Papa: "pensar na morte faz bem, será o encontro com o Senhor"

Por
17 de novembro de 2017

Refletir sobre o fim do mundo e também sobre o fim de cada um de nós: é o convite que a Igreja nos faz através do trecho evangélico de Lucas, comentado pelo Papa na homilia da missa matutina, na Casa Santa Marta.

O trecho narra a vida normal dos homens e mulheres antes do dilúvio universal e nos dias de Lot: comiam, bebiam, compravam, vendiam, se casavam... mas depois, como um trovão, chega o dia da manifestação do Filho do homem... e as coisas mudam.

A Igreja, que é mãe – diz o Papa na homilia – quer que cada um de nós pense em sua própria morte. Todos nós estamos acostumados à normalidade da vida: horários, compromissos, trabalho, momentos de descanso... e pensamos que será sempre assim. Mas um dia, prossegue Francisco, Jesus chamará e nos dirá: ‘Vem!’ Para alguns, este chamado será repentino, para outros, virá depois de uma longa doença; não sabemos.

No entanto, repete o Papa, “O chamado virá!”. E será uma surpresa, mas depois, virá ainda outra surpresa do Senhor: a vida eterna. Por isso, “a Igreja nestes dias nos diz: pare um pouco, pare e pense na morte”. O Papa Francisco descreve o que acontece normalmente: até participar do velório ou ir ao cemitério se torna um evento social. Vai-se, fala-se com os outros e em alguns casos, até se come e se bebe: “É uma reunião a mais, para não pensar”.

“E hoje a Igreja, hoje o Senhor, com aquela bondade que é sua, diz a cada um de nós: ‘Pare, pare, nem todos os dias serão assim. Não se acostume como se esta fosse a eternidade. Haverá um dia em que você será levado e o outro ficará, você será levado’. É ir com o Senhor, pensar que a nossa vida terá fim. Isto faz bem”.

Isto faz bem – explica o Papa – diante do início de um novo dia de trabalho, por exemplo, podemos pensar: ‘Hoje talvez será o último dia, não sei, mas farei bem meu trabalho’. E o mesmo nas relações de família ou quando vamos ao médico.

“Pensar na morte não é uma fantasia ruim, é uma realidade. Se é feia ou não feia, depende de mim, como eu a penso, mas que ela chegará, chegará. E ali será o encontro com o Senhor, esta será a beleza da morte, será o encontro com o Senhor, será Ele a vir ao seu encontro, será Ele a dizer: “Vem, vem, abençoado do meu Pai, vem comigo”.

E ao chamado do Senhor não haverá mais tempo para resolver nossas coisas. Francisco relata o que um sacerdote lhe disse recentemente:

“Dias atrás encontrei um sacerdote, 65 anos mais ou menos, e ele tinha algo que não estava bem, ele não se sentia bem ... Ele foi ao médico que lhe disse: “Mas olhe - isso depois da visita – o senhor tem isso, e isso é algo ruim, mas talvez tenhamos tempo para detê-lo, nós faremos isso, se não parar, faremos isso e, se não parar, começaremos a caminhar e eu vou acompanhá-lo até o fim”. “Muito bom aquele médico”.

Assim também nós, exorta o Papa, vamos nos fazer acompanhar nesta estrada, façamos de tudo, mas sempre olhando para lá, para o dia em que “o Senhor virá me buscar para ir com Ele”.

(CM-SP)

 

Comente

Papa: o reino de Deus cresce dentro de nós, não é carnaval

Por
16 de novembro de 2017

O reino de Deus não é um espetáculo nem um carnaval, “não ama a propaganda”: é o Espirito Santo que o faz crescer, não “os planos pastorais”. Foi o que disse o Papa na missa da manhã de quinta-feira, 16, na capela da Casa Santa Marta, comentando o Evangelho do dia (Lc 17,20-25).

Francisco se deteve na pergunta que os fariseus fazem a Jesus: “quando virá o reino de Deus?”. Uma pergunta simples, que nasce de um coração bom e aparece tantas vezes no Evangelho. João Batista, por exemplo, quando estava na prisão, angustiado, pede a seus discípulos que perguntem a Jesus se é ele mesmo que deve vir ou se devem esperar outra pessoa. Outras vezes, a pergunta foi feita “sem rodeios”, “se é você, desça da cruz”. “Há sempre a dúvida”, a “curiosidade” de quando virá o Reino de Deus, disse o Papa.

