Papa: que os cristãos sejam vigilantes para não cair na mundanidade

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13 de outubro de 2017

Somente Cristo crucificado nos salvará dos demônios que nos fazem “deslizar lentamente para a mundanidade”, salvando-nos até mesmo da “insensatez” da qual fala São Paulo aos Gálatas – e “da sedução”.

Foi o que afirmou o Papa Francisco na Missa celebrada na manhã desta sexta-feira na Capela da Casa Santa Marta, ao inspirar sua homilia do Evangelho de Lucas, onde Jesus diz: “Mas se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus”.

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O Pontífice exorta ao exame de consciência e às obras de caridade, “aquelas que custam”, mas que “nos levarão a ser mais atentos” e vigilantes para que não entrem “astutos” personagens, ou seja, os demônios.

O Senhor – explica o Papa – “pede para sermos vigilantes”, para não cairmos em tentação. Por isto, o cristão está sempre “em vigilância, vigia, está atento”, como “um sentinela”.

O Evangelho fala da luta entre Jesus e o demônio e de “alguns” que disseram que Cristo tinha “a permissão de Belzebú” para expulsá-lo.

Jesus não conta uma parábola – observa o Papa - mas “diz uma verdade”: quando o espírito impuro “sai do homem”, vagueia “por lugares desertos” buscando um repouso e não encontrando, decide retornar para a casa de onde saiu, onde habita o homem “livre”.

Então o demônio decide trazer consigo “outros sete espíritos piores do que ele”, de forma que também a “condição daquele homem” fique “pior do que antes”.

Precisamente a palavra “pior” – evidencia o Pontífice – tem “tanta força” nesta passagem, porque os demônios entram  “na surdina”:

“Começam a fazer parte da vida. Também com as suas ideias e as suas inspirações, ajudam aquele homem a viver melhor... e entram na vida do homem, entram em seu coração e por dentro começam a mudar este homem, mas tranquilamente, sem fazer barulho. É diferente, este modo é diferente daquele da possessão diabólica que é forte: esta é uma possessão diabólica um pouco “de salão”, digamos assim. E isto é o que o diabo faz lentamente, em nossa vida, para mudar os critérios, para levar-nos à mundanidade. Mimetiza-se em nosso modo de agir, e nós dificilmente nos damos conta. E assim, aquele homem, liberto de um demônio, torna-se um homem prisioneiro, um homem oprimido pela mundanidade. E isto é aquilo que o diabo quer, a mundanidade”.

A mundanidade, por outro lado, é “um passo adiante na ‘possessão’ do demônio”, acrescenta Francisco. É um “encantamento”, é a “sedução”. Porque é o “pai da sedução”. E quando o demônio entra “tão suavemente, educadamente e toma posse de nossas atitudes”, explica o Papa, os nossos valores “vão do serviço a Deus à mundanidade”. Assim nos tornamos “cristãos mornos, cristãos mundanos” com uma “mistura” - que o Papa chama de “salada de frutas” - entre “o espírito do mundo e o espírito de Deus”. Tudo isso nos “afasta do Senhor”. Francisco responde então à questão do que fazer para “não cair” e para sair de tal situação. Reafirma o tema da “vigilância” sem “se assustar”, com “calma”:

“Vigiar significa entender o que acontece no meu coração, significa parar um pouco e examinar a minha vida. Sou cristão? Eu educo mais ou menos bem os meus filhos? Minha vida é cristã ou é mundana? E como posso entender isso? A mesma receita de Paulo: olhar para Cristo crucificado. A mundanidade só vê onde está e se destrói diante da cruz do Senhor. E este é o propósito do Crucifixo em nossa frente: não é um ornamento; É exatamente o que nos salva desses encantamentos, dessas seduções que nos levam à mundanidade”.

O Pontífice exorta a nos perguntarmos se olhamos para o “Cristo crucificado”, se fazemos “a Via Sacra para ver o preço da salvação”, não só dos pecados, mas também da mundanidade”:

“Então, como eu disse, o exame de consciência, para ver o que ocorre. Mas sempre diante do Cristo crucificado. A oração. E depois, fará bem fazer-se uma fratura, não nos ossos: uma fratura nas atitudes confortáveis: as obras de caridade. Estou confortável, mas vou fazer isso, que me custa. Visitar uma pessoa doente, ajudar alguém que precisa... não sei, uma  obra de caridade. E isso rompe a harmonia que procura fazer esse demônio, esses sete demônios com o chefe, para fazer a mundanidade espiritual”.

