Sociedade de São Vicente de Paulo: apostolado leigo a serviço dos mais pobres

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26 de abril de 2018

Antonio Frederico Ozanam nasceu em 23 de abril de 1813, em Milão, na Itália, filho do médico Jean-Antoine e de Marie Ozanam, que se dedicava à assistência dos pobres e enfermos. Foi estudante, professor de Direito, formado também em Letras, na Universidade de Sorbonne, em Paris, na França.

Em 23 de abril de 1833, com apenas 20 anos, ele fundou, em Paris, com seis companheiros, as Conferências de São Vicente de Paulo (SSVP), uma organização civil de leigos, homens e mulheres, dedicada ao trabalho cristão de caridade. Rapidamente, a Sociedade espalhouse pelo mundo e já está em 150 países. 

Em seu trabalho caritativo, a SSVP auxilia diariamente cerca de 30 milhões de pessoas, por meio da dedicação de aproximadamente 800 mil voluntários que formam os vicentinos. Internacionalmente, a Sociedade é membro da Organização das Nações Unidas, participando do Conselho Econômico e Social (ECOSOC).

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Os vicentinos chegaram ao Brasil em 1872, no Rio de Janeiro. Hoje a SSVP conta com 153 mil membros do País, também conhecidos como confrades (homens) e consocias (mulheres). Existem cerca de 20 mil conferências no Brasil, que mantêm 753 obras assistenciais, beneficiando 35.487 pessoas e gerando 10.158 empregos diretos. As conferências assistem 71.325 famílias, em um total de 227.744 pessoas. A instituição mantém creches, escolas, projetos sociais, lares de idosos, e tem contato semanal com cerca de 74 mil famílias em necessidade. Além de atuar em situações emergenciais provendo alimentos, roupas e remédios para pessoas em apuros, a Sociedade de São Vicente de Paulo procura encontrar formas de promoção das pessoas assistidas.

As conferências vicentinas estão organizadas em 35 conselhos metropolitanos. A Arquidiocese de São Paulo compõe o Conselho Metropolitano de São Paulo, que abrange a Grande São Paulo e as regiões da Baixada Santista e o Vale do Ribeira, com 867 conferências, sendo 20 delas de crianças, adolescentes e jovens. Estima-se que esse conselho metropolitano conte com aproximadamente 6,2 mil membros. 

 

BEATIFICAÇÃO

Antonio Frederico Ozanam morreu em 8 de setembro de 1853, em Marselha, na França. Conhecido como modelo de apóstolo leigo, erudito, empenhado e dedicado ao serviço dos mais pobres, ele foi beatificado por São João Paulo II no dia 22 de agosto de 1997, em Paris.  

Na homilia da missa de beatificação, São João Paulo II destacou que o amor pelos mais miseráveis, por aqueles de quem ninguém se ocupa, estava no centro da vida e das preocupações de Ozanam. O Santo Padre exortou, ainda, os leigos e, de modo particular, os jovens “a darem prova de coragem e de imaginação, a fim de trabalharem para a edificação de sociedades mais fraternas, onde os mais necessitados sejam reconhecidos na sua dignidade e encontrem os meios para uma existência respeitável”. 

“Com a humildade e a confiança incondicional na Providência, que caracterizavam Frederico Ozanam, tende a audácia da partilha dos bens materiais e espirituais com aqueles que estão na miséria!”, acrescentou. 
 

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Na Catedral da Sé, Família Vicentina recorda Frederico Ozanam

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26 de abril de 2018

A Catedral da Sé estava lotada para a celebração eucarística que aconteceu no sábado, 21, às 15h. Da cidade de São Paulo e de cidades vizinhas, membros da Família Vicentina vieram render ação de graças pelo fundador, Antonio Frederico Ozanam, que nasceu no dia 23 de abril, há 205 anos. O dia 23 de abril marca também os 185 anos de fundação das Conferências de São Vicente de Paulo.

Antes da missa, eles realizaram uma marcha, que saiu da Paróquia Santa Ifigênia e reuniu cerca de 500 pessoas rumo à Catedral da Sé. “Este ano fizemos também um gesto concreto. Viemos aqui às 9h30 e preparamos 300 marmitas para entregar às pessoas em situação de rua. Trinta jovens fizeram a distribuição da comida na Praça da Sé”, explicou Paula Tobias de Lima, 25, Coordenadora da Comissão de Jovens do Conselho Metropolitano de São Paulo. Paula e Luiz Cláudio dos Santos, coordenador geral da Conferência de Crianças e Adolescentes participaram da organização e realização do evento. 

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UMA REDE DE SOLIDARIEDADE

No início da celebração, Renato Lima, Presidente Internacional da Sociedade de São Vicente de Paulo, que mora em Brasília (DF) e veio participar da celebração em São Paulo, falou sobre o exemplo e inspiração do fundador. “Ozanam ousou sonhar uma rede de fraternidade, que se materializou na Sociedade São Vicente de Paulo, presente hoje em mais de 150 países, com mais de 750 mil membros. O Conselho Metropolitano de São Paulo, portanto, como faz a cada ano, reúne seus confrades e consocias em torno deste altar para render graças a Deus. Como Família Vicentina somos mais fortes para enfrentar as diversas formas de pobreza, resgatar a dignidade dos filhos de Deus e lutar pela mudança de estruturas que geram miséria”, afirmou.

