Papa Francisco chega a Moçambique

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04 de setembro de 2019

O Papa Francisco já se encontra em território moçambicano. O avião da companhia de bandeira italiana chegou a Maputo, capital de Moçambique, às 18h07 (hora local) dando início à sua 31ª viagem apostólica, que o levará também a Madagascar e Maurício.

Depois de mais 10h30 de voo e de percorrer 7.836 quilômetros Francisco chegou à capital moçambicana. O avião papal sobrevoou, além da Itália, mais oito países: Grécia, Egito, Sudão, Sudão do Sul, Uganda, Tanzânia, Malauí e Zâmbia. 

No aeroporto, o Pontífice foi acolhido pelo presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, e pela primeira-dama. Duas crianças vestidas com trajes tradicionais ofereceram flores ao Papa. Presentes também um grupo de fiéis e demais autoridades civis e eclesiásticas.

Depois da execução dos hinos e das honras militares, houve a apresentação das delegações e a saudação aos bispos de Moçambique. Não teve discursos.

Do aeroporto, Francisco percorre mais 7 quilômetros de papamóvel até a nunciatura apostólica, onde pernoitará durante sua visita ao país.

As atividades oficiais do Papa terão início nesta quinta-feira, com a visita de cortesia ao presidente no palácio presidencial "Ponta Vermelha" e o encontro com as autoridades, com a sociedade civil e o corpo diplomático. 

O encontro com 12 migrantes

Antes de deixar sua residência, a Casa Santa Marta, o Papa recebeu 12 pessoas acolhidas pelo Centro Astalli e pela Comunidade de Santo Egídio, provenientes de Moçambique, Madagascar e Maurício. O grupo estava acompanhado pelo Esmoleiro, cardeal Konrad Krajewski.

Consolidar a reconciliação

Na manhã desta quarta-feira, com um tuíte, Francisco convidou os fiéis a se unirem a ele em oração, para que "Deus, Pai de todos, consolide em toda a África a reconciliação fraterna, única esperança para uma paz sólida e duradoura". 

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Papa: plasmar uma Igreja com rosto amazônico

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19 de janeiro de 2018

A visita do Papa Francisco ao Peru começou na Amazônia, na cidade de Puerto Maldonado.

O ginásio Mãe de Deus acolheu cerca de três mil indígenas, entre os quais muitos brasileiros, entre fiéis, sacerdotes, bispos e Dom Cláudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica.

O encontro foi marcado por testemunhos e um longo discurso do Pontífice, em que o Papa manifestou a sua preocupação pela ameaça que os povos e o território da Amazônia está sofrendo.

“Provavelmente, nunca os povos originários amazônicos estiveram tão ameaçados nos seus territórios como estão agora”, disse Francisco, citando os grandes interesses econômicos da indústria extrativista e das monoculturas agro-industriais. O Papa criticou também “a perversão de certas políticas”, que promovem a «conservação» da natureza sem ter em conta o ser humano.

Todos estes interesses “sufocam” os povos nativos e causa a migração das novas gerações. “Devemos romper com o paradigma histórico que considera a Amazônia como uma despensa inesgotável dos Estados, sem ter em conta os seus habitantes.”

Para romper este paradigma e transformas as relações marcadas pela exclusão, Francisco sugeriu a criação de espaços institucionais de respeito, reconhecimento e diálogo com os povos nativos. Estes não são um “estorvo”, mas memória viva da missão que Deus nos confiou: cuidar da Casa Comum.

Tráfico de pessoas

“A defesa da terra não tem outra finalidade senão a defesa da vida”, disse ainda o Papa. Poluição ambiental e devastação da vida comportam ainda outro sofrimento: tráfico de pessoas e o abuso sexual.

“ A violência contra os adolescentes e contra as mulheres é um grito que chega ao céu. «Sempre me angustiou a situação das pessoas que são objeto das diferentes formas de tráfico. Quem dera que se ouvisse o grito de Deus, perguntando a todos nós: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4, 9). Onde está o teu irmão escravo? (…) Não nos façamos de distraídos! Há muita cumplicidade... A pergunta é para todos! ”

Francisco recordou que já São Toríbio denunciava essas violências cinco século atrás. Esta profecia, defendeu, “deve continuar presente na nossa Igreja, que nunca cessará de levantar a voz pelos descartados e os que sofrem”.

Para Francisco, as povos nativos jamais devem ser considerados uma minoria, mas autênticos interlocutores. Além de constituir uma reserva da biodiversidade, a Amazônia é também uma reserva cultural que deve ser preservada face aos novos colonialismos.

Família e educação

“A família é, e sempre foi, a instituição social que mais contribuiu para manter vivas as nossas culturas. Em períodos de crises passadas, face aos diferentes imperialismos, a família dos povos indígenas foi a melhor defesa da vida.”

O Pontífice falou também da educação, que deve ser uma prioridade e um compromisso do Estado; compromisso integrador e inculturado que assuma, respeite e integre como um bem de toda a nação a sua sabedoria ancestral.

Igreja na Amazônia

Por fim, Francisco comentou a presença da Igreja na Amazônia, enaltecendo o trabalho dos missionários em defender  as culturas locais. O Papa exortou a não sucumbir às tentativas em ato para desarraigar a fé católica de seus povos.

“Cada cultura e cada cosmovisão que recebe o Evangelho enriquecem a Igreja com a visão de uma nova faceta do rosto de Cristo. A Igreja não é alheia aos seus problemas e à sua vida, não quer ser estranha ao seu modo de viver e de se organizar. Precisamos que os povos indígenas plasmem culturalmente as Igrejas locais amazônicas.” Francisco pede ajuda mútua e diálogo entre os povos locais e os bispos para “plasmar uma Igreja com rosto amazônico e uma Igreja com rosto indígena. Com este espírito, convoquei um Sínodo para a Amazônia no ano de 2019”.

O Papa concluiu encorajando os povos indígenas a resistirem, demonstrando capacidade de reação perante os momentos difíceis que são obrigados a viver. E se despediu em língua: quechua Tinkunakama [Até um próximo encontro.

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Papa Francisco encontra os povos da Amazônia

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19 de janeiro de 2018

No primeiro dia de sua intensa agenda no Peru, onde chegou ontem a noite proveniente do Chile, o Papa Francisco encontra hoje os povos da Amazônia em Puerto Maldonado. Retornando a Lima encontra-se coma as autoridades civis do país e, em particular, um grupo de confrades jesuítas.