 (JE-SP)

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100 anos das aparições em Fátima: rezar pela paz no mundo, pede o Papa

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11 de outubro de 2017

Ao recordar que em 13 de outubro se conclui o centenário das últimas aparições marianas em Fátima, o Papa Francisco pediu que, especialmente neste mês de outubro, se reze o Santo Rosário pela paz no mundo.

Na próxima sexta-feira, 13 de outubro, conclui-se o centenário das últimas aparições marianas em Fátima. Com o olhar voltado a Mãe do Senhor e Rainha das Missões, convido todos, especialmente neste mês de outubro, a rezar  o Santo Rosário pela intenção da paz no mundo. Possa a oração dissuadir os ânimos mais rebeldes, para que tirem a violência de seus corações, de suas palavras e de seus gestos, e construam comunidades não-violentas, que cuidem da casa comum. Nada é impossível se nos dirigimos a Deus na oração. Todos podemos ser construtores de paz”.

O Pontífice recordou que no mesmo dia recorre o Dia Internacional para a Redução dos Desastres Naturais:

Renovo o meu premente apelo pela salvaguarda da criação, mediante uma sempre mais atenta tutela e cuidado pelo ambiente. Encorajo, neste sentido, as instituições e todos os que têm responsabilidade pública e social, a promover sempre mais uma cultura que tenha como objetivo a redução da exposição aos riscos e às calamidades naturais. As ações concretas, voltadas ao estudo e à defesa da casa comum, possam reduzir progressivamente os riscos para as populações mais vulneráveis”.

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Papa: Um coração rígido não entende a misericórdia de Deus

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10 de outubro de 2017

Pelo segundo dia consecutivo, a Liturgia nos faz refletir sobre o Livro de Jonas e a misericórdia de Deus que abre nossos corações, saindo vitoriosa. Assim o Papa resumiu a leitura do dia na homilia da missa celebrada na Casa Santa Marta, nesta terça-feira, 10.

Francisco definiu o profeta “um teimoso que queria ensinar a Deus como se fazem as coisas”.

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O Senhor pede a Jonas que converta a cidade de Nínive: na primeira vez, o profeta foge, se recusando a fazê-lo; na segunda o faz, com sucesso, mas – observou Francisco – fica “indignado”, “enraivado” diante do perdão que o Senhor concede às pessoas que abriram o coração e se mostraram arrependidas. Jonas – disse o Papa – era um “teimoso, intransigente”, tinha a alma “rígida”:

“Os teimosos de alma, rígidos, não entendem o que é a misericórdia de Deus. São como Jonas: ‘Devemos pregar isso, estes devem ser punidos porque fizeram o mal e que vão para o inferno...’. Os rígidos não sabem abrir o coração como o Senhor. Os rígidos são covardes, têm um coração fechado, apegados à justiça pura. E se esquecem que a justiça de Deus se fez carne em seu filho; se fez misericórdia, se fez perdão; que o coração de Deus está sempre aberto ao perdão”.

E o que os teimosos se esquecem – acrescentou Francisco – é precisamente que “a onipotência de Deus se expressa principalmente em sua misericórdia e no perdão”.

“Não é fácil entender a misericórdia de Deus, não é fácil. É preciso tanta oração para compreendê-la porque é uma graça; nós estamos acostumados com a justiça: ‘você me fez isso, agora paga’; mas Jesus pagou por nós e continua a pagar”.

Deus – voltou a repetir o Papa referindo-se ao episódio de Jonas – poderia ter abandonado o profeta à sua teimosia e à sua rigidez, mas foi conversar com ele e convencê-lo, o salvou como o fez com o povo de Nínive: é o “Deus da paciência, o Deus que sabe acariciar, que sabe abrir os corações”.

“Esta é a mensagem deste livro profético”, sublinhou ainda o Papa, concluindo: “Um diálogo entre a profecia, a penitência, a misericórdia e a covardia, ou teimosia, onde vence sempre a misericórdia de Deus, porque a sua onipotência se manifesta precisamente na misericórdia. Hoje, permito-me de aconselhá-los a pegar a Bíblia e ler o Livro de Jonas: é minúsculo, são três páginas. Vocês verão como age o Senhor, como é a misericórdia do Senhor, como o Senhor transforma nossos corações, e agradecerão ao Senhor por ser tão misericordioso”.

