Após tragédia, Brumadinho ainda sofre com os impactos ambiental e humano

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13 de novembro de 2019

Quase dez meses depois, os moradores do município de Brumadinho (MG) ainda vivem sob o impacto do rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, que ocorreu em 25 de janeiro, deixando 252 mortos e 18 desaparecidos. 
Padre Renê Lopes, Pároco da Paróquia São Sebastião, em Brumadinho, descreve o trauma sofrido pelos moradores como o identificado em populações de países atingidos por guerras. “Estamos vivendo em uma cidade em clima de pós-guerra ou ainda em guerra”, afirmou, em entrevista à rádio 9 de Julho
Além do impacto ambiental e estrutural causado pela lama e rejeitos de minério que devastaram a região, a população sofre com o impacto psicológico decorrente da tragédia. “Ainda estamos vivenciando esse processo de reconceituação, de reconstrução da nossa cidade, não só no seu aspecto estrutural e ambiental, mas, sobretudo, no seu aspecto emocional e espiritual”, destacou o Pároco. 

ATUAÇÃO DA IGREJA

Nesse sentido, a Igreja tem desempenhado um papel fundamental no atendimento à população. “Nosso posicionamento como Igreja continua o mesmo de quando ocorreu o rompimento da barragem. Estamos sempre prontos para acolher, amparar e encaminhar as demandas que chegam até nós”, explicou Padre Renê. 
Também segundo o Sacerdote, os familiares das vítimas e os sobreviventes ainda apresentam resistência para aceitar o auxílio psicológico oferecido pelo poder público. Contudo, uma das poucas instituições com a qual eles têm abertura é a Igreja. Por isso, a Arquidiocese de Belo Horizonte tem acompanhado os diversos âmbitos de atuação em relação à tragédia, a fim de estabelecer o diálogo entre as vítimas, o poder público e a mineradora responsável pela barragem. “Buscamos ser porta-vozes do nosso povo que, muitas vezes, não tem condições de falar e se expressar”, afirmou o Pároco. 

DEPRESSÃO E SUICÍDIO

Padre Renê alertou, ainda, para o crescimento dos casos de depressão e outros transtornos psiquiátricos, além de muitos casos de tentativa de suicídio. Tal informação foi confirmada por um levantamento da Secretaria Municipal de Saúde de Brumadinho. 
“Tanto em Brumadinho quanto no Vale do 
Paraopeba, já havia um índice de pessoas com depressão e tentativas suicídio. Hoje, porém, com toda essa situação, verificamos um número maior desses acontecimentos. Eu já acompanhei alguns casos, cheguei a impedir situações que já estavam para se consumar e, felizmente, conseguimos reverter alguns quadros”, acrescentou o Pároco. 
“Como Igreja, nós, padres, diáconos e demais lideranças pastorais, temos ficado muito atentos a isso, principalmente quando algum parente, amigo, nos relata casos. Nós vamos atrás para estar próximos, para tentar mudar esse cenário”, continuou o Padre. 
Além do atendimento espiritual e pastoral, os agentes da Paróquia buscam encaminhar essas pessoas para o serviço de atendimento psicológico oferecido pelo poder público. Contudo, Padre Renê reconhece que nem sempre há abertura desses fiéis para uma ajuda profissional. “É preciso que tudo aconteça no tempo da pessoa que necessita dessa ajuda. Por isso, acompanhamos com proximidade a cada um”, destacou. 

MINERADORAS INDICIADAS

No dia 5, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados que investiga a tragédia em Brumadinho aprovou o indiciamento da mineradora Vale, da companhia alemã Tüv Süd e de mais 22 pessoas das duas empresas por homicídio doloso, lesão corporal dolosa e poluição ambiental por rejeitos minerais, com sérios danos à saúde humana e ao meio ambiente, além de destruição de área florestal considerada de preservação permanente.
O relatório final da CPI foi entregue ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG). Com a entrega, a expectativa da força-tarefa é fazer ajuizamento da ação penal ainda este ano contra os envolvidos.
Por meio de nota, a Vale afirma que “respeitosamente discorda da sugestão de indiciamento de funcionários e executivos da companhia”. 
“A Vale considera fundamental que haja uma conclusão pericial, técnica e científica sobre as causas do rompimento da barragem B1 antes que sejam apontadas responsabilidades”, completa a nota.  

INCONSISTÊNCIAS

Na mesma data, a Agência Nacional de Mineração (ANM) divulgou um relatório técnico final que aponta ao menos cinco inconsistências entre as informações prestadas pela empresa Vale ao longo de 2018 e a situação verificada pela agência após o rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão. 
A ANM emitiu 24 autuações à Vale e vai encaminhar o relatório à Polícia Federal, à Controladoria-Geral da União (CGU), ao Tribunal de Contas da União (TCU) e ao Ministério Público Federal (MPF).    
Entre as “discrepâncias“, técnicos da ANM indicam que “algumas informações importantes que constavam no sistema interno e nas fichas de inspeção no campo da Vale não eram as mesmas inseridas no SIGBM [Sistema Integrado de Gestão de Segurança de Barragens de Mineração], o que impediu que o sistema alertasse os técnicos de situação com potencial comprometimento da segurança da estrutura”, indica nota da ANM.

PROCESSOS

Em julho, a Vale foi condenada pela primeira vez a reparar danos provocados pela tragédia em Brumadinho na Justiça estadual. Para garantir a reparação, a Justiça manteve o bloqueio de R$ 11 bilhões e autorizou que metade deste valor seja substituída por outras garantias, como fiança bancária ou depósito em juízo.
A mineradora também responde a processo no Tribunal Regional do Trabalho. Na esfera trabalhista, já foi determinado o bloqueio de R$ 1,6 bilhão para garantir as indenizações dos funcionários e familiares, contudo ainda não há condenação.