Na manhã desta sexta-feira o Papa encontra em Puerto Maldonado, coração amazônico do Peru às 10h30 locais, os povos da Amazônia no Coliseu Regional Madre de Dios. Uma hora depois, o encontro com a população local no Instituto Jorge Basadre. Às 12h15 Francisco visitará o Hogar Principito, uma casa de acolhida para jovens desfavorecidos.

Às 13h15, hora local, o almoço com os representantes dos povos da Amazônia no Centro Pastoral Apaktone. O Papa Francisco retorna depois em avião a Lima onde se encontrará com as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático no Pátio de Honra do Palácio do Governo. Meia hora depois fará uma visita de cortesia ao Presidente da República Pedro Pablo Kuczynski no Salão dos embaixadores.

Às 17:55, enfim, o encontro privado com os membros da Companhia de Jesus na igreja de São Pedro.

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Papa Francisco chega ao Peru

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19 de janeiro de 2018

O Papa Francisco chegou às 16h32 desta quinta-feira (hora local) ao Aeroporto Internacional Jorge Chávez, de Lima, para a segunda etapa de sua sexta viagem ao continente americano, onde cumprirá extensa agenda até domingo, 21 de janeiro, em três cidades: Santiago, Puerto Maldonado e Trujillo.

Antes de desembarcar, o Papa foi saudado pela Chefe do Protocolo, Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária do Peru junto à Santa Sé, Sra. Maria Velásquez,  e pelo Núncio Apostólico no Peru, Dom Nicola Girasoli, além de autoridades civis e religiosas.

Ao desembarcar, foi recebido pelo presidente do país, Sr. Pedro Pablo Kuczynski e consorte. Duas crianças ofereceram flores ao Papa.

A seguir o Pontífice foi saudado pelo cardeal arcebispo de Lima, Dom Juan Luis Cipriani Thorne,  pelo bispo de Callao, Dom José Luis Del Palacio y Pérez-Mendel, e pelo presidente da Conferência Episcopal peruana, Dom Salvador José Miguel Piñeiro García Calderón, bispo de Ayacucho.

Presentes autoridades civis, alguns bispos, um grupo de fiéis e a orquestra “Sinfonia pelo Peru”.

O Papa foi saudado por militares e passou em revista a Guarda de Honra. Foi prestada homenagem às bandeiras e entoados os hinos dos dois Estados.

O séquito papal saudou o presidente da República do Peru e a seguir o Santo Padre foi saudados pelas delegações presentes. Após, o Santo Padre foi acompanhado pelo presidente e consorte até o automóvel que o levou à Nunciatura Apostólica, distante 13 km. Ao longo do trajeto o Francisco trocou de veículo, subindo no papamóvel para passar em meio a multidão que o saudava pelas ruas de Lima. 

A Nunciatura Apostólica localiza-se no Distrito de Jesús Maria, proximidades do parque “El Campo de Marte”, na Avenida Salaverry, que liga o Parque da “Benemerita Guardia Civil” à central “Plaza Ovalo Chávez”. Fica nas proximidades do parque “El Campo de Marte”.

Agenda na sexta-feira

Na sexta-feira, 19, o Papa Francisco novamente estará em um avião, para deslocar-se até Puerto Maldonado, onde encontra os Povos da Amazônia no Coliseu Regional Madre de Deus.

A seguir tem um encontro com a população local no Instituto Jorge Basadr, seguido pela visita ao Lar Principito.

Então almoça com representantes dos povos da Amazônia, retornando após para a capital Lima, onde na chegada visita a Capela na Base Aérea e às 16h45, hora local, tem encontro com as Autoridades, com a Sociedade Civil e com o Corpo Diplomático no Pátio de Honra (Discurso do Santo Padre) e a visita de cortesia ao presidente.

A última atividade do Papa Francisco na sexta-feira é por volta das 18 horas, com o encontro privado com membros da Companhia de Jesus.

Arquidiocese de Lima

A Arquidiocese de Lima abrange uma área de 639km²; tem 2.867.351 habitantes, 2.413.163 católicos, 121 paróquias, 22 igrejas, 188 sacerdotes diocesanos (11 ordenados no último ano), 424 religiosas, 18 sacerdotes, 3 diáconos permanentes, 65 seminaristas dos cursos de filosofia e teologia, 761 membros de Institutos religiosos masculinos, 1.223 membros de Institutos religiosos femininos, 186 Institutos educacionais, 188 institutos de beneficência, 40.755 batizados em 2016.

O arcebispo de Lima é o cardeal Juan Luis Ciprinai Thorne, nascido em Lima em 28 de dezembro de 1943. Foi ordenado sacerdote em 21 de agosto de 1977; eleito à Igreja titular de Tutuzi em 23 de maio de 1988, consagrado bispo em 3 de julho de 1988, promovido à Ayacucho em 13 de maio de 1995, transferido a Lima em 9 de janeiro de 1999, criado cardeal por São João Paulo II no Consistório de 21 de fevereiro de 2001.

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Papa: gerar dinâmica de convivência dentro do sistema educacional

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18 de janeiro de 2018

O Papa Francisco visitou, nesta quarta-feira (17/01), a Pontifícia Universidade Católica do Chile, em Santiago.

Fundada em 21 de junho de 1888, pelo então Arcebispo de Santiago, Dom Mariano Casanova, a instituição celebra, este ano, 130 anos de vida. 

Em seu discurso aos estudantes, funcionários e expoentes do mundo acadêmico, Francisco manifestou a alegria de estar ali naquela universidade que “ofereceu ao país um serviço inestimável”. 

“ A história desta Universidade está, de certa forma, entrançada com a história do Chile. São milhares os homens e mulheres que, tendo-se formado aqui, desempenharam tarefas importantes em prol do desenvolvimento do país. ”

"Apraz-me recordar especialmente a figura de Santo Alberto Hurtado, neste ano em que se celebra o centenário do início de seus estudos aqui. 

A sua vida é um claro testemunho de como a inteligência, a excelência acadêmica e o profissionalismo na atividade, harmonizados com a fé, a justiça e a caridade, longe de se debilitar, adquirem uma força profética capaz de abrir horizontes e iluminar o caminho, especialmente para as pessoas descartadas da sociedade.”

Retomando as palavras do reitor, Doutor Ignacio Sánchez, a propósito dos desafios importantes para Chile, o Papa deteve-se em dois pontos: “convivência nacional e capacidade de progredir em comunidade”.