“O reino de Deus está em meio a vós”: é a resposta de Jesus. Assim como a semente que, semeada, cresce a partir de dentro, também o reino de Deus cresce “escondido” e no meio “de nós” – reiterou o Pontífice – ou se encontra escondido como “pedra preciosa ou o tesouro”, mas “sempre na humildade”.

“Mas quem faz crescer aquela semente, quem faz germinar? Deus, o Espírito Santo que está em nós. E o Espírito Santo é espírito de mansidão, espírito de humildade, é espírito de obediência, espírito de simplicidade. É ele que faz crescer dentro o reino de Deus, não são os planos pastorais, as grandes coisas... Não, é o Espírito, escondido. Faz crescer, chega o momento e aparece o fruto”.

No caso do Bom Ladrão, o Papa se pergunta quem fez semear a semente do reino de Deus no seu coração: talvez a mãe, faz uma hipótese – ou talvez um rabino quando lhe explicava a lei. Depois, talvez, se esquece, mas a um certo momento “escondido”, o Espírito a faz crescer.

Por isso, Francisco repete que o reino de Deus é sempre “uma surpresa”, porque é “um dom que o Senhor dá”. Jesus explica também que “o reino de Deus não vem para chamar a atenção e ninguém dirá: ‘Ei-lo aqui, ei-lo lá’”. “Não é um espetáculo ou pior ainda – mas às vezes se pensa assim – “um carnaval”, reitera o Papa.

“O reino de Deus não se mostra com a soberba, com o orgulho, não ama a propaganda: é humilde, escondido e assim cresce. Penso que quando as pessoas olhavam Nossa Senhora, ali, que seguia Jesus: ‘Aquela é a mãe, ah…’. A mulher mais santa, mas escondida, ninguém conhecia o mistério do reino de Deus, a santidade do reino de Deus. E quando estava perto da cruz do filho, as pessoas diziam: ‘Mas pobre mulher com este criminoso como filho, pobre mulher …’. Nada, ninguém sabia”.

O reino de Deus, portanto, cresce sempre escondido, porque “o Espírito Santo está dentro de nós” – recordou o Papa – que “o faz germinar até dar o fruto”.

“Nós todos somos chamados a fazer esta estrada do reino de Deus: é uma vocação, é uma graça, é um dom, é gratuito, não se compra, é uma graça que Deus nos dá. E nós todos batizados temos dentro o Espírito Santo. Como é a minha relação com o Espírito Santo, que faz crescer em mim o reino de Deus? Uma bela pergunta para todos nós fazermos hoje: eu acredito, acredito realmente que o reino de Deus está no meio de nós, está escondido ou gosto mais do espetáculo?”.

Francisco conclui exortando a pedir ao Espírito Santo a graça de fazer germinar “em nós e na Igreja, com força, a semente do reino de Deus para que se torne grande, dê refúgio a tantas pessoas e dê frutos de santidade”. 

Comente

Papa: escândalos ferem e matam corações e esperanças

Por
13 de novembro de 2017

Na missa diaria, desta segunda-feira, 13,  na Capela da Casa Santa Marta o Postífice, refletindo as palavras de Jesus no Evangelho,  declarou que “é inevitável que aconteçam escândalos, mas ai daquele que produz escândalos!”. E Jesus adverte os seus discípulos: “Prestem atenção em vocês mesmos!”.

“Ou seja, fiquem atentos a não escandalizar. O escândalo é feio porque o escândalo fere, fere a vulnerabilidade do povo de Deus, fere a fragilidade do povo de Deus e muitas vezes essas feridas são carregadas pro toda a vida. Não somente fere, o escândalo é capaz de matar: matar esperanças, matar ilusões, matar famílias, matar muitos corações.”

“Prestem atenção em vocês mesmos” é uma advertência a todos, sublinhou Francisco, especialmente a quem se diz cristão, mas vive como pagão. Este é “o escândalo do povo de Deus”.

“Muitos cristãos com o seu exemplo distanciam as pessoas, com a sua incoerência, com a própria incoerência: a incoerência dos cristãos é uma das armas mais fáceis que o diabo tem para enfraquecer o povo de Deus e distanciar o povo de Deus do Senhor. Dizer uma coisa e fazer outra.”

Esta é a “incoerência” que faz escândalo, que deve hoje nos fazer perguntar – disse o Papa -: “como é a minha coerência de vida? Coerência com o Evangelho, Coerência com o Senhor?” Francisco citou como exemplo os empreendedores cristãos que não pagam os salários justos e se servem das pessoas para se enriquecerem e também o escândalo dos pastores na Igreja que não cuidam das ovelhas e se afastam.

