NACIONAL

55ª Assembleia Geral da CNBB

Sem o primeiro anúncio, a iniciação cristã não pode acontecer

Por Fernando Geronazzo
25 de abril de 2017

Reunidos em Aparecida (SP), episcopado brasileiro estuda documento sobre processo de iniciação à vida cristã

Arquivo/CNBB

Já no primeiro dia da Assembleia,26, os bispos brasileiros terão acesso ao texto “Iniciação à vida Cristã: um processo formativo do discípulo missionário de Jesus Cristo”, elaborado pela comissão presidida pelo arcebispo de Curitiba (PR) Dom José Antônio Peruzzo, com o auxílio de estudiosos e especialistas na área.

Não é a primeira vez que o episcopado brasileiro se dedica a esse tema. Em 2009, foi publicado um documento de estudo, do qual foram a profundadas as reflexões que deram origem ao atual texto. A expectativa da Comissão responsável pelo trabalho é que, após a apreciação e contribuições dos bispos, o texto seja aprovado enquanto documento da CNBB sobre o tema.

 

Iniciação ao mistério

Segundo a definição do Documento 42 do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam): “Entende-se como iniciação à vida cristã o processo pelo qual uma pessoa é introduzida no mistério de Jesus Cristo e na vida da Igreja, através da Palavra de Deus e da mediação sacramental e litúrgica, que acompanhe as mudanças de atitudes fundamentais de ser e existir com os outros e com o mundo, em uma nova identidade como pessoa cristã que testemunha o evangelho inserido em uma comunidade eclesial viva e testemunhal.”

Padre Luiz Alves de Lima, doutor em Teologia Pastoral Catequética e professor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), é um dos assessores que participaram da redação do texto. Ele explicou ao O SÃO PAULO que a iniciação é uma experiência humana, antropológica. “Toda pessoa humana precisa ser introduzida no grupo do qual faz parte. Por isso, as religiões possuem ritos de iniciação, assim como o cristianismo”.

O cristianismo primitivo encontrou no catecumenato de adultos um modelo de iniciação. Esse processo é constituído de etapas marcadas por ritos de admissão e preparação até a celebração dos sacramentos da iniciação, Batismo, Confirmação e Eucaristia, celebrados na Vigília Pascal.

A partir do século V, com o início do período da Cristandade, o modelo catecumenal começou a dar espaço para uma catequese mais voltado para a formação doutrinal. “A catequese que se consolidou correspondeu à necessidade de uma época em que a sociedade era predominantemente cristã e, especialmente a família, e, de certa forma, colaborava no processo de iniciação das pessoas ao mistério e vivência do mistério divino”, explicou Padre Lima.

Para Dom Peruzzo, há bastante tempo se constata que o modelo atual de catequese não corresponde mais aos desafios atuais. “Nossa catequese tem um estilo muito escolar. Não se trata apenas de conteúdos a ensinar, de disciplinas a propor, mas transmitir a pessoa de Jesus e proporcionar um encontro pessoal com Ele... Por isso que se impõe com urgência que a nossa evangelização tenha um caráter iniciático, isto é, inire [do latim], colocar para dentro, participar do mistério”, destacou o Bispo ao O SÃO PAULO.

A partir do Concílio Vaticano II foi retomada com maior força a reflexão sobre a necessidade de desenvolver uma catequese mais voltada para a iniciação cristã das pessoas. O grande referencial para a Igreja para esse modelo de catequese é o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (Rica). “No início da Igreja, a catequese e a liturgia eram uma coisa só. Não existia a separação que existe hoje”, disse Padre Lima.

Querigma: primeiro anúncio

A proposta de documento da CNBB destaca que a Igreja precisa ser uma comunidade querigmática e missionária. É chamado de querigma (do grego Kerygma, proclamação) o primeiro anúncio de Jesus Cristo. No processo de iniciação cristã, esse anúncio é considerado uma etapa pré-catecumenal essencial. “Sem o primeiro anúncio, o processo de iniciação cristã não pode acontecer. É como construir paredes sem o alicerce”, ressaltou Padre Lima.

O Teólogo constatou ainda que há muitos cristãos que até receberam os sacramentos da iniciação ou ao menos o Batismo, porém, que não receberam efetivamente o querigma e, por isso, não aderem eficazmente à fé recebida sacramentalmente.

Por esse motivo, o querigma não pode estar restrito a uma pastoral específica, mas deve ser de responsabilidade de todos os cristãos. “Não são os catequistas que irão fazer o primeiro anúncio, mas vão acolher as pessoas que manifestaram interesse pelo Cristo a elas anunciado e aprofundar o conhecimento da sua pessoa e da sua Igreja”, ressaltou Padre Lima.

Embora o Teólogo reconheça que atualmente há muitos movimentos eclesiais que tem forte a dimensão do anúncio querigmático, ele destacou que a Igreja como um todo precisa assumir e sistematizar essa dimensão como prática permanente.

Mudança de paradigma

Mais do que propor uma mudança de metodologia, a CNBB reflete sobre uma mudança de paradigma da catequese cujos interlocutores não são somente as crianças que se preparam para os sacramentos, mas principalmente os adultos. “Há muitos católicos que precisam de uma ‘nova iniciação’. Isso não é somente para aqueles que ainda não receberam os sacramentos”, afirmou Dom Peruzzo. Essas pessoas não receberiam os sacramentos novamente, mas fariam um caminho de catequese semelhante ao dos catecúmenos em vista de um aprofundamento na fé e para uma renovação convicta de suas promessas batismais.

Padre Lima ressaltou ainda que, uma vez efetivamente iniciados na vida cristã, esses adultos serão os responsáveis pelo primeiro anúncio a seus filhos.

Por isso, o texto também apresenta uma proposta de projeto diocesano para a iniciação cristã que, como reforçou Padre Lima, se for bem assumido não apenas em âmbito diocesano, mas sobretudo nas paróquias, pelos padres, “essa mudança de paradigma pode acontecer efetivamente a fim de despertar e encantar as pessoas por Jesus Cristo e sua Igreja”.

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