AÇÕES DE REPARAÇÃO

Em setembro, a Vale publicou um relatório no qual apresenta um balanço das ações de reparação realizadas pela empresa na região desde a tragédia.  
Logo após o rompimento, a empresa implantou postos de atendimento médico e assistência humanitária. Ao todo, foram realizados 12 mil atendimentos médicos e acolhimentos psicossociais. 
Ainda segundo a mineradora, 90 pessoas foram encaminhadas para moradias temporárias custeadas pela Vale. Até agosto, a empresa distribuiu 250 milhões de litros de água para consumo humano, animal e para a irrigação agrícola em 19 municípios da região. 
A Vale também estruturou o Programa de Assistência Integral aos Atingidos. A participação no programa é voluntária e voltada às pessoas que já estão recebendo as indenizações individuais. 

APOIO AO MUNICÍPIO 

A Vale também informou ter prestado apoio ao município de Brumadinho com a ajuda financeira de R$ 80 milhões; pagamento de R$ 14,5 milhões para campanha publicitária de incentivo ao turismo na região; investimento de R$ 2,6 milhões para a compra de equipamentos emergenciais e contratação de profissionais de saúde e da área psicossocial. Também por meio de acordo com a Prefeitura, a empresa disponibilizou R$ 30 milhões para a assistência social e saúde aos atingidos pelo rompimento da barragem. 
O relatório da Vale aponta, ainda, ações voltadas para a recuperação do meio ambiente, como a instalação de pontos de monitoramento diário da qualidade do Rio Paraopeba; a implantação de uma estação de tratamento de água fluvial, na região de Alberto Flores (MG), que já devolveu mais de 1 bilhão de litros de água para o rio. 
Também foram realizadas obras emergenciais para a contenção e remoção de rejeitos, drenagem de parte da área do Rio Paraopeba e o sistema de abastecimento de água na região. 

INDENIZAÇÕES

A Vale informou que já assinou 500 acordos de indenização individual ou em grupo, envolvendo 1,1 mil beneficiários e o pagamento de R$ 172 milhões. Outros 460 acordos de indenizações trabalhistas foram fechados. Eles se referem a 182 vítimas da tragédia e recompensaram 1,3 mil pessoas, provavelmente familiares. São R$ 432 milhões de indenização a indivíduos e R$ 400 milhões coletivos.
A mineradora mencionou, ainda, uma indenização emergencial de R$ 840 milhões a serem pagos a 107 mil pessoas até janeiro de 2020.

CONQUISTA DA POPULAÇÃO

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) destaca que, além da destruição ambiental e das perdas humanas, a tragédia desestruturou a economia local. Por causa disso, a Justiça entendeu a necessidade de acordo sobre o auxílio financeiro emergencial – que está caracterizado por um salário mínimo por adulto, meio para adolescentes (12 a 17 anos) e um quarto para crianças, no período de um ano. Tem direito ao auxílio todos os moradores de Brumadinho, além dos habitantes no raio de um quilômetro da margem do Rio Paraopeba até a cidade de Pompeu, na represa do Retiro Baixo.
O coordenador nacional do MAB, Pablo Dias, considera que o pagamento do auxílio nestes termos representa uma conquista em face do conceito mais amplo sobre os atingidos por barragens – que não são apenas aqueles que estão na zona quente nas proximidades da barragem, mas sim todos os que são verdadeiramente afetados, sofrendo impactos diretos e indiretos do crime.
Atualmente, o MAB já atua em favor dos atingidos de 15 municípios ao longo da bacia do Rio Paraopeba.  
 

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A tristeza do Papa pelo pai e a filha que morreram no Rio Grande

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26 de junho de 2019

Tristeza imensa e dor profunda. Assim disse o Papa Francisco, segundo o diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti, depois de ver a imagem do pai e sua filha mortos afogados no Rio Grande, enquanto tentavam atravessar a fronteira entre México e Estados Unidos.

Gisotti explicou aos jornalistas que “o Papa está profundamente entristecido com a morte deles, reza por eles e por todos os migrantes que perderam suas vidas tentando fugir da guerra e da pobreza”.

Angie Valeria como Aylan

A calça de Angie Valeria são da mesma cor da camisa de Aylan. Não é só o vermelho que liga essas pequenas vidas ceifadas. Por trás deles está o desejo dos pais de oferecer um futuro diferente, há um drama da imigração que perdura há anos e que o Papa Francisco não para de denunciar, buscando sempre acender uma luz sobre as fadigas e o desespero de homens e mulheres que fogem em busca de uma vida melhor. Em 2 de setembro de 2015, a imagem de Aylan Kurdi, menino morto afogado que foi encontrado na praia turca de Bodrum, causou emoção e indignação. Hoje, os mesmos sentimentos são para Angie Valeria, de 2 anos, que morreu com o seu pai, Oscar.

Em fuga de El Salvador

Oscar Alberto Martínez, segundo a reconstrução da jornalista Julia Le Duc que tirou a foto publicada no jornal mexicano “La Jornada”, aguardava asilo há dois anos. Tinha feito o pedido às autoridades estadunidenses.  

No domingo, ele partiu junto com a menina e sua esposa Tania Vanessa Ávalos. Queria atravessar o rio e entrar em Brownsville, no Texas. Oscar e Angie Valeria conseguem chegar à margem, mas Vanessa fica para trás. Então, ele volta para pegá-la depois de deixar a menina do outro lado do Rio, mas a criança se jogou na água para seguir seu pai. A correnteza os envolveu, levando embora seus sonhos, esperanças e planos futuros diante dos olhos de uma mãe que, do outro lado, viu tudo e permaneceu com o coração despedaçado.

Uma viagem muito arriscada

Os corpos serão repatriados nos próximos dias, enquanto o Ministério das Relações Exteriores de El Salvador convidou a não se arriscar numa viagem tão difícil. Outras 4 pessoas foram encontradas mortas perto do Rio Grande. Trata-se de uma mulher jovem, duas crianças e um recém-nascido. As autoridades afirmam que as vítimas provavelmente morreram de desidratação e exposição ao calor excessivo.

Uma crise formada de rostos, histórias, nomes e famílias

Em fevereiro de 2016, o Papa Francisco celebrou uma missa em Ciudad Juarez, na fronteira entre México e Estados Unidos, com os fiéis de ambos os lados do muro que os divide.

Naquela dia, o Pontífice, em sua homilia, lembrou que não se pode negar “a crise humanitária que nos últimos anos significou a migração de milhares de pessoas, seja de trem, de carro ou mesmo a pé, atravessando centenas de quilômetros por montanhas, desertos e estradas rudes”.