(GC/CM)

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Papa: olhar de cima para baixo somente para ajudar o próximo a se levantar

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09 de outubro de 2017

O Papa Francisco celebrou a missa matutina, na segunda-feira, 09, na capela da Casa Santa Marta, na qual exortou a cuidar das pessoas feridas, conforme o Bom Samaritano, ajudar quem precisa a se levantar, como fez o próprio Jesus.

A reflexão nasce do Evangelho do dia em que Jesus conta a Parábola do Bom Samaritano que agiu de modo diferente do sacerdote e do levita. Ele para e socorre o homem ferido, espancado pelos assaltantes que o deixaram quase morto.
 
A Parábola do Bom Samaritano é a resposta que Jesus dá ao doutor da Lei que queria colocá-lo à prova, perguntando-lhe o que devia fazer para receber em herança a vida eterna. Jesus faz ele dizer o mandamento do amor a Deus e ao próximo, mas o doutor da Lei, que não sabia como sair da “pequena armadilha que Jesus lhe tinha feito”, perguntou-lhe: ‘Quem é o meu próximo?’ Então, Jesus respondeu com esta parábola.

Os personagens dessa narrativa são: os assaltantes, o homem ferido deixado quase morto, o sacerdote, o levita, o dono da pensão e o samaritano, um pagão que não fazia parte do povo judeu. Cristo sempre responde de “uma forma mais elevada”, evidenciou o Papa. Nesse caso, com uma parábola que pretende  explicar o seu próprio mistério, “o mistério de Jesus”. 

Os assaltantes foram-se embora felizes, pois tinham roubado dele “muitas coisas boas” e não se importaram com sua vida. O sacerdote, “que deveria ser o homem de Deus”, e o levita, que estava próximo à Lei, quando viram o homem ferido, quase morto, seguiram adiante pelo outro lado. O Papa descreveu essa atitude:

“Um comportamento habitual entre nós: olhar uma calamidade, olhar uma coisa feia e seguir adiante. Depois, ler sobre ela nos jornais, um pouco pintada de escândalo ou de sensacionalismo. Ao invés, esse pagão, pecador, que estava viajando, ‘viu e não seguiu adiante: sentiu compaixão’. O evangelista Lucas descreve bem: ‘Viu, sentiu compaixão, aproximou-se dele, não se distanciou, e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas’. Não o deixou ali: fiz a minha parte e vou-me embora. Não!”

Depois colocou o homem em seu próprio animal, levou-o a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, tendo os seus afazeres, pagou o dono da pensão para que cuidasse dele, dizendo-lhe que quando voltasse, pagaria o que tivesse gasto a mais. 

Este é o “mistério de Cristo” que “se fez servo, abaixou-se, aniquilou-se e morreu por nós”. Com este mistério, Jesus responde ao doutor da Lei que queria colocá-lo à prova. Jesus é o Bom Samaritano e convida aquele homem a fazer o mesmo. “Não é uma fábula para crianças”, disse Francisco aos fiéis presentes na Casa Santa Marta, mas “o mistério de Jesus Cristo”: 

“Olhando esta parábola, entenderemos profundamente, a amplitude do mistério de Jesus Cristo. O doutor da lei foi embora calado, cheio de vergonha, não entendeu. Não entendeu o mistério de Cristo. Talvez tenha compreendido aquele princípio humano que nos aproxima a entender o mistério de Cristo: que todo ser humano olhe outro ser humano de cima para baixo, somente quando deve ajudá-lo a se levantar. Se alguém faz isso está no bom caminho, está na estrada certa, rumo a Jesus.”

O Papa se referiu também ao dono da pensão que “não entendeu nada e ficou surpreso”, ficou admirado “pelo encontro com alguém que fazia coisas que nunca tinha ouvido falar”, disse o Pontífice, ou seja, a admiração do dono da pensão “é o encontro com Jesus”.

Francisco exortou a ler essa passagem do capítulo décimo do Evangelho de Lucas e a se perguntar: 

“O que eu faço? Sou um assaltante, enganador, corrupto? Sou um assaltante, ali? Sou um sacerdote que olha, vê e olha para o outro lado e segue adiante? Ou um líder católico que faz a mesma coisa? Ou sou um pecador? Uma pessoa que deve ser condenada pelos próprios pecados? Aproximo-me, cuido daquele que precisa? Como me comporto diante de tantas feridas, de tantas pessoas feridas com as quais me encontro todos os dias? Faço como Jesus? Assumo a forma de um servo? Nos fará bem esta reflexão, lendo e relendo essa passagem. Aqui se manifesta o mistério de Jesus Cristo, que sendo nós pecadores veio por nós, para nos curar e dar a vida por nós.”  

