Duas estradas, um só objetivo: servir a Deus por meio da Igreja

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17 de abril de 2018

Até sexta-feira, 20, os bispos do Brasil estão reunidos em Aparecida (SP) para a Assembleia Geral da CNBB, que este ano tem como tema central as “Diretrizes para a Formação dos Presbíteros”. A meta é atualizá-las às novas orientações da Santa Sé contidas na Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis.

Todo ser humano é chamado por Deus a uma vocação, isto é, cada pessoa é convidada a percorrer um caminho de verdade e de liberdade até chegar a sentir-se profundamente realizada na sua humanidade. Dessa forma, uma vez batizado, todo cristão deve dar uma resposta pessoal à Igreja, por meio da vivência de uma vocação específica: vida matrimonial, vida consagrada, vida laical e vida ordenada (esta inclui o ministério diaconal, sacerdotal e episcopal).

Embora haja diversas trajetórias para se concretizar um chamado à vida ordenada, o ministério sacerdotal apresenta dois matizes: o sacerdócio diocesano (ou secular) e o sacerdócio religioso (aquele vinculado a uma ordem ou congregação religiosa).

Para se ter uma ideia dessas duas realidades, o O SÃO PAULO apresenta um breve relato da história vocacional e da opinião de dois jovens a respeito de suas trajetórias: um deles o Padre Rafael Alves Pereira Vicente, da Arquidiocese de São Paulo; o outro diácono e, em breve, padre, Frei Luís André de Lima Correia, da Ordem dos Servos de Maria (OSM), atualmente em atuação no Acre.

Ambos são expressão de um levantamento recente, realizado pela CNBB, acerca do perfil atual dos padres brasileiros, por meio do qual se concluiu que a maioria dos presbíteros é jovem, diocesana e composta de brasileiros natos (houve uma época em que havia a predominância de estrangeiros). 

Pesquisa da CNBB: Perfil predominante de padres brasileiros é de jovens e diocesanos

 

Padre Rafael Alves Pereira Vicente

Padre Rafael é natural de São Paulo (SP), tem 30 anos e foi ordenado em 2016. O despertar vocacional se deu quando tinha em torno de 6 anos de idade, ocasião em que estava na casa dos avós e foi levado a participar de uma missa da Quinta-feira Santa, numa comunidade da Paróquia Santa Rita de Cássia, no Morro Grande, Região Brasilândia. Ali, ao ver o rito do lava-pés, sentiu, pela primeira vez, o chamado para o ministério sacerdotal.

A opção por ter se tornado sacerdote diocesano é considerada natural pelo Padre Rafael. Ao longo de sua infância e adolescência, teve muito contato com os padres diocesanos, sobretudo os da Região Brasilândia. Assim, os padres que passaram pela paróquia em que foi batizado, a mesma que sua avó frequentava, serviram-lhe de exemplo: à medida que ia crescendo, percebia como esses padres trabalhavam e o que era a vida sacerdotal. Tinha, portanto, na sua maneira de ver, os padres diocesanos como a única forma de ser sacerdote.

Ainda assim, quando estava amadurecendo seu discernimento vocacional, tomou conhecimento da vida dos padres religiosos. “No entanto, não me aprofundei muito nela, até mesmo porque percebia que os carismas próprios de cada congregação, de cada comunidade, não me completavam inteiramente, e isso representou uma das decisões mais certas e concretas da minha vida. Pude perceber que minha vocação não seria como padre religioso, que além da vocação sacerdotal propriamente, possui também a vocação ao carisma específico, próprio da sua congregação e de seus fundadores”, esclarece.