 

QUE TODOS POSSAM VIVER BEM

Na homilia da missa, o Cardeal Odilo Pedro Scherer falou sobre Frederico Ozanam e destacou o fato de este ter vivido intensamente sua vida cristã como leigo, esposo e pai. Dom Odilo recomendou a todos que é importante viver a santidade no cotidiano da vida e que cada um deve fazer, dentro das suas possibilidades, o melhor para o bem de todos.

“Jesus fala da grande missão da Igreja, que ao longo do tempo continua a fazer ouvir a voz do Bom Pastor e reunir o rebanho que é dele. Continua a nutrir o povo de Deus e a conduzir a todos para que tenham vida. A missão da Igreja é de muitas maneiras ajudar as pessoas a terem vida, vida na fé, mas vida neste mundo. Que possam viver bem, sem medo, por causa da violência e das injustiças. É ação da Igreja ajudar a humanidade a viver a justiça, a paz, o respeito recíproco e participe da vida plena na casa do Pai”, exortou o Cardeal. 

O Arcebispo orientou também que, no Domingo do Bom Pastor, os fiéis rezem pelo Papa, pelos bispos e pelos padres e, sobretudo, para que surjam, na Igreja, muitas vocações sacerdotais. “Rezamos por aqueles que desempenham a missão de pastores na Igreja de Cristo. Em primeiro lugar, o Papa Francisco, depois os bispos em suas dioceses e todos os padres. Rezemos para que possam desempenhar bem sua missão, apesar das fraquezas e das fragilidades humanas. Amem seus padres e os ajudem a superar suas dificuldades”, afirmou Dom Odilo. 

 

 

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‘O vicentino é uma pessoa simples, que deseja transformar o mundo pela caridade’

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07 de novembro de 2017

Presente em mais de 150 países, entre os quais o Brasil, a Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP) comemora em 2017 os 400 anos do carisma vicentino, inspirado no exemplo de solidariedade aos mais pobres de São Vicente de Paulo (1581-1660).  

Em entrevista exclusiva ao O SÃO PAULO , Renato Lima, primeiro brasileiro a ocupar o cargo de Presidente Mundial da SSVP, fala sobre as bases de ação dos vicentinos e dos desafios da iniciativa em âmbito internacional. “O vicentino é uma pessoa simples, que deseja transformar o mundo pela caridade, seguindo ao apelo de Nosso Senhor Jesus Cristo. É uma pessoa de oração, que busca a conciliação e a harmonia”. 

Leia a seguir a íntegra da entrevista.

 

O SÃO PAULO – A SOCIEDADE SÃO VICENTE DE PAULO (SSVP), FUNDADA HÁ QUASE 200 ANOS POR ANTÔNIO FREDERICO OZANAM, CONTA HOJE COM APROXIMADAMENTE 800 MIL VOLUNTÁRIOS (VICENTINOS). O SENHOR PODERIA NOS CONTAR UM POUCO DA HISTÓRIA DA SSVP, DE SUA ESTRUTURA E POR QUE O TRABALHO DESENVOLVIDO AINDA É TÃO IMPORTANTE?

Renato Lima - A SSVP foi fundada em 1833 por sete amigos franceses, com a finalidade de visitar pessoas carentes nas periferias de Paris, na França, ajudando-as no que fosse possível, não só materialmente, mas, sobretudo, no aspecto espiritual e moral. Desde então, o movimento cresceu e hoje alcança 152 países. O Conselho Geral Internacional (CGI), do qual sou Presidente, fica em Paris. Em cada nação, existe o Conselho Superior (no Brasil, chama-se “Conselho Nacional do Brasil”), que é responsável pela organização da entidade. Em cada paróquia, temos as Conferências Vicentinas, que são os grupos de caridade que atuam nas visitas domiciliares. Penso que o trabalho vicentino é muito importante para a sociedade civil, em complemento às ações governamentais. Ser vicentino é um presente de Deus!

 

ENTRANDO UM POUCO NA SUA HISTÓRIA, O QUE O IMPULSIONOU A SER UM VICENTINO E COMO FOI A SUA TRAJETÓRIA ATÉ TORNAR-SE PRESIDENTE MUNDIAL DA SSVP?

Eu ingressei nos vicentinos em 1986, na cidade de Campinas (SP), onde eu estudava o ensino médio. Lá na escola militar, eu conheci a SSVP. Sempre quis ajudar as pessoas e encontrei na SSVP o local ideal para a prática da caridade com organização e seriedade. Ao longo desses 31 anos de caminhada vicentina, já fui Presidente de Conferência, Presidente de Conselho, já atuei nos setores de juventude, formação e comunicação. Portanto, Deus vinha me preparando para voos mais altos. E Ele assim o quis, e em 2016 fui eleito, pela maioria dos países, para ocupar a função de 16º Presidente Geral Internacional. Estamos na função há um ano, e com o apoio de uma diretoria fantástica, temos avançado muito, sem jamais perder de vista as conquistas alcançadas por meus antecessores. Porém, ser Presidente mundial jamais pode me ensoberbecer; afinal, o que prevalece são os propósitos do Senhor. Somos meros instrumentos da graça D’Ele.

