INTERNACIONAL

Adaptações

O que mudou na vida dos padres brasileiros em Roma após o coronavírus?

Por Filipe Domingues (Especial para O SÃO PAULO)
25 de março de 2020

No Colégio Pio Brasileiro, os estudos continuam e há mais momentos para orações e mais missas diárias

Colégio Pio Brasileiro - crédito Vatican News

Assim como toda a população italiana, os padres brasileiros que estão em Roma para estudar tiveram que se adaptar à situação de quarentena, por causa da crise sanitária do novo coronavírus. Embora alguns tenham antecipado o retorno ao Brasil, um grupo de 54 padres estudantes continua morando no Colégio Pio Brasileiro, na capital italiana.

“Temos procurado colocar toda a comunidade em segurança, mas garantindo o que é básico para a vida cotidiana: a espiritualidade, os estudos, a alimentação, a limpeza e o clima de fraternidade”, disse ao O SÃO PAULO o reitor da residência universitária, Padre Geraldo dos Reis Maia.

O amplo espaço do “colégio” (como são chamadas as casas dos estudantes de universidades pontifícias) permite que os padres possam, ao mesmo tempo, ter uma vida normal e manter a distância de segurança de, pelo menos, 1 a 2 metros.

“Temos belos jardins, campo de futebol, pomar, além de a casa ser muito grande, com salões, salas. Ainda funciona a nossa biblioteca, que é muito boa e foi renovada”, contou o Padre Geraldo. Segundo ele, os serviços da casa continuam funcionando, mas, para se adaptar às normas do governo italiano, a maioria dos funcionários foi dispensada e os próprios padres assumiram os serviços. Ficaram somente os profissionais de cozinha e lavanderia. No colégio, também moram três irmãs.

Estudos continuam a distância

Com o fechamento das universidades, por ordem do governo, as aulas presenciais foram suspensas. Alguns professores começaram a dar aulas on-line, usando aplicativos como o Zoom e o Skype. Esse formato de ensino à distância, até então desconhecido para muitos professores das universidades de Roma, tornou-se uma das maiores novidades nesse período.

Mas os padres pesquisadores encontram dificuldades para dar andamento a seus projetos de mestrado e doutorado. De acordo com o Padre João Bechara Ventura (foto), da Arquidiocese de São Paulo, que é mestrando em Exegese Bíblica, alguns alunos tiveram o trabalho prejudicado pelo fechamento das bibliotecas. “Eu passei uma tarde tirando cópias para conseguir levar o máximo de material possível para casa. Mas é um complicador. Muitos precisam fazer teses de doutorado, dissertação de mestrado, mas não têm acesso à biblioteca”, diz.

“Outro problema é a concentração. Embora ficar no colégio possa facilitar a organização pessoal, ao mesmo tempo chegam mensagens de pessoas no Brasil e os noticiários todos falam do coronavírus. Isso dificulta o estudo, pois as pessoas ficam divididas, pensando no Brasil, na cidade, na família”, conta o Padre João.

Um terceiro fator de ansiedade para os padres estudantes é a dúvida sobre a retomada e conclusão do semestre acadêmico. O período deveria terminar em junho, mas há incertezas sobre como e quando serão realizadas as provas finais.

Comunidade reza pelo fim da pandemia

O Padre Antônio Marcos Depizzoli, da Diocese de Jacarezinho (PR), que é doutorando em Teologia e Catequese, afirma que a comunidade foi “desafiada a reorganizar sua vida cotidiana”. Entretanto, isso os permitiu “valorizar o silêncio e a meditação”. Uma das soluções para o período de quarentena foi criar mais um horário de missa na casa: agora são três todos os dias. Eles celebram numa capela maior, onde é possível manter a distância segura. “Estamos especialmente unidos com o nosso querido Brasil. É uma oportunidade para pensarmos sobre nossa fragilidade, mas também em como somos singulares”, diz o Padre Antônio.

Também o Padre João Henrique Novo do Prado, da Arquidiocese de São Paulo, que é mestrando em Catequese, sinaliza que o pedido de ficar em casa não tem sido fácil, por causa do cancelamento das atividades de grupo, por exemplo. Mas tem como objetivo “a prevenção e o bem-estar de cada um, mas também da comunidade”.

“Aproveitamos esse tempo para rezar mais e colocar em dia os estudos, que continuam em ritmo intenso. Esse momento é uma possibilidade de crescer mais na vida comunitária”, diz o Padre João Henrique: “Cresce o espírito de cuidado e preocupação com o outro. Estamos vivendo mais a solidariedade e a dimensão da partilha. Mais que uma comunidade de padres, vivemos como uma família de irmãos. Há uma distância física, mas não entre os corações”.

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.