“Jesus nos diz que não se pode servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro, e quando o pastor é alguém apegado ao dinheiro, escandaliza. E as pessoas se escandalizam: o pastor apegado ao dinheiro. Todo pastor deve se perguntar: como é minha amizade com o dinheiro? Ou o pastor que procura subir, a vaidade o leva a escalar, em vez de ser gentil, humilde, porque a gentileza e a humildade favorecem a proximidade com as pessoas. Ou o pastor que se sente senhor e comanda todos, orgulhoso, e não o pastor servidor do povo de Deus”…

“Hoje pode ser - concluiu Francisco a sua homilia - um bom dia para fazer um exame consciência sobre isso: escandalizo ou não, e como? E assim poderemos responder ao Senhor e nos aproximarmos um pouco mais d’Ele”.

(MJ-SP)

Comente

Papa: é preciso deixar-se "misericordiar" por Deus

Por
06 de novembro de 2017

Quando Deus dá um dom, este é irrevogável. Isto é, não pode ser desfeito, não dá hoje e tira amanhã. Quando Deus chama, esta chamada permanece toda a vida. Assim tem início a homilia do Papa na Casa Santa Marta, inspirada pela “eleição de Deus”, presente na leitura do dia de São Paulo aos Romanos.

Na história da salvação, explicou o Papa, três foram os dons e os chamados de Deus ao seu povo. Todos irrevogáveis, porque Deus é fiel: “o dom da eleição, da promessa e da aliança”. Foi assim para Abraão, e é assim para cada um de nós:

“Cada um de nós é um eleito, uma eleita de Deus. Cada um de nós carrega uma promessa que o Senhor fez: ‘Caminha na minha presença, seja irrepreensível e eu lhe farei isso’. E cada um de nós faz alianças com o Senhor. Pode fazê-las, não quer fazê-las – é livre. Mas isso é um fato. E também deve ser uma pergunta: como sinto eu a eleição? Ou me sinto cristão por acaso? Como eu vivo a promessa, uma promessa de salvação no meu caminho, e como sou fiel à aliança? Como Ele é fiel?”.

Diante, portanto, da “própria fidelidade” que é Deus, podemos nos perguntar: nós sentimos o Seu “carinho”, o Seu “cuidar” de nós e o Seu “procurar-nos” quando nos afastamos?

E ainda, prosseguiu Francisco comentando a leitura de São Paulo: falando da eleição de Deus, o Apóstolo repete quatro vezes duas palavras: “desobediência” e “misericórdia”. Onde há uma, comentou o Papa, está a outra. Este é o nosso caminho de Salvação:

“Isso quer dizer que no caminho da eleição, rumo à promessa e à aliança, haverá pecados, haverá a desobediência, mas diante desta desobediência há sempre a misericórdia. É como a dinâmica do nosso caminhar rumo à maturidade: sempre há a misericórdia, porque Ele é fiel, Ele não revoga os seus dons. Os dons são irrevogáveis e isso tudo está interligado, por quê? Porque diante das nossas fraquezas, dos nossos pecados, há sempre a misericórdia e quando Paulo chega a esta reflexão, faz um passo a mais: não de explicação a nós, mas de adoração.”

Francisco recomendou adoração e louvor silencioso diante “deste mistério da desobediência e da misericórdia que nos faz livres e diante desta beleza dos dons irrevogáveis como são a eleição, a promessa e a aliança”: 

“Penso que pode nos fazer bem, a todos nós, pensar hoje na nossa eleição, nas promessas que o Senhor nos fez e como eu vivo a aliança com o Senhor. E como me deixo – permitam-me a palavra – misericordiar pelo Senhor, diante dos meus pecados, das minhas desobediências. E, no final, se eu sou capaz – como Paulo – de louvar Deus por aquilo que me deu, a cada um de nós: louvar e fazer aquele ato de adoração. Mas jamais se esquecer: os dons e a chamada de Deus são irrevogáveis”.

Comente

Papa: é preciso coragem para fazer crescer o Reino de Deus

Por
31 de outubro de 2017

É preciso coragem para fazer crescer o Reino de Deus: foi o que disse o Papa na homilia da missa celebrada na manhã de terça-feira, 31,  na capela da Casa Santa Marta.

Inspirando-se no Evangelho do dia (Lucas 13,18-21), em que Jesus compara o Reino de Deus ao grão de mostarda e ao fermento, o Papa nota que esses dois elementos são pequenos, mas mesmo assim “têm dentro uma potência” que cresce . Assim é o Reino de Deus: a sua potência vem de dentro. Também São Paulo na Carta aos Romanos, proposta na Primeira Leitura, ressalta quantas tensões existem na vida: sofrimentos que, porém, “não são comparáveis à glória que nos aguarda”.