“Essa tragédia humana que a migração forçada representa é um fenômeno global nos dias de hoje. Essa crise, que pode ser medida em números, queremos que seja medida com nomes, histórias e famílias. São irmãos e irmãs que partem, movidos pela pobreza e violência, pelo narcotráfico e pelo crime organizado.”

Francisco pediu para rezar a fim de pedir a Deus “o dom da conversão, o dom das lágrimas”. “Nunca mais morte e exploração! Há sempre tempo para mudar, há sempre uma saída e há sempre uma oportunidade, há sempre tempo para implorar a misericórdia do Pai”, concluiu.

 

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Presos mortos no Amazonas: não foi por falta de aviso

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26 de junho de 2019

As precárias condições nas quatro unidades prisionais do Amazonas onde foram assassinados ao menos 55 detentos nos dias 26 e 27 de maio já haviam sido alertadas ao governo estadual pelo menos desde 2015. 
É o que indica uma nota divulgada no dia 30 pelo Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), órgão criado por lei federal em 2013, composto por especialistas independentes que têm acesso às instalações de privação de liberdade para constatar eventuais violações de direitos humanos. 
No relatório feito em 2015, já se alertava para a superlotação, necessidade de um plano de desencarceramento, falhas na terceirização dos serviços e precariedade dos órgãos periciais para fiscalizar as condições das prisões. Indicativos similares foram feitos em 2017, após a morte de 56 presos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), uma das unidades onde aconteceram as mortes no mês passado.
Em visita ao Compaj no ano passado, o MNPCT e o Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura constataram que “grande parte das recomendações do Mecanismo Nacional não havia sido cumprida e a situação das unidades prisionais havia voltado ao mesmo patamar de descaso, abandono e violência verificado no ano de 2015. Situação que criava um alerta de que mais uma vez poderia acontecer algo de grave no Estado”, informa a nota do MNPCT. 

Cogestão
As quatro unidades onde aconteceram as mortes nos dias 26 e 27 – Compaj, Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), Centro de Detenção Provisória Masculino (CDPM 1) e Unidade Prisional do Puraquequara (UPP) – eram mantidas em sistema de cogestão, em que o governo do Amazonas pagava à empresa Umanizzare pelos serviços de limpeza, alimentação, assistência material, cursos profissionalizantes, suporte psicológico, social, ocupacional, atendimento médico, odontológico, farmacêutico e ambulatorial. 
Na visita realizada em 2018, “a mesma empresa gestora continuava atuando sem fiscalização adequada e sem nenhuma responsabilização pela gestão temerária do sistema”, constatou o MNPCT.
Três dias antes das primeiras mortes, o Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, ao acolher um pedido do Ministério Público Estadual, determinou que o governo não renovasse os contratos com a Umanizzare, pois se constatou que esta descumpria com suas obrigações contratuais e falhava na segurança interna das unidades prisionais. Em nota à imprensa, a Umanizzare informou que a segurança interna e externa das unidades é de responsabilidade da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária. 

Pós-tragédia
Em 28 de maio, o Governo do Amazonas informou que não fará a renovação do contrato, encerrado em 1º de junho, e que já iniciou o processo de licitação para a contratação de outra empresa. Também foram anunciadas a aquisição de equipamentos de comunicação e inteligência, as adequações estruturais nas unidades prisionais, a prorrogação, por 12 meses, da permanência da Força Nacional de Segurança no Estado, presença da Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária e a transferência, para presídios federais, dos detentos mandantes ou executores das mortes.
    
Uma boa alternativa?
A concessão parcial ou total à iniciativa privada da gestão ou serviços das unidades prisionais surgiu nos Estados Unidos. A ideia básica é que com unidades prisionais em boas condições de manutenção, sem superlotação e com presos a realizar atividades cotidianas, se consiga melhor êxito no processo de ressocialização dos detentos. No começo dos anos 2000, o modelo de terceirização de serviços chegou ao Brasil. Em 2013, foi inaugurado o primeiro presídio totalmente gerido pela iniciativa privada, em Ribeirão das Neves (MG). Recentemente, também o Governo de São Paulo informou que oferecerá à iniciativa privada a gestão compartilhada de quatro centros de detenção provisória (CDPs), que serão inaugurados ainda este ano no interior paulista.

Alto custo e degradação
Entre as críticas feitas ao modelo de presídios privatizados está o custo elevado por preso: enquanto, em média, cada detento custa ao Estado R$ 2,4 mil mensais, no Compaj, por exemplo, para o Governo do Amazonas esse valor por preso é de R$ 4,7 mil.
“Mesmo com grandes volumes de verbas, as unidades privatizadas se encontram em condições absolutamente degradantes, e em regra são as famílias que fornecem itens básicos para garantir a sobrevivência das pessoas encarceradas”, posicionou-se a Pastoral Carcerária, em nota publicada em 29 de maio. 
Em entrevista ao O SÃO PAULO, a Irmã Petra Silvia Pfaller, coordenadora nacional da Pastoral Carcerária, afirmou que as mortes no Amazonas “são mais uma prova que privatizar presídios não é a solução, e que, dentro de uma dinâmica das privatizações, as vidas são tratadas como mercadoria”. Para ela, essas e outras mortes nas prisões “são fruto da superlotação, das torturas e de tantas violações de direitos que são muito comuns dentro do cárcere, e não só no Amazonas”.
Já para o Desembargador Yedo Simões, presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas, tem havido um bom controle das unidades prisionais por parte dos órgãos de segurança amazonenses desde o início de 2019, e as recentes mortes, dentro das celas, inviabilizaram qualquer possibilidade de intervenção imediata. “A intenção dos internos não era fazer reivindicação, não era algum pedido de providência. A questão deles é uma disputa interna, é uma situação atípica”, afirmou em coletiva de imprensa em 29 de maio. 

Falta de fiscalização
Irmã Petra alertou para a dificuldade de se verificar as ações das empresas que atuam nas unidades prisionais. “As restrições para fiscalizar o contrato são muito grandes: o Poder Judiciário não entra nas unidades por questões de segurança, o Ministério Público não entra e a sociedade civil não tem o direito de entrar. Inclusive, há enormes restrições à Pastoral Carcerária para fazer visitas religiosas nesses locais”, comentou, enfatizando que a Pastoral propõe uma agenda nacional pelo desencarceramento, que pode ser lida em www.carceraria.org.br.

