‘Deus não deixa de chamar!’

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02 de agosto de 2019

A Arquidiocese de São Paulo realizará, nos dias 2 e 3 de agosto, o Pré-Congresso Vocacional. O evento, que acontecerá no Colégio Madre Cabrini, na Vila Mariana, é uma preparação para o 4º Congresso Vocacional do Brasil, que será realizado em Aparecida (SP), entre 5 e 8 de setembro. Com o tema “Vocação e Discernimento”, os dois encontros têm como objetivo refletir sobre a cultura vocacional nas comunidades e o trabalho realizado pela Igreja no despertar e acompanhamento das vocações. 


Em entrevista ao O SÃO PAULO, Dom José Roberto Fortes Palau, Bispo Auxiliar de São Paulo e referencial para Pastoral Vocacional e Seminários da Arquidiocese, falou sobre os desafios da promoção vocacional nos dias de hoje e destacou que a diminuição do número de vocações não significa que elas não existem, mas que é preciso repensar a forma como o tema tem sido abordado com os jovens. O Bispo ressaltou, ainda, que o testemunho de vida dos sacerdotes e consagrados é a principal promoção vocacional. Leia a íntegra da entrevista abaixo. 

O SÃO PAULOQual é a motivação para que seja realizado um Congresso Vocacional no Brasil? 
Dom José Roberto Fortes Palau – Estamos vivendo uma época bem peculiar, na qual há uma redução significativa no número de vocações em todos os segmentos da Igreja. Certa vez, ouvi o questionamento de um teólogo que me chamou a atenção: “Deus deixou de chamar?” Não, Ele continua a fazê-lo. Porém, precisamos ajudar os jovens a ouvir o chamado divino e a discernir a sua vocação. É preciso que tenhamos uma abordagem que ajude as pessoas a despertar para esse chamado. Observamos isso com o aumento de vocações adultas: significa que houve um discernimento e uma resposta ao chamado, mas que foram posteriores. Portanto, as vocações existem. Só é preciso identificá-las. O objetivo do 4º Congresso Vocacional do Brasil e do nosso Pré-Congresso é justamente discutir e refletir sobre essa realidade. 

O que dificulta o despertar dessas vocações? 
Hoje, os jovens têm muitos atrativos, são solicitados de todos os lados. Se, por um lado, no passado, não havia tantas formas de comunicação, como as redes digitais, por outro lado, tudo isso acaba impedindo os jovens de prestar atenção às coisas essenciais. Essa geração tem dificuldade, por exemplo, de fazer silêncio, de ter momentos de introspecção e reflexão. Isso, naturalmente, dificulta o discernimento e a escuta do chamado de Deus. O individualismo, muito presente na sociedade atual, é preocupante e dificulta a escuta do chamado divino e a abertura do coração. 

O Papa Francisco tem sempre alertado para o que ele chama de ‘cultura do provisório’... 
Exatamente. Vivemos em uma cultura do efêmero, em que tudo é passageiro, como se houvesse um prazo de validade. E, por isso, torna-se difícil falar de consagrar toda a vida ao serviço de Deus ou mesmo ao Matrimônio, pois as pessoas têm cada vez mais dificuldade de dar a vida por algo que vá até a morte. É importante preparar os jovens para entender que em todo caminho há alegrias e dificuldades que precisam ser enfrentadas e superadas. Muitas vezes, na primeira dificuldade, a pessoa já quer desistir do caminho. Eu tive um diretor espiritual que dizia que quanto mais a árvore é agitada pelo vento, mais ela cria raízes e mais forte ela se torna. Nesse ponto, entra a espiritualidade. É nos momentos de provação que a vida espiritual sustenta o jovem a fim de superá-los. Se a vocação for apenas algo imanente, sem a dimensão transcendente, chega um momento em que a pessoa cai em um esgotamento, em um vazio, em que ela perde o sentido e, muitas vezes, abandona tudo. É preciso manter sempre a comunhão com Deus, que é aquele quem chama e envia. Vocação não é profissão.

Como cultivar essa dimensão transcendente da vocação? 
No processo de discernimento vocacional, é importante o auxílio de um bom orientador espiritual que ajude o jovem a entender a dimensão transcendente da vocação, que vai além das motivações naturais. De repente, o jovem tem o desejo de ajudar o próximo e de realizar trabalho social. Isso é bonito. Contudo, a vocação à vida consagrada ou sacerdotal vai além disso, pois é uma consagração e entrega da vida a Deus. 


Deus chama para dar a vida, para estar a serviço do próximo, como a cena do lava-pés. O ministério sacerdotal, por exemplo, é gastar-se servindo aos irmãos. No entanto, para isso, é preciso ter uma vida interior, uma mística que brota da própria comunhão com Cristo, sobretudo na Eucaristia. Do contrário, essa vocação não persevera, esse serviço vira um ativismo sem sentido sobrenatural. É importante que haja pessoas preparadas para ajudar os jovens a fazer um reto discernimento, que mostre a eles a beleza da vocação e, ao mesmo tempo, as dificuldades inerentes a ela. Jesus perguntou a Tiago e João: “Podereis beber o cálice que eu beberei?” (Mc 10,38). Essa pergunta é fundamental. Vocação é fazer de sua vida um serviço, um dom de si mesmo a Deus e ao próximo, que vale muito a pena. É importante mostrar ao jovem vocacionado que, ao abraçar a vocação, ele renuncia a muitas coisas boas por um bem maior, e a sua realização se dá nessa doação e nesse serviço ao próximo.  

Nesse sentido, compreende-se a vocação universal à santidade? 
Com certeza. Eu tive um professor de Antropologia Cristã que nos recordava a passagem bíblica: “Foi em Cristo que Deus Pai nos escolheu, já bem antes de o mundo ser criado, para que fôssemos perante a sua face sem mácula e santos pelo amor” (Ef 1,3-4). Ou seja, o ser humano foi pensado e criado para ser santo, tendo como modelo de santidade o próprio Jesus Cristo. Essa é a meta da existência humana: a santidade. E o sacerdócio e a vida religiosa, assim como as demais vocações específicas, são caminhos para a santidade. 

