O que mudou na vida dos padres brasileiros em Roma após o coronavírus?

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25 de março de 2020

Assim como toda a população italiana, os padres brasileiros que estão em Roma para estudar tiveram que se adaptar à situação de quarentena, por causa da crise sanitária do novo coronavírus. Embora alguns tenham antecipado o retorno ao Brasil, um grupo de 54 padres estudantes continua morando no Colégio Pio Brasileiro, na capital italiana.

“Temos procurado colocar toda a comunidade em segurança, mas garantindo o que é básico para a vida cotidiana: a espiritualidade, os estudos, a alimentação, a limpeza e o clima de fraternidade”, disse ao O SÃO PAULO o reitor da residência universitária, Padre Geraldo dos Reis Maia.

O amplo espaço do “colégio” (como são chamadas as casas dos estudantes de universidades pontifícias) permite que os padres possam, ao mesmo tempo, ter uma vida normal e manter a distância de segurança de, pelo menos, 1 a 2 metros.

“Temos belos jardins, campo de futebol, pomar, além de a casa ser muito grande, com salões, salas. Ainda funciona a nossa biblioteca, que é muito boa e foi renovada”, contou o Padre Geraldo. Segundo ele, os serviços da casa continuam funcionando, mas, para se adaptar às normas do governo italiano, a maioria dos funcionários foi dispensada e os próprios padres assumiram os serviços. Ficaram somente os profissionais de cozinha e lavanderia. No colégio, também moram três irmãs.

Estudos continuam a distância

Com o fechamento das universidades, por ordem do governo, as aulas presenciais foram suspensas. Alguns professores começaram a dar aulas on-line, usando aplicativos como o Zoom e o Skype. Esse formato de ensino à distância, até então desconhecido para muitos professores das universidades de Roma, tornou-se uma das maiores novidades nesse período.

Mas os padres pesquisadores encontram dificuldades para dar andamento a seus projetos de mestrado e doutorado. De acordo com o Padre João Bechara Ventura (foto), da Arquidiocese de São Paulo, que é mestrando em Exegese Bíblica, alguns alunos tiveram o trabalho prejudicado pelo fechamento das bibliotecas. “Eu passei uma tarde tirando cópias para conseguir levar o máximo de material possível para casa. Mas é um complicador. Muitos precisam fazer teses de doutorado, dissertação de mestrado, mas não têm acesso à biblioteca”, diz.

“Outro problema é a concentração. Embora ficar no colégio possa facilitar a organização pessoal, ao mesmo tempo chegam mensagens de pessoas no Brasil e os noticiários todos falam do coronavírus. Isso dificulta o estudo, pois as pessoas ficam divididas, pensando no Brasil, na cidade, na família”, conta o Padre João.

Um terceiro fator de ansiedade para os padres estudantes é a dúvida sobre a retomada e conclusão do semestre acadêmico. O período deveria terminar em junho, mas há incertezas sobre como e quando serão realizadas as provas finais.

Comunidade reza pelo fim da pandemia

O Padre Antônio Marcos Depizzoli, da Diocese de Jacarezinho (PR), que é doutorando em Teologia e Catequese, afirma que a comunidade foi “desafiada a reorganizar sua vida cotidiana”. Entretanto, isso os permitiu “valorizar o silêncio e a meditação”. Uma das soluções para o período de quarentena foi criar mais um horário de missa na casa: agora são três todos os dias. Eles celebram numa capela maior, onde é possível manter a distância segura. “Estamos especialmente unidos com o nosso querido Brasil. É uma oportunidade para pensarmos sobre nossa fragilidade, mas também em como somos singulares”, diz o Padre Antônio.

Também o Padre João Henrique Novo do Prado, da Arquidiocese de São Paulo, que é mestrando em Catequese, sinaliza que o pedido de ficar em casa não tem sido fácil, por causa do cancelamento das atividades de grupo, por exemplo. Mas tem como objetivo “a prevenção e o bem-estar de cada um, mas também da comunidade”.

