Regional realiza Encontro Estadual de Avaliação da CF 2018

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04 de junho de 2018

“Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8). De 25 a 27 de maio, ocorreu no Seminário Seráfico Santo Antônio, em Agudos, o Encontro Estadual de Avaliação da Campanha da Fraternidade. O evento teve por objetivo analisar as ações já feitas, em curso ou planejadas para a CF no âmbito da superação da violência, tema deste ano. Os participantes puderam ter claro, como destacou Dom Rubens Sevilha, recém-empossado na Diocese de Bauru, que a superação da violência constitui “um processo”, que não se encerra simplesmente em um ano ou uma atividade, mas que deve permear sobretudo futuros trabalhos – trata-se de mais um passo na caminhada.

O encontro ocorreu em meio à greve dos caminhoneiros, que mobilizou atenções e angústias pelo País e impôs desafios tanto à organização quanto à participação, mas teve a participação de representantes das oito subdivisões do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).  Os trabalhos, consagrados desde o início à Mãe Aparecida, incluíram a apresentação de dados preliminares sobre a Campanha deste ano, em que se destacou como o tema permitiu reflexões nas diversas instâncias da sociedade (desde o cotidiano até a política) e nas redes sociais.  Essas avaliações diocesanas permitiram apresentar um mosaico de como se vive a ação social, sobretudo no tempo quaresmal, e a conjuntura atual no Estado de São Paulo.

O bispo referencial da CF no Estado, Dom Eduardo Vieira dos Santos, que também responde pela Região Episcopal Sé na Arquidiocese de São Paulo, teve a oportunidade de testemunhar como o tema da superação da violência se encarnou em uma situação concreta após o incêndio e posterior desabamento do Prédio Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paiçandu, em 1 de maio deste ano. O trabalho solidário da Igreja no centro da capital e maior cidade do País se mantém, apesar da redução na comoção da mídia e da sociedade. Na sequência, Padre Antônio Carlos Frizzo, coordenador estadual, remeteu à imagem de Dom Luciano Mendes de Almeida como referência no trabalho dos agentes de pastoral.

No domingo, consagrado à Trindade Santa, o secretário estadual da CF e regional da Cáritas, Antônio S. Evangelista, reiterou que a Jornada Mundial dos Pobres, criada pelo Papa Francisco, que neste ano ocorre de 11 a 18 de novembro, passa a integrar como gesto concreto nacional a dimensão do Agir da Campanha da Fraternidade. Nesse ponto, uma série de sugestões de trabalho foram apresentadas, com destaque para a criação de eventos com foco nas Ruas Solidárias. As discussões remeteram à necessidade de buscar as pessoas em vulnerabilidade.

Por fim, apresentou-se um primeiro esqueleto dos debates que vêm sendo promovidos para nortear a Campanha da Fraternidade de 2019, que terá como tema as Políticas Públicas. Preliminarmente, em um ano eleitoral, em que as decisões via voto vão ajudar a construir o Brasil do amanhã,  acentou-se a necessidade de se treinar o olhar para ver as necessidades do irmão. Além disso, todas as ações devem ser norteadas pela Doutrina Social da Igreja, pelo magistério e pela necessária participação sobretudo do leigo como sujeito eclesial. As reflexões serão consolidadas de 8 a 10 de novembro, em Itaici, no Encontro Estadual do Regional Sul 1 da CNBB, na apresentação do texto-base de 2019.

(Com informações da Campanha da Fraternidade)

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Violência no trânsito é a terceira maior causa de mortes no Brasil

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24 de março de 2018

Duas mulheres conversam enquanto tentam atravessar a Alameda Barros, no cruzamento com a rua Albuquerque Lins, no bairro Santa Cecília, na zona central da cidade. Uma delas quer avançar com o semáforo fechado e a outra a impede, segurando-a pelo braço: “Nunca mais fiz isso depois que minha mãe foi atropelada”. As duas ficam em silêncio. O semáforo fica verde, elas continuam seu caminho. 

Os pedestres são as principais vítimas do trânsito em São Paulo. No ano de 2016, das 854 mortes decorrentes de acidentes de trânsito, 390 foram de pedestres. 

Os dados foram apresentados por Luiz Eduardo Pesce de Arruda, Coronel da Polícia Militar e atual Superintendente de Desenvolvimento e Educação de Trânsito da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), durante o programa “Construindo Cidadania”, da rádio 9 de Julho . O Coronel disse que os atropelamentos de pedestres por ônibus são os mais frequentes, seguidos por aqueles com motos e, por fim, por automóveis.

Em 2017, a Polícia Rodoviária Federal registrou quase 90 mil acidentes graves em estradas federais, que provocaram a morte de 6.244 pessoas, conforme dados divulgados em fevereiro deste ano. Houve também redução no número de feridos, cerca de 84 mil, contra 87 mil, em 2016. Apesar dessa diminuição, o trânsito brasileiro continua sendo muito hostil e o País aparece em quinto lugar entre os recordistas em mortes no trânsito, atrás da Índia, China, Estados Unidos e Rússia. No Continente Americano, o Brasil tem o quarto pior desempenho atrás de Belize, República Dominicana e Venezuela. O trânsito é a terceira maior causa de mortes no mundo e no Brasil, ficando atrás somente das mortes por doenças cardíacas e por câncer. 

O tema da violência no trânsito é recordado no texto-base da Campanha da Fraternidade sobre “Fraternidade e Superação da Violência”. O subsídio traz dados sobre o trânsito no Brasil e ressalta que as principais causas da violência no trânsito são evitáveis. “Dirigir sob efeito do álcool ou de entorpecentes, trafegar em velocidade inadequada, inexperiência na direção, falta de atenção e de manutenção no veículo. Além desses fatores, muitas rodovias estão mal sinalizadas e muitos motoristas arriscam suas vidas. De maneira geral, cerca de 30% das mortes violentas estão associadas ao consumo de álcool seguido da condução de veículos”, informa o texto-base. 

 

O CARRO: UMA ARMA...

Quem, numa cidade como São Paulo, nunca viu a cena de duas pessoas insultando-se pela janela do carro ou, até mesmo, descendo do veículo para iniciar uma confusão ou briga? O comportamento inadequado e violento é mais comum do que parece e, em alguns momentos, o carro pode ser usado como uma arma, se o condutor não tem o apropriado domínio de si e das suas emoções. 