Por isso, a melhor promoção vocacional é o testemunho? 
Sem dúvida! Se o padre ou uma religiosa derem um testemunho bonito e feliz de sua vocação, isso certamente despertará muitos jovens para o discernimento vocacional. Eu quis ser padre porque vi a felicidade do meu pároco, um sacerdote italiano, já falecido. Seu testemunho de fé, de coerência de vida, tocou-me e despertou muitas vocações. As dioceses que tiveram sua história marcada por santos sacerdotes têm numerosas vocações. Nós temos os padres promotores vocacionais na Arquidiocese, mas todo sacerdote precisa ter consciência de que ele, na sua paróquia, é o grande responsável pelo despertar das vocações. 

Além disso, quais são os outros caminhos para uma boa Pastoral Vocacional? 
A dimensão vocacional deve estar presente em toda a vida pastoral da Igreja. Desde a Catequese, o tema das vocações deve ser abordado com as crianças e adolescentes, despertando-os para a atenção ao chamado que Deus faz para suas vidas. Trabalhos como o realizado com os coroinhas, cerimoniários e todos aqueles que servem o altar são uma grande escola de promoção vocacional, por exemplo. É importante que os padres tenham contato com esses grupos, falem sobre vocação. Tudo isso faz diferença. Hoje, vivemos em uma cultura que pouco fala do sacerdote e, quando fala, às vezes, é com uma abordagem negativa. 


A família também tem um papel importantíssimo no despertar vocacional. Infelizmente, enfrentamos a dificuldade de vocacionados provenientes de famílias fragmentadas, sem uma boa formação religiosa. Contudo, quando a dimensão vocacional é trabalhada desde a base familiar, os frutos são muitos. Mesmo assim, com esses desafios, surgem vocações, o que confirma que Deus continua chamando e nós precisamos ajudar as moças e rapazes a ouvi-lo e a discernir bem. Repito, Deus não deixa de chamar!

As opiniões expressas na seção “Com a Palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.

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‘A vida é a principal riqueza’

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05 de junho de 2019

O Secretário do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, organismo da Santa Sé dedicado às questões de justiça, paz, migrações, saúde, obras de caridade e cuidado da Criação, Monsenhor Bruno-Marie Duffé, visitou o Brasil neste mês. Em São Paulo, ele participou, no dia 17, do Seminário Internacional “Futuro do Trabalho – Liderança, educação e inovação a serviço do desenvolvimento humano integral”. Na ocasião, ele apresentou detalhes do livro “A Vocação do Líder Empresarial – Uma Reflexão” e conversou com O SÃO PAULO sobre a temática da obra. A entrevista a seguir agrega as respostas do Monsenhor e trechos da conferência que proferiu no evento.

O SÃO PAULO – Sob a perspectiva cristã, o que é vocação?

Monsenhor Bruno-Marie Duffé – A vocação não é somente a descoberta de um talento pessoal ou de uma capacidade, nem a administração de uma empresa ou de uma experiência. A vocação é receber um chamado. No Cristianismo, falamos de um chamado do Deus criador e pai, de um chamado de Jesus, que veio para anunciar a Boa Notícia aos pobres, dar a liberdade aos cativos e oferecer a alegria aos que vivem na tristeza. Trata-se de um chamado do Espírito Santo também, que revela a cada um os próprios talentos e os talentos dos outros com quem trabalhamos cada dia; é a diversidade dos carismas, como diz o Santo Padre; diversidade e unidade, do mesmo espírito que vive em todos os humanos, porque Deus dá sua graça e seu amor a todos, sem diferença, sem discriminação. A vocação é também uma experiência de cooperação de todas as empresas e da sociedade, em um mundo que vive a globalização, mas também a tensão, a dialética e, às vezes, o conflito entre a unidade da globalização e a particularidade entre o global e o local, entre a colaboração mundial e o mercado, e a busca de fidelidade às particularidades da cultura local. 

Como pode ser entendida a vocação no ambiente empresarial?

A vocação do empresário é, primeiro, um chamado a ter cuidado com a criação de Deus, com a natureza, com os recursos naturais, que são condições para a vida de hoje, para o futuro da vida, do planeta e da casa comum. A vocação, então, é, em um primeiro sentido, um chamado a continuar a Criação com cuidado, com sabedoria, com ética, com discernimento, para saber o que é melhor para a humanidade e para o futuro da vida no planeta.

O senhor disse em primeiro sentido; há outro, portanto?

Outra maneira de falar sobre a vocação do empresário é que ele é chamado a propor e desenvolver nas empresas e em todos os lugares de trabalho a cultura do encontro, do diálogo e da confiança. Há que se começar pelo encontro com o outro, provocando o diálogo, uma negociação permanente e de confiança, o que quer dizer, “eu creio contigo”, “eu creio em ti”, “eu creio em tua capacidade”. Essa maneira de pensar a vocação abre a perspectiva de uma cultura de responsabilidade compartilhada. Não é só o empresário que deve ter responsabilidade em uma empresa, mas também os trabalhadores e todos os cooperadores. Eu penso até que o empresário é como um pastor que conduz um grupo com respeito, dignidade e com a subsidiariedade. Uma empresa é como uma comunidade, um lugar onde se podem compartilhar os talentos, as diferenças e construir um projeto, um produto, uma economia com todas as pessoas. A subsidiariedade, que é um diálogo social com todos os líderes, é uma maneira de dar meios para cooperar mais, um exercício de troca respeitosa entre os atores do complexo social. É realmente uma sabedoria que chama os empresários a manter um diálogo entre os atores de uma empresa, e chamá-los a viver a responsabilidade. A subsidiariedade, no interior da empresa, é uma escola para a responsabilidade e para a solidariedade social.

E como devem se posicionar as empresas nocenárioeconômico sob essa perspectiva?