“É claro que a vida do sacerdote religioso e a vida do sacerdote diocesano têm suas diferenças. O que nos iguala é o ministério sacerdotal: uma vez padre diocesano, uma vez padre religioso, padre para sempre! Há características importantes na vida diocesana que considero como vantagens e, ao mesmo tempo, desvantagens: o padre diocesano é mais autônomo, mais independente, um padre que consegue exercer o seu ministério sacerdotal sem a companhia próxima dos seus confrades de congregação, como no caso dos padres religiosos. Há também uma questão importante: os cuidados que a congregação tem para com o seu padre religioso, que é diferente dos cuidados que a diocese tem para com o seu padre diocesano”, explicita.  

Padre Rafael acredita que uma congregação ou ordem, de maneira geral, é muito mais próxima de seu padre religioso do que a diocese é do seu padre diocesano. Segundo ele, isso se nota desde a presença no seminário, a presença no exercício do ministério sacerdotal e, o que lhe chama a atenção, sobretudo nos últimos momentos da vida do padre, quando este é idoso ou está doente, percebe-se que os religiosos têm, às vezes – e na maioria delas –, uma maior assistência por parte da congregação ou ordem. Por outro lado, pelo fato de a vida do padre diocesano ser mais autônoma e, por isso, mais sozinha, esses períodos de solidão, de doença, de velhice, às vezes são períodos que pesam muito a tais padres.

Ainda assim, Padre Rafael reafirma: “Quando se parte do princípio de que aquilo que nos sustenta, aquilo que é, de fato, o mais importante na nossa vida cristã e vocacional, o chamado ao ministério sacerdotal e o carisma específico dele, nada pode ser acrescentado ou retirado. Não existem mais vantagens ou desvantagens: uma vez que temos um carisma, uma vez que temos uma vocação, nos sentimos completos com eles”.

 

Frei Luís André de Lima Correia, OSM

Nascido em Feijó, cidade a 363 quilômetros de Rio Branco, no estado do Acre, Frei Luís André tem 33 anos. A percepção de se sentir chamado por Deus começou muito cedo: quando ainda fazia sua graduação em Sistemas de Informação, em tempo integral, além de algumas disciplinas optativas à noite e o estágio, já se dedicava ao máximo às atividades das paróquias nas quais exercia seu apostolado (Santo Antônio, Santa Cruz e São Peregrino), bem como participava ativamente da Renovação Carismática Católica naquela localidade.

“Contudo, não me sentia satisfeito plenamente, não tanto quanto me sentia ao dedicar-me à pastoral aos domingos, o que me despertava cada vez mais o desejo de uma entrega maior”, pondera.

Frei Luís André destaca que a vivência comunitária e os trabalhos em equipe sempre o encantaram e o levaram a pensar que, se acaso fizesse uma opção de vida mais radical, seria num ambiente assim. “Meu bispo na época pensava que eu ingressaria num seminário diocesano, porém nas visitas e discernimentos que fui fazendo entre os anos de 2004 e 2005, optei pela vida dos Frades Servos de Maria e essa escolha transformou tudo para melhor”, afirma.

O Frei Luís André disse que todos os seus esforços, estudos, atividades e trabalhos eram em vista da edificação pessoal, ainda que houvesse o fator pastoral: o falar bem, o conhecer um pouco de várias coisas e muito de poucas – levando-se em consideração a aptidão pessoal –, a dedicação ao trabalho e o cultivo de um amplo círculo de amizade. Com a vida religiosa, ele pôde perceber a anterior motivação egoística do seu estilo de vida e foi passando do fechamento em si à abertura ao outro, o que se refletiu nas prioridades estabelecidas no campo do conhecimento e das relações interpessoais. Essa transformação toda lhe custou reflexões, adesões e rejeições, as quais resultaram na pessoa que ele afirmar ter se tornado hoje: mais madura e mais consciente de quanto o seu projeto de servir a Igreja expandiu-se nas mãos de Jesus.

Para ele, a opção pela vida religiosa está vinculada à convivência fraterna, presente tanto na formação inicial como na permanente, tornando-se uma possibilidade de testemunho e critério de validade da opção feita, o que, para os frades Servos de Maria, é um dos elementos constitutivos do carisma institucional. Além disso, o caráter missionário – representado nos dois outros elementos do carisma dos frades Servos de Maria, o serviço e a inspiração/espiritualidade mariana – também foi o grande motivador de ser frade nessa expressão.

