A Arquidiocese de São Paulo atenta à superação da violência

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14 de fevereiro de 2018

Com o tema “Fraternidade e a superação da violência” e o lema “Vós sois todos irmãos” (Mt 23, 8), a Igreja no Brasil proclama, na Campanha da Fraternidade 2018, que a violência é um mal, não é digna do homem e deve sempre ser vista como algo inaceitável para a solução dos problemas.

O secretário executivo de Campanhas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Padre Luís Fernando da Silva, explicou que um dos objetivos da CF 2018 é apresentar iniciativas no Brasil que ajudem a combater a violência.

Na tarde da quarta-feira, 14, às 13h30, uma ação nas escadarias da Catedral da Sé marcará a abertura da Campanha da Fraternidade na Arquidiocese de São Paulo, chamando a atenção aos tipos de violência enfrentada na cidade e ao fato de que todos são filhos do mesmo Pai e, portanto, irmãos.

Segundo Márcia Castro, da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese, “a apresentação nas escadarias da Catedral será protagonizada por jovens das seis regiões episcopais da Arquidiocese de São Paulo.”

Na sequência, haverá uma missa presidida pelo Arcebispo Metropolitano, Dom Odilo Pedro Scherer, na qual representantes das regiões episcopais levarão informações de como as mesmas irão assumir a Campanha dentro da própria realidade.

“Cada Região com seu jeito, com a sua forma de caminhar, tem uma equipe que vai incentivar e disseminar o material e principalmente motivar que a Campanha da Fraternidade seja assumida não apenas durante a Quaresma, que é seu tempo mais forte, mas durante todo ano”, completou Márcia.

 

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Papa envia mensagem aos brasileiros por ocasião da CF 2018

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14 de fevereiro de 2018

Todos os anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apresenta a Campanha da Fraternidade como caminho de conversão quaresmal. Um caminho pessoal, comunitário e social que visibilize a salvação paterna de Deus. “Fraternidade e superação da violência” é o tema da Campanha para a Quaresma, em 2018. O Evangelho de Mateus inspira o lema: “ Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).

A Campanha será lançada oficialmente nesta Quarta-feira de Cinzas e tem como objetivo geral: “Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”.

De acordo com o Secretário-Geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrichs Steiner, sofremos e estamos quase estarrecidos com a violência. Não apenas com as mortes que aumentam, mas também por ela perpassar quase todos os âmbitos da nossa sociedade. A ética que norteava as relações sociais está esquecida. Hoje, temos corrupção, morte e agressividade nos gestos e nas palavras. Assim, quase aumenta a crença em nossa incapacidade de vivermos como irmãos.

Por ocasião do lançamento da Campanha da Fraternidade 2018 o Papa Francisco enviou uma mensagem ao Presidente da CNBB, o arcebispo de Brasília, Cardeal Dom Sérgio da Rocha.

 

Eis na íntegra a mensagem do Papa:

Queridos irmãos e irmãs do Brasil!

Neste tempo quaresmal, de bom grado me uno à Igreja no Brasil para celebrar a Campanha “Fraternidade e a superação da violência”, cujo objetivo é construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência. Desse modo, a Campanha da Fraternidade de 2018 nos convida a reconhecer a violência em tantos âmbitos e manifestações e, com confiança, fé e esperança, superá-la pelo caminho do amor visibilizado em Jesus Crucificado.

Jesus veio para nos dar a vida plena (cf. Jo 10, 10). Na medida em que Ele está no meio de nós, a vida se converte num espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos (cf. Exort. Apost. Evangelii gaudium, 180). Este tempo penitencial, onde somos chamados a viver a prática do jejum, da oração e da esmola nos faz perceber que somos irmãos. Deixemos que o amor de Deus se torne visível entre nós, nas nossas famílias, nas comunidades, na sociedade.

“É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (1 Co 6,2; cf. Is 49,8), que nos traz a graça do perdão recebido e oferecido. O perdão das ofensas é a expressão mais eloquente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir. Às vezes, como é difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração, a paz. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança é condição necessária para se viver como irmãos e irmãs e superar a violência. Acolhamos, pois, a exortação do Apóstolo: “Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento” (Ef 4, 26).

Sejamos protagonistas da superação da violência fazendo-nos arautos e construtores da paz. Uma paz que é fruto do desenvolvimento integral de todos, uma paz que nasce de uma nova relação também com todas as criaturas. A paz é tecida no dia-a-dia com paciência e misericórdia, no seio da família, na dinâmica da comunidade, nas relações de trabalho, na relação com a natureza. São pequenos gestos de respeito, de escuta, de diálogo, de silêncio, de afeto, de acolhida, de integração, que criam espaços onde se respira a fraternidade: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), como destaca o lema da Campanha da Fraternidade deste ano. Em Cristo somos da mesma família, nascidos do sangue da cruz, nossa salvação. As comunidades da Igreja no Brasil anunciem a conversão, o dia da salvação para conviverem sem violência.

