NACIONAL

Esporte

Águas nada claras para o esporte brasileiro

Por Vítor Alves Loscalzo
11 de mai de 2017

Acostumados com as operações da Polícia Federal (PF) envolvendo políticos e empresários corruptos e corruptores, os brasileiros viram as águas se escurecerem também no campo do es- porte.

Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Acostumados com as operações da Polícia Federal (PF) envolvendo políticos e empresários corruptos e corruptores, os brasileiros viram as águas se escurecerem também no campo do es- porte.

Em 6 de abril, a operação Águas Claras, da PF, levou à prisão preventiva o ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Coaracy Nunes; o diretor financeiro, Sérgio Ribeiro Lins de Alvarenga; e o coordenador técnico do polo aquático, Ricardo Cabral. No dia seguinte, Ricardo de Moura, coordena- dor técnico da natação, se entregou à Polícia Federal após ser considerado foragido.

Vinculada ao Comitê Olímpico do Brasil (COB), a CBDA é responsável por administrar as modalidades de natação, nado sincronizado, saltos ornamentais, maratonas aquáticas e polo aquático. As investigações apuram um possível desvio de R$ 40 milhões que foram repassados à Confederação por meio de convênios e leis de fomento ao esporte, mas que não foram destinados para os devidos fins, ou seja, custear essas modalidades no país.

 

Futuro dos esportes aquáticos

Desde que a operação da PF foi deflagrada, há preocupação com os rumos que os esportes aquáticos tomarão no país. O Troféu Maria Lenk, por exemplo, principal campeonato nacional de natação, que segue até o sábado, 6, no Rio de Janeiro, só acontecerá porque os Correios, patrocinador da Confederação há 26 anos, adiou provisoriamente a decisão que havia tomado de rescindir o patrocínio por conta dos escândalos na CBDA.

Em 18 de abril, a Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados, em mesa redonda, discutiu a reformulação administrativa da CBDA. Senso comum, e principal ponto levado na reunião, é a participação mais ativa dos atletas na Confederação.

“Nunca tivemos direito a voz. Agora chegou o momento. A gente quer mudança e tem o direito de saber quanto de dinheiro entra na Confederação”, afirmou a nadadora Joanna Maranhão, que foi uma das participantes do evento. Hugo Parisi, atleta dos saltos ornamentais, propôs soluções à atual situação da modalidade e da CBDA: “Os saltos ornamentais são um esporte pequeno. A minha proposta é que a Confederação se dívida. Nós ganharíamos autonomia”, pontuou. “Nunca crescemos porque sempre estaremos abaixo da natação, e ficamos apagados. Se dividirmos, os recursos também serão divididos, e a fiscalização e transparência serão melhores. É a chance de cada esporte tomar o seu rumo e suas decisões”, concluiu Hugo.

 

Visão dos atletas

Um dia após a Operação Águas Claras, 43 atletas dos esportes aquáticos, entre os quais os medalhistas olímpicos Cesar Cielo e Thiago Pereira, divulgaram uma carta dirigida ao presidente da República, Michel Temer, e a outras autoridades.

“Estamos acompanhando, muito chateados e atentos, o fato de nossa Confederação encontrar-se todos os dias no noticiário, mas não para trazer informações esportivas, e sim para anunciar mais um capítulo de uma disputa judicial na qual não somos parte ou sequer culpados. Queremos que as regras estatutárias sejam cumpridas sem manobras, almejamos que nossos dirigentes pensem no esporte exclusivamente, cobiçamos que os atletas e técnicos sejam respeitados, e que o dinheiro público seja corretamente empregado – visando o desenvolvimento dos desportes aquáticos”, consta em um dos trechos da carta.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o ex-nadador Renato Ramalho, que por 14 anos representou o Brasil em competições nacionais e internacionais, também enfatizou que “são os atletas, de fato, que amam o esporte e, portanto, os que têm mais interesse para que a CBDA esteja bem coordenada. Estão buscando modificações no estatuto e se unindo para mostrar que a Confederação é maior do que os dirigentes”.

Ainda segundo Renato, antes mesmo da operação da PF “já havia, por parte dos atletas, um descontentamento que, acredito, seja reflexo também do descontentamento político geral vivido no Brasil”. Apesar de todo esse cenário, ele está otimista. “O que está acontecendo é bom, apesar de ser triste. Ricardo Prado assumiu o cargo de coordenador geral de esportes da CBDA. Ele tem uma capacidade excepcional. Tem vivência esportiva, já foi o melhor do mundo e passou pelo comitê dos Jogos Olímpicos de 2016, com amplo conhecimento nas modalidades aquáticas. O que está acontecendo nos dá a oportunidade de renascer como uma fênix”, concluiu.

(Com informações do portal UOL, G1 e Globoesporte.com e CBDA)

 

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