“Os seres humanos são indivíduos sociais, respaldados por regras de comportamento que se alteram dentro de cada cultura. Podemos dizer que a mudança de comportamento das pessoas quando estão dirigindo tem relação com a cultura, diretamente ligada à educação no trânsito. Com isso, é certo afirmar que as pessoas alteram seu comportamento dentro dos carros, pois têm influência da cultura do local em que vivem e de como foram educadas para isso”, explicou, ao O SÃO PAULO , Fernanda de Brito Dantas, Psicóloga Clínica e em Psicoterapia.

Fernanda recordou que, nas grandes cidades, quanto mais carros, maior o trânsito, e os níveis de estresse também são maiores. “Estamos em uma sociedade em que ter um carro é poder se locomover, e todos querem chegar primeiro aos seus destinos.”   

Além das questões sociais, a Psicóloga salientou que a personalidade individual do motorista influencia no comportamento. “Esse comportamento pode ser estimulado ou corrigido pela educação de trânsito que recebeu durante sua infância e adolescência até a vida adulta”, disse Fernanda, que também atua no terceiro setor, no desenvolvimento de atividades socioeducativas com crianças em situação de vulnerabilidade e suporte às famílias. 

 

AUTOCONHECIMENTO

Dentro da proposta de superação da violência, o autocontrole e o cuidado no trânsito podem ser essenciais para contribuir com uma cultura de paz hoje. Fernanda salientou a dimensão do autoconhecimento como um dos fatores que podem auxiliar no controle dos impulsos. “Quando um indivíduo agressivo, que não cumpre as normas e oferece risco para os demais, percebe suas ações como prejudiciais, pode ser um meio de melhorar seu impulso e controlá-lo”, disse. 

“A prevenção é sempre a melhor solução para sanar situações, principalmente quando vemos que existe um fenômeno de violência no trânsito, real e cotidiano. Mudar as formas de se educar para o trânsito possibilitará uma sociedade mais consciente”, afirmou Fernanda, que, como pedestre, reconhece que a educação social para o trânsito é essencial para que todos possam ser melhores motoristas, passageiros e pedestres. 

Mas, afinal, quem nunca atravessou fora da faixa ou no farol fechado? Para Fernanda, todos precisam aprender quando se trata do trânsito. “Como pedestres, também transitamos na cidade ao caminhar em vias, no transporte público, somos ciclistas etc. Assim como os motoristas, pertencemos à sociedade e temos a visão errônea da educação no trânsito”, concluiu.

 

CET E A CAMPANHA DA FRATERNIDADE

Fundado em 1980, o Centro de Treinamento e Educação de Trânsito (Cetet) da CET é administrado pela Gerência de Educação de Trânsito (GED), subordinada à Superintendência de Desenvolvimento e Educação (SDE) da Presidência da CET. 

O espaço possui uma equipe de educadores especializados que promovem cursos, atividades e programas dirigidos a escolas, empresas, entidades e profissionais que atuam direta ou indiretamente nas áreas de educação, transporte e trânsito, atendendo desde o público da educação infantil até a terceira idade. 

Em 2018, o Cetet está divulgando a campanha “Educação de trânsito em favor da vida e de uma cultura de paz”, que foi pensada a partir do tema da CF 2018, “Fraternidade e Superação da Violência”.

Logo na introdução da cartilha, que foi escrita exclusivamente para contribuir com a Campanha da Fraternidade, há algumas orientações que incentivam a mudanças de atitudes que ajudam na redução de acidentes e levam a um trânsito mais humano. 

O Coronel Luiz Eduardo de Arruda é um dos responsáveis pela Campanha e salientou que a educação é fundamental, pois é no trânsito que a pessoa exerce também sua cidadania. “Ali também a pessoa mostra o quanto é delicada, misericordiosa, resiliente.” 

Ele enfatizou, também, o fato que, no que se refere aos acidentes de trânsito, a maioria quase absoluta é devida a comportamentos inadequados. “Ficamos muito felizes em participar desta Campanha, porque precisamos de uma cultura de paz. Quando a CNBB escolhe esse tema, que fala de trânsito também, sentimos que é nossa obrigação colaborar”, considerou o Coronel. O objetivo é distribuir a cartilha para os multiplicadores da Campanha e, se for possível, em larga escala. 

O público-alvo do projeto do Cetet são as crianças e os adolescentes. O material explica como crianças a partir dos 4 anos veem o trânsito e o que é importante ensinar em cada faixa etária. Além disso, há dicas para a realização de encontros e planos de aula com o foco na educação para o trânsito. 

DIREÇÃO DEFENSIVA
 Direção defensiva é aquela que leva o condutor a dirigir de modo a evitar acidentes, apesar das ações incorretas (erradas) dos outros e das condições adversas (contrárias), encontradas nas vias de trânsito. Para que um condutor possa praticar a direção defensiva, ele precisa de certos elementos e conhecimentos, não só de legislação de trânsito, mas também de comportamentos que devem ser praticados no dia a dia no uso do veículo.
 
CONHECIMENTO
É preciso conhecer direitos e deveres em qualquer situação de trânsito, como condutor ou como pedestre, para evitar tomar atitudes que possam causar acidentes ou danos aos usuários da via. Existem alguns procedimentos do condutor ou problemas com o veículo que são considerados infrações, tendo como consequência penalidades previstas nas leis de trânsito. É preciso conhecer todos eles.
 
ATENÇÃO
O veículo motorizado que circula em vias terrestres é o que mais exige a atenção do condutor. É preciso manter a atenção no trânsito e não se distrair com conversas, com som alto ou no uso de rádio ou aparelho celular. A atenção deve ser direcionada a todos os elementos da via (condições, sinalização, tempo etc.) e às condições físicas e mentais do condutor, os cuidados e a manutenção do veículo, tempo de deslocamento, conhecimento prévio do percurso, entre outros.
 
PREVISÃO
Prever e preparar-se para as eventualidades comuns no dia a dia, como furar um pneu, um buraco ou óleo na pista, um pedestre fazendo a travessia fora do local adequado, um acidente etc. Essas previsões podem ser desenvolvidas e treinadas no uso do veículo e são exercidas numa ação próxima (imediata) ou distante (mediata), dependendo sempre do bom senso e conhecimento.
 