Mudança na legislação
Conforme dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), divulgados em 2017, há 726.712 pessoas presas no Brasil. Trata-se da terceira maior população carcerária do mundo e que pode ser ainda maior, pois, segundo a ONG internacional Human Rights Watch, ao fim de 2018 havia 840 mil presos no País. 
Para reverter esse cenário, além dos diferentes planos de ação do Poder Executivo, já foi aprovado pelo Senado um Projeto de Lei (PLS 513/2013) para mudanças na Lei de Execução Penal (Lei 7.210/1984). No entanto, a tramitação está parada na Câmara dos Deputados. 
Entre as mudanças propostas pelo projeto de lei para reduzir a superlotação carcerária estão: informatização do acompanhamento da execução penal; progressão antecipada de regime em caso de superlotação da unidade; possibilidade de cumprimento de pena em estabelecimentos da sociedade civil, como as Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (APACs); e a realização de mutirões carcerários para analisar o processo dos presos sempre que a unidade prisional atingir o limite de sua lotação. 

(Com informações de Politize!, BBC, Agência Brasil, Agência Senado e G1)

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Há 70 anos, uma tragédia para o Torino e para a história do futebol

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18 de mai de 2019

As lembranças do dia 4 de maio de 1949 comovem os italianos mesmo após 70 anos da tragédia de Superga, como ficou conhecida. O Torino, tradicional equipe do futebol italiano, considerada uma das melhores do mundo na época, teve sua trajetória interrompida por volta das 17h daquele dia nublado em Turim.

O avião que transportava o elenco, comissão técnica, dirigentes e jornalistas se chocou contra a Basílica de Superga, e todos a bordo morreram. O episódio jamais foi superado pelos italianos e, todo dia 4 de maio, uma missa no local do acidente lembra os falecidos, e centenas de pessoas realizam homenagens em frente ao monumento dedicado aos mortos.

 

GRANDE TORINO

O futebol foi um refúgio para os italianos após as destruições no País em decorrência da 2ª Guerra Mundial. O esporte foi um grande motivo de alegria durante a reconstrução do País. Os Touros, que eram comandados pelo craque Valentino Mazolla, encantavam com seu jogo ofensivo e muita velocidade que conquistavam seus torcedores.

“Este 4 de maio é uma data que, mesmo após 70 anos, ainda machuca o torcedor italiano e quem ama o futebol. A tragédia de Superga mudou toda a história do futebol, não só no aspecto do jogo, mas da filosofia de estilo, da tática e de números que mostravam a evolução do futebol”, disse Rafael de Carvalho, historiador e torcedor do Torino em entrevista ao O SÃO PAULO.

O clube foi pentacampeão italiano (1945–46, 1946–47, 1947–48, 1948–49), o último título dado pela Federação Italiana em homenagem aos falecidos no acidente. A equipe, também, era a base da seleção nacional: “Quando eu dizia que essa tragédia mudou a história do futebol mundial é porque o Torino tinha 11 jogadores na seleção italiana, e dez deles eram titulares. Era uma base muito forte, ouso até dizer que se não tivesse acontecido a tragédia, a história da Copa do Mundo de 1950 teria sido muito diferente”, afirmou Rafael.

 

TRAGÉDIA INSUPERÁVEL

Em 27 de fevereiro de 1949, Itália e Portugal se enfrentaram em Gênova, para um jogo amistoso. Foi nessa ocasião que Valentino Mazzola (Torino) e Francisco Ferreira (Benfica), respectivos capitães das duas seleções e de seus clubes, marcaram no amistoso.

O jogo, em 3 de maio daquele ano, em Portugal, terminou com a Vitória do Benfica por 4 a 3. Na manhã seguinte, os italianos embarcaram e, às 13h, reabasteceram em Barcelona, na Espanha. Quatro horas depois, problemas meteorológicos obrigaram o avião a iniciar o processo de aterrissagem em Turim. Durante a manobra, a aeronave se chocou com a Basílica de Superga e toda a tripulação a bordo morreu.

 

PADRE LOMBARDI

O Padre Federico Lombardi, Ex-Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, na época da tragédia de Superga, tinha 6 anos e meio de idade. As lembranças daquele 4 de maio de 1949 emergem em suas palavras: “Eu me lembro que era um dia com mau tempo, era tarde e esta notícia dramática se espalhou como um raio”, disse em entrevista ao Vatican News.

O Sacerdote também recordou que o processo de reconstrução não foi apenas esportivo, pois Turim era uma cidade renascida da guerra e tinha o clube como inspiração e símbolo de força.

“A morte é certamente o destino comum, quando chega de forma trágica e súbita, como nesse caso, percebe-se que há grandes coisas que duram e, portanto, fazem você imaginar, pensar, que a morte não é a última palavra. É positivo, porque é um sinal de que, apesar da morte física, há coisas que duram e vão além”, concluiu Padre Lombardi.

 

LEGADO

O processo de reconstrução foi muito difícil, tanto da equipe quanto do povo italiano. Muitos clubes da Itália e outros europeus, como o Benfica, ajudaram nesse processo. A Seleção Italiana na Copa de 1950, no Brasil, não passou da primeira fase. O Torino só voltou a ser campeão em 1968 da Copa da Itália, e o jejum da série A terminou 27 anos depois, na temporada de 1975/76.

Segundo Rafael, o grande legado do clube foi sua evolução tática, além da contribuição para a Seleção Italiana. O método de contratação com inteligência também era uma marca da equipe, que procurava nos jogadores as características específicas do clube. “O Torino teve cinco técnicos que trabalharam e, a cada ano, foram aperfeiçoando o time. É curioso que, nos cinco títulos italianos do Torino, trocou-se de técnico, porque eles não queriam cair na mesmice, queriam evoluir cada vez mais”, conclui.

 

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Tragédia em Suzano (SP): Cardeal Scherer condena ‘violência irracional’

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21 de março de 2019

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu missa na Catedral da Sé, na segunda-feira, 18, pelas vítimas do ataque à Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), ocorrido no dia 13.