Convivência nacional

“Falar de desafios é admitir que há situações que chegaram a um ponto em que devem ser repensadas. O que até ontem podia ser um fator de unidade e coesão, hoje exige novas respostas. O ritmo acelerado e a implementação quase vertiginosa de alguns processos e mudanças, que se impõem em nossas sociedades, nos convidam, de maneira serena mas sem demora, a uma reflexão que não seja ingênua, utopista e menos ainda voluntarista. 

Isto não significa frenar o desenvolvimento do conhecimento, mas fazer da universidade um espaço privilegiado para «praticar a gramática do diálogo que forma encontro».  Pois «a verdadeira sabedoria [é] fruto da reflexão, do diálogo e do encontro generoso entre as pessoas». 

“ A convivência nacional é possível na medida em que dermos vida a processos educativos que sejam simultaneamente transformadores, inclusivos e de convivência. ”

'Educar para a convivência não significa apenas acrescentar valores ao trabalho educacional, mas gerar uma dinâmica de convivência dentro do próprio sistema educativo", destacou o Papa. 

"Não é tanto uma questão de conteúdos, como sobretudo de ensinar a pensar e raciocinar de modo integral: aquilo que os clássicos costumavam designar com o nome de forma mentis.

E, para se alcançar isto, é necessário desenvolver o que eu chamaria uma alfabetização integral que saiba adaptar os processos de transformação que se estão a verificar no seio das nossas sociedades.

De acordo com o Pontífice, "tal processo de alfabetização requer que se trabalhe, de maneira simultânea, na integração das diferentes linguagens que nos constituem como pessoas. Ou seja, uma educação (alfabetização) que integre e harmonize o intelecto (a cabeça), os afetos (o coração) e a ação (as mãos). Isto proporcionará e possibilitará um crescimento dos alunos de maneira harmoniosa não só a nível pessoal, mas também e simultaneamente a nível social. 

É urgente criar espaços onde a fragmentação não seja o esquema dominante, mesmo do pensamento; para isso, é necessário ensinar a pensar o que se sente e faz; a sentir o que se pensa e faz; a fazer o que se pensa e sente. Um dinamismo de capacidades ao serviço da pessoa e da sociedade."

“ A alfabetização, baseada na integração das diferentes linguagens que nos constituem, envolverá os alunos no seu processo educativo; processo voltado para os desafios que o futuro próximo lhes apresentará. ”

Segundo Francisco, "a única coisa que consegue o «divórcio» dos saberes e das linguagens, o analfabetismo sobre como integrar as diferentes dimensões da vida, é a fragmentação e ruptura social".

"Nesta sociedade líquida  ou volátil,  como a definiram alguns pensadores, vão desparecendo os pontos de referência a partir dos quais se possam construir, individual e socialmente, as pessoas. Parece que hoje a «nuvem» seja o novo ponto de encontro, que se caracteriza pela falta de estabilidade, já que tudo se volatiliza e, consequentemente, perde consistência.

“ Esta falta de consistência poderia ser uma das razões para a perda de consciência do espaço público. ”

"Um espaço que exige um mínimo de transcendência sobre os interesses privados (viver mais e melhor) para construir sobre bases que revelem aquela dimensão tão importante da nossa vida que é o «nós».

 Sem esta consciência, mas sobretudo sem este sentimento e, por conseguinte, sem esta experiência é, e será, muito difícil construir a nação. Neste caso, pareceria que a única coisa importante e válida fosse o que diz respeito ao indivíduo e, tudo o que ficasse fora desta jurisdição, torna-se-ia obsoleto. 

Semelhante cultura perdeu a memória, perdeu os vínculos que sustentam e tornam possível a vida. Sem o «nós» dum povo, duma família, duma nação e, ao mesmo tempo, sem o «nós» do futuro, dos filhos e do amanhã; sem o «nós» duma cidade que «me» transcenda e seja mais rica do que os interesses individuais, a vida será não só cada vez mais fragmentada, mas também mais conflituosa e violenta.

Neste sentido, a universidade tem o desafio de gerar, dentro do seu próprio claustro, as novas dinâmicas que superem toda a fragmentação do saber e estimulem a uma verdadeira universitas".

Progredir em comunidade

"Daí segue-se o segundo elemento, muito importante para esta Casa de Estudo: a capacidade de progredir em comunidade", frisou o Pontífice.

"Soube, com alegria, do esforço evangelizador e da vitalidade radiosa da vossa pastoral universitária, sinal duma Igreja jovem, viva e «em saída». As missões, que vocês realizam em diferentes locais do país, são um ponto forte e muito enriquecedor. 

Em tais ocasiões, vocês conseguem alargar o horizonte de seu olhar e entrar em contato com várias situações que, para além do evento específico, deixam vocês mobilizados. De fato, o «missionário» nunca retorna igual da missão; experimenta a passagem de Deus no encontro com tantos rostos.

Estas experiências não podem ficar isoladas do percurso universitário. Os métodos clássicos de investigação provam nisso certos limites, e mais ainda numa cultura como a nossa que estimula a participação direta e instantânea dos sujeitos."

“ A cultura atual exige novas formas capazes de incluir todos os atores que dão vida à realidade social e, consequentemente, educativa. Daí a importância de ampliar o conceito de comunidade educativa. ”

"Esta comunidade é desafiada a não se isolar de [novas] formas de conhecimento; bem como a não construir conhecimentos à margem dos destinatários dos mesmos. É preciso que a aquisição de conhecimento seja capaz de gerar uma interação entre a aula e a sabedoria dos povos que constituem esta terra abençoada. 

Uma sabedoria carregada de intuições, de «olfato», que não se pode ignorar na hora de pensar o Chile. Deste modo, produzir-se-á a sinergia muito enriquecedora entre rigor científico e intuição popular. 

Esta estreita interação mútua impede o divórcio entre a razão e a ação, entre o pensar e o sentir, entre o conhecer e o viver, entre a profissão e o serviço".

“ O conhecimento deve sentir-se sempre a serviço da vida e confrontar-se com ela para continuar a progredir. ”

"Por isso, a comunidade educativa não se pode reduzir a aulas e bibliotecas, mas deve ser continuamente desafiada à participação. Tal diálogo só pode ser realizado a partir duma episteme capaz de assumir uma lógica plural, ou seja, que assume a interdisciplinaridade e a interdependência do saber. 