DECISÃO
Sempre que for necessário tomar uma decisão, numa situação de perigo, ela dependerá do conhecimento das alternativas que se apresentem e do conhecimento das possibilidades do veículo, das leis e normas que regem o trânsito, do tempo e do espaço para tomar uma atitude correta. Essa decisão depende da habilidade, tempo e prática de direção do condutor, bem como a previsão das situações de risco, o conhecimento das condições do veículo e da via.
 
HABILIDADE
A habilidade se desenvolve por meio de aprendizado e da prática. É essencial aprender o modo correto de manuseio do veículo e executar várias vezes essas manobras, de forma a fixar esses procedimentos e adquirir a habilidade necessária à prática de direção no trânsito das vias urbanas e rurais. Atualmente, a Permissão para Dirigir tem a validade de 12 meses, sendo conferida a Carteira Nacional de Habilitação ao término desse prazo, desde que o condutor não tenha cometido nenhuma infração de natureza grave ou gravíssima nem seja reincidente em infração média. Ser um condutor hábil ou com habilidade significa ser capaz de manusear os controles de um veículo e executar, com perícia e sucesso, qualquer manobra necessária no trânsito, tais como: fazer curvas, ultrapassar, mudar de velocidade ou de faixa, estacionar etc.
Fonte: Detran PR

 

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Venezuelanos com fome atravessam fronteiras

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08 de março de 2018

A atual crise política e socioeconômica da Venezuela, País que faz fronteira com os estados brasileiros de Amazonas e Roraima, tem provocado uma intensa emigração de venezuelanos para os vizinhos Colômbia e Brasil, sobretudo após a falta de acesso a alimentos, produtos de higiene e medicamentos, e a desvalorização da moeda local, unida à inflação crescente no País.

A Venezuela, primeiro país da América Latina a conquistar sua independência, viu o agravamento da crise a partir de 2015, sob a presidência de Nícolas Maduro, do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), sucessor de Hugo Chávez – que esteve à frente do País de 1999 até sua morte, em 2013.

Outros fatores, como a queda dos preços do petróleo – que representa mais de 90% da renda do País –, têm agravado a situação. Estima-se que cerca de 70 mil venezuelanos tenham emigrado para o Brasil, quase 40 mil somente para a Região Norte. Em termos legais, há dois tipos de pedido de entrada: como solicitante de refúgio (pois a situação venezuelana já está no patamar de uma crise humanitária) e por meio da Resolução Normativa 126, que concede residência temporária, pelo prazo de até dois anos, ao estrangeiro que tenha ingressado no território brasileiro por via terrestre e seja nacional de país fronteiriço. 

 

MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS

Em São Paulo, instituições como a Cáritas Arquidiocesana, a Missão Paz São Paulo, a Casa do Migrante e a Missão Scalabriniana dão assistência aos imigrantes que chegam, a maioria por terra, enfrentando dias ou até semanas de viagem. 

“Os relatos dos venezuelanos que procuram a Cáritas são múltiplos e pintam um quadro de generalizada escassez de produtos tanto alimentícios quanto fármacos, decorrente da instabilidade política e do conflito entre partidos oposicionistas e governistas. Como resultado dessa escassez, os venezuelanos não conseguem comprar os produtos que precisam para a sua sobrevivência e muitos passam fome ou sofrem de doenças para as quais o tratamento costuma ser simples e barato. Isso faz com que muitos procurem rotas possíveis, como a de Pacaraima, em Roraima”, disse William da Rosa, Coordenador do Programa de Proteção do Centro de Referência para Refugiados da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo. 

Padre Paolo Parise, Diretor do Centro de Estudos Migratórios (CEM), local onde está situada a Missão Paz e a Casa do Migrante, no Centro da Capital Paulista, recordou que, ao falar de migração venezuelana no Brasil, é importante salientar que se trata de um fenômeno que interessa, sobretudo, ao Estado de Roraima. 

“Um estado recente, formado por migrantes internos e que sempre manteve uma relação histórica com a Venezuela. Para se ter uma ideia, nos anos 1980, 7% da população venezuelana era formada por imigrantes, inclusive brasileiros. Hoje, segundo os dados da Polícia Federal, há cerca de 31 mil venezuelanos em Roraima”, explicou o Padre. 

 

REFUGIADOS

O País que mais recebe venezuelanos é a Colômbia, onde o número já chegou a mais de meio milhão; no Chile, são 100 mil e outros países da América Latina têm recebido mais imigrantes do que o Brasil.

Padre Paolo informou que há um crescente número de venezuelanos em São Paulo desde 2014, ano em que a Missão Paz recebeu apenas um imigrante proveniente da Venezuela. Em 2015, foram 12; em 2016, 15, e, durante 2017, 52 venezuelanos passaram pela Instituição. “Este ano, até este momento, foram 23. Porém, não podemos, de maneira alguma, classificar isso como invasão e gerar preocupação e medo na população”, alertou. 

William da Rosa, da Cáritas, explicou também que, devido a um número de solicitações de refúgio superior à capacidade operacional do Governo Brasileiro, o Conare (órgão do Ministério da Justiça responsável pela determinação do status jurídico do refugiado) ainda não enfrentou a atual situação da Venezuela e não fechou um entendimento sobre o assunto. 

“Vale ressaltar que a determinação de status de refugiado no sistema brasileiro ocorre no plano individual. Ainda assim, para dar uma resposta mínima a esse deslocamento, o Conselho Nacional de Imigração (CNIg) editou a Resolução Normativa 126, de março de 2017, com vigência até o dia 2 de março de 2018 e cuja reedição aguardamos. Segundo essa Resolução, cumpridos os requisitos legais, os venezuelanos recebem a residência temporária por dois anos e, assim, têm o direito aos outros documentos como carteira de trabalho e CPF”, continuou William. 

João Carlos Jarochinski Silva, professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), recordou que a Resolução foi importante, mas os procedimentos que exige têm um custo alto para o bolso dos venezuelanos, cerca de R$ 130,00, o que corresponde a sete salários mínimos na Venezuela. 

 

RORAIMA

Hector Palomo, 39, é Advogado. Ele saiu da cidade de Tigre, na Venezuela, rumo à Boa Vista (RR) e, após percorrer 1.031 quilômetros, chegou ao Brasil, em dezembro de 2017. Em entrevista à jornalista Osnilda Lima, Coordenadora de Comunicação da Comissão Episcopal para a Amazônia - Rede Eclesial Pan-Amazônica, Hector contou que conseguiu pagar dois meses de aluguel e comprou, com uma pequena reserva em dinheiro que tinha, algumas roupas e pulseiras para revender. Mas, em seguida, não conseguiu pagar o aluguel e passou a morar nas ruas de Boa Vista, quando foi roubado e sua situação piorou. 

