens, famílias e pessoas que estão iniciando a caminhada de fé. Ao longo do dia, há momentos de oração, adoração ao Santíssimo Sacramento e missas. É um retiro para todas idades, inclusive para as crianças, por meio do “Reviver Kids”, com atividades de evangelização e oração voltadas especificamente para as crianças. “A proposta é poder reunir toda a família para que possa celebrar o amor de Deus”, acrescentou Breno.

 

COMUNIDADE MISSIONÁRIA

Dom Odilo iniciou a homilia chamando a atenção para o caminho sinodal vivido pela Arquidiocese de São Paulo, com destaque para o resultado dos levantamentos da realidade religiosa e pastoral realizado em todas as paróquias. Ele salientou que os resultados da pesquisa reforçam a necessidade de uma conversão pastoral e missionária na cidade: “Precisamos ser missionários, e vocês estão sendo uma comunidade missionária, procurando testemunhar a sua fé, ajudando outros a testemunhá-la”.

O Arcebispo recordou que a ação missionária não é apenas aquela realizada pelos que partem para outros países. “A Igreja tem de ser missionária também aqui. São Paulo é uma terra de missão. Nós temos muito trabalho a ser realizado. Precisamos compartilhar experiências como essa deste retiro, pare que outros possam vivê-la”, acrescentou, chamando a atenção para os muitos habitantes da cidade que se declararam católicos na pesquisa do sínodo, mas que não possuem nenhum vínculo com a comunidade eclesial. “Isso constitui um enorme campo de missão dentro de casa”, frisou.

 

DEUS EM PRIMEIRO LUGAR

Ao refletir sobre os textos bíblicos da liturgia do dia, Dom Odilo enfatizou o relato do Evangelho segundo São Marcos, que narra o encontro de Jesus com o jovem rico. “O texto diz que o jovem foi embora triste, pois tinha muitos bens. Com isso, Jesus não quer dizer que os ricos não se salvarão, mas que é preciso fazer uma escolha por Jesus, desapegar-se dos bens”, explicou.

O Cardeal continuou a reflexão reforçando que o apego aos bens se torna uma verdadeira idolatria que cega, capaz de tornar as pessoas insensíveis diante do bem maior, que é a vida eterna: “Deixar tudo é realmente fazer a escolha de Deus em primeiro lugar. E essa escolha não é feita somente pelos padres e freiras, mas também por todos os cristãos. Os bens são importantes, mas não podem ser idolatrados, pois Deus é o bem maior. É o primeiro mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas”

 

QUARESMA

Dom Odilo também recordou o início da Quaresma, na Quarta-feira de Cinzas, 6. “Esse é um tempo de preparação para a Páscoa e, por meio da penitência, nós nos preparamos para renovar as promessas do nosso Batismo e nossa profissão de fé católica. Durante a Quaresma, somos convidados a fazer uma avaliação da nossa vida”, disse, incentivando todos a viverem esse período por meio do jejum, da oração e da esmola, como propõe a Igreja.

 

HÁ 15 ANOS EM MISSÃO

Em 2019, a Comunidade Shalom comemora 15 anos de missão na Arquidiocese de São Paulo. Em 19 de março de 2004, a associação de fiéis iniciou suas atividades na Região Episcopal Santana, a pedido de Dom Odilo, então Bispo Auxiliar de São Paulo.

O apelo missionário foi a principal motivação da Comunidade Shalom para realizar, pela primeira vez, três retiros simultâneos na Arquidiocese. “São Paulo é uma cidade muito grande. Por isso, é importante que as pessoas tenham oportunidade de participar de um evento desses sem precisar se locomover tanto. Sabemos que três eventos ainda são poucos quando pensamos no tamanho da cidade, mas este ano já contabilizamos em torno de 1,6 mil pessoas participando desses eventos”, ressaltou André Dias.

Para o Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, Padre Antônio Laureano, acolher o “Reviver” na Paróquia foi uma oportunidade de conhecer melhor o trabalho evangelizador da comunidade. “Nossa comunidade se surpreendeu pelas várias atividades desenvolvidas nesses dias. Tudo isso confirmou o comprometimento da Shalom com a Igreja”, afirmou.

 

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Papa Francisco: na Quaresma, pedir a graça da coerência e deixar de ser hipócrita

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08 de março de 2019

Peçamos esta graça na Quaresma: a coerência entre o formal e o real, entre a realidade e as aparências: palavras do Papa Francisco na homilia desta sexta-feira (08/03), ao celebrar a missa na capela da Casa Santa Marta. O Pontífice inspirou sua reflexão no trecho extraído do livro do profeta Isaías.