(MJ)

 

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Papa: reencontrar as raízes e não o autoexílio psicológico

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05 de outubro de 2017

“Quem reencontra as próprias raízes é uma pessoa da alegria. O autoexílio psicológico da comunidade e da sociedade faz muito mal”, disse o Papa Francisco na homilia da missa matutina celebrada na quinta-feira, 05, na capela da Casa Santa Marta.

O Papa exortou a encontrar novamente a própria pertença, partindo da Primeira Leitura do dia, extraída do Livro de Neemias, que descreve “uma grande assembleia litúrgica”: é o povo que se reuniu na praça que fica defronte da porta das Águas, em Jerusalém. Era o final de uma história que durou mais de 70 anos, a história da deportação para a Babilônia, uma história de pranto para o povo de Deus. Depois da queda do império da Babilônia causada pelos persas, o rei persa Artaxerxes, vendo triste Neemias, seu copeiro, enquanto lhe servia o vinho, começou a dialogar com ele. Neemias manifestou o desejo de voltar a Jerusalém e “chorava”: tinha “saudade de sua cidade”.

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Francisco lembrou então ao Salmo que diz: “Ao longo dos rios da Babilônia se sentavam e choravam”. Não podiam cantar, suas liras estavam penduradas nos salgueiros, mas não queriam esquecer. Nesse momento, o Papa pensou também na “saudade dos migrantes”, aqueles que “estão distantes da Pátria e querem voltar”. Francisco recordou também o gesto do coral, em Gênova, no final da missa que cantou uma música recordando todos os migrantes que gostariam de estar ali, na missa com o Papa, mas estavam distantes. 

Neemias se prepara para voltar e levar novamente o povo a Jerusalém. Uma viagem “para reencontrar a cidade, uma viagem difícil”, ressaltou o Papa, pois “deveria convencer muita gente” e levar as coisas para reconstruir a cidade, os muros e o Templo, “mas sobretudo era uma viagem para reencontrar as raízes do povo”. Depois de muitos anos, as raízes “tinham se enfraquecido”, mas não foram perdidas. Retomar as raízes “significa retomar a pertença a um povo”, explicou o Papa. “Sem as raízes não é possível viver: um povo sem raízes ou que deixa perder as raízes, é um povo doente”. Disse o Papa que acrescentou: 

“Uma pessoa sem raízes, que esqueceu as próprias raízes, é doente. Reencontrar, redescobrir as próprias raízes e tomar a força para ir adiante, a força para frutificar, e como disse o profeta, ‘a força para florescer, pois o que floresce na árvore vem do subterrâneo. Aquela relação entre a raiz e o bem que nós podemos fazer.” 

Neste caminho existem “muitas resistências: não é possível, existem dificuldades”: 

“As resistências são daqueles que preferem o exílio, e quando não há o exílio físico, há o exílio psicológico: o autoexílio da comunidade, da sociedade, aqueles que preferem ser povo desarraigado, sem raízes. Devemos pensar na doença do autoexílio psicológico que faz muito mal, nos tira as raízes, nos tira a pertença.”

O povo, porém, vai adiante e chega o dia da reconstrução. O povo se reúne para “restabelecer as raízes”, ou seja, para ouvir a Palavra de Deus que o escriba Esdras lia e o povo chorava. Mas desta vez não era o pranto da Babilônia: “era o choro da alegria, do encontro com as próprias raízes, o encontro com, a própria pertença”. Terminada a leitura, Neemias convida o povo a festejar. Trata-se da alegria de quem encontrou as próprias raízes: 

“O homem e a mulher que reencontram as próprias raízes, que são fiéis à própria pertença, são um homem e uma mulher na alegria, de alegria e esta alegria é a sua força. Do choro de tristeza ao choro de alegria, do choro de fraqueza por estar distante das raízes, distante de seu povo, ao choro da pertença: estou em casa, estou em casa”.

O Papa convidou os fiéis presentes na missa a lerem o capítulo oitavo de Neemias, primeira leitura da liturgia de hoje, e a se perguntarem se deixaram se perder a lembrança do Senhor, se devem começar um caminho para reencontrar as próprias raízes ou se preferem o autoexílio psicológico, fechados em si mesmos. 