Frei Luís André também menciona que, com a decisão de optar pela vida religiosa, teve que fazer renúncias, ressignificar seus valores e conceitos para abraçar a escolha que fez e ser feliz nela, buscando fazer também a outras pessoas felizes: “Como todo candidato à vida religiosa, deparei-me com as saídas e conflitos próprios da convivência, o que me incentivava todos os dias a oferecer à minha comunidade e província o melhor de mim”, conclui.

Já são 12 anos de caminhada – período de tempo considerável, em localidades cujas realidades social, econômica, cultural e religiosa são bem diferentes umas das outras, o que proporciona, segundo Frei Luís André, um grande enriquecimento àqueles que o vivenciam, característica comum na preparação dos candidatos à vida religiosa – iniciados com o aspirantado (2006 e 2007) em Rio Branco (AC). Em seguida, vieram o postulantado (de 2008 a 2010) e o pré-noviciado (2011) em Curitiba (PR), o noviciado (2012) em Teresópolis (RJ), o professado (de 2013 a 2016) em São Paulo (SP) e o ano pastoral, no primeiro semestre de 2017 no Rio de Janeiro (RJ), e o segundo semestre, até os dias atuais, em Sena Madureira (AC), em uma comunidade de cunho fortemente pastoral e missionário, à espera da ordenação presbiteral que se aproxima.

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A memória da vocação reaviva a esperança

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30 de agosto de 2017

“A memória da vocação reaviva a esperança”. Com este tema de sua catequese, o Papa Francisco voltou a realizar a Audiência Geral na Praça São Pedro, que esta quarta-feira teve a presença de sacerdotes do Colégio Pio Brasileiro e da equipe da Chapecoense, que na noite de sexta-feira disputará um amistoso no Estádio Olímpico contra o Roma.

"Recordar-se de Jesus, do fogo de amor com o qual um dia concebemos a nossa vida como um projeto de bem e reavivar com esta chama a nossa esperança" é "uma dinâmica fundamental da vida cristã".

O Papa Francisco concentrou sua catequese da Audiência Geral desta quarta-feira – que voltou a ser realizada na Praça São Pedro -na relação entre memória e esperança, com particular referência à memória da vocação.

E para ilustrar isto, usou como exemplo o chamado dos primeiros discípulos de Jesus, uma experiência que ficou de tal forma impressa em suas memórias, que João já idoso chegou até mesmo a precisar a hora: "Eram cerca de 4 horas da tarde".

Após a frase pronunciada às margens do Jordão por João Batista "Eis o Cordeiro de Deus", Jesus ganha dois novos jovens seguidores, a quem pergunta: "Que procurais?".

"Jesus - observou o Papa - aparece nos Evangelhos como um especialista de coração humano. Naquele momento, havia encontrado dois jovens que estavam buscando, com uma saudável inquietude":

"Com efeito, que juventude é uma juventude satisfeita, sem uma busca de sentido? Os jovens que não buscam nada não são jovens, estão aposentados, envelheceram antes do tempo. É triste ver jovens aposentados. E Jesus, em todo o Evangelho, em todos os encontros que lhe acontecem ao longo do caminho, aparece como um "incendiário" dos corações".

Por isso faz a pergunta "o que procurais?", justamente para “fazer emergir o desejo de vida e de felicidade que cada jovem traz dentro”.

Então, Francisco pergunta aos jovens que estão na Praça São Pedro e aqueles que acompanham pela mídia:

“Tu, que és jovem, o que procuras? O que procuras no teu coração?”

E foi assim que começou a vocação de João e de André, dando início a uma amizade com Jesus tão forte, que criou uma comunhão de vida e de paixão com Ele. E esta convivência com Jesus, transformou-os logo em missionários, tanto que seus irmãos Simão e Tiago também passam a seguir Jesus.