“Quando precisei ir morar na rua, eu chorava muito. Mas a esperança e a fé têm me mantido em pé. Sinto angústia, pois não consegui mandar dinheiro para minha família e sei que eles não têm mais o que comer”, disse o Advogado, que durante a entrevista tinha nas mãos um exemplar do Código Penal Brasileiro. 

Ao abrir a pochete, Hector mostrou toda sua documentação, pois já conseguiu regularização como refugiado no Brasil e aguarda o início da interiorização prometida pelo Governo Federal, para buscar oportunidades em outros estados brasileiros. Ele mora no pátio da Paróquia da Consolata, em Boa Vista, junto a outros imigrantes e refugiados, e tem ajudado nas celebrações litúrgicas e a servir as 300 marmitas que a comunidade oferece diariamente. 

“Nós precisamos da ajuda de vocês. Estamos passando fome na Venezuela, as crianças estão morrendo de desnutrição e de várias doenças”, disse, com a voz embargada e esforçando-se para falar o português, idioma que deseja aprender logo, até encontrar emprego, que, segundo ele, não importa qual, desde que seja digno, para conseguir enviar algum dinheiro à família que permanece na Venezuela.

A situação dos abrigos em Roraima é de grande precariedade.  Informações da Rede Eclesial Pan-Amazônica mostram que, além de superlotados, há poucos banheiros para milhares de pessoas e falta comida. 

 

SÃO PAULO E A INTERIORIZAÇÃO

Em fevereiro, o Governo Federal brasileiro apresentou um plano de interiorização que tem como atores a Casa Civil, outros órgãos do Governo e as prefeituras. O objetivo é distribuir os imigrantes venezuelanos por outros estados brasileiros, a princípio para os municípios de Manaus (AM), São Paulo (SP), e, em seguida, Cuiabá (MT). 

“É uma tentativa de tornar o município protagonista, com tudo que ele tem a disposição. Como Missão Paz, fomos consultados por órgãos internacionais e nos colocamos à disposição. Se precisar, podemos acolher aproximadamente 30 ou 40 venezuelanos. Obviamente, precisamos de tempo para nos organizar. Mas, a princípio, será a Prefeitura, por meio da Secretaria de Desenvolvimento, da Assistência Social e da Secretaria de Direitos Humanos, que vai coordenar a chegada desses imigrantes”, explicou Padre Paolo.  

Edinson de Jesús Lujan Barrios, 49, veio da Venezuela para o Brasil no mês de novembro de 2016, após ser contratado por uma multinacional para prestar serviços fora do seu País. Porém, um acidente fez com que Edinson ficasse por três meses sem condições de andar e, consequentemente, sem a vaga de emprego. 

Desempregado e como refugiado no Brasil, o venezuelano, que é formado em Administração e licenciado em Ciências Sociais, com mestrado em Psicologia Social, procurou ajuda na Cáritas Arquidiocesana e foi encaminhado para a Missão Paz, onde ficou por pouco mais de uma semana, quando foi transferido para a Missão Scalabriniana, no Pari. A Missão Scalabriniana é uma das últimas casas de acolhida e serviço aos imigrantes aberta em São Paulo. É mantida pela Congregação das Irmãs de São Carlos Borromeo – Scalabrinianas – e acolhe cerca de 200 imigrantes, a maioria provenientes de países africanos. 

Atualmente, Edinson é professor e pesquisador na Faculdade Zumbi dos Palmares, onde leciona Espanhol e Inglês. Para ele, pensar na situação atual do seu País de origem é muito triste. “Meu salário na Venezuela seria algo em torno de 800 mil bolívares, o que corresponde a pouco mais de R$ 50,00”, explicou à reportagem do O SÃO PAULO. 

O Professor, que continua morando na Missão Scalabriniana, citou também que o salário mínimo na Venezuela é de 600 mil bolívares – o que corresponde a 5 dólares –, mas um único quilo de carne chega a custar 500 mil bolívares e um rolo de papel higiênico, 300 mil. 

“Tenho um filho, que já emigrou para a Colômbia. Falo com minha família na Venezuela todos os dias e sinto muito pelo meu pai, que está idoso e doente e não tenho conseguido nem mesmo enviar medicamentos para ele. Mas acredito que em breve tudo vai passar, pois conheço meu povo e sei que se trata de um bravo povo latino-americano”, disse Edinson, que pretende continuar no Brasil e agradece aos brasileiros pela ajuda prestada. 

 

SUPERAÇÃO

Ao ser perguntado sobre os gestos xenófobos que podem surgir em relação aos venezuelanos, sobretudo por questões políticas e ideológicas, Padre Paolo Parise disse que, “às vezes, ficamos marcados por frases nas redes sociais de pessoas que se manifestam, até mesmo sem pensar ou infelizmente pensando”. Ele disse, porém, que existe outra São Paulo, outro Brasil, acolhedor. 

“A cidade de São Paulo já manifestou, inúmeras vezes, gestos de solidariedade e de acolhida com migrantes e refugiados. Mas, infelizmente, frases xenófobas fazem mais barulho. Eu diria que estamos prontos para acolher também esses venezuelanos e temos que atuar em todos os níveis para prevenir a xenofobia e ajudar as pessoas a superarem o preconceito. Muitas vezes, dizem para mim que precisamos ajudar os brasileiros e não os estrangeiros. Eu diria que, em lugar da lógica de um ou outro, que tenta excluir alguém, temos que pensar em uma lógica inclusiva e ajudar um e outro”, afirmou o Padre. 

Ele sugere, também, que se evite a criação da falsa sensação de que o Brasil esteja com grandes números de imigrantes. “Alguns utilizam o termo invasão, mas isso não corresponde à realidade”, acrescentou. “E, para os que se dizem cristãos, há uma razão religiosa, ou seja, quando encontramos um imigrante ou um refugiado, está presente o próprio Cristo”, insistiu Padre Parise, recordando o capítulo 25 do Evangelho de Mateus. 