Esse é um terceiro ponto sobre a vocação. Trata-se de uma responsabilidade compartilhada no mundo econômico e nas empresas. Consiste em dizer que o lucro de uma empresa não se resume em ter cada vez mais. O lucro que tem sentido é o que considera, de maneira primordial, o futuro do trabalho, da Criação, das pessoas, da vida e da biodiversidade. Nessa perspectiva, investir é não só dar dinheiro para um projeto, mas também confiar nele e nas pessoas que o desenvolvem. Isso é, sem dúvida, o ponto mais sensível da nossa reflexão sobre a vocação dos empresários, porque, à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja, o empresário não pode aceitar um lucro que não leve em consideração as pessoas, a justiça social e o futuro da economia e do planeta. Parece-me importante haver uma conexão entre a comunidade e complementariedade. Sobre esse ponto, a reflexão da encíclica Laudato Si’, a propósito da busca de um novo paradigma cultural do desenvolvimento, pode aparecer determinante. Esse novo paradigma não pode estar reduzido ao paradigma da tecnocracia. Necessitamos de um debate sobre o que é o melhor para o futuro da comunidade humana. Sobre isso, pode-se dizer que necessitamos de um paradigma, uma maneira de construir nossos conceitos. Nossa fé é uma inspiração para viver, não somente um crer, é nossa visão de futuro e nossa responsabilidade concreta. Pode-se dizer que os quatro pontos de referência, como em uma bússola, para esse paradigma são a esperança, a fé, o futuro e a nossa corresponsabilidade.

Isso leva a um novo entendimento sobre a geração de riqueza? Entendemos a cada dia mais que a riqueza não quer dizer simplesmente a acumulação de dinheiro, de poder, de objetos ou de controle da atividade e das pessoas. A riqueza bela é a riqueza das pessoas mesmas e do que compartilhamos com cada uma. Estamos ricos em conjunto e nunca sozinhos. A vocação do empresário é a vocação de reconhecer a riqueza de cada pessoa, a riqueza da Criação que Deus nos deu e a riqueza do que podemos realizar junto com os carismas, os talentos de todos.

O progresso econômico e o desenvolvimento humano integral podem caminhar juntos?

É necessário saber o que fazemos com os recursos financeiros. Por exemplo: em 2008, quando foi decidido salvar os bancos, eles receberam dinheiro. Hoje, 2019, temos de saber se queremos salvar o planeta e o futuro da vida. Para isso, será preciso dinheiro, mas essa é a razão pela qual é colocada uma reflexão sobre investir: necessitamos atualmente de uma reflexão sobre as consequências dos investimentos, dos investimentos sociais e dos investimentos sobre a proteção e futuro do planeta. É preciso haver uma reconciliação entre o mundo financeiro e o mundo da economia real. Atualmente, o problema mais difícil para os empresários e as empresas é receber financiamento para desenvolver programas de uma nova economia, de uma economia ecológica.

Episódios como o de Brumadinho, em minas gerais [ele visitou as famílias das vítimas no dia 18], vão na contramão dessa economia ecológica?

O mais importante dessa minha ida a Brumadinho é estar com as famílias das vítimas, visitar uma comunidade que sofre pela morte de pessoas próximas. Temos de compartilhar a tristeza dessas famílias. No entanto, essa visita é também oportunidade para abrir uma reflexão sobre o desenvolvimento e, particularmente, sobre o extrativismo, sobre qual é a função e a dimensão das minas na economia, particularmente no Brasil. Temos de iniciar uma reflexão muito forte sobre o que podemos fazer para proteger a vida e as comunidades, para considerar a dignidade das pessoas e das comunidades, porque não é possível continuar com uma economia em que o lucro passe antes da proteção da vida. A vida é a principal riqueza. A economia não pode levar a um caminho de morte, mas deve ser um caminho de vida.

As opiniões expressas na seção “Com a Palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.

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Pré-Congresso trata sobre caminhos para vocação e discernimento

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27 de março de 2019

No sábado, 23, o Serviço de Animação Vocacional (SAV) da Região Episcopal Ipiranga realizou o Pré-Congresso Vocacional, na Fundação Nossa Senhora Auxiliadora (Funsai).

A atividade ocorreu em sintonia com o Congresso Vocacional Nacional, que acontecerá em setembro, em Aparecida (SP), e o Pré-Congresso Vocacional Arquidiocesano, que será em maio.

O intuito do Pré-Congresso Vocacional foi animar as pastorais, grupos e movimentos de paróquias a trabalhar em perspectiva vocacional, preocupando-se com o futuro da Igreja e preparando os adolescentes e jovens para continuar a missão de evangelizar.

Foi analisado o texto-base do Congresso Vocacional, que traz como tema “Vocação e Discernimento”. Entre os participantes do Pré-Congresso, houve a percepção que ainda é preciso avançar na dimensão de uma “cultura vocacional”

Falou-se, também, da necessidade de melhor capacitar os agentes para os serviços de animação vocacional na Igreja, a fim de que acompanhem os adolescentes e jovens no caminho do discernimento e na elaboração de um projeto pessoal de vida.

A realização do Pré-Congresso contou com o apoio e a presença de Dom José Roberto Fortes Palau, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Episcopal Ipiranga, que iluminou as partilhas dos grupos e também motivou a equipe do SAV na Região Episcopal.

O Pré-Congresso foi concluído com a missa presidida por Dom José Roberto.

 

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Sínodo dos Bispos: Igreja deve ir aonde os jovens estão

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11 de outubro de 2018

“A Igreja deve mudar muitíssimo, abrindo-se aos espaços onde os jovens estão presentes, fazer-se missionária sobretudo no mundo digital. E depois acompanhá-los na vida, mas respeitando a liberdade deles.”

O arcebispo de Cidade do México, cardeal Carlos Aguiar Retes, antecipou assim, no briefing desta quarta-feira (10/10) na Sala de Imprensa da Santa Sé referente à sexta e sétima Congregação Geral do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens, as considerações que o nortearão em seu trabalho na Comissão para a redação do documento final na qual representa a América.

Sem valores partilhados jovens encontram-se em dificuldade

O arcebispo primaz do México citou o filósofo espanhol José Ortega y Gasset para recordar que todas as gerações jovens, na história, fizeram um esforço para adaptar-se à cultura do próprio tempo, mas hoje é difícil identificar valores partilhados e uma cultura comum. “Desse modo, os adolescentes acabam não entendendo bem para onde ir”, ressaltou.

Respondendo a uma pergunta dos jornalistas, o purpurado disse que no México existem quarenta casas de acolhimento para os migrantes que batem à porta dos EUA, “e os jovens encontram-se em sua maioria entre os voluntários”.

O “totalitarismo anônimo” das redes sociais

Em seguida, explicou que durante os trabalhos do Sínodo se falou de um “novo totalitarismo”, do “anonimato nas redes, que é manipulado e gera ideologias de modo escondido”. As primeiras vítimas desta forma inédita de totalitarismo são exatamente os jovens, alguns dos quais “são levados até mesmo ao suicídio baseando-se em instruções nas redes”.