"Foi um encontro tão tocante, tão feliz, que os discípulos recordarão para sempre aquele dia que iluminou e orientou a juventude deles", ressaltou o Papa.

Francisco diz a seguir que a própria vocação neste mundo pode ser descoberta de diferentes maneiras, "mas o primeiro indicador é a alegria do encontro com Jesus":

"Matrimônio, vida consagrada, sacerdócio: cada vocação verdadeira inicia com um encontro com Jesus que nos dá alegria e uma esperança nova; e nos conduz, mesmo em meio às provações e dificuldades, a um encontro sempre mais pleno, cresce, aquele encontro, maior, o encontro com Ele e à plenitude da alegria".

O Papa observa então, que "o Senhor não quer homens e mulheres que o sigam de má vontade, sem ter no coração o vento da alegria", perguntando aos presentes: “Vocês, que estão na praça, vocês têm o vento da alegria? Cada um se pergunte: Eu tenho dentro de mim, no coração, o vento da alegria?”:

"Jesus quer pessoas que tenham experimentado que estar com Ele traz uma felicidade imensa, que pode ser renovada a cada dia da vida. Um discípulo do Reino de Deus que não é alegre, não evangeliza este mundo,  é um triste. Nos tornamos pregadores de Jesus, não aperfeiçoando as armas da retórica: tu podes falar, falar, falar, mas se não existe uma outra coisa, como pode se tornar pregador de Jesus? Tendo nos olhos o brilho da verdadeira felicidade. Vemos tantos cristãos, também entre nós, que com os olhos te transmitem a alegria da fé: com os olhos!”.

Por isto o cristão - assim como o fez a Virgem Maria - deve proteger "a chama de seu enamoramento":

"Certamente, existem provações na vida, existem momentos em que é necessário seguir em frente não obstante o frio e os ventos contrários. Porém os cristãos conhecem o caminho que conduz àquele fogo sagrado que os acendeu uma vez para sempre".

O Papa por fim, alerta para não darmos atenção à quem nos tira o entusiasmo e a esperança, mas a sonharmos com um mundo diferente e cultivarmos sãs utopias:

"Mas por favor, recomendo: não demos ouvidos às pessoas desiludidas e infelizes; não escutemos quem recomenda cinicamente para não cultivar esperanças na vida; não confiemos em quem apaga ao nascer cada entusiasmo, dizendo que nenhuma empresa vale o sacrifício de toda uma vida; não escutemos "velhos" de coração que sufocam a euforia juvenil.  Procuremos os velhos que têm os olhos brilhantes de esperança! Cultivemos, pelo contrário, sãs utopias: Deus nos quer capazes de sonhar como Ele e com Ele, enquanto caminhamos bem atentos à realidade. Sonhar um mundo diferente. E se um sonho se apaga, voltar a sonhá-lo de novo, indo com esperança à memória das origens, aquelas brasas que, talvez, depois de uma vida não tão boa, estão escondidas sob as cinzas do primeiro encontro com Jesus". 

Antes de saudar os peregrinos de língua italiana, o Papa Francisco fez um apelo pelo Dia de Oração pelo Cuidado da Criação:

“Depois de amanhã, 1º de setembro, recorre o Dia de Oração pelo cuidado da criação. Nesta ocasião, eu e meu querido irmão Bartolomeu, Patriarca ecumênico de Constantinopla, preparamos juntos uma Mensagem. Nela convidamos todos a assumir uma atitude respeitosa e responsável com a criação. Fazemos, além disto, um apelo àqueles que desempenham papeis influentes, para escutar o grito da terra e o grito  dos pobres, que são os que mais sofrem pelos desequilíbrios ecológicos”.