 

PELA FÉ

Em uma mensagem publicada em dezembro de 2016, a Santa Sé, em Roma, manifestou preocupação acerca da crise na República Bolivariana da Venezuela. A nota informou que o Santo Padre, diretamente e por meio da Secretaria de Estado, acompanha de perto a situação e suas implicações humanitárias, sociais, políticas, econômicas e, inclusive, espirituais. “A Santa Sé pede a todos os atores políticos, e em particular ao Governo, que se assegure o pleno respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais, como também à vigente Constituição. Evitem ou suspendam as iniciativas em curso como a nova Constituinte que, mais do que favorecer a reconciliação e a paz, fomentam um clima de tensão e enfrentamento e hipotecam o futuro.” 

A Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), publicou uma Carta Aberta à Sociedade na segunda-feira, 5. Na Carta, a Comissão informa sobre as visitas que foram realizadas na fronteira Brasil/Venezuela. “Essas atividades nos colocaram em contato com uma realidade cruel e desumana, que grita por respostas rápidas, eficazes e articuladas das igrejas, do Estado e da sociedade em geral”, afirma o texto. “Em nome da CEPEETH, fazemos um veemente apelo às igrejas e à sociedade a uma maior solicitude para com estes nossos irmãos e irmãs imigrantes e refugiados”, continua a Carta, assinada por Dom Enemésio Lazzaris, Bispo de Balsas (MA) e Presidente da Comissão.
 

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Arabesque, ballet para todas no Jardim Brasil

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05 de março de 2018

A música clássica acompanhou o trajeto até a sala onde se podia ouvir: Plié... Relevé e a voz de Talyta Amaral, conduzindo um grupo de meninas. Vestidas com collant e calçando sapatilhas elas se equilibravam nas barras colocadas sobre o linóleo, tapete utilizado especialmente para dança. São 60 meninas, de 5 a 20 anos, que fazem parte do projeto “Arabesque – Ballet para todas”, criado e coordenado pelas irmãs Talyta e Tairine Amaral. Há cinco anos, elas começaram o projeto e hoje utilizam as salas que fazem parte do complexo da Paróquia Nossa Senhora da Livração, no Jardim Brasil, na zona Norte de São Paulo, para realizar o sonho de muitas meninas: dançar ballet.

“Éramos da Pastoral da Juventude e fazíamos apresentações de dança em eventos da Pastoral. Eu sempre era a responsável pelas coreografias”, recordou Talyta, que é professora de História e está terminando sua formação em dança clássica. Entre as jovens do grupo, uma delas sonhava em dançar ballet, mas esbarrava na questão financeira, pois o ballet é uma dança cara. “Comecei a perceber o quanto crianças e adolescentes da comunidade cultivavam esse sonho e, então, minha irmã, que é formada em dança, e eu juntamos algumas delas e começamos a dar aulas”, continuou.

O sonho de Thays Pereira, hoje com 19 anos, foi realizado, e o projeto saiu do papel.  “Abraçamos a causa, e o Arabesque foi crescendo. Quando você fala para seus amigos que faz ballet, eles pensam que você faz numa academia e investe muito dinheiro, mas tenho orgulho de explicar que é tudo gratuito e ver a admiração deles”, contou a jovem.

A movimentação é intensa aos sábados pela manhã, e as meninas, acompanhadas pelos familiares, vão chegando para participar das aulas que são dadas tendo como referência o método russo, escolhido pelas professoras por valorizar mais a força e os movimentos de braço. São seis turmas, que acontecem das 8h30 às 13h, e, além de Talyta e Tairine, a jovem Sâmia Mercedes, 17, está dedicando-se ao projeto.

“Fiz quatro anos de ballet em outro projeto, antes de conhecer o Arabesque. Aqui tive oportunidade de transmitir o que aprendi e comecei a dar aulas para as pequenininhas. Tudo é voluntário e fazemos isso porque realmente amamos a dança”, afirmou Sâmia, que sonha em cursar Medicina Veterinária e continuar dançando. 

REALIDADE

O Jardim Brasil, situado na zona Norte de São Paulo, tem índices altos de violência e aparece entre os bairros mais perigosos de São Paulo quando o assunto é estupro ou lesão corporal, por exemplo. De acordo com dados fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública e organizados pelo jornal Estado de S. Paulo , em 2017, os departamentos de Polícia do Jaçanã e da Vila Gustavo, mais próximos geograficamente do Jardim Brasil, ocuparam o 3º e o 4º lugares – respectivamente – em casos de estupro, e o Jaçanã ficou em 3º lugar com maior quantidade de crimes qualificados como lesão corporal, além do 11º lugar no ranking do tráfico de drogas.

O bairro já passou por situações de extremo risco acerca do aliciamento de adolescentes e jovens para o tráfico. Uma matéria publicada em 2004 pelo jornal Folha de S.Paulo trouxe a realidade da convivência diária com traficantes no trajeto entre casa e escola, que fez com que o Jardim Brasil fosse – à época – a região da Capital Paulista com o maior número de internos na Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), atual Fundação Casa, por narcotráfico. 

SUPERAÇÃO

Para crianças, adolescentes e familiares, a questão é clara: o envolvimento com a arte e a dança é capaz de transformar a vida das pessoas e afeta diretamente no envolvimento das crianças, adolescentes e jovens em situações de violência.

Foi o que constatou Regina Celia Gonçalves do Lago, mãe da Gabriela Aparecida do Lago, 10, que participa do Arabesque há mais de três anos. “Minha filha gosta de ouvir música clássica, graças ao ballet. Além disso, ela é mais dedicada em tudo o que faz. Hoje, por exemplo, acordou bem cedo e sozinha”, disse a mãe, que agradeceu a atenção dispensada pelas professoras para ajudar quando as famílias têm dificuldades na compra de uniformes e outros itens necessários para a dança.

A mudança de comportamento e o comprometimento são atitudes comuns entre as bailarinas. Talyta relatou que percebeu tais mudanças em sua própria vida e que isso é um testemunho recorrente dos familiares. “O ballet traz envolvimento para a vida delas. Cresce o interesse pela arte e, devido à disciplina que o ballet exige, muda também o comportamento em casa”, continuou.