Portanto, uma “educação integral, sobretudo dos jovens, é fundamental para construir uma sociedade baseada em relações fraternas e solidárias”.

Dom Hollerich: primeiro os pobres, assim se freia o populismo

Após o cardeal Aguiar Retes, o arcebispo de Luxemburgo e presidente da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia (Comece), Dom Jean-Claude Hollerich, ressaltou que com seu aplauso e seu entusiasmo os jovens, no Sínodo e no pré-Sínodo, “nos indicaram as coisas que são mais importantes para eles”.

Respondendo a uma pergunta, o prelado explicou que como bispo europeu está muito preocupado com os totalitarismos, “que podem destruir a construção europeia que nos deu a paz”.

Em todo totalitarismo, observou, “há sempre um certo egoísmo: há uma preocupação com a felicidade somente dos próprios cidadãos, não se cuida dos outros”. “Se nós, como Igreja, nos concentrarmos mais sobre os mais fracos, sobre os marginalizados, faremos prevenção contra o populismo”.

Briana: meu discernimento pela vida consagrada

Por fim, a auditora Briana Santiago, 27 anos, estadunidense de Sant’Antonio, no Texas, há cinco anos em formação com a comunidade de consagradas Apóstolas de vida interior, e estudante de filosofia e teologia na Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, recordou ter sido a primeira jovem a dar seu testemunho na Sala do Sínodo.

Ela partilhou seu caminho de discernimento por uma vocação à vida consagrada, e a partir daquele momento em “toda pausa dos trabalhos me aproximava dos cardeais, dos bispos e dos jovens para discutir alguns pontos de meu pronunciamento”, ressaltou.

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Sínodo dos Bispos: jovens, sismógrafo da realidade e protagonistas da Igreja

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09 de outubro de 2018

Catorze sínteses, seis línguas, e um tema: a escuta. Deste modo articula-se o trabalho dos Círculos Menores sinodais, centrado na primeira parte do Instrumentum Laboris, na quinta Congregação geral do Sínodo, realizada na manhã desta terça-feira (09/10).

A necessidade de uma Igreja empática, em diálogo, que evite auto-referencialidade, preconceitos, e pontos sobre a credibilidade do testemunho. “Os jovens devem ser valorizados”, dizem os Padres Sinodais. “A sua participação ativa na vida eclesial deve ser promovida e relançada, o seu compromisso deve ser bem aproveitado numa perspectiva de verdadeira sinodalidade, para que sejam protagonistas, com responsabilidade, de processos e não de eventos individuais. Deste modo, eles serão evangelizadores de seus coetâneos.

Os jovens, “sismógrafo” da realidade

“Sismógrafo da realidade, os jovens são Igreja”, reitera o Sínodo. É preciso oferecer-lhes com alegria, as razões para viver e esperar, evitando moralismos e mostrando que a vida é a resposta à vocação que Deus dá a cada um de nós. “No fundo, a vida é bonita porque tem sentido. Os jovens são capazes de tomar decisões, mas é preciso ajuda-los a tomar decisões a longo prazo”, afirmam os Padres sinodais.

O risco de “demência digital”

Os Círculos menores se detêm sobre o tema da cultura digital, presente na vida dos jovens, rica de luz, mas também de sombras, como o aumento do sentimento de solidão, o risco de uma atitude compulsiva para com a “cultura da tela”, de uma “demência digital” que implica a incapacidade de concentração e compreensão de textos complexos, de uma “migração virtual” que transporta os jovens para um mundo próprio, às vezes fruto da invenção. Nesse contexto, a presença da Igreja é essencial para acompanhar os jovens, ensinando-lhes que a internet deve ser usada, mas sem que sejam usados. É bom recordar que muitos jovens “não conectados” vivem em áreas rurais sem internet.

Enfrentar o escândalo dos abusos

O tema dos abusos também foi examinado pelos 14 Círculos menores: escândalo que ameaça a credibilidade da Igreja e deve ser abordado de forma profunda, reconquistando a confiança dos fiéis, sem se esquecer o que já foi feito pela Igreja para combater e prevenir esse crime e evitar outras faltas catastróficas. É importante ajudar os sobreviventes dos abusos a encontrar o caminho do perdão e da reconciliação. Os Círculos menores sublinham a necessidade de uma articulação melhor da questão da sexualidade, que deve ser enfrentada com clareza e humanidade, sem negligenciar a linguagem teológica.

Migrantes: defender a sua causa no âmbito internacional

O olhar da Sala Sinodal se dirige ao tema da migração, que também afeta  muitos jovens: a migração é o paradigma do interesse que os jovens dedicam ao compromisso da Igreja no campo da justiça e da política. Por isso, é necessário uma pastoral adequada ao setor e um envolvimento conjunto das Conferências Episcopais afetadas diretamente por esse fenômeno. É necessário defender a causa do migrante internacionalmente, criando canais de legalidade e segurança. É importante promover oportunidade nos países de proveniência e nos de acolhimento. Não devemos esquecer as pessoas deslocadas e os migrantes internos nas nações, assim como os perseguidos e martirizados em muitas áreas do mundo.

Educação seja sólida, interdisciplinar e integral

Os Padres sinodais enfrentam o tema da formação e da educação que deve ser sólida, interdisciplinar e integral. Recordando a importância das escolas e universidades católicas, que devem ser valorizadas, e não instrumentalizadas, para que possam formar os jovens na fé e na vida cristã, se reitera que o ensinamento é uma das tarefas principais da Igreja e que muitas vezes, diante de fenômenos como o fundamentalismo e a intolerância, a resposta melhor está na promoção de uma educação ao respeito e ao diálogo inter-religioso e ecumênico.

Reforçar a família

A questão da formação passa também através do desafio de uma pastoral familiar adequada, que ajude na transmissão da fé entre as várias gerações. “Hoje”, afirmam os participantes do Sínodo, “a família está passando por uma fase de crise, devido à sua desestruturação e ao enfraquecimento da figura paterna”.

Os adultos, em geral, muito jovens e individualistas, não ajudaram a percepção da Boa Nova entre os adolescentes. Em vez disso, é responsabilidade de todo fiel acompanhar os jovens ao encontro pessoal com Jesus, porque a juventude se constrói com base no que recebe na família. Por isso, a Igreja, “família de famílias”, deve oferecer aos jovens uma verdadeira experiência familiar, na qual se sintam acolhidos, amados, cuidados e acompanhados em seu crescimento, em seu desenvolvimento integral e na realização de seus sonhos e esperanças.