Na Eucaristia, foram recordados os dez mortos e 11 feridos na tragédia que abalou o Brasil. Os ex-alunos Guilherme Taucci Monteiro, 17, e Luiz Henrique de Castro, 25, invadiram a escola armados e mataram sete pessoas, sendo cinco estudantes e duas funcionárias do colégio. Em seguida, um dos assassinos atirou no comparsa e, então, cometeu suicídio. Pouco antes do massacre, a dupla havia matado o proprietário de uma loja da região.

 

QUAIS AS MOTIVAÇÕES?

Na homilia, Dom Odilo expressou solidariedade aos familiares que perderam seus entes e manifestou “firme e clara condenação deste e de outros tipos de atos semelhantes de violência irracional”.

“O que leva alguém a atentar contra a pessoa do próximo sem motivo, a ponto de lhe tirar a vida ou feri-la gravemente? O que leva a isso? Quais são as motivações? Isso é sintoma de algo muito mais grave, que talvez esteja mais difundido do que possamos imaginar”, afirmou.

 

RECUPERAR VALORES

Dom Odilo destacou que a sociedade está doente e que “o vírus da violência e do ódio contagiante” tomou conta da sociedade. “A sociedade está doente de desrespeito à dignidade da pessoa do próximo. Doente porque perdeu o rumo, os valores a partir dos quais é possível edificar a convivência, a paz, o respeito e a dignidade humana”, acrescentou.

Por outro lado, Dom Odilo afirmou que a boa saúde da sociedade está nos valores bons e altos. “O remédio será voltar aos verdadeiros valores humanos, éticos e morais, que se traduzem na justiça, nas relações sociais, no respeito profundo à dignidade de cada pessoa”, frisou.

 

MISERICÓRDIA

O Cardeal chamou a atenção para o trecho do Evangelho proclamado na missa do dia, no qual Jesus diz aos discípulos: “Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados”(Lc 6,36-37).

“Jesus ensina a humanidade a curar o coração, a vida, a convivência social mediante uma atitude positiva, não simplesmente de não violência, mas de misericórdia e compaixão”, assinalou.

 

VALORIZAR A PESSOA

Nesse sentido, Dom Odilo reforçou que é preciso recuperar a capacidade de valorizar a pessoa humana. “Temos que recuperar a capacidade de nos sentirmos feridos quando outra pessoa é ferida, de nos sentirmos injustiçados quando sabemos que alguém é injustiçado, vítima de violência, de difamação, de calúnia”, continuou.

Para isso, o Cardeal salientou que é necessária a atitude de não cooperar com o projeto de violência, de educação negativa para violência e, ao contrário, alimentar a mente e as motivações com “alimento bom”.

“Sabemos que tudo isso não se resolve com palavras. Requer grande esforço, uma motivação muito forte de toda a comunidade, de toda a sociedade para mudar o rumo de certos acontecimentos e tendências que estão por aí, que são sintomas de uma sociedade que padece”, concluiu Dom Odilo.

 

REABERTURA DA ESCOLA

Na terça-feira, 19, a escola foi reaberta para os alunos participarem livremente de atividades de acolhimento e preparação psicológica, com o apoio de várias secretarias do Governo de São Paulo e da Prefeitura de Suzano, além de profissionais do Instituto de Psicologia da USP, Unicamp, Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), entre outras instituições.

Com o objetivo de mudar o ambiente escolar, toda a estrutura interna já está sendo pintada e revitalizada. Ainda não há previsão do retorno das aulas.
 

FALECIDOS

Caio Oliveira, 15, estudante

Claiton Antonio Ribeiro, 17, estudante

Douglas Murilo Celestino, 16, estudante

Samuel Melquíades Silva de Oliveira, 16, estudante

Eliana Regina de Oliveira Xavier, 38, agente de organização escolar

Marilena Ferreira Vieira Umezo, 59, coordenadora pedagógica

Jorge Antônio de Moraes, 51, comerciante (tio de Guilherme), morto fora da escola

Guilherme Taucci Monteiro, 17, atirador

Luiz Henrique de Castro, 25, atirador

 

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Após tragédia, clubes da Capital buscam regularizar situação de alojamentos

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02 de março de 2019

O incêndio que atingiu o alojamento das categorias de base do Flamengo, no Centro de Treinamento do Ninho do Urubu, ficou marcado como a maior tragédia da história do clube. Dez promissores jovens, de 14 a 16 anos, morreram e tiveram suas carreiras interrompidas de forma precoce. Investigações preliminares apontam que o incêndio teria começado em um equipamento de ar-condicionado.

Segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, o CT do Flamengo não tinha alvará de funcionamento, pois faltava o laudo do Corpo de Bombeiros. Como o espaço continuou a funcionar, a Prefeitura multou o clube 30 vezes e decidiu interditar o local que, apesar disso, manteve suas atividades normalmente.

 

PREOCUPAÇÃO EM SP

A Prefeitura de São Paulo, por meio das Secretarias de Esportes e Lazer, Urbanismo e Licenciamento, das Subprefeituras e de Justiça, criou uma força-tarefa para verificar as condições de segurança nos alojamentos de atletas em clubes da Capital, por meio de ação fiscalizatória e vistorias técnicas de segurança.

No dia 12, foi anunciado um prazo de 90 dias para realizar um processo de inspeção, avaliação e, se for o caso, de interdição dos locais inadequados. A medida foi anunciada após uma reunião com representantes do Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Portuguesa, Nacional, Juventus e da Federação Paulista de Futebol (FPF).

Durante as vistorias, serão observadas todas as medidas de segurança dentro das edificações, tanto na construção quanto nas adaptações. Segundo a Prefeitura, a fiscalização será estendida aos clubes menores que também abrigam atletas em alojamentos ou residências.

 

ALOJAMENTOS IRREGULARES

O Corinthians abriga seus atletass com idades entre 14 e 17 anos, em uma casa utilizada como alojamento na região do Parque São Jorge, zona Leste de São Paulo. O local não possui o laudo de segurança do Corpo de Bombeiros para abrigar os adolescentes. O clube prometeu regularizar a situação sem retirar os atletas do local.