(JE)

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Catequistas: testemunhas do encontro com Jesus Cristo

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29 de agosto de 2017

No quarto domingo de agosto, 27, a Igreja no Brasil recorda a vocação dos catequistas. Ao falar sobre a missão desses “discípulos-missionários”, em um Simpósio Internacional sobre Catequese, realizado em julho, o Papa Francisco enfatizou que a Catequese não é um trabalho ou uma tarefa externa à pessoa do catequista, mas se “é” catequista e toda a vida gira em torno dessa missão. Para o Pontífice, o catequista deve constantemente regressar àquele primeiro anúncio ou “querígma”, que é o dom que transformou a própria vida.

Nessa mesa ocasião, o Santo Padre estimulou os catequistas a serem criativos, buscando diferentes meios e formas para anunciar Jesus Cristo. “Os meios podem ser diferentes, mas o importante é ter presente o estilo de Jesus, que se adaptava às pessoas que tinha à sua frente. É preciso saber mudar, adaptar-se, para que a mensagem seja mais próxima, mesmo quando é sempre a mesma, porque Deus não muda, mas renova todas as coisas nele”.

Foi o desejo de tornar o anúncio de Jesus Cristo atraente para as crianças que motivou a italiana Sofia Cavalletti, uma pesquisadora da Bíblia, a desenvolver em sua casa, em 1954, a Catequese do Bom Pastor, método que hoje está presente em 37 países, dentre os quais o Brasil, onde o modelo chegou há 16 anos, trazido pela catequista Carmen Tieppo.

Com o auxílio de Gianna Gobbi, pedagoga e discípula de Maria Montessori, fundadora do método montessoriano de educação, Sofia desenvolveu um modelo de Catequese que visa promover o encontro pessoal da criança com a pessoa de Jesus, por meio do trabalho e da oração em um ambiente preparado e adequado à sua faixa etária, denominado “átrio”.

O amigo Jesus

De acordo com o método montessoriano, a infância é dividida em três faixas etárias, de 3 a 6 anos, de 6 a 9 anos e de 9 a 12 anos. Os conteúdos aplicados correspondem a cada nível de aprendizado.

Para as crianças entre 3 e 6 anos, é apresentada a parábola do Bom Pastor e a pessoa de Jesus. Maria Paula Simonsen Coitinho é catequista há 14 anos e atualmente ministra formações para catequistas segundo o modelo Bom Pastor, dentro e fora de São Paulo. Ela explicou ao O SÃO PAULO que o objetivo dessa etapa é despertar no catequizando o encantamento por Jesus como um grande amigo, correspondendo à necessidade de amor própria dessa faixa etária. “A criança pequena é muito essencial, ou seja, ela busca a essência das coisas. Tudo o que é supérfluo ou detalhe não interessa para o pequeno. Ele está na fase do ‘ser’, quem ela é para Jesus e quem Jesus é para ela. A resposta da criança é a alegria por encontrar Cristo e entrar numa relação pessoal com ele”, disse.

As crianças têm contato com os objetos relacionados à missa, como miniaturas do altar e vasos sagrados, para se familiarizarem com a celebração e os demais sacramentos. O único livro usado na Catequese é a Bíblia, para estimular na criança a relação entre a Sagrada Escritura e a liturgia.

“Na fase seguinte, de 6 a 9 anos, a criança já tem uma necessidade moral, porque já recebeu o dom, o amor, agora ela quer responder a esse amor. Então, é introduzida outra série de parábolas que destaca o aspecto moral que a criança tem necessidade, como a parábola da videira e os ramos”, detalhou Maria Paula, ressaltando que a resposta da criança nessa etapa é o desejo de permanecer unida a Jesus. É quando se inicia a preparação para a primeira comunhão.

Após receber a Eucarista, a criança continua a Catequese na etapa seguinte, de 9 a 12 anos, quando já possui uma noção de tempo, consegue se inserir na história, capaz de compreender melhor o Antigo Testamento e a história da salvação. 