O Papa disse ainda que quem tem medo de chorar, terá medo de sorrir, pois quando se chora de tristeza, depois se chora de alegria. É preciso pedir a graça do “choro arrependido”, triste pelos nossos pecados, mas também a graça do choro de alegria, pois o Senhor “nos perdoou e fez em nossa vida o que fez com o seu povo. Enfim, pedir a graça de se colocar a caminho para se encontrar com as próprias raízes. 

(MJ)

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Papa: pedir a Jesus a coragem de segui-Lo perto

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03 de outubro de 2017

O Papa Francisco celebrou na manhã de terça-feira, 03, a missa na capela da Casa Santa Marta.

A homilia do Pontífice foi inspirada no Evangelho de Lucas proposto pela liturgia do dia, em que Jesus toma duas decisões ao se aproximar o momento da sua Paixão: colocar-se em caminho e, portanto, aceitar a vontade do Pai e ir avante e, depois, anunciar esta decisão aos seus discípulos.

"Somente uma vez”, afirmou o Papa, Jesus "se permitiu pedir ao Pai que afastasse um pouco esta cruz: 'Pai – no Jardim das Oliveiras –, se possível, afasta de mim este cálice. Mas não seja feita a minha, mas a tua vontade'. Obediente; aquilo que o Pai quer. Decidido e obediente e nada mais. E assim até o fim. O Senhor pacienta…Pacienta. É um exemplo de caminho, não somente morrer sofrendo sobre a cruz, mas caminhar em paciência".

Mas diante desta decisão, diante do caminho rumo a Jerusalém e rumo à cruz, os discípulos não seguem o seu Mestre. É o que narram várias páginas dos Evangelhos que o Papa cita. Às vezes, os discípulos “não entendem o que quer dizer ou não querem entender, porque estavam com medo"; outras vezes, “escondiam a verdade” ou se distraiam fazendo “coisas alienantes”; ou até mesmo, como se lê no Evangelho de hoje, “procuravam um álibi para não pensar” naquilo que aguardava o Senhor. 

“Não era acompanhado nesta decisão, porque ninguém entendia o mistério de Jesus, a solidão de Jesus no caminho para Jerusalém: sozinho. E isto, até o final. Pensemos depois no abandono dos discípulos, na traição de Pedro... Sozinho. O Evangelho nos diz que aparece a ele somente um anjo do céu para confortá-lo no Jardim das Oliveiras. Somente aquela companhia. Somente”.

Vale a pena – e esta é a sugestão final do Papa hoje – para “tomarmos um pouco de tempo para pensar” em Jesus que “tanto nos amou”, “que caminhou sozinho para a Cruz”, “na incompreensão também dos seus”. “Pensar”, “ver”, “agradecer” a Jesus obediente e corajoso e conversar com ele.

E é o próprio Papa a sugerir as palavras:

“Quantas vezes eu procuro fazer tantas coisas e não olho para Ti, que fizeste isto por mim? Que foi paciente - o homem paciente, Deus paciente  - que com tanta paciência tolera os meus pecados, os meus fracassos? E falar com Jesus assim. Ele decidiu sempre ir em frente, oferecer a face, e agradecê-lo. Tomemos hoje um pouco de tempo, poucos minutos – cinco, dez, quinze – diante do Crucifixo, talvez ou com imaginação, ver Jesus caminhar decididamente para Jerusalém e pedir a graça de ter a coragem de segui-Lo de perto”.

 

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Arcanjos são companheiros de vida, diz o Papa

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29 de setembro de 2017

Nós e os anjos temos a mesma vocação: “cooperar juntos para o desígnio de salvação de Deus”. Foi o que disse o Papa na homilia da missa celebrada na Casa Santa Marta, por ocasião da Festa dos três arcanjos Miguel, Rafael e Gabriel.

“Somos – por assim dizer – ‘irmãos’ na vocação. E eles estão diante do Senhor para servi-lo, louvá-lo e também para contemplar a glória do rosto do Senhor. Os anjos são os grandes contemplativos. Eles contemplam o Senhor; servem e contemplam. Mas também o Senhor os envia para nos acompanhar no caminho da vida."