Trata-se, portanto, de “uma tensão entre sofrimento e glória”. Nessas tensões há, de fato, “uma ardente expectativa” por uma “revelação grandiosa do Reino de Deus”. Uma expectativa não somente nossa – destacou Francisco -, mas também da  criação, submetida à caducidade assim “como nós” e “propenso à revelação dos filhos de Deus”. E a força interna que “nos leva em esperança à plenitude do Reino de Deus” é aquela do Espírito Santo.

“É justamente a esperança que nos leva à plenitude, a esperança de sair desta prisão, desta limitação, desta escravidão, desta corrupção e chegar à glória: um caminho de esperança. E a esperança é um dom do Espírito. É propriamente o Espírito Santo que está dentro de nós e leva a isso: a algo grandioso, a uma libertação, a uma grande glória. E para  isso Jesus diz: ‘Dentro da semente de mostarda, daquele grão pequenininho, há uma força que desencadeia um crescimento inimaginável’”.

“Dentro de nós e na criação” – reitera o Papa – “há uma força que desencadeia: há o Espírito Santo”, que “nos dá a esperança”. E Francisco explica concretamente o que quer dizer viver em esperança: deixar que “essas forças do Espírito” “nos ajudem a crescer” rumo à plenitude que nos aguarda na glória. Mas assim como o fermento dever ser misturado e a mostarda lançada, porque do contrário aquela força interior permanece ali, o mesmo vale para o Reino de Deus que “cresce a partir de dentro, não por proselitismo”, adverte o Papa:

“Cresce a partir de dentro, com a força do Espírito Santo. E sempre a Igreja teve seja a coragem de pegar e lançar, de pegar e misturar, seja  também o medo de fazê-lo. E muitas vezes nós vemos que se prefere uma pastoral de manutenção e não deixar que o Reino cresça. 'Mas, vamos permanecer aquilo que somos, pequeninos, ali, estamos seguros…' E o Reino não cresce. Para que o Reino cresça é preciso coragem: de lançar o grão, de misturar o fermento”.

Porém, é verdade que, se lançada, a semente se perde e que, se misturado, com o fermento “eu sujo as mãos” – destaca o Papa –, porque “há sempre alguma perda ao semear o Reino de Deus”: 

“Ai daqueles que pregam o Reino de Deus com a ilusão de não sujar as mãos. Estes são guardiões de museus: preferem as coisas belas, e não este gesto de lançar para que a força se desencadeie, de misturar para que a força faça crescer. Esta é a mensagem de Jesus e de Paulo: esta tensão que vai da escravidão do pecado, para ser simples, à plenitude da glória. E a esperança é aquela que vai avante, a esperança não desilude: porque a esperança é muito pequena, a esperança é tão pequena quanto o grão e o fermento”.

A esperança “é a virtude mais humilde”, “a serva”, mas onde existe a esperança, existe o Espírito Santo, que leva em frente o Reino de Deus.

E o Papa, como de costume, conclui convidando os fiéis a fazerem-se algumas perguntas: hoje, perguntemo-nos, se acreditamos que na esperança há o Espírito Santo com quem falar.

Comente

Papa: ser bom pastor é ter a capacidade de se comover

Por
30 de outubro de 2017

O Papa começou a semana celebrando a missa na capela da Casa Santa Marta, 30.

Em sua homilia,  Francisco comentou o episódio narrado por Lucas no Evangelho do dia, da cura da mulher encurvada.

Na sinagoga, no sábado, Jesus encontra uma mulher que não conseguia endireitar-se, “uma doença na coluna que há anos a obrigava a viver assim”, explicou o Papa. E o evangelista usa cinco verbos para descrever o que faz Jesus: a viu, a chamou, lhe falou, impôs as mãos sobre ela e a curou.

Cinco verbos de proximidade, destacou Francisco, porque “um bom pastor está próximo, sempre”. Na parábola do bom pastor, ele está próximo da ovelha perdida, deixa as outras e vai procurá-la. Não pode ficar distante do seu povo.

Ao contrário, os clérigos, doutores da Lei, fariseus,  saduceus, os ilustres viviam separados do povo, repreendendo-o continuamente. Eles não eram bons pastores, esclareceu o Papa, estavam fechados no próprio grupo e não se interessavam pelo povo. “Talvez estivessem preocupados, quando acabava o serviço religioso, em controlar quanto dinheiro havia nas ofertas”. Mas não estavam próximos às pessoas.