Vivência do mistério

São João Paulo II visitou algumas vezes o átrio de Sofia Cavalletti, em Roma, e ficou encantado com a maneira como as crianças contavam as parábolas e explicavam a missa. Esse encantamento das crianças pelo mistério envolve toda a família no processo catequético. “Existe uma vivência, uma experiência de fé. A criança vem com muita alegria para a Catequese”, salientou Maria Paula, que, a partir da sua experiência como catequista na Paróquia Nossa Senhora do Brasil, no Jardim Paulistano, na zona Sul, relatou que as crianças pedem aos pais para ir à missa porque querem encontrar com o amigo Jesus, o que acaba trazendo a família de volta para a Igreja. Em alguns lugares, os pais inclusive assistem aos encontros de Catequese junto com as crianças. Há muitos casos de os irmãos maiores e até mesmo os pais receberem os sacramentos da iniciação cristã depois de acompanharem as crianças na Catequese.

 Catequista há 50 anos, Maria Cristina Marcondes da Silva, 73, mais conhecida como Tina, conhece o método Bom Pastor há 11 anos, depois de fazer um curso de formação. “Eu considero esse método mais profundo para as crianças, principalmente porque toca mais na dimensão litúrgica e, por isso, se interessam muito mais pela missa por entenderem seu significado”, disse.

Tina explicou à reportagem que na paróquia em que é catequista, a São Benedito, na Vila Sônia, na zona Sul da Capital, há uma constante preocupação de envolver os pais na Catequese, seja nas reuniões periódicas ou nos próprios encontros, para que eles se familiarizam com os conteúdos.

Maria Paula ressaltou que os catequistas são testemunhas do encontro com Cristo. “Nós damos o anúncio, 
o querigma que recebemos, e temos o privilégio de testemunhar quando uma criança encontra Jesus Cristo. O sorriso, o olhar, a alegria. Tudo isso é transbordante”, disse a Catequista, ao relatar o deslumbramento do momento em que uma criança se identifica com a ovelha encontrada pelo Bom Pastor. 

No Brasil

Embora o modelo tenha chegado ao Brasil em 2001, a Catequese do Bom Pastor tem ganhado mais popularidade no País apenas nos últimos dois anos.

Na Arquidiocese de São Paulo, as paróquias São José e Nossa Senhora do Brasil, ambas na Região Episcopal Sé, já possuem átrios em atividade. Outras paróquias estão implantando, como a Paróquia Nossa Senhora Mãe de Jesus, no Jardim Celeste. Em São Paulo, há átrios em paróquias e escolas das dioceses de Santo Amaro, Campo Limpo, Osasco. Estes também existem em Brasília (DF), Cuiabá (MT), Londrina (PR), Fortaleza (CE) e Goiânia (GO). A Congregação das Missionárias da Caridade, fundada por Santa Teresa de Calcutá, está implantando o modelo em todas as suas casas pelo mundo.

Para ser catequista no método Bom Pastor é preciso passar por uma formação de dois anos para cada um dos níveis etários. “Como a demanda tem sido muito grande, estamos realizando cursos intensivos para atender pelo menos a faixa etária dos mais pequenos”, explicou Maria Paula.

Informações sobre a Catequese do Bom Pastor podem ser acessadas pelo site www.catequesebompastor.com.br.
 

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CNBB envia mensagem aos catequistas pelo dia da vocação catequética

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24 de agosto de 2017

A Comissão para a Animação Bíblico- Catequética da CNBB divulgou uma mensagem para os catequistas brasileiros em virtude da celebração da vocação catequética, no domingo, 27.

A mensagem foi assinada por Dom José Antônio Peruzzo, Arcebispo de Curitiba (PR) e Presidente da Comissão.

No texto, Dom José recorda os aspectos fundamentais do processo de evangelização, sobretudo, a acolhida e o amor que todos os catequistas devem oferecer aos seus catequizandos: “É bem possível que a Catequese seja um dos poucos ambientes em que alguém lhe manifestou afeto”.

