SÃO PAULO

Carol Fiorentino

Cozinhar não é, necessariamente, algo sofisticado

Por Nayá Fernandes
23 de mai de 2017

Carolina Fiorentino, jurada no programa “Bake Off Brasil”, no SBT, fala com exclusividade ao O SÃO PAULO

Carolina Fiorentino é a última entre seis irmãos e escolheu a Gastronomia porque desde sempre a cozinha foi um de seus lugares preferidos no mundo. Ela formou-se na Universidade Anhembi Morumbi, depois de escolher o curso entre outras áreas como Cinema ou Filosofia. “Acabei fazendo Gastronomia porque eu sempre gostei de cozinhar e, em casa, a gente sempre cozinhou”, disse, em entrevista ao O SÃO PAULO, que ela concedeu no apartamento onde mora com a mãe, no bairro Jardins. Ali, na cozinha da sua casa, ela grava os programas para o canal que mantém no YouTube e no qual ensina receitas fáceis e, como ela mesma disse, “que todos podem fazer”.

Carol é chefe de cozinha, jurada no programa “Bake Off Brasil”, no SBT, que começará sua terceira temporada em agosto e, como autora, está prestes a lançar seu primeiro livro pela Editora Planeta. “Com o livro, pretendo ajudar as pessoas a fazerem diferentes massas, recheios e coberturas de bolos e não somente copiar as receitas, mas elaborar suas próprias combinações”, explicou.

 

O SÃO PAULO – Como surgiu seu interesse pela culinária?

Carol Fiorentino – O gosto pela cozinha e minhas primeiras lições culinárias vieram da minha avó e da minha mãe. A primeira coisa que eu aprendi a fazer, provavelmente, foi o básico arroz. Minha avó cozinhava muito bem, minha mãe cozinha igualmente. E, cozinham não somente em datas especiais, mas todos os dias, com frequência. Na minha família, cozinhar não é um evento, é algo cotidiano.

 

Por isso você escolheu a faculdade de gastronomia?

Eu tinha dúvidas sobre a faculdade, pois embora tivesse, entre as minhas opções, áreas que têm relação com as ciências humanas, sempre fui muito exata. Nas escola, as matérias em que eu tinha melhor aproveitamento eram Química, Física e Matemática. Com o curso de Gastronomia, consegui compreender melhor como funciona a cozinha e hoje entendo a matemática da comida e o porquê de determinadas combinações.

 

E, quais são suas inspirações?

Eu gosto muito da culinária brasileira e acho que, muitas vezes, temos uma tendência de valorizar excessivamente cozinhas como a francesa ou a italiana. Amo risoto, mas acredito que precisamos nos apropriar mais do que é nosso, dos nossos ingredientes, dos nossos grãos, das nossas frutas, do modo de cozinhar específico de um estado ou região e da grande diversidade de receitas que existem no Brasil. Pouco se fala, por exemplo, da cozinha caiçara, que é riquíssima, mas pouquíssimo conhecida pelos brasileiros. Somos muito generalistas quando o assunto é comida.

 

Quando você começou a cozinhar profissionalmente?

Quando saí da faculdade, minha coordenadora me convidou para trabalhar com ela numa confeitaria a ali trabalhei por dez anos. Foi muito importante, pois a faculdade me deu o conhecimento da técnica, da parte teórica, mas você só aprende mesmo quando está na cozinha, com erros e acertos. Todo mundo me pergunta: ‘Carol, devo fazer um curso?’ E eu respondo sempre: ‘Depende da sua necessidade. Se você quer somente fazer bolos, deve fazer um curso técnico de bolos; se quer compreender a fundo a questão alimentar, faça Nutrição; tudo depende do que você pretende atuar’.

 

Você tem grande envolvimento com projetos sociais. Poderia falar um pouco mais sobre isso?

 O trabalho social é o que eu gosto, é o que realmente me alimenta como pessoa.