A alegria da penitência

A simplicidade das aparências deveria ser redescoberta sobretudo no período da Quaresma, através do exercício do jejum, da esmola e da oração. Os cristãos, de fato, deveriam fazer penitência mostrando-se alegres; ser generosos com quem se encontra na necessidade sem “tocar os tambores”; dirigir-se ao Pai quase “escondido”, sem buscar a admiração dos outros. No tempo de Jesus, explicou o Papa, o exemplo era nítido na conduta do fariseu e do publicano; hoje, os católicos se sentem “justos” porque pertencem a certa “associação”, vão à “missa todos os domingos” e não são “como aqueles pobretões que não entendem nada”.

As pessoas que buscam as aparências jamais se reconhecem pecadores e se você disser a elas: “Mas você também é pecador!” – “Mas sim, todos temos pecados!”, e relativizam tudo e voltam a se tornar justos. Buscam até aparecer com cara de santinhos: tudo aparência. E quando existe esta diferença entre a realidade e a aparência, o Senhor usa o adjetivo: “Hipócrita”.

A hipocrisia dos "profissionais da religião"

Cada pessoa é tentada pelas hipocrisias e o tempo que nos conduz à Páscoa pode ser ocasião para reconhecer as próprias incoerências, para identificar as camadas de maquiagem de modo a “esconder a realidade”. Francisco insistiu no aspecto da hipocrisia, um tema que emergiu com força durante a XV Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Os jovens, afirmou, ficam impressionados com aqueles que buscam aparecer, mas depois se comportam consequentemente, sobretudo quando esta hipocrisia é vivida por “profissionais da religião”. O Senhor, ao invés, pede coerência.

Muitos cristãos, mesmo católicos, que se dizem católicos praticantes, como exploram as pessoas! Como exploram os operários! Como os mandam para casa no início do verão para readmiti-los no final, de modo que não têm direito à aposentadoria, não têm direito de ir avante. E muitos deles se dizem católicos: vão à missa no domingo… mas agem assim. E isso é pecado mortal! Quantas pessoas humilham seus operários...

Beleza da simplicidade

Neste tempo da Quaresma, o Pontífice convidou os fiéis a redescobrirem a beleza da simplicidade, da realidade que “deve estar unida à aparência”.

Peça ao Senhor a força e vai humildemente avante, com aquilo que pode. Mas não maquie a alma, porque, se fizer isso, o Senhor não o irá reconhecer. Peçamos ao Senhor a graça de sermos coerentes, de não sermos vaidosos, de não aparecer mais dignos daquilo que somos. Peçamos esta graça nesta Quaresma: a coerência entre o formal e o real, entre a realidade e as aparências.

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‘Convertei-vos e crede no Evangelho’

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08 de março de 2019

O Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu, na Catedral Sé, missa solene da Quarta-feira de Cinzas, 6, que deu início ao tempo litúrgico da Quaresma. Nesta ocasião, a Igreja no Brasil também abriu a Campanha da Fraternidade 2019, cujo o tema é “Fraternidade e Políticas Públicas”.

A Quarta-feira das Cinzas é um dia especial de jejum e penitência, em que os cristãos manifestam seu desejo pessoal de conversão a Deus por meio do rito de imposição das cinzas.

TEMPO FAVORÁVEL

Na homilia, Dom Odilo chamou a atenção para o refrão do canto de entrada da celebração - “Este é o tempo favorável, este é o dia da salvação” (cf. 2 Cor 6,2) - para ressaltar o sentido do tempo quaresmal como convite à conversão em preparação para a Páscoa. “A Quaresma inicia com um apelo forte e insistente à conversão. As palavras ‘convertei-vos e crede no Evangelho’, ditas durante a imposição das cinzas, não são apenas rituais, mas um apelo de Jesus no início da pregação do Evangelho”, afirmou.

 

EXAME DE CONSCIÊNCIA

O Arcebispo recordou, ainda, que a Quaresma é ocasião de fazer um profundo exame de consciência sobre o modo como se vive o Cristianismo, as promessas batismais e os deveres que emanam da fé em Jesus. “A liturgia da Quaresma nos repetirá de várias formas este lembrete que hoje já ouvimos: ‘Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor’. Deus nos fala no hoje de nossas vidas e, se estivermos atentos, nós o ouviremos”, disse.