«Neste sentido, é indispensável prestar uma atenção especial às comunidades aborígenes com as suas tradições culturais. Não são apenas uma minoria entre outras, mas devem tornar-se os principais interlocutores, especialmente quando se avança com grandes projetos que afetam os seus espaços». 

A comunidade educacional guarda, em si mesma, um número infinito de possibilidades e potencialidades, quando se deixa enriquecer e interpelar por todos os atores que compõem a realidade educativa. Isto requer um maior esforço em termos de qualidade e integração."

“ O serviço universitário deve ter sempre como objetivo ser de qualidade e excelência, colocadas a serviço da convivência nacional. ”

"Neste sentido, poderíamos dizer que a universidade se torna um laboratório para o futuro do país, porque sabe incorporar em si a vida e a caminhada do povo, superando toda a lógica antagónica e elitista do saber.

Uma antiga tradição cabalística diz que a origem do mal se encontra na divisão produzida pelo ser humano quando comeu da árvore da ciência do bem e do mal. Desta forma, o conhecimento adquiriu um primado sobre a criação, submetendo-a aos seus esquemas e desejos.  

Será tentação latente em todos os campos acadêmicos, a de reduzir a criação a alguns esquemas interpretativos, privando-a do mistério que lhe é próprio e que impeliu gerações inteiras a procurar o que justo, bom, belo e verdadeiro.

Mas, quando o professor se torna «mestre» pela sua dimensão sapiencial, é capaz de despertar a capacidade de deslumbramento nos nossos alunos. Deslumbramento perante um mundo e um universo a descobrir!

“ Hoje, a missão que vocês têm nas mãos é profética. Vocês são chamados a gerar processos que iluminem a cultura atual, propondo um humanismo renovado que evite cair em qualquer tipo de reducionismo. ”

E esta profecia, que nos é solicitada, impele-nos a buscar eventuais espaços mais de diálogo que de conflito; espaços mais de encontro que de divisão; caminhos de amistosa discrepância, porque se diverge, com respeito, entre pessoas que caminham procurando lealmente progredir em comunidade para uma convivência nacional renovada.

E, se vocês pedirem, não duvido que o Espírito Santo guiará os seus passos para que esta Casa continue frutificando para o bem do povo do Chile e para a glória de Deus."

 

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Papa: Iquique, região que soube acolher diferentes povos e culturas

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18 de janeiro de 2018

O Papa Francisco celebrou a missa, nesta quinta-feira (18/01), no Campus Lobito, em Iquique, em honra a Nossa Senhora do Carmo, padroeira do Chile, e pela integração dos povos.  

“Em Caná da Galileia, Jesus realizou o primeiro de seus sinais milagrosos.” Assim, o Pontífice iniciou a sua homilia, citando este versículo do Evangelho de São João.

“Este Evangelho que ouvimos, nos mostra a primeira aparição pública de Jesus: nada mais, nada menos que numa festa. Não poderia ser doutra forma, pois o Evangelho é um convite constante à alegria.”

“Logo no início, o anjo diz a Maria: «Alegra-te». Anuncio-vos uma grande alegria: foi dito aos pastores. O menino saltou de alegria no seio de Isabel, mulher idosa e estéril. Alegra-te, fez Jesus sentir ao ladrão, porque hoje estarás comigo no paraíso.”

“A mensagem do Evangelho é fonte de alegria: «Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa». Uma alegria que se propaga de geração em geração, e da qual somos herdeiros”, sublinhou Francisco citando mais um versículo do evangelho.

“Disto, bem vos entendeis vós, queridos irmãos do norte chileno.

“ Vocês sabem viver a fé e a vida em clima de festa! Venho, como peregrino, celebrar com vocês esta maneira linda de viver a fé. ”

As sua festas patronais, as suas danças religiosas (que duram uma semana), a sua música, os seus vestidos fazem desta região um santuário de piedade popular.

De fato, não é uma festa que fica fechada dentro do templo, mas consegue vestir de festa toda a aldeia.

Vocês sabem celebrar cantando e dançando «a paternidade, a providência, a presença amorosa e constante» de Deus.

Deste modo geram em vocês «atitudes interiores que raramente se observam no mesmo grau» naqueles que não possuem tal piedade popular: «paciência, sentido da cruz na vida quotidiana, desapego, aceitação dos outros, dedicação e devoção».  Ganham vida as palavras do profeta Isaías: «Então o deserto se converterá em pomar, e o pomar será como uma floresta»."

“ Esta terra, abraçada pelo deserto mais seco do mundo, sabe vestir-se de festa. ”

“Neste clima de festa”, frisou ainda o Pontífice, “o Evangelho nos apresenta a ação de Maria, para que a alegria prevaleça.

Está atenta a tudo o que acontece ao redor d’Ela e, como boa mãe, não fica parada e assim consegue dar-se conta de que na festa, na alegria geral, acontecera algo: algo que estava para arruinar a festa. E, aproximando-Se de seu Filho, as únicas palavras que Lhe ouvimos dizer são: «Não têm vinho».”

“ Da mesma forma, Maria vai pelas nossas aldeias, ruas, praças, casas, hospitais. ”

"Maria é a Virgem da Tirana, a Virgem Ayquina em Calama, a Virgem das Penhas em Arica, que passa por todos os nossos problemas familiares, aqueles que parecem sufocar-nos o coração, para Se aproximar de Jesus e dizer-Lhe ao ouvido: Olha! «Não têm vinho».

Maria não fica calada, “mas logo se aproxima dos que serviam na festa e lhes diz: «Fazei o que Ele vos disser». Maria, mulher de poucas palavras mas muito concretas, também se aproxima de cada um de nós para nos dizer apenas isto: «Fazei o que Ele vos disser».

E assim se abre o caminho ao primeiro milagre de Jesus: fazer sentir aos seus amigos que eles também participam do milagre. Porque Cristo «veio a este mundo, não para fazer a sua obra sozinho, mas conosco, com todos nós, para ser a cabeça dum grande corpo cujas células vivas, livres e ativas somos nós».”

“O milagre começa quando os serventes aproximam as vasilhas de pedra com água, destinadas à purificação. Do mesmo modo cada um de nós também pode começar o milagre; mais ainda, cada um de nós é convidado a participar do milagre para os outros”, frisou o Papa.

“Irmãos, Iquique é uma «terra de sonhos» (tal é o significado do nome, em aymara); terra que soube acolher pessoas de diferentes povos e culturas que tiveram de deixar os seus queridos e partir. ”

"Uma saída sempre baseada na esperança de obter uma vida melhor, mas sabemos que sempre se faz acompanhar por bagagens carregadas de medo e incerteza pelo que virá." 