Peço a Deus que a Campanha da Fraternidade deste ano anime a todos para encontrar caminhos de superação da violência, convivendo mais como irmãos e irmãs em Cristo. Invoco a proteção de Nossa Senhora da Conceição Aparecida sobre o povo brasileiro, concedendo a Bênção Apostólica. Peço que todos rezem por mim.

 

Vaticano, 27 de janeiro de 2018.

[Franciscus PP.]

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Campanha da Fraternidade desafia sociedade a combater a violência

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15 de fevereiro de 2018

Em 1964, realizou-se a primeira Campanha da Fraternidade (CF) em âmbito nacional, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Desde lá, muitos temas foram propostos para a reflexão quaresmal no País. Para o ano de 2018, foi escolhido o tema “Fraternidade e superação da Violência” e o lema: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23, 8), com o objetivo geral de construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da palavra de Deus. O texto a seguir foi escrito a partir de informações e dados contidos no texto-base da CF deste ano. 

MÚLTIPLAS FORMAS DE VIOLÊNCIA

Segundo o texto-base da CF 2018, publicado pela CNBB: “O tema da superação da violência e da segurança tornou-se uma das principais realidades a serem discutidas e tem inspirado diversas formas de políticas públicas.” 

O Brasil, apesar de possuir menos de 3% da população mundial, responde por quase 13% dos assassinatos que ocorrem em todo o mundo. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2014, o País chegou ao topo do ranking , tendo registrado 59.627 mortes por homicídio. 

A violência vem sendo potencializada pelas tecnologias digitais de comunicação e de informação.  As redes sociais têm contribuído para dar visibilidade à violência expressa sob a forma de preconceito ou ódio de classe, de raça, de sexo, de política e até mesmo de intolerância religiosa. 

O texto da CF 2018 assume que as soluções para os problemas relacionados à segurança pública oriundas de práticas de violência não são responsabilidade exclusiva do Estado, mas dizem respeito a todos os brasileiros e brasileiras. Não existe a possibilidade de se encaminhar uma solução sem ampla participação de toda sociedade.

CULTURA DA VIOLÊNCIA

A definição mais clara da palavra cultura é “cultivo”. Propagar uma cultura é cultivar um modo de ser, de estar e de agir. Quando se apresenta a violência como cultura, parte-se de uma análise da realidade em que determinados comportamentos foram assimilados como “normais”, “comuns”. Essa cultura é produzida pelos indivíduos, que, ao mesmo tempo, se tornam vítimas do próprio sistema de violência. O texto da CF 2018 explica esse processo da seguinte maneira: “Por violência cultural entendem-se as condições em razão das quais uma sociedade não reconhece como violência atos ou situações em que determinadas pessoas são agredidas. Criamse processos que fazem aparecer como legítimas certas ações violentas. Elaboram-se discursos para apresentar razões e justificativas como se uma ação violenta fosse devida, uma consequência de determinadas condutas da própria pessoas que sofreu a violência. Portanto, a violência cultural não é, necessariamente, uma causa da violência direta, mas cria as condições em meio às quais chega a tornar-se difícil, para a sociedade, reconhecer um ato ou sistema como violento”.

Assim, a violência cultural não estabelece a causa primeira da violência, mas é condição para que a sociedade tenha uma visão míope dos atos violentos. Em outras palavras, uma consciência anestesiada, pois aquilo que deveria ser considerado violento, porque é um mal em si, passa a não ser assim considerado. 

O ROSTO E OS NÚMEROS DA VIOLÊNCIA

Os números apontados pelo Mapa da Violência 2016 mostram que, no Brasil, 5 pessoas são mortas por arma de fogo a cada hora. A cada dia, são 123 pessoas assassinadas dessa forma.  

De acordo com o texto-base da CF 2018, esses números revelam que, no Brasil, ocorrem mais mortes por armas de fogo do que nas chacinas e atentados que acontecem em todo mundo. Homicídios, sequestros, estupros e diversas outras formas de violência são traduzidos em números e constituem a principal e a mais imediata preocupação dos cidadãos. 

JOVENS

Entre os jovens de 15 a 24 anos, os homicídios são a principal causa da morte. Dados referentes ao ano de 2011 mostram a gravidade da tragédia. Naquele ano houve, em todo o País, mais de 52 mil mortos por homicídio. Desse total, mais da metade das vítimas eram jovens (52,63%).  

Dentre os jovens vitimados, a imensa maioria era composta por negros (71,44%), majoritariamente do sexo masculino (93,03%). O número de homicídios por arma de fogo cresceu 592,8% entre 1980 e 2014. Quando se consideram apenas vítimas jovens, constata-se um aumento de 699,5%, por meio dos números divulgados pelo texto- base da Campanha da Fraternidade. 

RACIAL

A violência racial no Brasil é uma situação que faz supor uma forte correlação entre as três formas de violência (direta, estrutural e cultural). Os casos de violência direta parecem ser o resultado mais concreto e evidente de questões socioeconômicas históricas, além de deixarem entrever representações culturalmente produzidas e já naturalizadas a respeito da população negra, do índio, dos migrantes e, mais recentemente, também do imigrante. 