Jesus, ao contrário, é próximo, e a sua proximidade vem daquilo que Cristo sente no coração: “Jesus se comoveu”, diz outro trecho do Evangelho.

“Por isso, Jesus sempre estava ali com as pessoas descartadas por aquele grupinho clerical: estavam ali os pobres, os doentes, os pecadores e os leprosos; estavam todos ali, porque Jesus tinha essa capacidade de se comover diante da doença, era um bom pastor. Um bom pastor que se aproxima e tem a capacidade de se comover. Eu diria que é a terceira característica de um bom pastor é a de não se envergonhar da carne, tocar a carne ferida, como fez Jesus com esta mulher: tocou, impôs as mãos, tocou os leprosos, tocou os pecadores.”

“Um bom pastor”, prosseguiu o Papa, “não diz: sim, está bom. Sim, sim eu próximo a você no Espírito. Isso é distância. Mas fazer o que Deus  Pai fez, aproximar-se, por compaixão, por misericórdia, na carne de seu Filho”.

O grande pastor, o Pai, nos ensinou como faz um bom pastor: abaixou-se, esvaziou-se a si mesmo, aniquilou-se, tomou a condição de servo.

“Mas, e esses outros, aqueles que seguem o caminho do clericalismo, aproximam-se de quem?” Aproximam-se sempre ao poder de turno ou ao dinheiro. São pastores maus. Eles pensam apenas como subir no poder, ser amigos do poder, negociam tudo ou pensam nos bolsos. Estes são hipócritas, capazes de tudo. O povo não tem importância para essas pessoas. Quando Jesus lhes diz aquele adjetivo que utiliza muitas vezes com eles, hipócritas, eles se ofendem: Mas nós, não, nós seguimos a lei”. 

Quando o povo de Deus vê que os maus pastores são espancados, fica feliz, recorda Francisco, e isso é um pecado, sim, mas eles sofreram tanto que “gostam” um pouco disso.

Mas o bom pastor, enfatiza o Pontífice, é Jesus que vê, chama, fala, toca e cura. É o Pai que se faz no seu Filho carne, por compaixão:

“É uma graça para o povo de Deus ter bons pastores, pastores como Jesus, que não tem vergonha de tocar a carne ferida, que sabem que sobre isso - e não apenas eles, mas também todos nós - seremos julgados: estava com fome, estava na prisão, estava doente ... Os critérios do protocolo final são os critérios da proximidade, os critérios dessa proximidade total, o tocar, o compartilhar a situação do povo de Deus. Não nos esqueçamos disso: o bom pastor está sempre perto das pessoas sempre, como Deus nosso Pai se aproximou de nós, em Jesus Cristo feito carne”.

(BF-MJ-SP)

Comente

Papa: a luta dos cristãos não leva à tranquilidade, mas à paz

Por
26 de outubro de 2017

“Jesus nos chama a mudar de vida, a mudar de rumo, nos chama à conversão”. Isso comporta lutar contra o mal, inclusive no nosso coração, “uma luta que não traz tranquilidade, mas paz”.

Assim disse o Papa Francisco na homilia da missa celebrada na Casa Santa Marta, explicando – inspirado pelo Evangelho do dia – que este é o “fogo” que Jesus lança sobre a terra. Um fogo que requer transformação:

“Mudar o modo de pensar, mudar o modo de sentir. O seu coração que era mundano, pagão, agora se torna cristão com a força de Cristo: mudar, esta é a conversão. E mudar no modo de agir: as suas obras devem mudar.”

Uma “conversão que envolve tudo, corpo e alma, tudo”, destacou Francisco:

“É uma transformação, mas não é uma transformação que se faz com a maquiagem: é uma transformação que o Espírito Santo faz, dentro. E eu devo ajudar para que o Espírito Santo possa agir e isso significa luta, lutar!”

“Não existem cristãos tranquilos, que não lutam”, acrescentou o Papa, “estes não são cristãos, são ‘mornos’”. A tranquilidade para dormir “pode ser encontrada inclusive numa pastilha”, disse, “mas não existem pastilhas para a paz” interior.

“Somente o Espírito Santo” pode dar “aquela paz da alma que dá a fortaleza aos cristãos. “E nós devemos ajudar o Espirito Santo” – exortou o Papa – “abrindo espaço no nosso coração”: “E nisto, muito nos ajuda o exame de consciência, de todos os dias”, para “lutar contra as doenças do Espírito, aquelas que semeiam o inimigo e que são as doenças da mundanidade”.