Com o apoio da comunidade e inspiradas no Ballet Paraisópolis, outro projeto de ballet que acontece em um bairro da periferia da cidade, as duas irmãs desejam que o Arabesque cresça e atinja mais pessoas e, para isso, estão trabalhando na criação de um CNPJ, que permitirá o recebimento de doações e patrocínios mais facilmente. “Temos total apoio da Paróquia [Nossa Senhora da Livração], mas acolhemos crianças e adolescentes de todas as denominações religiosas, e nosso critério é sempre geográfico, para que possa atingir principalmente a comunidade”, explicou Talyta. É o caso de Letícia Hermínio, 20, e Isabel Oliveira Santos, 13, que moram bem perto da Paróquia e participaram das primeiras oficinas, antes mesmo de o Arabesque ter esse nome.

E assim, partilhando os uniformes que não cabem mais e tentando fazer com que a ponta da sapatilha não quebre, para durar o maior tempo possível, as meninas do Jardim Brasil continuam a cultivar o sonho de serem bailarinas ou de simplesmente continuar dançando. São muitos limites a serem enfrentados: do corpo, do tempo e do dinheiro. A bailarina é aquela que usa a força para transmitir leveza, que transforma dor e sofrimento em beleza.
 

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Cardeal Sergio da Rocha defende que fraternidade e paz aconteça em todos os ambientes

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27 de fevereiro de 2018

O Arcebispo de Brasília (DF) e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Cardeal Sergio da Rocha, no folheto O Povo de Deus, do domingo, 25, lamentou o compartilhamento e fomenta de agressividade nas redes sociais por parte de católicos e falou sobre a importância da Campanha da Fraternidade (CF) deste ano na superação do problema.

A CF, segundo o Presidente da CNBB, é um dos principais meios de vivência do amor ao próximo na Quaresma, sendo especial para a conversão e a verdadeira caridade. E seu lema este ano, “Vós sois todos irmãos”, pretende contribuir para superar a violência e promover a paz.

O Cardeal ressalta que muito pode ser feito para alcançar os objetivos da Campanha de “superar a violência e construir a fraternidade e paz nos ambientes em que vive”. Mas lamentou a agressividade crescente nas redes sociais, que muitas vezes é compartilhada e sustentada por católicos.

“Quem escuta a voz de Jesus Cristo não alimenta, nem reproduz a violência disseminada na sociedade. Ao contrário, contribui para a paz, através do respeito e do diálogo, da misericórdia e do perdão. Quem escuta a voz de Jesus testemunha a sua palavra “Vós sois todos irmãos”, jamais tratando o outro que pensa diferente como um inimigo a ser combatido, mas como um irmão a ser amando, se necessário com a correção fraterna e o perdão. A paz é dom de Deus a ser compartilhado nesta Quaresma”, aconselha Dom Sergio.

 

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Superar a violência por meio da mediação de conflitos

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27 de fevereiro de 2018

A prática da mediação na segurança urbana é o que defende Maria Stela Graciani, Doutora e Professora Titular da Faculdade de Educação da PUC-SP e Coordenadora do Núcleo de Trabalhos Comunitários da mesma universidade. Entre 2001 e 2004, ela coordenou um projeto político-pedagógico junto à Guarda Civil Metropolitana (GCM) de São Paulo, que tinha o objetivo de promover uma formação interdisciplinar dos agentes da segurança urbana a partir da prevenção e mediação de conflitos. 

Por ocasião da Campanha da Fraternidade 2018, que trata da superação da violência, Maria Stela enfatizou, em entrevista ao O SÃO PAULO , que a GCM, como próprio nome diz, tem a missão de “guardar”, isto é, garantir a segurança da população e dos lugares públicos. Por isso, o recurso da violência é uma das alternativas em uma situação extrema. “Nesse sentido, é de fundamental importância que esses agentes conheçam o que eles estão ‘guardando’, isto é, a população e as instituições públicas a serviço da sociedade”, afirmou. Confira a entrevista. 

 

O SÃO PAULO – COMO COMEÇOU O PROJETO JUNTO À GCM?

Maria Stela Graciani – Quando o então Secretário de Segurança Urbana, Benedito Mariano, assumiu o cargo, em 2001, ele me convidou para implantar um projeto político-pedagógico na GCM em vista de uma formação que fosse além da preparação policial que os agentes recebiam. Então, por meio do Núcleo de Trabalhos Comunitários da PUC-SP, constituímos uma equipe interdisciplinar, das áreas da Educação, Serviço Social e Direito e até Geografia. Não fomos lá para ensiná-los, mas para ampliar seu conhecimento em relação a atitudes, comportamento, relação entre a Guarda e o atendimento à comunidade e mesmo com a hierarquia da corporação. Foi uma experiência inédita e desafiadora. Mas digo que nunca tive um acolhimento como lá. Eram cerca de 300 agentes alinhados diante de mim, que me respeitavam até na forma de olhar.

 

COMO A FORMAÇÃO ERA REALIZADA?

Por meio de aulas, debates e muita troca de experiências, pudemos conhecer melhor a realidade dos agentes da GCM e, a partir daí, oferecer uma formação integral, tendo o diálogo como um aspecto fundamental. Para desempenhar um trabalho dessa natureza, não basta só o conhecimento militar, policial, saber usar a arma, marchar, bater continências etc. Tudo isso é importante, mas, antes, é preciso ser humano que se relaciona com respeito, dignidade, e em posse dos valores de uma dada sociedade. Conhecê-los melhor e entender a lógica de seu trabalho favoreceu muito na eficácia desse projeto. Não chegamos apenas com referenciais teóricos de como deve agir ou não um guarda civil, até porque não tínhamos essa experiência concreta, mas os ajudamos a perceber a amplitude de sua missão e serviço na sociedade. Umas das formas de colaborar nessa compreensão foi fazer um mapeamento de todas as regiões da cidade com suas especificidades, a fim de compreender qual era o desafio próprio para ação da GCM em cada localidade. Ao mesmo tempo que acompanhamos os trabalhos descentralizados pela cidade, unimos esses grupos diversificados para as formações sistemáticas e trocas de experiências.

 

EM QUE CONSISTE A MEDIAÇÃO NA SEGURANÇA?

A mediação na segurança urbana não é como na Psicologia, na política etc. Há vários níveis, a começar pelo hierárquico, que diz respeito à relação com os superiores e às diretrizes do comando. Há também a mediação entre o agente e a realidade à qual ele é responsável pela segurança. Para isso, ele precisa conhecer bem a comunidade onde desempenha o serviço para identificar os potenciais conflitos e, assim, preveni-los. Outra mediação é a corporal, maneira de olhar, a postura, o posicionamento das mãos, o tom da voz. Tudo isso é mediação. A mediação do conflito é fundamental para que analisemos, interpretemos e saibamos o momento exato de agir. Isso foi aprendido com o referencial teórico, e também com a prática dos agentes nas ruas. 