“Como consequência dessa atitude de conversão, vem o reconhecimento da própria insuficiência e das escolhas erradas”, acrescentou o Cardeal.

 

CF 2019

No fim da missa, Dom Odilo entregou um exemplar do manual da Campanha da Fraternidade a representantes das regiões episcopais e vicariatos ambientais da Arquidiocese, incentivando todas as comunidades e organizações a aprofundar o tema proposto para a Igreja no Brasil.

Caminho de recolhimento em vista da Páscoa

A Quaresma é o tempo litúrgico de preparação para a Páscoa, celebração máxima da fé cristã. Desde o século IV, esse período de 40 dias é proposto como um tempo de penitência, renovação e conversão para a toda a Igreja.

O nome desse tempo deriva da palavra latina quadragesima. A exemplo de Jesus, que se retirou no deserto por 40 dias para orar e jejuar antes de iniciar sua vida pública, os cristãos são convidados a um “retiro e recolhimento” em vista das celebrações dos mistérios da Paixão, Morte e Ressureição do Senhor. “Todos os anos, pelos 40 dias da grande Quaresma, a Igreja une-se ao mistério de Jesus no deserto”, destaca o Catecismo da Igreja Católica (n. 540)

O número 40 também faz referência a outros acontecimentos bíblicos, como os 40 dias do dilúvio, os 40 anos de peregrinação do povo hebreu pelo deserto e os 40 dias em que tanto Moisés quanto Elias passaram retirados na montanha.

De acordo com o Catecismo da Igreja Católica, tanto a Sagrada Escritura quanto os primeiros Padres da Igreja destacam as três obras quaresmais: o jejum, a oração e a esmola, que “exprimem a conversão, em relação a si mesmo, a Deus e aos outros”

 

JEJUM E ABSTINÊNCIA

Na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta- -feira da Paixão, a Igreja prescreve o jejum e a abstinência de carne como um sacrifício em memória da Paixão de Cristo, que entregou a sua carne para a salvação da humanidade.

É chamada de jejum a privação voluntária de comida durante algum tempo por motivo religioso, como ato de culto a Deus. Na Bíblia, o jejum pode ser sinal de penitência, expiação dos pecados, oração intensa ou vontade firme de conseguir algo.

A abstinência de carne é prescrita a todos os maiores de 14 anos, enquanto o jejum aos maiores de 18 anos até os 59 anos. As pessoas doentes ou que estão muito debilitadas não estão obrigadas a cumprirem esse preceito.

 

ORAÇÃO

O exercício da oração indica todas as formas de relacionamento pessoal com Deus. O Catecismo lembra que a humildade é o fundamento da oração. “A humildade é a disposição necessária para receber gratuitamente o dom da oração: o homem é um mendigo de Deus” (n. 2559).

“Seja qual for a linguagem da oração (gestos e palavras), é o homem todo que ora. Mas, para designar o lugar de onde brota a oração, as Escrituras falam às vezes da alma ou do espírito ou, com mais frequência, do coração (mais de mil vezes). É o coração que ora. Se ele estiver longe de Deus, a expressão da oração será vã”, acrescenta o Catecismo (n. 2562).

 

ESMOLA

A prática da esmola refere-se às obras de misericórdia e a todas as formas de caridade que devem ser praticadas ao longo de toda a vida cristã. A doutrina da Igreja ensina que a prática da caridade cristã também implica renúncia e abnegação, isto é, dar a vida, dar-se aos outros.

São João Paulo II, na carta apostólica Salvifici Doloris, de 1984, apresenta a parábola do bom samaritano como um paradigma da caridade cristã, quando ele põe todo o seu coração, sem poupar nada, para socorrer o homem ferido à beira da estrada. Em outras palavras, dá a si próprio ao outro. “O homem não pode encontrar a sua própria plenitude a não ser no dom sincero de si mesmo”, diz o Santo.

 

‘A fraternidade é expressão elevada do amor ao próximo’

Antes da missa da Quarta-feira de Cinzas, o Cardeal Odilo Pedro Scherer concedeu uma entrevista coletiva, na Catedral da Sé, para apresentar o tema da Campanha da Fraternidade (CF) 2019. O Arcebispo de São Paulo enfatizou aos jornalistas que o principal objetivo da CF é promover a fraternidade na convivência comum e aprofundar o aspecto do amor ao próximo.