“A luta que Jesus travou contra o diabo, contra o mal – recordou o Papa – não é algo antigo, é algo muito moderno, é algo de hoje, de todos os dias”, porque “aquele fogo que Jesus veio nos trazer está no nosso coração”. Por isso devemos deixá-lo entrar, e “perguntar-se todos os dias: como passei da mundanidade, do pecado, à graça, abri espaço para o Espírito Santo para que Ele pudesse agir?”

“As dificuldades na nossa vida não se resolvem aguando a verdade. A verdade é esta, Jesus trouxe fogo e luta, o que eu faço?”

Para a conversão, concluiu Francisco, é preciso “um coração generoso e fiel”: “generosidade, que sempre vem do amor, e fidelidade, fidelidade à Palavra de Deus”.

Comente

Papa: mergulhar no mistério de Cristo com o coração, não com palavras

Por
24 de outubro de 2017

O mistério de Jesus Cristo esteve no centro da homilia que o Papa Francisco pronunciou na manhã de terça-feira, 24, na capela da Casa Santa Marta.

A homilia do Pontífice teve como ponto de partida a Primeira Leitura extraída da Carta aos Romanos, na qual São Paulo usa contraposições – pecado, desobediência, graça e perdão – para que possamos compreender algo, mas sente que é “impotente" para explicar este mistério. Por detrás disso tudo, está a história da salvação, da criação, da queda e da redenção. São Paulo, portanto, nos leva a ver Cristo, e não tendo palavras suficientes para explicá-Lo,  “nos impulsiona”, “nos empurra, para que caiamos no mistério” de Cristo, explica Francisco.

Essas contraposições, portanto, são somente passos no caminho para imergir-se no mistério de Cristo, que não é fácil de entender: é tão “superabundante”, “generoso”,  “inexplicável”, que não se pode entender com argumentações, porque estas levam até certo ponto. Para entender “quem é Jesus Cristo para você”, “para mim”, “para nós”, o Papa exorta, portanto, a imergir-se neste mistério.

Em outro trecho, São Paulo, olhando Jesus Cristo diz: “Amou-se e deu a si mesmo por mim”.  Dificilmente se encontra alguém disposto a morrer por uma pessoa justa, mas somente Jesus Cristo quer dar a vida “por um pecador como eu”. Com essas palavras, São Paulo tenta nos introduzir no mistério de Cristo. Não é fácil, “é uma graça”. Isso foi compreendido não somente pelos santos canonizados, mas também por muitos santos “escondidos n avida cotidiana”, pessoas humildes que depositam unicamente a sua esperança no Senhor: entraram no mistério de Jesus Cristo crucificado, “que é uma loucura”, afirma Paulo.

O Papa evidencia que, quando vamos à missa, vamos rezar, sabemos que ele está na Palavra, que Jesus vem, mas isto não é suficiente para poder entrar no mistério: 

“Entrar no mistério de Jesus Cristo é mais, é deixar-se ir naquele abismo de misericórdia onde não existem palavras: somente o abraço do amor. O amor que o levou à morte por nós. Quando nós vamos nos confessar porque pecados – sim, devo tirar os pecados, digamos; ou “que Deus me perdoe os pecados” – vamos, contamos os pecados ao confessor e ficamos tranquilos e contentes. Se eu vou lá, vou encontrar Jesus Cristo, entrar no mistério de Jesus Cristo, entrar naquele abraço de perdão do qual fala Paulo; daquela gratuidade de perdão”.

À pergunta sobre “quem é Jesus Cristo para ti”, se poderia responder “o Filho de Deus”, se poderia recitar todo o Credo, todo o Catecismo e é verdade, mas se chegaria a um ponto em que não conseguiríamos dizer o centro do mistério de Jesus Cristo, que “me amou” e “entregou-se a si mesmo por mim”. “Entender o mistério de Jesus Cristo não é uma coisa de estudo” – observa o Papa – porque “Jesus Cristo é entendido somente por pura graça”.

É então assinalado um exercício de piedade que ajuda:  a Via-Sacra, que consiste em caminhar com Jesus no momento em que nos dá “o abraço de perdão e de paz”:

“É bonito fazer a Via-Sacra. Fazê-la em casa, pensando nos momentos da Paixão do Senhor. Também os grandes Santos aconselhavam sempre começar a vida espiritual com este encontro com o mistério de Jesus Crucificado. Santa Teresa aconselhava as suas monjas: para chegar à oração de contemplação, a elevada oração que ela tinha, começar com a meditação da Paixão do Senhor. A Cruz com Cristo. Cristo na Cruz. Começar a pensar. E assim, tentar entender com o coração, que ‘me amou e deu a si mesmo por mim’, ‘deu a si mesmo até a morte por mim’”.