 

A SENHORA PODE DAR UM EXEMPLO?

Diante de uma situação de aglomeração ou ocupação de um espaço público que precisa ser dispersado pela GCM, a orientação seria de, antes de realizar a operação, analisar a situação e pensar nas estratégias seguras a serem utilizadas, de modo que o recurso da violência seja a última opção. Na experiência em que vivemos, em situações extremas de conflito, os agentes da GCM eram acompanhados por uma equipe técnica para ajudar a pensar em como atuar. Um erro em um momento como esse pode ser fatal e desencadear mais violência e conflito. Por isso, o agente de segurança precisa de uma preparação em várias dimensões. Numa situação como a desse exemplo, a postura, um gesto brusco, mesmo o modo de respiração, que mostre insegurança ou despreparo do guarda, pode piorar a situação. O nosso corpo fala, o nosso olhar emite um determinado foco, a nossa fala define a situação. Apontar uma arma já é um limite. Puxar o gatilho é o último caso, quando há uma situação de ameaça.

 

MAS HÁ CASOS EM QUE A FORÇA ARMADA É NECESSÁRIA?

Certamente. Não estou dizendo que não haja uma guarda armada, mas que essa exerça o seu papel específico de gerar segurança, prevenir o conflito e não criar mais conflito, usando de todo o seu preparo para isso, até porque estou falando especificamente da GCM, que não é Polícia Militar. Guarda é aquele que guarda, que previne, que protege, que garante a ordem. Não uma polícia ostensiva, mas preventiva. Essa é uma das dimensões da segurança urbana. Aquela que, inclusive, deve estar mais próxima do povo e da comunidade. Nesse sentido, é de fundamental importância que esses agentes conheçam o que eles estão guardando, isto é, a população e as instituições públicas a serviço da sociedade. Eu sempre dizia aos agentes que se a corporação não tem a concepção de serviço à comunidade pela mediação de conflito, precisamos reinventar a GCM de São Paulo. 

 

ESSA PRÁTICA PODERIA SER APLICADA À POLÍCIA MILITAR? 

Sem dúvida. O fato de ser uma polícia ostensiva não impede de que haja um preparo mais integral. Esse deveria ser o ingrediente fundamental da formação na segurança pública. Usando a máxima popular de que a “violência gera violência”, percebemos que, infelizmente, muitos policiais recebem uma formação violenta, o que traz uma concepção de vida e de profissão violenta para esses servidores públicos.

 

AINDA HOJE HÁ SINAIS DESSE PROJETO NA GCM?

Essa mentalidade ainda paira na cabeça dos atuais comandantes. Alguns continuam no comando da GCM dando as mesmas diretrizes. Eu continuo sendo convidada para falar com os mais novos do comando sobre essa experiência vivida. Ainda exerço influência pedagógica na corporação pelo trabalho realizado na PUC-SP. Há um respeito por parte dos agentes da GCM. Mas, para que essa mentalidade perdure, deve haver uma política integrada. A decisão superior deve corresponder à cultura da mediação. Nesse sentido, é possível perceber alguns recuos em relação ao período em que realizamos a formação mais integral. O que esperamos é segurança no sentido lato da palavra. O recurso da violência é uma das alternativas, em uma situação extrema, mas não a única, nem a primeira. Estamos falando de uma mudança de lógica. Por isso, reafirmo, se não houver uma compreensão do gestor público sobre a missão da guarda civil, continuarão as diretrizes e políticas públicas de segurança violentas, incompatíveis com a proposta da mediação de conflitos que trabalhamos. 

 

As opiniões expressas na seção “Com a palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.

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Região Belém realiza abertura da Campanha da Fraternidade 2018

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21 de fevereiro de 2018

O Setor Sapopemba realizou, no sábado, 17, na Paróquia Nossa Senhora de Fátima e São Roque, a abertura setorial da Campanha da Fraternidade 2018, com uma formação que contou com cerca de 130 agentes de pastoral e foi assessorada pela Ex-Ouvidora da Polícia da Paraíba, Valdênia Paulino, do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Sapopemba.

Houve também discussões em grupos para pensar as ações concretas, pelas quais se percebeu a necessidade de fortalecer as pastorais sociais no Setor.

A Paróquia São João Batista, no Carrão, também realizou no sábado, 17, uma formação sobre a CF 2018, a partir do método ‘Ver, Julgar e Agir’. Márcia Castro, da Escola Fé e Política Waldemar Rossi, Flávio Castro, da Pastoral Fé e Política, e Padre José Alves, Pároco, foram os facilitadores da formação, motivando a comunidade paroquial a assumir ações concretas da Campanha da Fraternidade.

Na quinta-feira, 15, um dia após a abertura oficial da Campanha da Fraternidade (CF), as comunidades que compõem a Paróquia São Miguel Arcanjo, no Setor Pastoral Conquista, reuniram-se para discutir a superação da violência, temática da CF 2018.

Márcia Castro, Coordenadora da Pastoral Fé e Política, falou à aproximadamente cem agentes de pastorais que participaram da atividade, ela pretende ser o ponto de partida para o agir pastoral da CF 2018.

Mais do que salientar as múltiplas formas de violência, a Campanha da Fraternidade deste ano, propõe identificar maneiras que contribuam para a difusão da superação do cenário de hostilidade existente no país, por meio do evangelho.