 

COMO É A ATUAÇÃO TÍPICA DE UM VICENTINO? E DO PRESIDENTE MUNDIAL? O SENHOR TAMBÉM PRECISA VISITAR AS A FAMÍLIAS ASSISTIDAS PELA SUA CONFERÊNCIA?

O vicentino é uma pessoa simples, que deseja transformar o mundo pela caridade, seguindo ao apelo de Nosso Senhor Jesus Cristo. É uma pessoa de oração, que busca a conciliação e a harmonia. O Presidente mundial não é diferente de qualquer vicentino. Eu mesmo continuo ativo na minha Conferência (Nossa Senhora de Fátima), onde temos reuniões e visitas semanais. Se eu não fosse ativo na Conferência, seria um presidente artificial. Portanto, qualquer vicentino, não importando o cargo que ocupa na estrutura da Sociedade São Vicente de Paulo, é sempre a mesma pessoa. Faço sim visitas às famílias carentes de nosso grupo, e essa é a atividade que mais me dá alegria: poder ajudar a quem precisa. Se cada pessoa, no mundo, fizesse uma boa ação por dia, mudaríamos o planeta. Eu sou uma pessoa normal: sou casado, tenho filhos, levo as crianças ao colégio, faço compras no mercado, passeio com a família, viajo. Não sou diferente de ninguém.

 

O BRASIL TALVEZ SEJA O PAÍS COM O MAIOR NÚMERO DE VICENTINOS - SÃO APROXIMADAMENTE 153 MIL. O SENHOR CRÊ QUE HAJA UMA CONFLUÊNCIA NATURAL DA MISSÃO VICENTINA COM A SOLIDARIEDADE DOS BRASILEIROS?

O movimento vicentino, que chegou ao Brasil em 1872, cresceu muito e superou até mesmo o berço da entidade, a França. Hoje, o Brasil é o maior país vicentino do mundo, seguido pela Índia e pelos Estados Unidos. O povo brasileiro é muito solidário, e obviamente isso ajuda nos apelos e nas campanhas vicentinas. Mas, eu considero que outros fatores também fizeram com que a SSVP tivesse crescido tanto no nosso País: apoio da Igreja, forte religiosidade do povo, miséria crescente e reconhecimento dos poderes públicos. Todos esses elementos, juntos, na minha ótica, são os responsáveis pelo crescimento dos vicentinos em solo brasileiro. Aproveito para convidar os católicos que não fazem parte de nenhuma pastoral em suas paróquias: procurem os vicentinos e venham servir a Cristo pela prática da caridade!

 

EM 2017, CELEBRAM-SE OS 400 ANOS DO CARISMA VICENTINO. O SENHOR PODE COMENTAR COMO AS QUATRO AÇÕES CONCRETAS PROPOSTAS PELO PADRE TOMAZ MAVRIC (LEIA MAIS DETALHES EM HTTP://WWW.SSVPBRASIL. COM.BR/?P=1262) PARA A COMEMORAÇÃO DESSA DATA CONCATENAMSE COM O ESPÍRITO VICENTINO?

A SSVP está apoiando todas as ações da Família Vicentina, não só nas celebrações dos 400 anos, mas em tudo. Este ano, haverá um simpósio em Roma com a presença do Papa Francisco, além de outras excelentes iniciativas. Um dos dez itens do planejamento estratégico de nossa gestão é justamente esse: colaboração permanente e profunda com a Família Vicentina. Temos muitos projetos comuns. O nosso desafio é colocar as ideias em prática e atuar realmente de maneira integral na globalização da caridade. O espírito fraterno da solidariedade, que nasceu com São Vicente de Paulo, segue nos nossos corações e no nosso sangue. 

 

DESDE 2012, A SSVP PARTICIPA DO CONSELHO ECONÔMICO E SOCIAL DAS NAÇÕES UNIDAS (ECOSOC). COMO TEM SIDO A PARTICIPAÇÃO E A CONTRIBUIÇÃO DA SSVP NAS DISCUSSÕES NESSE FÓRUM?

A SSVP participa não só do Ecosoc como de outros foros internacionais no âmbito das Nações Unidas, do Parlamento Europeu e da Santa Sé. E queremos ampliar ainda mais as parcerias, acordos e convênios internacionais. Por exemplo, estamos nos aproximando da Ordem de Malta, que possui um trabalho solidário fenomenal na ajuda a crianças, idosos, refugiados e mulheres em situação de risco social. Este mandato está fazendo de tudo para envolver mais a SSVP nesse aspecto institucional. Criamos, inclusive, uma vice-presidência específica para ficar responsável por esse setor. Sugiro que os interessados no trabalho vicentino possam conhecer melhor o Conselho Geral acessando o nosso site

 

As opiniões expressas na seção “com a Palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.

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