“ Iquique é uma região de imigrantes que nos lembra a grandeza de homens e mulheres; de famílias inteiras que, perante a adversidade, não se dão por vencidas mas se movem procurando a vida. ”

Eles,  sobretudo quantos têm que deixar a sua terra, porque não encontram o mínimo necessário para viver, são ícones da Sagrada Família, que teve de atravessar desertos para continuar a viver.”

“Esta é terra de sonhos, mas procuremos que continue sendo também terra de hospitalidade. Hospitalidade festiva, porque sabemos bem que não há alegria cristã, quando se fecham as portas; não há alegria cristã, quando se faz sentir aos outros que estão a mais ou que não têm lugar para eles em nosso meio.”

“Como Maria em Caná, procuremos aprender a estar atentos em nossas praças e aldeias e reconhecer aqueles que têm a vida «arruinada»; que perderam, ou lhes roubaram, as razões para fazer festa. E não tenhamos medo de levantar as nossas vozes para dizer: «Não têm vinho».

O grito do povo de Deus, o grito do pobre, que tem forma de oração e alarga o coração, e nos ensina a estar atentos.

“ Estejamos atentos a todas as situações de injustiça e às novas formas de exploração que fazem tantos irmãos perder a alegria da festa. ”

Estejamos atentos à situação de precariedade do trabalho que destrói vidas e famílias.

Estejamos atentos a quem se aproveita da irregularidade de muitos migrantes porque não conhecem a língua ou não têm os documentos em «regra»."

“ Estejamos atentos à falta de teto, terra e trabalho de tantas famílias. E, como Maria, digamos com fé: Não têm vinho. ”

O Papa frisou que “como os servidores da festa, tragamos o que temos, por pouco que pareça. Como eles, não tenhamos medo de «dar uma mão», e que a nossa solidariedade e o nosso compromisso em prol da justiça sejam parte da dança ou do cântico que podemos entoar a nosso Senhor.

Aproveitemos também para aprender e deixar-nos impregnar pelos valores, a sabedoria e a fé que os migrantes trazem consigo; sem nos fecharmos a essas «vasilhas» cheias de sabedoria e história trazidas por aqueles que continuam chegando a estas terras. Não nos privemos de todo o bem que eles têm para oferecer”.

“Deixemos que Jesus possa completar o milagre, transformando as nossas comunidades e os nossos corações em sinal vivo de sua presença jubilosa e festiva, para experimentarmos que Deus está conosco, para aprendermos a hospedá-Lo no meio de nós. Júbilo e festa contagiosa que nos leva a não excluir ninguém do anúncio desta Boa Nova.”

Francisco concluiu a homilia, pedindo a Maria, invocada nestas terras abençoadas do norte sob diferentes títulos, para que “continue sussurrando aos ouvidos de seu Filho Jesus: «Não têm vinho»; e, em nós, continuem a fazer-se carne as suas palavras: «Fazei o que Ele vos disser».”

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Papa: não ao clericalismo e a mundos ideais que não tocam a vida de ninguém

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17 de janeiro de 2018

Após o  encontro com os sacerdotes e consagrados, nesta terça-feira (16/01), o Papa Francisco encontrou-se com os bispos do Chile na Sacristia da Catedral, em Santiago.

O Pontífice agradeceu as palavras a ele dirigidas pelo Presidente da Conferência Episcopal Chilena, Dom Santiago Silva Retamales, e a seguir, saudou Dom Benardino Piñera Carvallo, que celebra, este ano, sessenta anos de episcopado. “É o bispo mais idoso do mundo, tanto na idade como nos anos de episcopado e viveu quatro sessões do Concílio Vaticano II. Maravilhosa memória vivente”, disse Francisco.

O Papa recordou em seu discurso que, em breve, irá completar um ano da visita ad limina dos bispos chilenos ao Vaticano.

“Agora coube a mim visitá-los e fico feliz por este encontro acontecer logo depois do encontro com o «mundo consagrado», pois uma de nossas tarefas principais consiste precisamente em estar perto de nossas pessoas consagradas, dos nossos sacerdotes.”

“ Se o pastor se dispersa, também as ovelhas se dispersarão e ficarão à mercê de qualquer lobo. Irmãos, a paternidade do bispo com os seus sacerdotes, com o seu presbitério! ”

"Uma paternidade que não é paternalismo nem abuso de autoridade. Eis um dom que vocês devem pedir: estar perto de seus padres, com o estilo de São José. Uma paternidade que ajuda a crescer e a desenvolver os carismas que o Espírito quis derramar em seus respectivos presbitérios.”

O Papa retomou alguns pontos do encontro realizado em Roma, resumindo-os na frase: “a consciência de ser povo”.

“Um dos problemas, que enfrentam atualmente as nossas sociedades, é o sentimento de orfandade, ou seja, sentir que não pertencem a ninguém. Este sentir «pós-moderno» pode penetrar em nós e no nosso clero; então começamos a pensar que não pertencemos a ninguém, esquecemo-nos de que somos parte do santo povo fiel de Deus e que a Igreja não é, e nunca será, uma elite de pessoas consagradas, sacerdotes ou bispos.

“ Não poderemos sustentar a nossa vida, a nossa vocação ou ministério, sem esta consciência de ser povo. ”

Esquecermo-nos disso – como afirmei à Comissão para a América Latina – «comporta vários riscos e deformações na nossa experiência, quer pessoal quer comunitária, do ministério que a Igreja nos confiou». 

A falta de consciência de pertencer ao Povo de Deus como servidores, e não como patrões, pode-nos levar a uma das tentações que mais danifica o dinamismo missionário, que somos chamados a promover: o clericalismo, que é uma caricatura da vocação recebida.”

Segundo o Papa, “a falta de consciência do fato que a missão é de toda a Igreja, e não do padre ou do bispo, limita o horizonte e – o que é pior – reduz todas as iniciativas que o Espírito pode suscitar no meio de nós. Digamos claramente: os leigos não são os nossos servos, nem os nossos empregados. Não precisam repetir, como «papagaios», o que dizemos. «O clericalismo longe de dar impulso às diferentes contribuições e propostas, apaga pouco a pouco o fogo profético do qual a Igreja inteira é chamada a dar testemunho no coração de seus povos. O clericalismo esquece que a visibilidade e a sacramentalidade da Igreja pertencem a todo o povo de Deus e não só a poucos eleitos e iluminados»”.