“A fraternidade é expressão elevada do amor ao próximo. Ela deve ir além de afetos vagos ou de gestos de filantropia e marcar de forma nova as relações interpessoais e também as relações sociais e públicas, para não dizer políticas. Jesus ensinou que precisamos passar da medida ética universal – ‘Não faça ao próximo o que não gostarias que fizessem contra ti’ – para a forma proativa do amor ao próximo: ‘Amai-vos como eu vos amei’”, disse Dom Odilo.

 

BEM-COMUM

O Arcebispo explicou aos jornalistas que a Campanha deste ano coloca a questão do uso e da destinação dos bens públicos, administrados pelas diversas instâncias dos três níveis do Estado: municipal, estadual e federal. “Nas denúncias e constatações de corrupção desses últimos anos, ficaram evidentes os problemas da má gestão ou desvio de recursos e de apropriação indébita do dinheiro e do patrimônio público, que deveriam servir à promoção do bem comum, em prol da sociedade inteira, e não para beneficiar alguns poucos”, enfatizou.

Dom Odilo acrescentou que os gestores públicos têm a competência e a obrigação de fomentar políticas para o emprego do dinheiro público na promoção da justiça social, da superação da miséria e dos sofrimentos do povo mais vulnerável e para promoção de oportunidades de vida digna para todos os cidadãos. “Em resumo, trata-se de promover uma autêntica fraternidade entre todos os cidadãos”, reiterou.

Segundo o Cardeal, os católicos devem participar ativamente na elaboração de projetos que promovam políticas públicas que estejam voltadas para a promoção do bem comum.

(Colaborou: Flavio Rogério Lopes)
 

PUC-SP promove debates sobre tema da CF 2019

Nos dias 26 e 27 de fevereiro, a PUC-SP realizou debates sobre o tema “Por políticas públicas com transparência e participação, à luz da Campanha da Fraternidade 2019”. O evento aconteceu nos campi Marquês de Paranaguá, Ipiranga e Monte Alegre, promovido pela PUC-SP e a Arquidiocese de São Paulo.

Entre os participantes dos debates estavam Américo Sampaio, da Rede Nossa São Paulo; o Padre José Arnaldo Juliano, teólogo; e os professores da PUC-SP Rosana Manzini, da Faculdade de Teologia; Rafael Barreto da Cruz, do Departamento de Engenharia; e Aldaiza Oliveira Sposati, da Pós-graduação em Serviço Social.

 

CNBB ressalta relação da CF com a espiritualidade quaresmal

Durante a cerimônia oficial de lançamento da Campanha da Fraternidade, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na Quarta-feira de Cinzas, 6, em Brasília (DF), o Presidente da entidade, Cardeal Sergio da Rocha, reforçou a importância de relacionar o tema da CF com a espiritualidade quaresmal.

“Sabemos que uma das principais exigências da espiritualidade quaresmal é justamente a fraternidade, o amor fraterno, com seus vários níveis e exigências”, afirmou Dom Sergio.

 

OBJETIVOS

Dom Sergio ressaltou que um dos principais objetivos da Campanha “é promover uma participação maior na elaboração de políticas públicas nos diversos âmbitos da vida social (saúde, educação, segurança pública, meio ambiente…)”, disse. “De tal modo, que esta Campanha, com um tema de caráter mais abrangente, retoma e dá continuidade a outras que tiveram temas mais específicos. Ela estimula o exercício consciente e responsável da cidadania, despertando o interesse pelas políticas públicas, tema exigente e ainda pouco conhecido”, acrescentou.

“Graças a Deus, a Campanha da Fraternidade tem repercutido não apenas no interior das comunidades católicas, mas também nos diversos ambientes da sociedade. Pela sua natureza, ela sempre vai muito além da Igreja Católica. Tem contado, cada vez mais, com a participação de muitas entidades da sociedade civil, de escolas, de outras igrejas cristãs e de órgãos públicos. A Campanha exige ações comunitárias, além das iniciativas pessoais. Exige sempre muito diálogo, reflexão e ação conjunta, especialmente para desenvolver o tema das políticas públicas. A construção de políticas públicas deve ser tarefa coletiva numa sociedade democrática e participativa”, concluiu Dom Sergio.

(Com informações de CNBB)
 

 

 

LEIA TAMBÉM: Campanha da Fraternidade: Mensagem do Papa Francisco ao povo brasileiro

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Quaresma 2019: converter-nos para fazer da criação um jardim, não um deserto

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26 de fevereiro de 2019

O tema da criação inspirou a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2019.