Em especial, Miguel, Gabriel e Rafael, explicou Francisco, têm um “papel importante no nosso caminho rumo à salvação”. “O Grande Miguel é que declara guerra ao diabo”, ao “grande dragão”, à “velha serpente” que “perturba a nossa vida” , seduz “toda a terra habitada” assim como seduziu a nossa mãe Eva com argumentos convincentes e, depois, quando caímos, nos acusa diante de Deus:

“Mas coma o fruto! Lhe fará bem, lhe fará conhecer muitas coisas”… E começa, assim como a serpente, a seduzir, a seduzir … E depois, quando caímos nos acusa diante de Deus: “É um pecador, é meu!”. Ele é meu: é justamente a palavra do diabo. Nos vence com a seduação e, depois, nos acusa diante de Deus: “É meu. Eu o levo comigo”. E Miguel declara guerra. O Senhor lhe pediu que declarasse guerra. Para nós que estamos em caminho nesta vida rumo ao Céu, Miguel nos ajuda a declarar guerra ao diabo, a não nos deixar seduzir.

É um trabalho de defesa que Miguel faz pela “Igreja” e por “cada um de nós”, diferente do papel de Gabriel, “o outro arcanjo de hoje”, aquele que, recorda o Papa, “traz as boas notícias; aquele que levou a notícia a Maria, a Zacarias, a José”: a notícia da salvação. Também Gabriel está conosco, assegura ainda o Papa, e ajuda-nos no caminho, quando “esquecemos” o Evangelho de Deus, que “Jesus veio conosco” para nos salvar.

O terceiro arcanjo que celebramos hoje é Rafael, aquele que “caminha conosco” e que nos ajuda neste caminho: devemos pedir-lhe, é o convite do Papa, para nos proteger da “sedução de dar um passo errado”.

Eis, então os nossos companheiros ao serviço de Deus e da nossa vida que Francisco hoje nos ensina a rezar de maneira simples:

“Miguel, ajude-nos na luta; cada um sabe qual luta tem em sua vida hoje. Cada um de nós conhece a luta principal, que faz arriscar a salvação. Ajude-nos. Gabriel, traga-nos notícias, traga-nos a Boa Notícia da Salvação, que Jesus está conosco, que Jesus nos salvou e nos dê esperança. Rafael, segure a nossa mão e nos ajude no caminho para não errarmos a estrada, para não permanecermos parados. Sempre caminhando, mas ajudados por você”.

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A familiaridade com Jesus nos liberta

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26 de setembro de 2017

O Papa Francisco celebrou na manhã de terça-feira, 26, a missa na capela da Casa Santa Marta. Em sua homilia, falou do conceito de família, inspirando-se no Evangelho de Lucas proposto pela liturgia do dia.

Para Jesus, família são os que ouvem a Palavra de Deus e a colocam em prática. No Evangelho, é o Senhor que chama “mãe”, “irmãos” e “família” os que o circundavam e o ouviam na pregação. E isso, observou o Papa, "faz pensar no conceito de familiaridade com Deus e com Jesus”, que é algo a mais em relação ao ser “discípulos” ou “amigos”; “não é uma atitude formal nem educada e muito menos diplomática”, afirmou o Papa.

E então "o que significa esta palavra que os padres espirituais na Igreja tanto usaram e nos ensinaram?".

Antes de tudo, explicou Francisco, significa "entrar na casa de Jesus: entrar naquela atmosfera, viver aquela atmosfera, que está na casa de Jesus. Viver ali, contemplar, ser livres, ali. Porque os filhos são os livres, os que moram na casa do Senhor são os livres, os que têm familiaridade com Ele com os livres. Os outros, usando uma palavra da Bíblia, são os ‘filhos da escrava’, digamos assim, são cristãos, mas não ousam se aproximar, não ousam ter esta familiaridade com o Senhor, e sempre há uma distância que os separa do Senhor". 

Mas familiaridade com Jesus, como nos ensinam os grandes Santos, acrescentou o Papa, significa também “estar com Ele, olhá-Lo, ouvir a sua Palavra, tentar praticá-la, falar com Ele" .

E a palavra é oração, destacou Francisco: "aquela oração que se faz inclusive na rua: 'Mas, Senhor o que acha?' Esta é a familiaridade, não? Sempre. Os santos tinham isso. Santa Teresa, é bonito, porque diz que via o Senhor em todos os lugares, era familiar com o Senhor por todos os lados, mesmo entre as panelas na cozinha, era assim".

Por fim, familiaridade é "permanecer" na presença de Jesus como Ele mesmo nos aconselha na Última Ceia ou como nos recorda o início do Evangelho, destacou Francisco, quando João indica: "este é o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. E André e João foram atrás de Jesus" e, como está escrito, “permaneceram, ficaram com Ele todo o dia”.