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Missa abre as atividades regionais da Campanha da Fraternidade 2018

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21 de fevereiro de 2018

O mais novo santuário mariano da Arquidiocese de São Paulo acolheu na noite da sexta-feira, 16, a missa de abertura da Campanha da Fraternidade na Região Episcopal Ipiranga, presidida por Dom José Roberto Fortes Palau, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região, com grande número de padres e diáconos.
Vindos das mais diversas comunidades paroquiais do Ipiranga, os leigos também participaram da celebração, com cartazes que mostraram a maneira pela qual trabalharão para superar a violência em suas realidades.
“Esse grande número de padres é um bom prenúncio para o sínodo arquidiocesano que estamos começando”, disse, com alegria, Dom José Roberto na homilia.
O Bispo também recordou que a Campanha da Fraternidade vem despertar a necessidade de se viver a dimensão comunitária da Quaresma e que se deve buscar não apenas a salvação pessoal, mas a de todos. Disse ainda que o capítulo 25 de Mateus faz perceber que a felicidade ou o fracasso de um cristão acontece na medida em que ele inclui a salvação dos irmãos em seu projeto.
O processo de conversão presente na Quaresma tem de maneira intrínseca também uma dimensão social, lembrou Dom José Roberto em sua reflexão. Ele recordou que a violência extrapola os atos físicos e se faz presente também nas palavras, nas postagens de internet e no âmbito religioso.
Dom José Roberto também ofereceu pistas para que se possa superar a violência. De acordo com o Bispo, o cultivo do diálogo, o cuidado com as palavras e atitudes, a promoção da dignidade de toda a vida humana e o combate das causas de injustiças são passos importantes para que a cultura da violência seja superada.

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Presidente da CNBB reflete sobre tema da CF 2018

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16 de fevereiro de 2018

Cardeal Sergio da Rocha, Arcebispo de Brasília e presidente da CNBB, assina artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, na última quarta-feira, 14 de fevereiro, tratando do tema da Campanha da Fraternidade deste ano: “Fraternidade e superação da violência”.

Leia o artigo.

Construir a fraternidade e a cultura da paz, da reconciliação e da justiça é o objetivo da Campanha da Fraternidade deste ano, que lançamos nesta quarta (14). Seu tema é “Fraternidade e superação da violência”, com o lema de inspiração bíblica “Vós sois todos irmãos” extraído do capítulo 23 do evangelho de São Mateus.

A realidade da violência, com suas múltiplas faces, tem se revelado cada vez mais cruel e assustadora, duramente sentida pela população brasileira e cotidianamente estampada pela mídia.

A vida e a dignidade das pessoas e de grupos sociais mais vulneráveis são continuamente violadas de muitos modos. O assunto é urgente, não pode ser descuidado, nem deixado para depois. Requer a atenção e a participação de todos.

É possível superar a violência? O agravamento da situação, com a dificuldade de respostas justas, parece indicar a muitos que a resposta é negativa. A complexidade do problema, contudo, não pode levar à passividade e ao desânimo, nem a soluções equivocadas de cunho puramente emocional.

As reações de quem justifica a violência ou pretende combatê-la com mais violência são ainda piores. Precisamos pensar juntos sobre o seu significado e as suas causas para encontrar saídas condizentes com a dignidade humana e a ordem democrática.

A violência permeia também as práticas sociais. Dentre os seus múltiplos fatores está o contexto socioeconômico e cultural. A indignação diante da violência representada pelas situações de exclusão e negação dos direitos fundamentais, especialmente dos pobres e fragilizados, não pode ser menor do que a despertada por crimes bárbaros.

O investimento em segurança pública deveria ser acompanhado por gastos ainda maiores com o objetivo de assegurar condições de vida digna e os direitos fundamentais. A justiça social é o caminho para vencer a violência na cidade e no campo. A paz é fruto da justiça. Enquanto igreja, acreditamos que é possível, sim, superar a violência, em mutirão, cultivando parcerias e unindo as forças.

Como tarefa coletiva, necessita da atenção e dos esforços de todos, de acordo com os diversos graus de competência e responsabilidade. Há muito a ser feito por cada um, espontaneamente, nos ambientes em que vive superando, por exemplo, a agressividade e a intolerância nas redes sociais.

Embora seja importante a ação individual, também necessitamos de iniciativas comunitárias, com olhares atentos para as realidades local e nacional, ambas entrelaçadas. Se os temas trabalhados pela Campanha da Fraternidade exigem e conclamam a participação dos poderes públicos, isso é ainda mais verdadeiro neste ano, assim como é vital uma maior cooperação da sociedade civil organizada.

O ódio, a vingança e o fazer justiça pelas próprias mãos não são respostas; ao contrário, agravam ainda mais a realidade. A busca da justiça que conduz à paz não se faz por meio da violência. É motivo de esperança a defesa apaixonada da vida, da dignidade e dos direitos de toda e qualquer pessoa humana, testemunhada por muitos que acreditam na fraternidade e na paz.

A palavra de Jesus, “Vós sois todos irmãos”, lema desta Campanha da Fraternidade, nos desafia e anima a caminhar. É possível, sim, superar a violência e alcançar a paz construindo a fraternidade.

Cardeal Sergio da Rocha,

arcebispo de Brasília, é presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

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CNBB realiza abertura oficial da Campanha da Fraternidade

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16 de fevereiro de 2018

Na manhã da quarta-feira, 14, na sede provisória da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi aberta oficialmente a Campanha da Fraternidade (CF) 2018, que este ano tem como tema “Fraternidade e a superação da violência”.

O Cardeal Sergio da Rocha, Presidente da CNBB, e Dom Leonardo Steiner, Secretário-geral da Conferência, receberam as autoridades para o evento: a Ministra Cármen Lúcia, Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF); e o deputado Alessandro Molon, Coordenador da Frente Parlamentar pela Prevenção da Violência e Redução de Homicídios; além de Carlos Alves Moura, Presidente da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP).

Padre Luís Fernando da Silva, Secretário-executivo de Campanhas da CNBB, leu a mensagem enviada especialmente pelo Papa Francisco para a CF 2018, na qual o Pontífice expressa o desejo de que a Campanha deste ano “anime a todos para encontrar caminhos de superação da violência, convivendo mais como irmãos e irmãs em Cristo".

Cármen Lúcia agradeceu à CNBB pelo convite para participar da solenidade. Ela lamentou que hoje as pessoas vejam umas as outras com desconfiança, e fez votos de que a Campanha ajude “a ver o outro como aliado, como irmão”. 

“Não basta que se faça parte da sociedade humana. É preciso atuar por ela para que se criem espaços de fraternidade”, acrescentou a Ministra.

O Presidente da CNBB lembrou que embora seja importante a ação de cada pessoa, iniciativas comunitárias são fundamentais. “A Igreja não pretende oferecer soluções técnicas para os problemas que aborda, mas o valor da fé e do amor que mostra que o semelhante não é um adversário, mas um irmão a ser amado”, concluiu o Cardeal.

Fonte: CNBB

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