O texto foi divulgado esta terça-feira (26/02) na Sala de Imprensa da Santa Sé, com o título “A criação encontra-se em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus”, extraído de Romanos 8,19.

O Pontífice oferece algumas propostas de reflexão para acompanharem o caminho de conversão nesta Quaresma.

 

A redenção da criação

O Pontífice destaca que a criação se beneficia da redenção do homem quando este vive como filho de Deus, isto é, como pessoa redimida. Neste mundo, porém, adverte Francisco, “a harmonia gerada pela redenção continua ainda – e sempre estará – ameaçada pela força negativa do pecado e da morte”.

 

A força destruidora do pecado

Com efeito, prossegue o Papa, quando não vivemos como filhos de Deus, muitas vezes adotamos comportamentos destruidores do próximo, das outras criaturas, mas também de nós mesmos. Isso leva a um estilo de vida que viola os limites que a nossa condição humana e a natureza nos pedem para respeitar, seguindo desejos incontrolados.

“ Se não estivermos voltados continuamente para a Páscoa, para o horizonte da Ressurreição, é claro que acaba por se impor a lógica do tudo e imediatamente, do possuir cada vez mais. ”

A aparição do mal no meio dos homens interrompeu a comunhão com Deus, com os outros e com a criação, a ponto de o jardim se transformar num deserto.
Trata-se daquele pecado que leva o homem a considerar-se como deus da criação, explica o Papa, a sentir-se o seu senhor absoluto. Quando se abandona a lei de Deus, a lei do amor, acaba por se afirmar a lei do mais forte sobre o mais fraco.

“O pecado, manifestando-se como avidez, ambição desmedida de bem-estar, desinteresse pelo bem dos outros – leva à exploração da criação (pessoas e meio ambiente), movidos por aquela ganância insaciável que considera todo o desejo um direito e que, mais cedo ou mais tarde, acabará por destruir inclusive quem está dominado por ela.”

 

A força sanadora do arrependimento e do perdão

Por isso, a criação tem impelente necessidade que se revelem os filhos de Deus. E o caminho rumo à Páscoa chama-nos precisamente a restaurar a nossa fisionomia e o nosso coração de cristãos, através do arrependimento, a conversão e o perdão, para podermos viver toda a riqueza da graça do mistério pascal.

A Quaresma chama os cristãos a encarnarem, de forma mais intensa e concreta, o mistério pascal na sua vida pessoal, familiar e social, particularmente através do jejum, da oração e da esmola.

Jejuar, isto é, aprender a modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação de «devorar» tudo para satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração. Orar, para saber renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu, e nos declararmos necessitados do Senhor e da sua misericórdia. Dar esmola, para sair da insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos.

“ Queridos irmãos e irmãs, a ‘quaresma’ do Filho de Deus consistiu em entrar no deserto da criação para fazê-la voltar a ser aquele jardim da comunhão com Deus. Que a nossa Quaresma seja percorrer o mesmo caminho, para levar a esperança de Cristo também à criação. ”

“Não deixemos que passe em vão este tempo favorável!”, é o apelo final do Papa.

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"A pureza cristã", tema da V Pregação da Quaresma do pe. Raniero Cantalamessa

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23 de março de 2018

O pregador oficial da Casa Pontifícia, frei Raniero Cantalamessa, fez na manhã desta sexta-feira (23/03) na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano, sua quinta e última pregação da Quaresma.

Partindo do tema “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”, o capuchinho refletiu sobre a “santidade cristã no discurso do apóstolo São Paulo”.

Cantalamessa dividiu sua pregação quaresmal, com base na “pureza cristã”, em quatro pontos: “pureza, beleza e amor ao próximo”, “pureza e renovação” e “puros de coração”.

Comentando o discurso de São Paulo aos Romanos, que diz: "Despojemo-nos das obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz", o pregador da Casa Pontifícia citou Santo Agostinho, que, nas suas nas Confissões, fala da importância desta passagem para a sua conversão pessoal. De fato, ele já havia quase alcançado a completa adesão à fé, mas tinha medo de não ser capaz de viver casto. Como sabemos, ele vivia com uma mulher sem ser casado.

Ao abrir ao acaso as páginas das Cartas de São Paulo, debateu-se precisamente com a frase que o pregador pontifício propõe para hoje “usar as armas da luz, como vontade de Deus. Assim, uma luz brilhou dentro dele e iluminou suas trevas.

Desta forma, Paulo estabelece uma ligação muito estreita entre pureza e santidade, entre pureza e Espírito Santo.