A Igreja, escola de ensino

A formação correta também diz respeito aos pastores, afirma o Sínodo: na verdade, é necessário um novo estilo de vida sacerdotal e são necessários bispos que saibam acompanhar de maneira competente os jovens, porque no momento parecem faltar estratégias pastorais eficazes, capazes de se confrontar com o secularismo, e com a globalização, que apresenta oportunidades para conciliar modernidade e tradição. No fundo, a Igreja, mãe e mestra, deve ser uma escola de ensino para cada jovem, superando a falta de sintonia entre ela e os adolescentes.

Proposta uma mensagem para os jovens

Além disso, de vários Círculos surge a proposta de que do Sínodo saia uma mensagem aos jovens e que tenha um estilo narrativo adequado para transmitir-lhes a esperança cristã com palavras proféticas que relatam o olhar de Deus sobre a juventude. Desta ótica, o uso de multimídia também é sugerido, a fim de se dirigir aos jovens não apenas com um texto escrito, mas também com vídeos e imagens.

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Os jovens não devem ser objeto, mas sujeito do anúncio do Evangelho

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05 de outubro de 2018

Terceiro dia da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em andamento no Vaticano, sobre o tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

Enquanto se realizam os trabalhos da quarta Congregação sinodal, na manhã desta sexta-feira (05/10), vamos fazer uma resenha sobre as intervenções da tarde de ontem, ou seja, a terceira Congregação.

Durante esta Assembleia, a atenção dos Padres sinodais concentrou-se sobre a primeira parte do “Instrumentum Laboris” – o Documento preparatório do Sínodo - dedicada ao tema da “escuta”, sobre o qual foram feitas vinte intervenções, seguidas de um debate livre.

“Os jovens não devem ser objeto, mas sujeito da proclamação do Evangelho”: eis a esperança dos Padres sinodais. A ideia é de um renovado protagonismo missionário na Igreja, em campo social e político, para que as novas gerações sejam fermento e luz do mundo, artífices da paz e da civilização do amor.

 

A Igreja, casa e mãe dos jovens

“A Igreja é chamada a ser mãe e lar, empatia e escuta, voz dos que não tem voz, especialmente para os que se encontram em situações difíceis, pedras descartadas que, graças ao anúncio da Boa Nova, podem se tornar "pedras angulares" na construção de um mundo melhor”. Este pensamento, que ecoou na Sala sinodal, foi dirigido, de modo especial, às crianças ex-soldados e às que pertencem a famílias problemáticas ou afetadas por vícios, desemprego, corrupção, tráfico humano; como também, aos muitos imigrantes, obrigados a deixarem seu país de origem, em busca de uma vida melhor, mas que acabam perdendo suas raízes, se distanciando da fé e não desenvolvendo seus talentos pessoais.

 

Manter o entusiasmo juvenil

O consumismo no Ocidente - observaram os Padres sinodais - corre o risco de apagar o entusiasmo da juventude, que, muitas vezes, é desorientada, sem ideais e sem fé, também por causa das novas ideologias, como os extravios e o liberalismo exagerado.

É preciso falar, com coragem, sobre a beleza da proposta cristã sobre a sexualidade, sem tabus: prestar atenção aos que, hoje, não conseguem viver a castidade durante o noivado. É o que destacam alguns Padres sinodais, que admitem: a maior parte das comunidades paroquiais não consegue perceber as expectativas dos jovens, que, muitas vezes, se afastam da Igreja após a Crisma.

Por isso, há urgente necessidade de uma pastoral renovada, capaz de ouvir e transmitir o olhar amoroso de Jesus, como também de se expressar com uma linguagem jovem, além daquela digital.

 

Os Jovens e a confiança na Igreja

“Os jovens - observam os Bispos sinodais - ajudam os adultos a se situar no presente e esperam da Igreja um sinal profético de comunhão, em um mundo dilacerado. Eles são o coração missionário da Igreja”. Neste sentido, lançaram a proposta de instituir um Pontifício Conselho especialmente para eles.

Os participantes nos trabalhos sinodais recordaram também “o pedido de uma renovação espiritual”, que emergiu dos questionários preparatórios do Sínodo. É preciso ajudar os futuros adultos a reconquistar a confiança nos sacerdotes, sobretudo em um momento em que a sua credibilidade é colocada à dura provação por causa dos escândalos de abusos sexuais. A este respeito, foi expresso o desejo de que o Sínodo possa fornecer respostas pastorais adequadas e concretas.

 

Viver a liturgia e a oração nas pegadas dos santos

Por fim, durante as intervenções sinodais, foi realçada a importância de relançar a Catequese e a Liturgia, que, junto com a devoção popular, salvaguardaram a fé de muitos cristãos, em contextos de perseguição.

Neste sentido, para não ceder à tentação do ativismo, é preciso ainda falar aos jovens sobre a importância da oração. Mas, por sua parte, é essencial que também a Igreja reze pelos jovens e pela sua vocação.

Com efeito, os jovens anseiam pela dimensão do silêncio e da contemplação, mas, quando não a encontram na Igreja, procuram em outros lugares.

Segundo os Padres sinodais, a Igreja deve dar maior assistência e acompanhamento espiritual aos jovens, colocando em evidência os valores eternos, que levam à verdadeira felicidade, mediante uma proposta evangélica, segundo seu período de maturação. Neste sentido, os muitos Santos, que enriquecem a história da Igreja, podem servir de exemplo de grande atualidade.

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Arquidiocese de São Paulo realiza Virada Vocacional

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04 de setembro de 2018

A Arquidiocese de São Paulo, por meio da Pastoral Vocacional, promoveu no domingo, 26, a primeira edição do Virada Vocacional com o tema: “Vem e segue-me”. O evento encerra as atividades do mês de agosto, que é dedicado às vocações.

PEDALAVOC

Em 20 de agosto de 2014, por iniciativa da Irmã Cintia Giacinti Barbon, religiosa Apostolina, à época secretária da Pastoral Vocacional da Região Episcopal Ipiranga, aconteceu o primeiro Pedalavoc, com o intuito de evangelizar de maneira diferenciada, inspirada pelo pedido do Papa Francisco para que a Igreja saia ao encontro do povo.