Francisco convidou a vigiar “contra esta tentação, especialmente nos seminários e em todo o processo de formação. Os seminários devem pôr o acento no fato de que os futuros sacerdotes sejam capazes de servir o santo povo fiel de Deus, reconhecendo a diversidade de culturas e renunciando à tentação de toda forma de clericalismo”.

“O sacerdote é ministro de Jesus Cristo, o protagonista que Se torna presente em todo o povo de Deus. Os sacerdotes de amanhã devem formar-se olhando para o amanhã: o seu ministério se realizará num mundo secularizado, e isso exige, de nós pastores, discernir como prepará-los para realizar a sua missão nesse cenário concreto e não em nossos «mundos ou situações ideais».”

“Uma missão que se realiza em união fraterna com todo o povo de Deus. Lado a lado, impelindo e incentivando o laicato num clima de discernimento e sinodalidade, duas caraterísticas essenciais do sacerdote de amanhã.

“ Não ao clericalismo e a mundos ideais, que só entram nos nossos esquemas, mas que não tocam a vida de ninguém. ”

O Papa convidou a “rezar, pedir ao Espírito Santo o dom de sonhar e trabalhar por uma opção missionária e profética que seja capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um instrumento mais adequado para a evangelização do Chile do que para uma autopreservação eclesiástica”.

“Não tenhamos medo de nos despojar daquilo que nos afasta do mandato missionário”, concluiu o Pontífice.

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Papa na missa em Temuco: precisamos da riqueza que cada povo pode oferecer

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17 de janeiro de 2018

O Papa Francisco celebrou a missa pelos progresso dos povos, nesta quarta-feira (17/01), no Aeródromo de Maquehue, em Temuco, no Chile, primeira etapa de sua 22ª viagem apostólica internacional.

O Pontífice iniciou a homilia dando graças a Deus por visitar “esta parte linda do nosso continente, a Araucânia: terra abençoada pelo Criador com a fertilidade de imensos campos verdes, com florestas cheias de imponentes araucárias – o quinto elogio de Gabriela Mistral a esta terra chilena –, seus majestosos vulcões cobertos de neve, seus lagos e rios cheios de vida.

"Esta paisagem eleva-nos a Deus, sendo fácil ver a sua mão em cada criatura. Muitas gerações de homens e mulheres amaram, e amam, este solo com ciosa gratidão.

“ E quero deter-me aqui para saudar de forma especial os membros do povo Mapuche, bem como os outros povos indígenas que vivem nestas terras do sul: Rapanui (Ilha de Páscoa), Aymara, Quechua e Atacama, e muitos outros. ”

“Esta terra, se a virmos com olhos de turista, deixar-nos-á extasiados, mas depois continuaremos a nossa estrada como antes; se, pelo contrário, nos aproximarmos do solo, ouvi-lo-emos cantar: «Arauco tem uma pena que não posso calar, são injustiças de séculos que todos veem aplicar»”, frisou Francisco.

“É neste contexto de ação de graças por esta terra e pelo seu povo, mas também de tristeza e dor, que celebramos a Eucaristia. E fazemo-lo neste aeródromo de Maquehue, onde se verificaram graves violações de direitos humanos.

“ Oferecemos esta celebração por todas as pessoas que sofreram e foram mortas e pelas que diariamente carregam aos ombros o peso de tantas injustiças. ”

"O sacrifício de Jesus na cruz está repleto de todo o pecado e do sofrimento dos nossos povos, um sofrimento a ser resgatado.

“No Evangelho que ouvimos, Jesus pede ao Pai que «todos sejam um só». Numa hora crucial da sua vida, detém-Se a pedir a unidade. O seu coração sabe que uma das piores ameaças que atinge, e atingirá, o seu povo e toda a humanidade será a divisão e o conflito, a subjugação de uns pelos outros. Quantas lágrimas derramadas!

Hoje queremos agarrar-nos a esta oração de Jesus, queremos entrar com Ele neste horto de dor, também com as nossas dores, para pedir ao Pai com Jesus: que também nós sejamos um só. Não permitais que nos vença o conflito nem a divisão.”

Segundo o Papa, “esta unidade, implorada por Jesus, é um dom que devemos pedir insistentemente pelo bem da nossa terra e seus filhos. E é necessário estar atento a eventuais tentações que possam aparecer e «contaminar pela raiz» este dom com que Deus nos quer presentear e com o qual nos convida a ser autênticos protagonistas da história.”

Os falsos sinônimos

“Uma das principais tentações a enfrentar é confundir unidade com uniformidade. Jesus não pede a seu Pai que todos sejam iguais, idênticos; pois a unidade não nasce, nem nascerá, de neutralizar ou silenciar as diferenças. A unidade não é uma simulação de integração forçada nem de marginalização harmonizadora.

“ A riqueza duma terra nasce precisamente do fato de cada parte saber partilhar a sua sabedoria com as outras. ”

Não é, nem será, uma uniformidade asfixiante que normalmente nasce do predomínio e da força do mais forte, nem uma separação que não reconheça a bondade dos outros.

A unidade pedida e oferecida por Jesus reconhece o que cada povo, cada cultura são convidados a oferecer a esta terra abençoada.

“ A unidade é uma diversidade reconciliada, porque não tolera que, em seu nome, se legitimem as injustiças pessoais ou comunitárias. ”

Precisamos da riqueza que cada povo pode oferecer, pondo de lado a lógica de pensar que há culturas superiores ou inferiores. Um belo chamal [manto] requer tecelões que conheçam a arte de harmonizar os diferentes materiais e cores; que saibam dar tempo a cada coisa e a cada fase. Poder-se-á imitar de modo industrial, mas todos reconheceremos que é uma peça de roupa confeccionada sinteticamente.

A arte da unidade precisa e requer artesãos autênticos que saibam harmonizar as diferenças nos «laboratórios» das aldeias, das estradas, das praças e das paisagens. Não é uma arte de escrivaninha ou feita apenas de documentos; é uma arte de escuta e reconhecimento. Nisto se enraíza a sua beleza e também a sua resistência ao desgaste do tempo e às inclemências que terá de enfrentar.”

“A unidade, de que necessitam os nossos povos, requer que nos escutemos, mas sobretudo que nos reconheçamos, o que não significa apenas «receber informações sobre os outros (…), mas recolher o que o Espírito semeou neles como um dom também para nós». 