Esta é, portanto, reiterou o Papa, a atitude de familiaridade, não aquela dos cristãos que, porém, mantêm distância de Jesus. E então Francisco pede a cada um: "vamos dar um passo nesta atitude de familiaridade com o Senhor. Aquele cristão, com problemas, que vai no ônibus, no metrô e interiormente fala com o Senhor ou pelo menos sabe que o Senhor o vê, lhe está próximo: esta é a familiaridade, é proximidade, é sentir-se da família de Jesus. Peçamos esta graça para todos nós, entender o que significa familiaridade com o Senhor. Que o Senhor nos conceda esta graça".

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Consolo não é diversão, mas paz do Senhor

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25 de setembro de 2017

O Papa começou a semana celebrando a missa na capela da Casa Santa Marta (25/09). Em sua homilia, Francisco comentou a Primeira Leitura, que narra o momento no qual o povo de Israel é libertado do exílio: “o Senhor – destacou o Pontífice – visitou o seu povo e o conduziu de volta a Jerusalém”. A palavra “visita”, explicou, é “importante” na história da salvação, porque “toda libertação, toda ação de redenção de Deus é uma visita”.

Quando o Senhor nos visita nos dá a alegria, isto é, nos leva a um estado de consolação. Este dar alegria… Sim, semearam nas lágrimas, mas agora o Senhor nos consola e nos dá esta consolação espiritual. E a consolação acontece não só naquele tempo, é um estado na vida espiritual de todo cristão. Toda a Bíblia nos ensina isso”.

O Papa exortou a “esperar”, portanto, a visita de Deus “a cada um de nós”. Existem “momentos mais fracos” e “momentos mais fortes”, mas o Senhor “nos faz sentir a sua presença” sempre, com a consolação espiritual, enchendo-nos “de alegria”. 

Neste sentido, esperar este evento com a virtude “mais humilde de todas”: a esperança, que “é sempre pequena”, mas “tantas vezes é forte quando está escondida como as brasas sob as cinzas”.

Assim, o cristão vive “em tensão” pelo encontro com Deus, pela consolação “que dá este encontro com o Senhor”.

Se um cristão não está em tensão por tal encontro é – acrescenta o Papa – um cristão “fechado”, “meio que no depósito da vida”, sem saber “o que fazer”.

O convite, então, é para “reconhecer” a consolação, “porque existem falsos profetas que parecem nos consolar, mas pelo contrário, nos enganam”. Esta não é “uma alegria que se pode comparar”:

A consolação do Senhor toca dentro e te move, faz aumentar em ti a caridade, a fé, a esperança e também te leva a chorar pelos [teus] próprios pecados. E também quando olhamos para Jesus e para a Paixão de Jesus, chorar com Jesus. E também te eleva a alma para as coisas do Céu, para as coisas de Deus e também, acalma a alma na paz do Senhor. Esta é a verdadeira consolação. Não é um divertimento – o divertimento não é uma coisa má quando é bom, somos humanos, devemos tê-lo -, mas a consolação te envolve e justamente a presença de Deus se sente e se reconhece: este é o Senhor”.

O Papa recorda de agradecer - com a oração - o Senhor “que passa” para nos visitar, para nos ajudar a “a ir para frente, para esperar, para carregar a Cruz”. Enfim, pede para conservar a consolação recebida:

“É verdade, a consolação é forte e não se conserva assim forte - é um momento - mas deixa seus traços. E conservar esses traços, e conservar com a memória; conservar como o povo conservou esta libertação. Retornamos a Jerusalém porque Ele nos libertou de lá. Esperar a consolação, reconhecer a consolação e conservar a consolação. E quando esse momento forte passa o que permanece? A paz. E a paz é o último nível da consolação”.

(BF-JE-SP)

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Reconhecer-se pecador é a porta para encontrar Jesus

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21 de setembro de 2017

“A porta para encontrar Jesus é reconhecer-se pecador”, afirmou o Papa Francisco na Missa celebrada na manhã desta quinta-feira, na Capela da Casa Santa Marta.

Sua homilia repassa a conversão de São Mateus - festejado hoje pela Igreja - episódio retratado pelo pintor italiano Caravaggio em uma tela muito cara à Francisco.

Três as etapas do acontecido: encontro, festa e escândalo. Jesus havia curado um paralítico e encontra Mateus, sentado no banco dos impostos. Fazia o povo de Israel pagar os impostos para depois dá-los aos romanos e por isto era desprezado, considerado um traidor da pátria.

Jesus olhou para ele e disse: “Segue-me”. Ele levantou-se e o seguiu, como narra o Evangelho do dia.