A religiosa, que atualmente vive na Itália, falou sobre a inspiração do evento: “Encontrar as pessoas que normalmente não estão em nossas comunidades e dar a elas um anúncio vocacional”. 

“Cada um é chamado pessoalmente, cada pessoa deve pedalar por si mesma para chegar à meta; a vocação, seja qual for, sempre se dá em uma vivencia comunitária”, salientou.

Segundo o Padre Messias de Moraes Ferreira, responsável pela Pastoral Vocacional na Região Ipiranga, no ano em que o Pedalavoc foi pensado, diz que o evento é resultado de um levantamento da realidade regional, que tinha como proposta rever o que já era feito e o que poderia ser incluído para que mais vocações fossem descobertas nas paróquias da região. 

Padre Israel Mendes Pereira, Assessor da Pastoral Vocacional na Região Episcopal Ipiranga e Pároco da Paróquia Santa Paulina do Heliópolis, ressaltou: “Quando falamos de vocação, não falamos só do chamado ao sacerdócio ou à vida religiosa, mas no nosso chamado como cristão no mundo, primeiro à santidade, à vida e, depois, a cumprir a nossa missão como cristão, como seguidores de Jesus”.

 

VIRADA VOCACIONAL 

Em 2018, o Pedalavoc passou a fazer parte do calendário de toda a Arquidiocese de São Paulo.  A atividade ganhou um novo formato e um novo nome, e a Pedalavoc se tornou a Virada Vocacional da Arquidiocese de São Paulo. 

A Virada Vocacional começou às 10h, com missa presidida por Dom José Roberto Palau, referencial da Pastoral Vocacional da Arquidiocese, na Paróquia Nossa Senhora da Saúde. Em seguida, os participantes seguiram em caminhada, levando a réplica da Cruz Peregrina da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e a imagem peregrina de 
Nossa Senhora Aparecida até o Santuário São Judas Tadeu, no Setor Pastoral Imigrantes.

Dom José Roberto pediu para que as pessoas estejam dispostas a rezar e, principalmente, incentivar as vocações sacerdotais e religiosas em nossa Arquidiocese; também recordou a importância do discernimento vocacional no processo de escolha da pessoa que se coloca à disposição ao serviço à Igreja. 

Ao chegarem no Santuário, os participantes foram recebidos pela equipe vocacional “Dehoniana” e por representantes dos movimentos juvenis. Padre José Ronaldo, SCJ, Vigário Paroquial, acolheu a todos e reforçou a importância de celebrar as vocações.

 A réplica da Cruz da JMJ e da imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida foram levadas pelas mãos da equipe de coordenação e articulação do Setor Juventude da Região Episcopal Ipiranga e permanecerão durante toda semana no Santuário São Judas Tadeu.

 A proposta de ampliar a maratona tem como princípio despertar nas paróquias a cultura vocacional, convidar à oração por novas vocações e estar mais próximo da juventude. Foi oferecido aos participantes um kit com camisetas que mostrassem a identidade da pastoral vocacional.

(Colaborou Matheus Pereira)
 

 

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Vida consagrada é sinal de esperança em meio às contradições do mundo

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26 de agosto de 2018

No sábado, 18, a Catedral da Sé acolheu os religiosos e religiosas consagrados que vivem e atuam na Arquidiocese de São Paulo para uma missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, recordando a vocação à vida religiosa. 

Na homilia, Dom Odilo recordou que o mês vocacional, vivenciado pela Igreja no Brasil, não é apenas ocasião para homenagear os diferentes estados de vida, mas também um mês de reflexão sobre as vocações na Igreja e de oração por elas. “Sem as vocações de especial consagração, a Igreja perde a vitalidade, não consegue dar conta da missão. Nós cremos que Deus continua a chamar, que vê a necessidade da Igreja, do desafio da messe que é grande”, afirmou.

“Certamente, por muitas circunstâncias, hoje está mais difícil ouvir, acolher o chamado de Deus. Talvez até mesmo de falar da vocação. Também faz parte da missão falar sobre as vocações assim como rezar pelas vocações, atendendo ao pedido de Jesus: ‘Pedi ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe’”, continuou o Cardeal Scherer. 

O Arcebispo agradeceu a presença dos consagrados não apenas na região central da cidade, como também nas periferias, sobretudo nas várias situações que requerem o testemunho da Igreja. Ele também recordou os religiosos idosos e enfermos que não puderam participar da missa. 

Ao falar sobre a liturgia do dia, da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, Dom Odilo recordou que a Virgem Maria viveu plenamente sua consagração a Deus e a confiança plena na sua palavra e que, por isso, ela é modelo e inspiração para todos aqueles que entregam sua vida à vontade de Deus.

“A vida consagrada é marcada fortemente pelo sinal da esperança no cumprimento pleno da salvação. Sem isso, não teria sentido consagrar-se nesta vida”, acrescentou o Cardeal, convidando os religiosos a renovarem a alegria da consagração a Deus, de viver no meio das contradições do mundo com um olhar que vai “além dos condicionamentos ligados a esta vida”.

 

TESTEMUNHO DE SANTIDADE

Ainda sobre o testemunho dos consagrados na Igreja em São Paulo, Dom Odilo ressaltou que os santos e beatos que viveram na Arquidiocese foram religiosos –São José de Anchieta, Santa Paulina, Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, Beato Mariano de La Mata e Beata Assunta Marchetti – que muito contribuíram para a evangelização. “O chamado à santidade é o primeiro e mais essencial. A vida santa é a nossa vocação e meta comum a partir do Batismo. Chegar à eternidade e viver na glória de Deus, como Maria, requer vida santa”, completou o Arcebispo, reforçando que “o estilo de vida dos cristãos é a santidade”. 

Em nome dos consagrados, o Padre Rubens Pedro Cabral, Diretor do Regional São Paulo da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB-SP), renovou o compromisso dos religiosos na missão evangelizadora em São Paulo, especialmente no caminho sinodal vivido pela Arquidiocese. “Que a vida religiosa continue a ser este sinal benéfico no meio desta cidade confusa e fragmentada”, afirmou.  