Mas, em outra Carta, Paulo fala do “fruto do Espírito que é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio", mas também das “obras da carne” ou desordem sexual.

Logo, diante das duas atitudes opostas “virtude e vício”, “pureza e impureza” devemos “revestir-nos do Senhor Jesus Cristo”, pois somos templos do Espírito Santo". O nosso corpo está destinado à ressurreição e à glorificação de Deus. Na nova luz, que emerge do mistério pascal, o ideal da pureza cristã ocupa um lugar privilegiado: é beleza, caridade, arma da luz, amor ao próximo, serviço aos irmãos.

Segundo as origens cristãs, a Igreja adotou como principais instrumentos o anúncio da Palavra e o testemunho de vida; o amor fraterno e a pureza dos costumes.

Ao concluir sua pregação quaresmal, Frei Cantalamessa fez uma comparação entre as origens cristãs e os nossos dias, em relação à pureza. Vivemos em uma sociedade que, em termos de costumes, está mergulhada no paganismo e na idolatria do sexo. Famílias inteiras são destruídas.

Diante desta situação, o que Deus quer de nós cristãos? Ele nos convida a fazer a "beleza" da vida cristã brilhar novamente diante dos olhos do mundo, a lutar pela pureza. O Espírito Santo nos chama hoje a testemunhar ao mundo a inocência original, a nostalgia da inocência e da simplicidade. Enfim, a "usar as armas da luz". Jesus dizia: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus". 

(Tradução de Thácio Siqueira)

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Viver a Quaresma sem idolatrias, sem fazer da alma um comércio

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05 de março de 2018

Não fazer da nossa alma e da casa de Deus um comércio": foi a advertência que o Papa Francisco fez antes de rezar com os fiéis e peregrinos na Praça S. Pedro a oração mariana do Angelus (04/03). 

Neste III domingo da Quaresma, o Pontífice comentou o episódio do Evangelho de João em que Jesus expulsa os mercantes do templo de Jerusalém. Um gesto feito com firmeza, com a ajuda de um chicote de cordas para derrubar as mesas. Nesta atitude aparentemente violenta, Jesus diz: « Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!» 

 

Abusos e excessos

A ação de Cristo foi interpretada como típica dos profetas, explicou o Papa, os quais com frequência denunciavam, em nome de Deus, abusos e excessos. A questão que se colocou foi a da autoridade. De fato, os judeus perguntaram a Ele: «Que sinal nos mostras para agir assim?».

Os seus discípulos, por sua vez, se serviram de um texto bíblico extraído do Salmo 69 para interpretar esta atitude: «O zelo por tua casa me consumirá». "O zelo pelo Pai e por sua casa levará Jesus até a cruz: o seu é o zelo do amor que leva ao sacrifício de si, não aquele falso que pensa de servir Deus mediante a violência", disse Francisco.

De fato, o “sinal” que Jesus dará como prova da sua autoridade será justamente a sua morte e ressurreição: «Destruí este templo – diz – e em três dias eu o levantarei ». Com a Páscoa de Jesus, acrescentou o Papa, "tem início um novo culto, o culto do amor, e um novo templo que é Ele próprio".

Para Francisco, a atitude de Jesus nos exorta a viver a nossa vida não em busca de vantagens e interesses, mas pela glória de Deus .

“ Somos chamados a ter sempre presentes aquelas palavras fortes de Jesus « Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!» É muito feio quando a Igreja escorrega nesta atitude de fazer da casa de Deus um mercado. Essas palavras nos ajudam a refutar o perigo de fazer da nossa alma, que é morada de Deus, um lugar de comércio, vivendo na busca contínua da nossa recompensa. ”

O Pontífice recorda que este ensinamento de Jesus é sempre atual, não somente para as comunidades eclesiais, mas também para os indivíduos, para as comunidades civis e para toda a sociedade.

 

Não instrumentalizar Deus

De fato, disse ainda o Papa, é comum a tentação de aproveitar de atividades benéficas, às vezes obrigatórias, para cultivar interesses privados, quando não até mesmo ilícitos "É um grave perigo, especialmente quando instrumentaliza o próprio Deus e o culto a Ele devido ou o serviço ao homem", afirmou Francisco, que concluiu:

"Que a Virgem Maria nos ampare no esforço de fazer da Quaresma uma boa ocasião para reconhecer Deus como único Senhor da nossa vida, tirando de nosso coração e de nossas obras toda forma de idolatria."

 

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