“A moradia, limitada a 35 adolescentes, passa por algumas adaptações - como a instalação de aspersores de água “sprinklers - de forma a adequá-la, em dez dias, à categoria da licença obtida para uso do local”, disse o clube em nota oficial.

O Palmeiras também utilizava casas para alojar os atletas de sua categoria de base nos arredores do Allianz Parque, zona Oeste da Capital. Após a notificação da Prefeitura, o clube retirou os garotos do local, e os transferiu para hotéis e se comprometeu adequar-se ao que solicitam os órgãos competentes.

“O Palmeiras decidiu hospedar os atletas das categorias de base em um hotel da Capital Paulista. O Departamento de Futebol Profissional também seguirá as instruções dos órgãos pertinentes, com as respectivas orientações técnicas de adequações que vierem a ser solicitadas”, destacou o clube em nota.

 

FALTA DOCUMENTAÇÃO

O Centro de Treinamento do São Paulo em Cotia, onde ficam alojados os atletas de base do clube, está em dia com a documentação de segurança. Porém, o Tricolor Paulista está em processo de regularização do seu CT na Barra Funda, na zona Oeste da Capital, usado pela equipe profissional.

“A Diretoria de Infraestrutura do São Paulo Futebol Clube informa que tem em curso o processo de renovação da documentação pertinente ao CT da Barra Funda e que tem vigentes os documentos que se referem ao CFA [Centro de Formação de Atletas] de Cotia”, disse em nota

No dia 14, uma parte do centro de treinamento da Portuguesa foi interditada em razão da falta de segurança nas instalações. Em nota, a Lusa informou que não tinha nenhum atleta de base alojado, mas, por precaução, três profissionais foram retirados do alojamento após notificação da Prefeitura. O clube admite que não possui todos os documentos e promete adaptar- -se à legislação em vigor

O Juventus recebeu a equipe da Prefeitura e em nota informou que “não foram observadas condições que pudessem ser caracterizadas como risco iminente de incêndio”. Porém, algumas irregularidades foram constatadas e o clube promete regularizar. A assessoria de imprensa do Nacional foi procurada pela reportagem, mas não se manifestou.

(Com informações da Prefeitura de São Paulo, G1 e Agência Brasil)
 

 

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Vale de ganância e sangue! Vai continuar?

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01 de março de 2019

O país mais uma vez é abalado pela repetição de um crime/tragédia no estado de Minas Gerais. Há pouco mais de três anos, em Mariana, a Samarco, a Vale e a PHbP Biliton destruíram a bacia do Rio Doce. O crime causou danos gigantescos a todo um ecossistema e também aniquilou muitos sonhos, além de ceifar a vida de muitas pessoas. Será que vamos permitir que a Vale, movida pela ganância, e todas as outras mineradoras continuem manchando de lama, o território brasileiro?

Novamente a Vale mostra a forma irresponsável como trata o meio ambiente e as pessoas. Revela que seu compromisso é com o lucro. Assim explora indiscriminadamente os bens naturais, privatiza a riqueza e gera enormes sofrimentos para a população. Nesse sentido, ao abordar o cuidado com a casa comum, na Encíclica Laudato Si’, o Santo Padre, Francisco, evocando o canto de São Francisco de Assis, ressalta que a nossa casa comum, pode ser comparada, ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora uma boa mãe, que nos acolhe em seus braços. No documento, o Santo Padre alerta sobre a força ameaçadora da destruição em nosso planeta, conforme trecho, abaixo, transcrito na íntegra.

Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra- se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que «geme e sofre as dores do parto» (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos (Carta Encíclica Laudato si’, do Santo Padre Francisco, sobre o cuidado da casa comum).

Face à gigantesca tragédia ambiental, que recaiu sobre Minas, de impactos profundos à casa comum, as palavras do nosso Papa se fazem tão oportunas e necessárias para refletirmos sobre nossa realidade. Se a casa é comum, por que permitimos que a natureza, dom de Deus, seja tratada de forma tão agressiva, sobretudo, pelas mãos de quem gera pobreza, marginalização e exploração dos nossos irmãos trabalhadores das minas?

O discurso veiculado pela mídia e pelos Governos, bancado pelas grandes empresas de mineração, diz que estes empreendimentos geram progresso, empregos, desenvolvimento e riqueza para a região. Sendo assim, perguntamos: que riqueza é essa? Que tipo de desenvolvimento esse modelo de mineração promove para a população? O que enxergamos são os lucros das empresas: riqueza para a Vale e seus associados, aumento progressivo dos crimes ambientais, alarmantes surtos de doenças infecciosas e psicológicas, muitas vidas soterradas e ainda, a impunidade dos responsáveis.

As tragédias/crimes em Mariana e Brumadinho mostram a falência do sistema vigente quanto ao processo de “regulação” do setor minerário. O licenciamento ambiental apenas promove a legalidade das empresas, autorizando formas de exploração que são verdadeiras catástrofes.

Todo o sistema deve ser repensado. A lei e a ação do Estado, de forma urgente, devem ser reestruturadas para garantir à população uma relação equilibrada com a natureza.

O Rio Paraopeba, agora morto, é responsável por 40% das águas do reservatório de Três Marias. Ele é um dos principais afluentes do Rio São Francisco, que há muito tempo vem sendo castigado pela poluição, além da superexploração de suas águas, que mesmo degradadas, continuam gerando vida ao povo ribeirinho. Como nos mostra a Cartilha Ecológica do Rio São Francisco da CNBB, a vocação do Velho Chico, para o consumo humano e dessedentação animal, vem sendo sistematicamente substituída pela obtenção do lucro, para atender os interesses do governo e das empresas. Agora o Rio São Francisco, rio da integração nacional, vê-se ameaçado pela lama tóxica e criminosa da Vale, que, ora escorre sobre seu leito, o rejeito da mineração, podendo tornar suas águas impróprias, não somente para o consumo humano e animal, mas causar enormes danos às populações que vivem da pesca e da agricultura de vazantes.