Na primeira leitura, São Paulo quer justamente revelar o abismo do mistério de Cristo, reitera o Papa Francisco:

“’Eu sou um bom cristão, vou à Missa no domingo, faço obras de misericórdia, recito as orações, educo bem os meus filhos’: isto está muito bem. Mas a pergunta que faço: “Você faz tudo isto: mas entra no mistério de Jesus Cristo? Aquilo que você não pode controlar... Peçamos a São Paulo, verdadeira testemunha, alguém que encontrou Jesus Cristo e deixou-se encontrar por Ele e entrou no mistério de Jesus que nos amou, deu a si mesmo até à morte por nós, que nos fez justos diante de Deus, que perdoou todos os pecados, também as raízes do pecado: de entrar no mistério do Senhor”.

O convite conclusivo do Papa é justamente o de olhar para o crucifixo, “Cristo crucificado, centro da História, centro da minha vida”.

Comente

Papa: a idolatria do dinheiro mata; Deus é o fundamento da existência

Por
23 de outubro de 2017

O Papa começou a segunda-feira, 23, celebrando a missa na capela da Casa Santa Marta.

Em sua homilia, Francisco comentou o Evangelho de Lucas, que propõe a parábola do homem rico cujo dinheiro “é o seu deus”. Para o Papa, esta parábola nos leva a refletir sobre quanto é vão apoiar-se sobre os bens terrenos, destacando que o verdadeiro tesouro, ao invés, é a relação com o Senhor.

Diante da abundância da sua colheita, aquele homem não para: pensa em ampliar o próprio armazém e, “na sua fantasia”, explica o Pontífice, a “prolongar a vida”: isto é, aposta em “ter mais bens, até a náusea”, não conhece “saciedade”: entra naquele movimento do consumismo exasperado”, denuncia o Papa.

“É Deus que coloca o limite a este apego ao dinheiro. Quando o homem se torna escravo do dinheiro. E esta não é fábula que Jesus inventa: esta é a realidade. É a realidade de hoje. É a realidade de hoje. Muitos homens que vivem para adorar o dinheiro, para fazer do dinheiro o próprio deus. Tantas pessoas que vivem somente para isto e a vida não tem sentido. ‘Assim faz quem acumula tesouros para si – diz o Senhor – e não se enriquece junto a Deus’: não sabem o que é enriquecer-se junto a Deus”.

O Papa cita um episódio que aconteceu anos atrás na Argentina – “na outra diocese”, como gosta de definir Buenos Aires –, quando um rico empresário, mesmo consciente de sua doença, decide comprar teimosamente uma mansão, bem sabendo que em pouco tempo deveria se apresentar “diante de Deus”. E também hoje existem essas pessoas famintas de dinheiro e de bens terrenos, pessoas que tem “muitíssimo” diante de “crianças que não têm remédios, que não têm educação, que estão abandonadas”: se trata “de uma idolatria que mata”, que faz “sacrifícios humanos”, denuncia Francisco sem meias palavras.

“Esta idolatria mata de fome muitas pessoas. Pensemos somente num caso: em 200 mil crianças rohingya nos campos para refugiados. Ali existem 800 mil pessoas. 200 mil são crianças. Mal têm o suficiente para comer, estão desnutridas, sem medicamentos. Também hoje isso acontece. Não é algo que o Senhor fala daqueles tempos: não. Hoje! E a nossa oração deve ser forte: Senhor, por favor, toca o coração dessas pessoas que adoram o deus, o deus dinheiro. Toca também o meu coração para que eu não caia nisso, que eu saiba ver”.

Outra consequência, prossegue o Papa, é a guerra. Inclusive a guerra familiar:

“Todos nós sabemos o que acontece quando está em jogo uma herança: as famílias se dividem e acabam no ódio uma pela outra. O Senhor destaca com suavidade, no final: ‘Quem não se enriquece junto a Deus’. Este é o único caminho. A riqueza, mas em Deus. E não é um desprezo pelo dinheiro, não. É justamente a cobiça, como Ele diz: a cobiça. Viver apegados ao deus dinheiro”.

O Papa conclui explicando o motivo pelo qual nossa oração deve ser forte: rezemos para buscar em Deus o sólido fundamento da nossa existência. 