 

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A vivência comunitária que nasce da catequese

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25 de agosto de 2018

Em 13 de Julho de 1553, um jovem jesuíta, de apenas 19 anos, chamado José de Anchieta, desembarcou no Brasil, atendendo ao pedido do provincial da Companhia de Jesus, Padre Manoel da Nobrega, que necessitava de mais missionários para catequizar o povo brasileiro. 

O mesmo chamado que ardeu no coração desse santo e o fez viajar por dias até o Brasil, com o objetivo de evangelizar, hoje inspira os catequistas de diversas paróquias e comunidades, que recebem o chamado do próprio Jesus e dedicam sua vida para ensinar o caminho da salvação às crianças, adolescentes, adultos e, enfim, a todos que necessitam. 

 

SER CATEQUISTA

Magali Gayjutz Simões é coordenadora da Pastoral da Catequese de Primeira Eucaristia, em parceria com Hélio Ramos, na Paróquia Bom Jesus dos Passos, na Freguesia do Ó, Região Episcopal Brasilândia. A catequista relatou, em entrevista ao O SÃO PAULO, sua experiência.

“Falar de Jesus e de seus ensinamentos é maravilhoso, apesar de difícil e desafiador nos dias de hoje. Anunciar o amor ao próximo e trabalhar a partilha e o perdão está cada vez mais difícil. Anunciar a Palavra me faz uma pessoa melhor. Poder ajudar na evangelização faz meu amor por Jesus crescer e desejar que todos conheçam esse amor”, afirmou.

Todos os anos os catequistas da comunidade participam das formações promovidas pela Região Episcopal Brasilândia, além dos encontros formativos que são realizados na própria Paróquia. 

 

INTEGRAR NA COMUNIDADE

 Nos últimos dois anos a Pastoral da Catequese passou por uma reformulação e algumas iniciativas foram criadas a fim de aproximar as crianças e os familiares da comunidade. A missa das crianças, realizada todos os sábados de manhã, após os encontros da catequese, é a ação que mais envolve os catequizandos, pois todas as funções litúrgicas como leituras, coleta e ofertório são realizadas pelas crianças.

 “Elas se sentem integradas à comunidade, importantes, respeitadas, e acredito também que essas atividades desenvolvem seu senso de responsabilidade”, concluiu a catequista. 

Um coral foi formado com os catequizandos e jovens que já receberam a Primeira Eucaristia e tem gerado ótimos frutos de perseverança. Outra iniciativa que teve um resultado surpreendente foi o dízimo mirim: por meio de uma pequena contribuição espontânea, as crianças aprendem a importância do gesto para a construção da comunidade. 

A distribuição dos minipães, que são trazidos pelas próprias crianças ao fim da celebração, também incentiva a partilha. Os pais participam da celebração e de encontros mensais promovidos pelos catequistas. No período do Natal, a Pastoral arrecada alimentos e brinquedos que são destinados às crianças carentes. 

 

ACOLHIDOS NAS PASTORAIS 

Além das ações citadas, os 74 catequizandos, com faixa etária de 8 a 13 anos, também são convidados a participar da Pastoral dos Coroinhas, bastante popular na comunidade. Grande parte dos membros deste grupo surgiu por meio de sua participação na catequese. 

A Infância e Adolescência Missionária (IAM) acolhe crianças que já receberam a Primeira Eucaristia e desejam continuar o processo de evangelização por meio de encontros semanais e visitas a orfanatos, instituições que auxiliam crianças carentes e asilos.

Segundo Magali, todas essas ações foram pensadas para integrar as crianças e seus familiares à comunidade. O principal objetivo é mostrar que elas não precisam esperar a fase adulta para se sentir participantes.

“Foi uma forma de tornar a catequese mais dinâmica, mais próxima da realidade, despertar também o amor e o compromisso pela comunidade, e pelo trabalho pastoral na Paróquia”, concluiu. 

 

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Vida consagrada: dom de Deus e da Igreja para o mundo

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19 de agosto de 2018

Sentir-se chamado por Deus e consagrar-lhe a vida é uma das decisões mais importantes que alguém pode tomar. “O que fazer da minha vida? O que Deus quer de mim? ” As indagações iniciais são muitas, numa atmosfera em que enamoramento e luta crucial se entrelaçam, em busca de um ideal a ser atingido. Por fim, o tempo - esse aliado importantíssimo do discernimento - mostra que o amor, acompanhado de abnegada entrega, é sempre a melhor resposta aos questionamentos da existência de cada um. 

É isso que demonstram as histórias de vida de várias pessoas que, atentas ao divino convite que receberam, responderam-lhe positivamente e assumiram sua vocação como uma alegre vivência de fé e testemunho cristão. Trata-se dos chamados à vida consagrada e religiosa, realidade que será retratada por toda a Igreja no próximo domingo, 19, em continuidade às celebrações deste mês vocacional em todo o Brasil. 

“A iniciativa de se utilizar o mês de agosto para valorizar as distintas vocações da Igreja no Brasil foi estabelecida na 19ª Assembleia Geral da CNBB, em 1981. Estamos, portanto, na 37ª edição do mês que enaltece as vocações da Igreja em nosso país”, afirma o Padre Rubens Pedro Cabral, Oblato de Maria Imaculada, e diretor do Regional São Paulo da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), entidade que busca valorizar a vocação à vida religiosa consagrada, ativa ou contemplativa. 

Ele explica que os religiosos compreendem um grande número de pessoas dentro da Igreja Católica em todo o mundo. No Regional São Paulo da CRB, que engloba todo o Estado, são cerca de 9 mil religiosos, sendo que há 238 casas vinculadas às congregações masculinas e 932, às femininas. 

 

TESTEMUNHOS VIVOS

“Venho de uma família pobre e católica da periferia da Zona Sul de São Paulo; Fui batizada, recebi a 1ª comunhão e frequentava a missa aos domingos. Assim cresci, pensando que minha vida seria comum, como a das pessoas ao meu redor. 

Aos 15 anos tive uma forte experiência com a Palavra de Deus, que veio ao meio encontro num momento em que me sentia vazia e triste, mesmo tendo uma vida aparentemente tranquila e feliz.