“Aproveitamos esse tempo para rezar mais e colocar em dia os estudos, que continuam em ritmo intenso. Esse momento é uma possibilidade de crescer mais na vida comunitária”, diz o Padre João Henrique: “Cresce o espírito de cuidado e preocupação com o outro. Estamos vivendo mais a solidariedade e a dimensão da partilha. Mais que uma comunidade de padres, vivemos como uma família de irmãos. Há uma distância física, mas não entre os corações”.

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Na Itália, milhares vão às ruas pedir respeito à identidade cristã

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29 de janeiro de 2020

A Praça Santos Apóstolos, em Roma, Itália, foi palco, no sábado, 25, da manifestação denominada “Christian Day (Dia Cristão) – pela defesa da identidade cristã”. Organizado por membros da rede dos Movimentos Cristãos Italianos, formada por diferentes grupos cristãos evangélicos, o ato teve o objetivo de “dizer basta à constante falta de respeito pela religião cristã e pelas figuras de Jesus Cristo e da Virgem Maria”, especialmente diante dos recentes casos considerados vilipêndio e difamação ao Cristianismo que ocorreram na Itália e em outros países.

Segundo os organizadores, o ato, que reuniu cerca de cinco mil pessoas, reivindica a necessidade de defender os direitos existentes no espaço público e, em particular, de exigir respeito pelas figuras que representam o cristianismo, inclusive por meio de uma proteção mais efetiva do sentimento religioso no âmbito criminal.

CASOS RECENTES

O fato mais recente recordado na manifestação foi um pôster exposto no Museu de Arte Contemporânea de Roma, com o título em latim “Ecce Homo Erectus” (Eis o homem ereto) que retrata uma criança ajoelhada diante de Jesus em uma cena que insinua um ato erótico. Ao lado dessa imagem, foi exibido outro pôster intitulado “Concepção Imaculada in vitro”, que mostra duas mulheres em uma cena que sugere uma relação homoafetiva, segurando um bebê em seus braços.

Também foi citado o especial de Natal “Primeira Tentação de Cristo”, produzido pelo grupo brasileiro Porta dos Fundos, exibido para todo mundo pela plataforma de streaming Netflix, que retrata Jesus tendo um relacionamento afetivo com outro homem que, no decorrer da trama, revela-se como o próprio diabo.

“Essas ações blasfemas e vergonhosas pedindo fortemente a remoção do manifesto obsceno do Museu de Arte Contemporânea de Roma e a suspensão da série do Netflix, porque acreditamos que esses atos não apenas ofendem nossas crenças e a Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas são identificáveis como uma ofensa criminal de difamação contra um credo religioso, o credo cristão”, afirmou o pastor evangélico Demetrio Amadeo, à agência Korazym.

CONTRA DISCRIMINAÇÃO

“A mensagem de salvação pregada por Nosso Senhor dividiu a história em antes e depois de Cristo, e os cristãos devem se opor a todas as formas de opressão ou discriminação. A fé sem obras está morta. Um cristão que se cala diante dessas provocações não honra as pessoas que, há 2000 anos, aceitaram ser martirizadas nas arenas para defender sua identidade e não negaram seu Senhor e Salvador”, acrescentou o pastor Giovanni Perri.  

Muitos manifestantes carregavam balões pretos com a frase: “Luto pela vossa falta de respeito”. Embora não tenha a participação direta de instituições católicas na organização, a manifestação contou com a presença de diversos católicos que, por meio das redes sociais, compartilharem imagens e palavras de apoio à causa.

“É importante que nos manifestemos unidos e coesos para denunciar com força os últimos eventos muito graves que ocorreram em nossa nação contra nosso credo cristão, contra valores e princípios e, sobretudo, contra nosso Senhor Jesus Cristo. Os episódios mais recentes são verdadeiramente inaceitáveis e privam nossa identidade cristã nacional”, reiteraram os responsáveis pelo movimento.

(Com informações da agência Korazym)

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