Ao sair da confeitaria e me dedicar mais intensamente ao trabalho social, descobri o quanto eu sou feliz realizando esse tipo de trabalho. Atuei em diferentes instituições e, principalmente, em projetos com crianças, como a “Movere” [institutomoreve.org.br], instituição de prevenção à obesidade infantil.

 

Como é a experiência de ser jurada em um programa de culinária em TV aberta?

Ser jurada no “Bake off Brasil” foi um convite que eu resisti um pouco para aceitar no início, pois sempre fui muito tímida. Mas, tem sido uma experiência muito boa, porque eu não preciso atuar em um papel que não é o meu. Ali sou eu, Carol, que devo aplicar os conhecimentos que eu tenho e julgar a partir da minha experiência.

 

E o Canal “Carol Fiorentino”, no YouTube, como surgiu?

O canal no YouTube surgiu como uma tentativa de ajudar as pessoas a se aproximarem da cozinha e perceberem que elas podem cozinhar com o que têm em casa. O objetivo é desmistificar a cozinha. Isso porque percebo que essa tendência de sofisticação acaba por afastar as pessoas da cozinha, porque elas acham que, se não tiverem uma faca específica ou uma tábua “x” ou “y”, não vão conseguir. O público adorou o canal e eu tenho tido retornos fantásticos como o de pessoas que disseram que meu canal e o exercício de cozinhar as ajudaram a, por exemplo, vencerem quadros de depressão.

 

Qual sua opinião sobre uma espécie de obsessão moderna pela comida saudável?

Um dia fui num supermercado orgânico com uma amiga e lá encontrei uma sopa em pó orgânica. Confesso que fiquei muito surpresa, pois se a proposta é consumir alimentos orgânicos, precisamos aprender de onde eles vêm, como são. Penso que seja preferível uma sopa com legumes comuns a uma sopa em pó orgânica. Acho que tudo em excesso faz mal. Há pouco tempo, o ovo era praticamente proibido, hoje o ovo já é considerado saudável; o doce também é frequentemente visto como um vilão, mas acredito que deve haver equilíbrio, não proibição. Por outro lado, é óbvio que embutidos e bebidas como refrigerantes não fazem bem para a saúde. O mais importante é que as pessoas tenham consciência do que estão consumindo, que se informem e saibam o que estão colocando na boca. Com o avanço da tecnologia, às vezes, a gente nem mesmo vê o que está comendo, pois estamos constantemente ligadas na televisão ou no celular. Precisamos nos informar e, para isso, é essencial ouvirmos nossos pais e nossos avós.

 

Bolo da vovó.

3 xícaras de farinha de trigo;

2 xícaras de açúcar;

1 xícara de chocolate em pó;

1 colher de sopa rasa de fermento em pó;

1 colher de sopa rasa de bicabornato

3 ovos;

¾ de xícara de óleo;

1 xícara e meia de água morna.

Para a cobertura

2 claras;

6 colheres de açúcar.

 

Modo de fazer:

Peneire todos os ingredientes secos em um recipiente (farinha de trigo, açúcar, chocolate em pó, bicabornato e fermento).

Misture bem. (Misture bem mesmo!)

Depois, acrescente os ovos e o óleo e mexa um pouco, acrescentando, em seguida, a água morna. Misture até obter uma massa homogênea – não é necessário mexer muito – e despeje em forminhas individuais de papel (aquelas utilizadas em receitas de cupcake) ou em uma forma individual untada e coloque no forno pré-aquecido a 180 ºC, por cerca de

20 minutos.

Para a cobertura, separe a clara da gema, junte o açúcar e leve ao fogo mexendo sempre até derreter o açúcar. Em seguida, bata na batedeira até obter uma mistura consistente.

 

Dicas da Carol:

• Os ingredientes devem estar em temperatura ambiente;

• Não abra o forno antes de 20 minutos de cozimento do bolo;

• Misture bem os ingredientes;

• Utilize duas formas de papel para os bolinhos, pois uma delas, provavelmente, vai soltar-se do bolo.

 

Leia também, a matéria sobre a culinária e seus significados.

 

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

As opiniões expressas na seção “Com a Palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.

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