A xenofobia, por exemplo, que atinge pessoas de origem e culturas diferentes, faz as pessoas se sentirem ameaçadas ou invadidas. Essas e outras formas de preconceito se configuram como racismo, caracterizado pela suposição de quem existam raças humanas distintas e de que umas são superiores a outras. Nessa mentalidade, o sujeito considera inferiores as pessoas que não possuem as mesmas características que ele, constata o texto-base da CF.

Divulgação

DOMÉSTICA

A violência contra a mulher ocorre, principalmente, dentro de casa. 71,8% das agressões registradas pelo SUS em 2011 aconteceram no domicílio da vítima. Frequentemente, o agressor é o parceiro ou ex-parceiro da vítima (43,3%). 

Quando se consideram apenas as mulheres na faixa de 30 a 39 anos de idade que sofreram violência, em 70,6% dos casos o parceiro ou ex-parceiro é o agressor. Pais (19,8%), irmãos ou filhos (7,5%) respondem pelo restante dos casos. 

Outro grupo vítima da violência dentro de casa é o das crianças e adolescentes. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), não há dados que revelam a extensão dessa forma da violência. O abuso sexual, os ataques verbais ou físicos e a negligência atingem em grande escala os adolescentes no ambiente doméstico.

Segundo a ONU, a pobreza é causa da morte de pelo menos 17 mil crianças e jovens todos os dias. 61 milhões de crianças estão fora da escola, em dezenas de países. Cerca de 1 bilhão de crianças vive na pobreza em todo mundo.

EXPLORAÇÃO SEXUAL E TRÁFICO HUMANO

“O tráfico de pessoas é, atualmente, uma das formas mais violentas de exploração do ser humano no mundo inteiro”, afirma o texto-base. Trata-se de uma modalidade de crime organizado transnacional.

Este crime está fortemente atrelado à exploração sexual, ao comércio de órgãos, à adoção ilegal, à pornografia infantil, às formas ilegais de imigração com vistas à exploração do trabalho em condições análogas à escravidão, e ao contrabando de mercadorias. 

Segundo a ONU, 75% das vítimas de tráfico de pessoas são mulheres e meninas. A ONU Mulher considera o tráfico de pessoas uma das três atividades criminosas mais rentáveis do mundo, ao lado do tráfico de drogas e de armas.

NARCOTRÁFICO

O narcotráfico movimenta mais de 400 bilhões de dólares por ano, sendo um dos setores mais lucrativos da economia mundial. Dados da Secretaria Nacional Antidrogas e do escritório da ONU sobre drogas e crimes indicam que no Brasil há entre 20 e 30 milhões de viciados em álcool, contra 870 mil dependentes de cocaína. 

A cada ano, cerca de oito mil pessoas morrem em decorrência do uso de drogas lícitas e ilícitas no Brasil. Um estudo elaborado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) apontou que, entre 2006 e 2010, foram contabilizados 40,6 mil óbitos causados por substâncias psicoativas. O álcool aparece na primeira colocação entre as causas, sendo responsável por 85% dessas mortes. 

RELIGIÃO

“Assim, as religiões – que têm em comum a promoção da vida, da liberdade, da justiça e da solidariedade – podem constituir fundamental instrumento para a promoção de uma cultura da paz e da vida”, afirma o texto-base da Campanha.

Dito de outro modo, as religiões são mecanismos importantes de mobilização social no enfrentamento da violência e da criminalidade. As religiões podem ser um contraponto positivo frente à onda de morte que toma conta de sociedade.

Contudo, também é possível que a experiência religiosa se converta em uma forma de violência. No Brasil, tem sido comum que a intolerância e o fanatismo religiosos se concretizem no desrespeito à liberdade de expressão, nas proibições de uso de vestimentas rituais em público, nas agressões físicas de pessoas e a monumentos religiosos, além do uso indevido de símbolos de outra religião como o fim de desmerecer, condenar ou mesmo demonizar práticas religiosas. 

SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA

A superação da violência pede compromisso e ações que envolvam a sociedade civil, os membros da Igreja e os poderes constituídos, a fim de que não somente os direitos humanos, mas também a promoção da cultura da paz, sejam assegurados pela criação de políticas públicas emancipatórias. 

“A Campanha da Fraternidade deste ano nos convoca a viver a prática de Jesus no exercício da escuta, da saída missionária, do acolhimento, do diálogo, do anúncio e da denúncia da violência na dimensão pessoal e social. A lógica do amor é o único instrumento eficaz dantes das ações violentas”, afirma o texto-base da CF 2018. 

A relação com o outro é um importante passo para superação da violência, e a família é o primeiro lugar que o ser humano aprende a se relacionar. Os comportamentos e estímulos de superação da violência exercitadas na família nos convidam a desenvolver essas atitudes na comunidade e na sociedade. 

A superação da violência passa pela conversão pessoal. É preciso assumir a espiritualidade do seguimento de Jesus, o modelo de pessoa que escolheu não ser violento, mesmo diante das injustiças. A conversão, compreendida como mudança de atitudes e comportamentos, é a principal proposta que a liturgia quaresmal oferece. A oração é um importante instrumento para superação da violência.
 

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