Desse modo, a indignação se faz ainda maior, tendo em vista que, após o crime em Mariana, cometido pelas mineradoras BHP/VALE/Samarco, nenhuma providência efetiva foi tomada para segurança dessas barragens. Ao contrário disso, as explorações foram facilitadas, os lucros garantidos e o mais inaceitável, o Estado além de conivente, é promotor deste modelo de exploração. Ao construir o padrão de barragens a montante, as empresas optam pelo modelo mais barato e menos seguro que existe, colocando vidas em risco, podendo a qualquer instante eliminar do mapa, cidades e ecossistemas inteiros.

O momento é de ação! De muita luta e de conclamação para um limiar de novos tempos, para que o direito do povo, dos animais e da natureza não seja completamente suplantado em detrimento da acumulação desenfreada do lucro. Exigimos que informações, acerca da qualidade das águas do Rio Paraopeba, sejam levantadas por uma entidade autônoma e divulgadas, assim como as soluções sejam apresentadas e executadas, a fim de que a contaminação não chegue ao nosso querido Velho Chico, que não suportará mais tanta agressão. Exigimos um projeto efetivo de revitalização da Bacia do Rio São Francisco, envolvendo comunidades, municípios e estados que são parte da “casa comum”.

Exigimos, ainda, que os atingidos pelos crimes de rompimento das barragens de rejeitos de mineração tenham a devida reparação e que os povos ribeirinhos também sejam considerados atingidos para fins de reparação, na proporção do dano que porventura vier a ocorrer. Que as empresas e o estado tomem todas as medidas necessárias para assegurar a o direito à VIDA.

Exigimos que os complexos minerários em Paracatu, em Riacho dos Machados e em qualquer outra cidade ameaçada sejam, minuciosamente, avaliados quanto ao risco e os atuais impactos que hoje causam. Os territórios das populações tradicionais devem ser livres de mineradoras. Que seja repensado um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil, que leve em conta a natureza e a vida do povo pobre. Um modelo que não dê privilégios a poucos e sofrimento a grande parte da população.

Como nos mostra a Laudato Si’, todas as formas de vida, todos os minerais e processos orgânicos e físicos estão conectados em múltiplas relações interdependentes. Nada na criação divina é supérfluo. Toda ocorrência aos olhos de Deus é dotada de um significado. A produção dos crimes ambientais, de rompimento de barragens serão continuadas se nos mantivermos passivos ou alheios à realidade. Não aceitamos respostas prontas. Não aceitamos que o crime seja tratado como acidente! Foi mais um crime! Não permitiremos a reprodução continuada do crime e dos danos! Exigimos também que a revitalização do Rio Paraopeba seja uma prioridade. Não admitimos que novas barragens se rompam! Que novas licenças ambientais sejam concedidas sem análises criteriosas e debatidas com a população, a qual deve definir sobre o futuro de suas regiões e localidades. Não admitimos, sobremaneira, que o lucro seja privatizado e os prejuízos socializados!

Pelos trabalhadores e trabalhadoras de Brumadinho e por todas as vítimas dessa brutal tragédia criminosa! Por suas famílias em sofrimento!

Por todos os animais e plantas que morreram ou que agonizam nessa perturbação ambiental!

Pelo direito ao funcionamento pleno do ecossistema dos nossos rios e mares!

Proclamamos pelo direito de viver como integrantes da mãe natureza, que nos irmana no nosso grande território coletivo, nossa Casa Comum!

Ao levante dos povos em defesa do Opará, rio mar, Velho Chico! Avante!!!

Januária (MG), 20 de fevereiro de 2019.

Assinam:

1. MPP – Movimento dos Pescadores e Pescadoras do Brasil

2.    CPP – Conselho Pastoral dos Pescadores

3.    CPT – Comissão Pastoral da Terra

4.    CIMI – Conselho Indigenista Missionário

5.    Cáritas Diocesana de Januária/MG

6.    Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais

7.    Cáritas Arquidiocesana de Montes Claros

8.    Pastoral Familiar de Januária

9.    CNLB – Conselho Nacional do Laicato Leste 2

10.    Pastorais Sociais da Arquidiocese de Montes Claros

11.    Franciscanas e Franciscanos

12.    Irmãs da Divina Providência

13.    Associação dos Produtores Rurais da Ilha da Marambaia Pirapora

14.    Associação Quilombola, Pesqueira e Vazanteira de Croatá – Januária MG

15.    Associação Quilombola, Pesqueira e Vazanteira de Cabaceira – Itacarambi MG

16.    Associação Quilombola, Pesqueira e Vazanteira Família Ligia Batista – Pedras de M.da Cruz

17.    Comunidade Vazanteira Pesqueira da Venda

18.    Comunidades do Território Tradicional Geraizeiro do Vale das Cancelas

19.    Comunidade Vazanteira Barrinha

20.    Colônia de Pescadores de Ibiaí – MG

21.    Diocese de Januária

22.    Dom José Moreira – Bispo Diocesano

23.    Colônia de Pescadores Z-36 de Manga – MG

24.    Associação Quilombola, Pesqueira e Vazanteira de Caraíbas – Pedras de M. da Cruz MG

25.    Ponto de Cultura: Centro de Artesanato de Januária MG

26.    Sub regional da Conferência dos Religiosos do Brasil do Norte de Minas

27.    Povo Indígena Xacriabá

28.    EFAT – Escola Família Agrícola Tabocal de São Francisco

29.    Prefeitura Municipal de São Francisco

30.    Câmara de Vereadores de São Francisco

31.    Agência de Desenvolvimento Municipal de São Francisco

32.    Deputada Estadual Leninha Alves de Souza

33.    Deputado Federal Pe. João Carlos Siqueira

34.    CRDH Norte de Minas – Centro de Referência em Direitos Humanos Norte de Minas

35.    Articulação Semiárido Mineiro – ASA Minas

36.    Núcleo do Pequi e outros frutos do cerrado

37.    Articulação Rosalino Gomes de Povos e Comunidades Tradicionais

38.    Associação dos Vazanteiros do Município de Itacarambi

39.    Articulação Vazanteiros em Movimento

40.    Deputado Estadual de Minas Gerais Zé Reis

 

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Brumadinho: ‘Temos que cobrar justiça e a responsabilização dos agentes desta catástrofe’

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07 de fevereiro de 2019

“É preciso reacender a chama da esperança, mesmo que ela tenha sido apagada e agredida com essa catástrofe.” Essas foram as palavras do Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte (MG), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, na quinta-feira, 31 de janeiro, durante a missa de sétimo dia das vítimas do rompimento da barragem de rejeitos da Mina do córrego do Feijão, em Brumadinho, região metropolitana da capital mineira, ocorrido no dia 25.