Isto introduz-nos no caminho da solidariedade como forma de tecer a unidade, como forma de construir a história; solidariedade, que nos leva a dizer: temos necessidade uns dos outros com as nossas diferenças, para que esta terra continue a ser linda."

“ É a única arma que temos contra o «desflorestamento» da esperança. Por isso pedimos: Senhor, fazei-nos artesãos de unidade. ”. 

As armas da unidade

“A unidade, se quer ser construída a partir do reconhecimento e da solidariedade, não pode aceitar um meio qualquer para esse fim. Há duas formas de violência que, em vez de fomentar os processos de unidade e reconciliação, acabam por os ameaçar. Em primeiro lugar, devemos estar atentos à elaboração de acordos «lindos», que nunca se concretizam.

Palavras bonitas, planos terminados sim – e necessários – mas que, por não se tornar concretos, acabam por «borratar com o cotovelo o que se escreveu com a mão». Isto também é violência, porque frustra a esperança.”

Em segundo lugar, é imprescindível defender que uma cultura do reconhecimento mútuo não se pode construir com base na violência e destruição, que acaba por ceifar vidas humanas. Não se pode pedir reconhecimento, aniquilando o outro, porque a única coisa que isso gera é maior violência e divisão. 

“ A violência clama violência, a destruição aumenta a fratura e a separação. ”

A violência acaba por tornar falsa a causa mais justa. Por isso, digamos «não à violência que destrói», em qualquer uma dessas duas formas.

Estas atitudes são como lava de vulcão que tudo destrói, tudo queima, deixando atrás de si apenas esterilidade e desolação. Em vez disso, procuremos o caminho da não-violência ativa, «como estilo duma política de paz».  Nunca nos cansemos de procurar o diálogo para a unidade. Por isso, digamos vigorosamente: Senhor, fazei-nos artesãos de unidade.

Todos nós que, de certo modo, somos povo formado da terra (cf. Gn 2, 7), estamos chamados ao bom viver (Küme Mongen), como no-lo recorda a sabedoria ancestral do povo Mapuche.

Quanto caminho a percorrer, quanto caminho para aprender! Küme Mongen, um anseio profundo que brota não só dos nossos corações, mas ressoa como um grito, como um canto em toda a criação. Por isso, irmãos, pelos filhos desta terra, pelos filhos dos seus filhos, digamos com Jesus ao Pai: que também nós sejamos um só; fazei-nos artesãos de unidade.

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Papa na prisão feminina: a vida se constrói olhando para frente

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16 de janeiro de 2018

Um dos momentos mais significativos deste primeiro dia de visita ao Chile foi o encontro do Papa com as presidiárias do Centro penitenciário feminino de Santiago.

Depois de ouvir a saudação da Ir. Nelly León, encarregada da Pastoral do Centro, e do testemunho da reclusa Janeth Zurita, Francisco dirigiu um discurso aos funcionários, presas e suas famílias.

O Pontífice agradeceu a oportunidade deste encontro, de modo especial pelas palavras da reclusa de pedir perdão a todos os que foram feridos com os delitos. “Obrigado por nos lembrares esta atitude, sem a qual nos desumanizamos, perdemos a consciência de ter errado e de que somos chamados a recomeçar cada dia.”

Francisco pediu para superar a lógica simplória de dividir a realidade em bons e maus, para entrar numa outra dinâmica capaz de assumir a fragilidade, os limites e também o pecado, para nos ajudar a seguir em frente.

“Quando entrei, estavam à minha espera duas mães com os seus filhos e algumas flores. Assim me deram as boas-vindas, que bem se podem expressar em três palavras: mãe, filhos e flores.”

Mãe

O Papa falou sobre cada uma dessas palavras, a começar por “mãe”, que significa gerar a vida.

“ A maternidade não é, e nunca será, um problema; é um presente, um dos presentes mais maravilhosos que vocês poderão ter. Hoje vocês se encontram perante um desafio muito parecido: trata-se ainda de gerar vida. Hoje lhes é pedido que deem à luz o futuro; que o façam crescer, que o ajudem a desenvolver-se. ”

As mulheres, disse ainda Francisco, têm uma capacidade incrível de se adaptar  às situações e seguir em frente. “Hoje gostaria de fazer apelo à capacidade de gerar futuro que vive em cada uma de vocês. (...) Ser privadas de liberdade não é o mesmo que ser privadas de dignidade. Por isso, é necessário lutar contra todo o tipo de clichês, de rótulos que digam que não se pode mudar, ou que não vale a pena, ou que o resultado é sempre o mesmo. Não, queridas irmãs! Não é verdade que o resultado é sempre o mesmo. Todo o esforço que se fizer lutando por um amanhã melhor sempre dará fruto e será recompensado”, encorajou o Papa.

Filhos

A segunda palavra é filhos: estes são força, são esperança, são estímulo, disse Francisco. “São a memória viva de que a vida se constrói olhando para a frente e não para trás”, acrescentou, estimulando as presidiárias a levantarem sempre o olhar para o horizonte, para a frente, para a reinserção na vida comum da sociedade.

“Todos sabemos que muitas vezes, infelizmente, a pena da prisão se reduz sobretudo a um castigo, sem oferecer meios adequados para gerar processos. E isto está errado. A segurança pública não se deve reduzir apenas a medidas de maior controle, mas sobretudo deve ser construída com medidas de prevenção, com trabalho, educação e mais vida comunitária.”

Flores

E, por último, flores… “Penso que é assim como a vida floresce, como a vida consegue oferecer-nos a sua maior beleza: quando conseguimos trabalhar juntos, uns com os outros, para fazer com que a vida vença, que seja sempre mais forte.”

O Santo Padre concluiu seu discurso saudando também os agentes de pastoral, os voluntários, os funcionários e suas famílias.

“A Maria, pedimos-Lhe que interceda por vocês, por cada um dos seus filhos, pelas pessoas que trazem no coração e os cubra com o seu manto. Estas flores que me deram de presente, as levarei a Nossa Senhora em nome de todas vocês. De novo, obrigado!”

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Papa: somos chamados e desafiados a caminhar nas Bem-aventuranças

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16 de janeiro de 2018

“As Bem-aventuranças são aquele novo dia para quantos continuam a apostar no futuro, continuam a sonhar, continuam a deixar-se tocar e impelir pelo Espírito de Deus.

