SÃO PAULO

Mateus Funari

‘Uma coisa que me aproximou muito da fé foi a ciência’

Por Nayá Fernandes
30 de março de 2018

O médico formado pela Unicamp, apartir do livro “A paixão de Cristo segundo o cirurgião”, passou a pesquisar sobre o Sudário, buscando entendê-lo

Arquivo Pessoal

Mateus Funari é médico formado em Medicina pela Unicamp e, atualmente, faz residência de Endoscopia na FMUSP. Há cerca de cinco anos, ganhou do seu pai o livro “A paixão de Cristo segundo o cirurgião”, de Pierre Barbet. “Foi um presente em função da minha escolha de carreira (Medicina), além do fato de ser católico”, contou Mateus à reportagem do O SÃO PAULO . A partir daquele momento, Mateus interessou-se cada vez mais pelo tema e começou a pesquisar profundamente o assunto, e a questão do Sudário foi um dos estudos que mais o fascinou. Assim, autonomamente, tornou-se um pesquisador do Sudário, com o objetivo de entendê-lo.

 

O SÃO PAULO -  COMO COMEÇOU SEU INTERESSE PELO SUDÁRIO?

Mateus Funari - Não sou um pesquisador do Sudário, apenas um católico que tem interesse no tema e resolveu conhecer mais sobre o mesmo. Uma coisa que me aproximou muito da fé foi a ciência. Entender, por meio de conhecimentos científicos, coisas sobre nossa fé foi algo que sempre me fascinou. Após ler o livro que meu pai me deu, senti um chamado para compartilhar isso com outras pessoas, uma vez que o livro traz muitos conhecimentos médicos que precisariam ser “traduzidos” para os leigos. Ensinar algo envolve, naturalmente, algum estudo sobre o tema, isso aliado à minha curiosidade natural sobre o assunto.

 

QUAIS ARGUMENTOS APONTAM PARA A COMPROVAÇÃO SOBRE A EXISTÊNCIA DO SUDÁRIO?

Em primeiro lugar, é essencial salientar que a nossa fé e a divulgação de fatos devem ser submetidas ao que a Igreja postula. A Igreja nunca afirmou que ele é autêntico. Apesar das muitas evidências para tal, a Igreja é extremamente prudente nesse quesito e está aberta para eventuais descobertas científicas - mesmo que todas, até agora, falem a favor de sua autenticidade. Dados interessantes que falam a favor são complexos para se entender em algumas linhas, mas vou sumarizar alguns de maneira superficial: 

  • Todos os estigmas no Sudário batem com a descrição da Paixão de Cristo e seu sepultamento descritos nos Evangelhos, que são relatos altamente confiáveis em termos históricos e arqueológicos (mesmo que não escritos com essa finalidade). Além disso, há uma maravilhosa congruência com os hábitos da época, como o cabelo de Jesus do modo que os judeus usavam, a flagelação, o modo do sepultamento, entre outros;
  • Não há evidência de tinta no tecido. As características da imagem também mostram que ela não pode ter sido pintada nem com sangue;
  • A principal hipótese para a formação da imagem é de uma chamuscadura (queimadura intensa e rápida), algo impossível de ter sido feito por um falsário há muitos séculos;
  • Há inúmeros detalhes na imagem que são, além de um impensável desafio para serem feitos, não poderiam ter sido pensados por uma pessoa. Mesmo que alguém pensasse em tudo, não bastaria pintar tudo (nem com sangue), pois a imagem não foi feita desta maneira. Nem mesmo crucificar uma outra pessoa e fazê-la passar pelos mesmos sofrimentos de Cristo e colocá-la num novo lençol formaria esta imagem. Como dito antes, ela é formada por uma chamuscadura e não apenas pelo contato direto de um objeto com o pano;
  • Muitos dos cientistas que estudaram essa riqueza de detalhes se converteram à fé da Igreja Católica;
  • No tecido, são encontrados elementos de vegetais que são exclusivos de Jerusalém e do tempo em que Cristo viveu. Como se não bastasse, os vestígios de pólen batem com a época em que Jesus foi sentenciado (março e abril).
  • A imagem é real, de alguém que foi morto e envolvido por um lençol, isso é consenso até entre ateus que estudaram o assunto seriamente. Não há relato de outro crucificado com uma coroa de espinhos;
  • Há sangue no tecido do tipo AB, o mais comum entre os judeus naquela região e época.