De um lado, o olhar de São Mateus, um olhar desconfiado, olhava “de lado”. “Com um olho, Deus” e “com o outro o dinheiro”, “agarrado ao dinheiro como pintou Caravaggio”, e também com um olhar impertinente. De outro, o olhar misericordioso de Jesus que – disse o Papa – olhou para ele com tanto amor”.

A resistência daquele homem que queria o dinheiro “cai”: levantou-se e o seguiu. “É a luta entre a misericórdia e o pecado”, sintetiza o Papa.

O amor de Jesus pode entrar no coração daquele homem porque “sabia ser pecador”, sabia “não ser bem quisto por ninguém”, era desprezado.

E justamente “a consciência de pecador abriu a porta para a misericórdia de Jesus”. Assim, “deixou tudo e foi”. Este é o encontro entre o pecador e Jesus:

“É a primeira condição para ser salvo: sentir-se em perigo; a primeira condição para ser curado: sentir-se doente. E sentir-se pecador, é a primeira condição para receber este olhar de misericórdia. Mas pensemos no olhar de Jesus, tão bonito, tão bom, tão misericordioso. E também nós, quando rezamos, sentimos este olhar sobre nós; é o olhar de amor, o olhar da misericórdia, o olhar que nos salva. Não ter medo”.

Como Zaqueu, também Mateus, sentindo-se feliz, convidou depois Jesus para come em sua casa. A segunda etapa é justamente “a festa”.

Mateus convidou todos os amigos, “aqueles do mesmo sindicato”, pecadores e publicanos. Certamente à mesa, faziam perguntas ao Senhor e ele respondia.

Isto – observa o Papa – faz pensar naquilo que disse Jesus no capítulo 15 de Lucas: “Haverá mais festa no Céu por um pecador que se converta do que por cem justos que permanecem justos”.

Trata-se da festa do encontro do Pai, a festa da misericórdia”. Jesus, de fato, trata a todos com misericórdia sem limite, afirma Francisco.

Então, o terceiro momento, o do “escândalo”. Os fariseus vendo que publicanos e pecadores sentaram-se à mesa com Jesus, perguntavam  aos seus discípulos: “Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?”.

“Um escândalo sempre começa com esta frase: “Por que?””, explica o Papa. “Quando vocês ouvem esta frase, cheira” – sublinha – e “por trás vem o escândalo”.

Tratava-se, em substância, da “impureza de não seguir a lei”. Conheciam muito bem “a Doutrina”, sabiam como seguir “pelo caminho do Reino de Deus”, conheciam “melhor do que ninguém como se devia fazer”, mas “haviam esquecido o primeiro mandamento do amor”.

E assim, “fecharam-se na gaiola dos sacrifícios, quem sabe pensando: “Mas, façamos uma sacrifício a Deus”, façamos tudo o que se deve fazer, “assim, nos salvamos”. Em síntese, acreditavam que a salvação viesse deles próprios, sentiam-se seguros.

“Não! Deus nos salva, nos salva Jesus Cristo”, enfatizou o Papa:

“Aquele “por que” que tantas vezes ouvimos entre os fiéis católicos quando viam obras de misericórdia. “Por que?”  E Jesus é claro, é muito claro: “Ir e aprender”. E os mandou aprender, não? “Ide e aprendei o que quer dizer misericórdia - (aquilo que) eu quero – e não sacrifícios, porque eu não vim, de fato, para chamar os justos, mas os pecadores”. Se tu queres ser chamado por Jesus, reconhece-te pecador”.

Francisco exorta, portanto, a reconhecer-se pecadores, não de forma abstrata, mas “com pecados concretos”:  “todos nós os temos, tantos”, afirma.

“Deixemo-nos olhar por Jesus com aquele olhar misericordioso cheio de amor”, prossegue.

E detendo-se ainda no escândalo, ressalta que existem tantos:

“Existem tantos, tantos. E sempre, também na Igreja hoje. Dizem: “Não, não se pode, é tudo claro, é tudo, não, não... eles são pecadores, devemos afastá-los”. Também tantos Santos são perseguidos ou se levanta suspeitas sobre eles. Pensemos em Santa Joana d’Arc, mandada para a fogueira, porque pensavam que fosse uma bruxa, pensem no Beato Rosmini. “Misericórdia eu quero, e não sacrifícios”. E a porta para encontrar Jesus é reconhecer-se como somos, a verdade. Pecadores. E ele vem, e nos encontramos. É tão bonito encontrar Jesus!”

(JE)

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