Além disso, lembrou dos caminhos trilhados pelos catequistas devido à sua vocação e reforçou que, por mais que existam momentos conturbados, Cristo mostra a melhor maneira de seguir em frente.

Fonte: CNBB

LEIA A MENSAGEM NA ÍNTEGRA

Querido Irmão, querida Irmã Catequista, 

Transcorrerá no dia 27 de agosto de 2017 o Dia do Catequista. Como o tempo parece muito veloz escrever-lhe outra vez pode até parecer apenas um hábito que se repete a cada ano. Mas se lançarmos um olhar às tantas experiências catequéticas de amor, de dor, de cruz e de vitórias, então as lembranças conferem sentido a estas linhas. Esta carta, além de uma palavra de gratidão em nome dos Bispos do Brasil, quer lhe encorajar à perseverança.

Lembra daquele catequizando(a) repleto de muitas carências, que esboçou um sorriso tímido ao receber seu gesto de ternura de catequista? É bem possível que a Catequese seja um dos poucos ambientes em que alguém lhe manifestou afeto. E Você Catequista estava lá para amar aquele(a) que Deus queria abraçar. Nem Deus nem o catequizando vão esquecer. Se por um lado houve caminhos espinhosos, por outro, quão belas devem ter sido aquelas experiências de amor gratuito!!

Enquanto escrevo recordo a página de um excelente catequista de outros tempos. Refiro-me ao evangelista Mateus. Em Mt 14,14 ele destacou que “Jesus, ao ver a grande multidão, sentiu compaixão...”. Instantes depois os discípulos, preocupados com suas próprias impossibilidades, ouviram do seu Senhor: “Dai-lhes vós mesmos de comer...”. Eles perceberam que lhes faltava quase tudo. “Só temos cinco pães e dois peixes”. Ainda outros instantes e eis aqueles que tinham “só cinco pães” a oferecer da imensa generosidade amorosa do Senhor. O evangelista com sensibilidade catequética completou: “Ele deu aos discípulos, e os discípulos às multidões” (14,19).

Façamos agora um pequeno exercício de imaginação. Vamos recordar quão grandes são as necessidades das nossas comunidades, dos nossos catequizandos, das suas famílias... Mais um passo e agora pensemos nas nossas pequenezas. Se o Senhor Jesus estiver por perto, falemos-lhe sobre “Só o que temos...”. O que ouviríamos? Ele aguarda nossa palavra. E eles, os catequizandos, como que a nos olhar, também estão a observar nossos gestos.

Não precisamos oferecer do que não temos. Mas do que o Senhor tem a nos dar, dos seus dons, destes podemos transbordar. Vale lembrar que “Ele deu aos discípulos, e os discípulos às multidões”. Quando as forças faltarem, se as motivações diminuírem, se as desilusões lhe cansarem... entre tantas vozes, escolha a voz do Senhor. Ouça-o. Ele não deixará os seus escolhidos sem respostas. Como no caso dos discípulos, não lhes tirou nada, e lhes deu tudo.

Em nome da CNBB, que representa os Bispos do Brasil, com muita afeição quero manifestar às centenas de milhares de Catequistas do Brasil as mais fortes palavras de gratidão. Que Deus lhes multiplique em bênçãos pela grande Bênção que são à nossa Igreja. 

Dom José Antonio Peruzzo

Presidente da Comissão Episcopal Pastoral Bíblico-Catequética da CNBB

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Como posso descobrir a minha vocação?

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28 de março de 2017

Certo autor russo fala de um homem que, por estar sofrendo uma crise interior, decidiu passar uns dias em silêncio em um mosteiro. Chegando lá, atribuíram-lhe um quarto e colocaram na porta um pequeno letreiro com o seu nome.