 

QUAIS SÃO OS ARGUMENTOS MAIS COMUNS QUE NEGAM O FATO DE O SUDÁRIO TER SIDO MESMO DE JESUS?

O principal, de longe, é o teste do Carbono 14. Acontece que esse teste é falho, e os motivos que podem levar a isso são contaminação bacteriana e influência de incêndio, às quais o Sudário esteve submetido. A datação do carbono 14 para o Sudário, não à toa, bate com a do último incêndio ao qual o Sudário foi exposto, de onde vem os “remendos” que podem ser observados nele. Também se acredita que a amostra do tecido com datação estimada da Idade Média possa ter sido colhida desse tecido usado como remendo que, de fato, é da Idade Média. Como se não bastasse, o estudo do Santo Sudário levou Rebecca Jackson (que participou dos estudos com o carbono 14), que foi judia ortodoxa, a converter-se à Igreja Católica. Além disso, outros participantes do estudo com o carbono 14 ratificaram o erro de seus testes.

Outro ponto importante é a datação do tecido. Como não existe registro histórico preciso do Sudário desde seu relato no Evangelho de São João, há quem afirme que ele é uma “invenção da Idade Média”. Apenas por estudar as características da imagem de modo sério, já sabemos que isso é um absurdo.

 

VOCÊ PERCEBE QUE AS PESSOAS TÊM RESISTÊNCIA A CHEGAR A ESSA COMPREENSÃO SOBRE O SUDÁRIO?

Além de ser um tema pouco divulgado e talvez com alguns aspectos um pouco difíceis de serem compreendidos, muitas pessoas optam por não fazê-lo por medo de reconhecerem uma verdade e ter que segui-la. O mundo de hoje e seus costumes são feitos para nos mantermos em nossa comodidade, fugir de todo e qualquer sofrimento ou renúncia, apostar no descartável, em que o que importa é ser feliz, se possível, sem prejudicar os outros. Quando percebem que Cristo nos chama a morrer para nós mesmos e viver para Ele, logo se afastam e optam por não se aprofundar no assunto. Mesmo entre católicos, infelizmente, vemos muito disso, católicos mornos, que não querem renunciar a si mesmos e não aceitam as cruzes que Deus envia. Não é à toa que a Igreja tenha cada vez menos membros. 

Mas alegremo-nos na promessa de Cristo: “...tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mateus 16, 17-18).

 

VOCÊ AFIRMARIA QUE O SUDÁRIO PODE AJUDAR OS CRISTÃOS A VIVEREM MELHOR A PÁSCOA DE JESUS?

O estudo do Sudário nos mostra o extremo sofrimento de Cristo no tipo de morte mais cruel que já existiu. Na cruz, morre-se por asfixia. O peso do corpo traciona o tronco para baixo, tornando a respiração cada vez mais difícil - isso pode ser observado por qualquer pessoa se segurando em uma barra pelo tempo suficiente – mas, normalmente, nossa musculatura cansa antes disso. Quando a falta de ar vai aumentando, ele se apoia nos pés pregados para liberar a tração do tórax/tronco e conseguir respirar novamente. Quando recupera o fôlego pelo tempo que consegue suportar a dor de apoiar os pés em suas chagas (lembrando que eles estão pregados), novamente solta o corpo, e a falta de ar progride. Esse é o ciclo até que o corpo não aguente mais, a falta de oxigenação comece a causar cãibras extremamente dolorosas por todo o corpo até a hora do desfecho final, a morte. A crucificação é tão cruel que, em muitos casos, chegava a durar mais de um dia essa tortura. Cristo não apenas morreu assim, como o fez após ser brutalmente flagelado, coroado de espinhos, espancado, feito motivo de comédia e ironia, carregar a cruz nas costas até o calvário e se ver abandonado por quase todos que tanto amou. Tudo isso por cada um de nós. Sua pele santa e divina foi tão chagada para que os pecados que cada um cometeu pudessem ser perdoados e uma dívida que não podíamos pagar pudesse ser sanada. Tudo isso pelo mais puro amor que pode existir no mundo, o amor de Deus por nós. 
 

As opiniões expressas na seção “Com a palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.
 

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