Por acaso, encontrei um pequeno Evangelho que ganhei na minha 1ª Comunhão, quando tinha 7 anos. Abri na passagem das bem-aventuranças, no capítulo quinto de Mateus e, estranhamente, aquela palavra saciou o meu coração e, em meio às lágrimas, senti uma alegria indizível... Já era Deus se manifestando, mas ainda não tinha consciência disso”, relata Cacilda da Silva Leste, 45 anos, paulistana, missionária e consagrada da Comunidade Missão Belém, cujo carisma é tratar das pessoas envolvidas com drogas ou álcool e em situação de rua. 

 A experiência de Gehilda Cavalcante, de 76 anos, pertencente ao Movimento dos Focolares e da Obra de Maria, é igualmente repleta de significado: 

“Eu sempre me perguntei o que Deus queria de mim, mas não tinha nada claro. Tinha 18 anos quando eu conheci o Movimento dos Focolares e fiquei muito impressionada, desde o primeiro momento quando uma jovem foi apresentá-lo no colégio onde eu estudava. Dizia que este Movimento começou por Chiara Lubich e um grupo de jovens, durante a 2ª Guerra Mundial, na Itália, quando tudo desmoronava. Ali elas entenderam que tudo passa, só Deus permanece e decidiram escolhê -Lo como o tudo de suas vidas. 

“E para amar a Deus é preciso amar o próximo, pois ‘é um mentiroso aquele que diz que ama a Deus, a quem não vê, se não ama o próximo que vê’. Para mim, foi a maior novidade, pois eu pensava que amar a Deus era uma coisa boa, eram as pessoas que atrapalhavam. Cada palavra penetrava profundamente na minha alma: ‘o maior desejo de Jesus está expresso no mandamento novo, Ele veio trazer a unidade e deu tudo de si na cruz para que se realizasse, antes de morrer a pediu ao Pai: ‘Que todos sejam um’”.

 

DISCERNIMENTO

Após um período de insegurança (naturalmente humana) diante do chamado feito por Deus e das contrariedades que a vida apresenta, percorre-se ainda um caminho para discernir o que, de fato, Ele nos pede, como conta Cacilda: 

“O tempo passou, e aos 19 anos perdi meu pai num atropelamento, o que me fez deixar de lado os sonhos e me dedicar à família... Aos 22 anos conheci o grupo de oração ‘Deus Salva’. Nunca tinha visto tantas pessoas felizes juntas, louvando a Deus numa igreja, e O senti mais uma vez falar comigo. Durante a Santa Missa, no momento da comunhão, senti novamente aquela alegria indizível que me atraia profundamente... Comecei a me doar como serva no grupo, recebi a Crisma, começamos a trabalhar na recuperação de jovens drogados e de suas famílias, participava das formações, enfim tudo o que era possível, além do meu trabalho normal e dos cuidados da minha família...”

O mesmo aconteceu na vida de Gehilda, que teve de enfrentar momentos trágicos no âmbito familiar para então perceber a mão de Deus em tudo: dois de seus tios assassinaram um senhor e, em consequência disso, os filhos desse senhor, não encontrando os tios assassinos, que ficaram foragidos, por vingança mataram o seu pai (que na época tinha 36 anos e 7 filhos, sendo ela a mais velha, de apenas 12 anos) e outro tio, ambos inocentes.

“Entendi que minha vida deveria ser pautada no Evangelho, sobretudo na sua essência que é o amor, a ser vivido em família e com cada próximo. No Movimento tive oportunidade de encontrar duas irmãs e um irmão daquela família inimiga, fiz as pazes com eles e continuamos tendo um bom relacionamento. Senti na alma uma grande liberdade e o desejo de doar a minha vida como uma resposta ao amor de Jesus por mim, expresso especialmente na cruz, e de viver pela unidade, a fim de levá-la a toda parte. ”

 

TUDO VALE A PENA!

Cacilda continua a relatar o que seu coração sentia a cada momento: 

“Após o tempo de discernimento, continuei a sentir o forte apelo de Deus em mim. Sentia uma profunda paz interior que me fazia superar todo e qualquer medo ou dúvida que surgia. Em 24 de setembro do ano 2000, comecei minha experiência numa comunidade de vida. Fui para ficar um mês, mas não consegui mais voltar para casa. A vida doada a Deus, aos irmãos e aos pobres me encheu daquela alegria que vi nos irmãos do grupo de oração, que vi nos missionários que conheci, que vi na história de São Francisco: finalmente havia entendido, havia encontrado o sentido da minha existência. Não há nada que pague o sorriso de um pobre! Não existe alegria maior! ” 

Gehilda, por sua vez, partilha da mesma opinião: 

“Eu me sinto feliz, realizada naquele lugar que Deus pensou para mim e experimento o que Jesus prometeu àqueles que deixam tudo por Ele: o cêntuplo nesta terra e a esperança da vida eterna. Encontro em Jesus na cruz a resposta para todos os sofrimentos e experimento a plenitude da alegria que Ele prometeu a quem vive na unidade. A maior alegria é viver num ambiente onde Jesus possa realizar a Sua promessa: ‘Onde dois ou mais estão unidos no meu nome, eu estou no meio deles’. É Jesus, presente espiritualmente entre nós, que dá sentido a toda nossa vida. Por isso, o meu empenho é viver para ser uma resposta ao amor de Jesus na cruz e amar cada um a ponto de o outro se sentir amado e me amar também, existindo assim o amor recíproco, que atrai a presença espiritual de Jesus na comunidade. ”

 

CONSELHOS 

Gehilda, com a certeza de ter feito a opção correta, se dirige àqueles que ainda têm dúvidas em relação à vocação: 

“Eu diria o que Jesus diz no Evangelho: ‘A quem me ama eu me manifestarei’. Quando amamos cada próximo que passa ao nosso lado, sentimos depois a união com Deus e ouvimos melhor a Sua voz que fala no nosso íntimo e diz o que Ele quer de nós. ” 

A opinião de Cacilda não é diferente: “Quando terminou o tempo do meu discernimento, pensei: ‘Se todo jovem tivesse a oportunidade de entender o chamado de Deus e experimentar a alegria que hoje estou sentindo, seria a pessoa mais feliz do mundo! Rezo a Deus para que todo jovem que sente esse apelo interior, tenha a disposição e a coragem de lhe dizer sim. Um sim generoso, como aquele de Maria, a esse Deus de amor, apaixonado por sua criatura e que nada mais deseja a não ser fazê-la feliz! ”

 

(Colaborou Naya Fernandes)
 

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