Comente

Papa: quem não sabe escutar transforma a fé em ideologia

Por
17 de outubro de 2017

Não cair na insensatez que consiste na incapacidade de escutar a Palavra de Deus e conduz à corrupção”. Foi o conceito expresso pelo Papa na homilia da missa matutina, presidida na Casa Santa Marta. Jesus chora com nostalgia – recorda o Papa – quando o povo amado se afasta, por insensatez, preferindo aparências, ídolos ou ideologias.

A reflexão do Papa Francisco dessa manhã de terça-feira,17, na Casa Santa Marta, começou pela palavra ‘insensatos’, que consta duas vezes na Liturgia do dia. Jesus a diz aos fariseus e São Paulo aos pagãos. Mas também aos Gálatas, cristãos, o apóstolo dos gentios havia dito “tolos”. Esta palavra, além de uma condenação, é uma assinalação – afirma Francisco – porque mostra o caminho da insensatez, que conduz à corrupção. “Estes três grupos de insensatos são corruptos”, observa o Papa.

Aos doutores da lei, Jesus havia dito que pareciam sepulcros decorados: tornam-se corruptos porque se preocupavam apenas em embelezar ‘o exterior’ das coisas, mas não daquilo que estava dentro, onde está a corrupção. Eram, portanto, “corruptos pela vaidade, pela aparência, pela beleza exterior, pela justiça exterior”.

Os pagãos, ao contrário, têm a corrupção da idolatria: se tornaram corruptos porque trocaram a glória de Deus pelos ídolos. Existem também idolatrias de hoje, como o consumismo - nota o Papa –, procurar um deus ‘cômodo’.

Enfim, os Gálatas, os cristãos, que se deixaram corromper pelas ideologias, ou seja, deixaram de ser cristãos para serem ‘ideólogos do cristianismo’.

Todos os três grupos, por causa desta insensatez, acabam na corrupção. Francisco explica no que consiste esta insensatez:

“A insensatez é não escutar, literalmente ‘não saber’, ‘não ouvir’: a incapacidade de escutar a Palavra. Quando a Palavra não entra, eu a deixo entrar porque não a escuto. O tolo não escuta. Ele crê que ouve, mas não ouve, não escuta. Fica na dele, sempre. E por isso, a Palavra de Deus não pode entrar no coração e não há lugar para o amor. E quando entra, entra destilada, transformada pela mia concepção da realidade. Os tolos não sabem ouvir. E esta surdez os leva à corrupção. Quando não entra a Palavra de Deus, não há lugar para o amor e enfim, não há espaço para a liberdade”. 

E eles se tornam escravos porque trocam “a verdade de Deus com a mentira” e adoram as criaturas em vez do Criador.

“Não são livres, e não escutam, essa surdez não deixa espaço para o amor nem para a liberdade: isso sempre nos leva à escravidão. Eu ouço a Palavra de Deus? Mas a deixo entrar? Esta Palavra, da qual ouvimos cantando o Aleluia, a Palavra de Deus é viva, eficaz, revela os sentimentos e os pensamentos do coração. Corta, vai para dentro. Esta Palavra, eu a deixo entrar ou sou surdo a essa palavra? E a transformo em aparência, a transformo em idolatria, hábitos idólatras ou a transformo em ideologia? E não entra ... Esta é a insensatez dos cristãos”.

O Papa exorta, em conclusão, a olhar para os “ícones dos tolos de hoje”: “há cristãos tolos e também pastores tolos”. “Santo Agostino - afirma -, “ataca-lhes duro, com força”, porque “a tolice dos pastores faz mal ao rebanho”. A referência é à “tolice do pastor corrupto”, à “insensatez do pastor satisfeito de si  mesmo, pagão”, e à “insensatez do ideólogo”.

“Olhemos o ícone dos cristãos tolos” - insiste o Papa – “e ao lado desta insensatez, olhamos para o Senhor que está sempre à porta”, ele bate e espera. Seu convite final é, portanto, de pensar na nostalgia do Senhor por nós: “do primeiro amor que ele teve conosco”:

“E se caímos nesta insensatez, nos afastamos dele e ele sente essa nostalgia. Nostalgia de nós. E Jesus com essa nostalgia chorou, chorou sobre Jerusalém: era precisamente a nostalgia de um povo que tinha escolhido, tinha amado, mas que tinha se afastado por insensatez, que tinha preferido as aparências, os ídolos ou as ideologias”. 

(CM-SP)

Comente

Páginas

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.