Na Missa celebrada na manhã desta terça-feira no Parque O’Higgins, em Santiago, o Papa Francisco falou das Bem-aventuranças, sublinhando as atitudes de “construir a paz” e acreditar nas possibilidades de mudança.

Foi o primeiro grande encontro de Francisco com os fiéis chilenos, no parque intitulado a um dos Pais fundadores do Chile, e ocupando no centro de Santiago uma área de 770mil m². Segundo as autoridades, 400 mil pessoas participaram da celebração.

A multidão que seguia Jesus, encontra em seu olhar “o eco das suas buscas e aspirações, disse o Papa no início de sua homilia. De tal encontro, nasce este elenco de Bem-aventuranças, o horizonte para o qual somos convidados e desafiados a caminhar”.

“A primeira atitude de Jesus é ver, fixar o rosto dos seus, observou o Papa, referindo-se ao Evangelho de Mateus. Aqueles rostos põem em movimento o entranhado amor de Deus. Não foram ideias nem conceitos que moveram Jesus; foram os rostos, as pessoas. É a vida que clama pela Vida, que o Pai nos quer transmitir”.

Francisco explica que  as “Bem-aventuranças não nascem de uma atitude passiva perante a realidade, nem podem nascer de um espectador que se limite a ser um triste autor de estatísticas do que acontece”.

“Não nascem dos profetas de desgraças, que se contentam em semear decepções; nem de miragens que nos prometem a felicidade com um «clique», num abrir e fechar de olhos. Pelo contrário”:

“As Bem-aventuranças nascem do coração compassivo de Jesus, que se encontra com o coração de homens e mulheres que desejam e anseiam por uma vida feliz; de homens e mulheres que conhecem o sofrimento, que conhecem a frustração e a angústia geradas quando «o chão lhes treme debaixo dos pés» ou «os sonhos acabam submersos» e se arruína o trabalho duma vida inteira; mas conhecem ainda mais a tenacidade e a luta para continuar para diante; conhecem ainda mais o reconstruir e o recomeçar.

E “como é perito o coração chileno em reconstruções e novos inícios!”, exclamou o Papa, “vocês são peritos em se levantar depois de tantas derrocadas! A este coração, faz apelo Jesus; para este coração são as Bem-aventuranças!”

Francisco prossegue explicando que “as Bem-aventuranças não nascem de atitudes de crítica fácil nem do «palavreado barato» daqueles que julgam saber tudo, mas não querem se comprometer com nada nem com ninguém, acabando assim por bloquear toda a possibilidade de gerar processos de transformação e reconstrução nas nossas comunidades, na nossa vida”.

"As Bem-aventuranças nascem do coração misericordioso, que não se cansa de esperar; antes, experimenta que a esperança «é o novo dia, a extirpação da imobilidade, a sacudidela duma prostração negativa», enfatizou, usando uma frade de Pablo Neruda.

Francisco explica que quando Jesus diz bem-aventurado “o pobre, o que chorou, o aflito, o que sofre, o que perdoou, vem extirpar a imobilidade paralisadora de quem pensa que as coisas não podem mudar, de quem deixou de crer no poder transformador de Deus Pai e nos seus irmãos, especialmente nos seus irmãos mais frágeis, nos seus irmãos descartados”:

“Jesus, quando proclama as Bem-aventuranças vem sacudir aquela prostração negativa chamada resignação que nos faz crer que se pode viver melhor, se evitarmos os problemas, se fugirmos dos outros, se nos escondermos ou fecharmos nas nossas comodidades, se nos adormentarmos num consumismo tranquilizador. Aquela resignação que nos leva a isolar-nos de todos, a dividir-nos, a separar-nos, a fazer-nos cegos perante a vida e o sofrimento dos outros”.

“As Bem-aventuranças são aquele novo dia para quantos continuam a apostar no futuro, continuam a sonhar, continuam a deixar-se tocar e impelir pelo Espírito de Deus.

“Bem-aventurados vocês que se deixam contagiar pelo Espírito de Deus, lutando e trabalhando por este novo dia, por este novo Chile, porque vosso será o reino do Céu”, disse o Papa aos fiéis chilenos.

Francisco ressalta que perante a resignação que, “como uma rude zoada, mina os nossos laços vitais e nos divide, Jesus nos diz: bem-aventurados aqueles que se comprometem em prol da reconciliação”:

“Felizes aqueles que são capazes de sujar as mãos e trabalhar para que outros vivam em paz. Felizes aqueles que se esforçam por não semear divisão. Desta forma, a bem-aventurança faz-nos artífices de paz; convida a empenhar-nos para que o espírito da reconciliação ganhe espaço entre nós. Queres ser ditoso? Queres felicidade? Felizes aqueles que trabalham para que outros possam ter uma vida ditosa. Queres paz? Trabalha pela paz.”

Francisco disse não poder deixar de evocar “o grande Pastor que teve Santiago” – referindo-se ao Cardeal Raúl Silva Henríquez Silva – que em um Te Deum disse «“Se queres a paz, trabalha pela justiça” (...). E se alguém nos perguntar: “Que é a justiça?” ou se porventura consiste apenas em “não roubar”, dir-lhe-emos que existe outra justiça: a que exige que todo o homem seja tratado como homem».

“Semear a paz à força de proximidade, de vizinhança; à força de sair de casa e observar os rostos, de ir ao encontro de quem se encontra em dificuldade, de quem não foi tratado como pessoa, como um digno filho desta terra. Esta é a única maneira que temos para tecer um futuro de paz, para tecer de novo uma realidade sempre passível de se desfiar”.

O obreiro de paz – observou o Papa - sabe que muitas vezes “é necessário superar mesquinhezes e ambições, grandes ou sutis, que nascem da pretensão de crescer e «tornar-se famoso», de ganhar prestígio à custa dos outros”.

“O obreiro de paz sabe que não basta dizer «não faço mal a ninguém», pois, como dizia Santo Alberto Hurtado: «Está muito bem não fazer o mal, mas está muito mal não fazer o bem».

“Construir a paz é um processo que nos congrega, estimulando a nossa criatividade para criar relações capazes de ver no meu vizinho, não um estranho ou um desconhecido, mas um filho desta terra”.

Que a Virgem Imaculada “nos ajude a viver e a desejar o espírito das Bem-aventuranças, para que, em todos os cantos desta cidade, se ouça como um sussurro: «Bem-aventurados os obreiros de paz, porque serão chamados filhos de Deus».

Após a homilia, o Papa Francisco coroou a Imagem da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo.

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