Durante a noite, como não conseguisse conciliar o sono, decidiu dar um passeio pelo imponente edifício do claustro. À sua volta, reparou que não havia luz suficiente no corredor para ler o nome do letreiro que havia na porta de cada dormitório. Percorria o corredor, mas todas as portas pareciam-lhe iguais. Para não despertar os monges, passou a noite inteira dando voltas no enorme e escuro corredor.

Com a primeira luz do amanhecer, finalmente conseguiu distinguir a porta do seu quarto, diante da qual havia passado tantas vezes, sem conseguir reconhecê-la. Aquele homem pensou que todo o seu deambular daquela noite era uma figura do que acontece com frequência em nossas vidas: passamos muitas vezes diante da porta que conduz ao caminho para o qual estamos chamados, mas nos falta luz para vê-lo.

Saber qual é a nossa missão na vida é a questão mais importante que devemos resolver. A vocação é o encontro com a verdade sobre nós mesmos. Um encontro que proporciona uma inspiração básica na vida, da qual nasce o compromisso, a missão principal de cada um e em que se percebe os planos de Deus para a própria vida.

O Papa Francisco falou disso aos jovens durante a JMJ em julho de 2013: “Deus chama para escolhas definitivas, Ele tem um projeto para cada um: descobri-lo, responder à própria vocação significa caminhar na direção da realização jubilosa de si mesmo. A todos Deus nos chama à santidade, a viver a sua vida, mas tem um caminho para cada um.” Essa proposta do Papa contrasta com a mentalidade do nosso tempo, a chamada cultura do provisório: tendência a não se prender a nada, a não se comprometer nunca. “Na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é “curtir” o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, “para sempre”, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã”.

É evidente que há uma grande dose de medo no coração de um jovem ou de uma jovem, no momento de tomar uma decisão definitiva na sua vida. Tanto para se casar, como para decidir entregar sua vida inteiramente a Deus, no seminário, na vida religiosa ou no celibato laical. Há medo de se comprometer. Mas o Papa nos anima a não ter medo: “Não tenham medo daquilo que Deus lhes pede! Vale a pena dizer “sim” a Deus. N’Ele está a alegria! Queridos jovens, talvez algum de vocês ainda não veja claramente o que fazer da sua vida. Peça isso ao Senhor; Ele lhe fará entender o caminho”.

O Arcanjo São Gabriel anuncia a vocação de Maria, com uma alegre saudação: “Ave, cheia graça, o Senhor é contigo!” (Lc 1,28). Tendo consciência da grandeza de um chamado divino, Maria perturba-se, mas o Arcanjo a anima: “Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus!” (Lc 1,30). Logo que se esclarece como se realizará a sua vocação de Mãe de Jesus, Maria coloca toda a vida nas suas mãos de Deus: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38).

Uma coisa é certa: Deus não chama uma pessoa para uma determinada vocação sem conceder-lhe as condições necessárias. Portanto, é preciso examinar-se na oração diante de Deus e pedir a ajuda de um bom orientador espiritual para verificar se se reúnem as condições e aptidões adequadas a essa vocação. Por isso, o fato de uma pessoa – seguindo com docilidade os conselhos da direção espiritual - considerar seriamente a possibilidade de ser chamada a um determinado caminho de entrega a Deus já indica que é bastante provável que esse seja o seu caminho. Um motivo que conforta e anima a corresponder à vocação é considerar que quando Deus dá a uma pessoa a luz da vocação, também lhe dá a graça necessária para corresponder e para decidir com generosidade.

Há um certo paralelismo na vida de muitas pessoas no momento de discernir sua vocação: primeiramente, para receber as luzes de Deus que chama, é preciso cultivar uma vida de oração pessoal, meditação da Palavra de Deus e recepção frequente dos Sacramentos da Confissão e da Eucaristia. Além disso, receber e seguir os conselhos e orientações de uma pessoa experiente no aconselhamento espiritual.

Inspirados no exemplo de Maria, esperamos que muitos jovens, neste Ano Nacional Mariano, encontrem luzes claras de sua vocação na Igreja.

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