A igreja matriz da Paróquia São Sebastião ficou lotada para a celebração, tanto que muitos fiéis tiveram que participar da Eucaristia do lado de fora do templo. Até o momento, foram confirmadas 142 mortes e 194 pessoas desaparecidas.

Dom Walmor pediu punição para os “agentes desta catástrofe”. “Nós, como Igreja Católica, e todos os segmentos, temos que cobrar justiça e a responsabilização dos agentes desta catástrofe e promover uma mudança na legislação da mineração em Minas Gerais, senão haverá outras perdas de vidas”, afirmou.

 

SOLIDARIEDADE

Desde o rompimento da barragem, a Arquidiocese de Belo Horizonte tem se mobilizado para dar assistência às vítimas e familiares. Além do lançamento de uma campanha de arrecadação de doações, materiais e dinheiro, as dependências da Paróquia estão sendo usadas para os trabalhos das equipes de resgate.

Para ajudar nos trabalhos, Dom Walmor enviou padres e diáconos de diferentes paróquias da Arquidiocese de Belo Horizonte para Brumadinho.

 

ATENDIMENTO ESPIRITUAL

Em entrevista à rádio 9 de Julho, Padre Renê Lopes, Pároco da Paróquia São Sebastião, afirmou que aconteceram duas tragédias em Brumadinho. “A primeira foi o rompimento da barragem da Mina do Feijão, que causou um ‘rasgo’ no meio ambiente, uma coisa horrorosa de se ver. No entanto, existe uma tragédia muito maior causada no coração de cada família atingida direta ou indiretamente. Pois não existe nenhuma pessoa nesta cidade que não tenha o coração dilacerado. E é essa a ferida que precisamos cuidar e fazer cicatrizar”, disse.

Preocupados com o atendimento humano e espiritual dessas famílias, assim como de todos aqueles que estão trabalhando nas buscas, o Padre Renê reforçou o apelo para um mutirão de atendimento aos fiéis. “Que nenhuma família, em qualquer canto desta cidade, ou até fora dela, fique sem a assistência e a presença da Igreja”, enfatizou.

Dom Vicente Ferreira, Bispo Auxiliar de Belo Horizonte, ressaltou que a Igreja tem marcado presença em todas as instâncias, inclusive mediando o diálogo com o poder público nas esferas municipal, estadual e federal.

 

PROXIMIDADE DO PAPA

Ao fim da missa de sétimo dia, foi lida uma mensagem do Papa Francisco enviada pelo Prefeito da Secretaria de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin. Na mensagem, o Santo Padre manifestou suas condolências às pessoas enlutadas e proximidade espiritual aos que perderam seus lares. O Pontífice também rezou pelo “conforto e restabelecimento para os feridos e a coragem da esperança cristã a todos os atingidos pela tragédia, com uma lembrança especial a todos aqueles que trabalham nas buscas dos desaparecidos”.

(Colaborou Edemilson Gonzaga) 
 

Maior acidente trabalhista da história do Brasil

Após o desabamento de um galpão que estava em fase de construção em Belo Horizonte, em 1971, e que vitimou 69 pessoas, a tragédia em Brumadinho já é considerada o maior acidente trabalhista da história do Brasil.

Além das indenizações trabalhistas e previdenciárias, na esfera civil, o sistema judiciário prevê a indenização por danos materiais e morais ou extrapatrimoniais a familiares com vínculos próximos, como cônjuges, pais e filhos. “A própria perda de um ente querido por culpa de alguém leva à possibilidade de se pleitear essa indenização por dano moral”, aponta o professor de Direito Civil da PUC-SP, Francisco Cahali.

Além das indenizações trabalhistas e previdenciárias, na esfera civil, o sistema judiciário prevê a indenização por danos materiais e morais ou extrapatrimoniais a familiares com vínculos próximos, como cônjuges, pais e filhos. “A própria perda de um ente querido por culpa de alguém leva à possibilidade de se pleitear essa indenização por dano moral”, aponta o professor de Direito Civil da PUC-SP, Francisco Cahali.

 

LUTO SEM CORPO

À medida que a identificação dos corpos avança, a esperança de encontrar um parente com vida se desvanece. Do ponto de vista biológico, é possível que corpos não sejam recuperados, devido à deterioração provocada pela lama e ao tempo decorrido desde a tragédia. Ivacir da Silva Santos procura pelo irmão, o técnico Cláudio Márcio dos Santos. “A minha preocupação é saber quanto tempo eles vão levar para encontrar o corpo dele, para a gente pelo menos entregar o corpo pra minha mãe velar e enterrar”, lamenta Ivacir, em entrevista à Rádio América de BH, após ser informado por autoridades que, pelo local onde esta va o irmão no momento do acidente, calcula-se que seu corpo esteja sob 15 metros de lama.

Os parentes de vítimas cujos corpos não forem encontrados, ou não seja possível a identificação, podem recorrer a um instrumento jurídico previsto na legislação brasileira. Segundo Cahali, depois de esgotadas todas as buscas, “a legislação atual permite a declaração de uma morte presumida, ou seja, nesses casos, em que há uma catástrofe como essa, é permitida uma justificação para se suprir a ausência do corpo”. A certidão de morte presumida substitui o registro de óbito e, depois, as famílias têm condições de resolver as questões trabalhistas e previdenciárias. A falta do corpo pode ser levada em conta ainda como agravante em ações indenizatórias de ganho moral. “Na nossa cultura, é importante ter o sepultamento, é um momento de homenagem à pessoa falecida, de confirmação de afeto. Eu diria que o fato de não ter o sepultamento é um agravante em todo esse contexto, primeiro pela expectativa de se localizar o parente e, segundo, pela falta do sepultamento”, analisa.

(Colaborarou Larissa Freitas)

 

Segundo a Vale, a barragem estava sendo desativada

Construída em 1976 pela Ferteco Mineração, empresa adquirida pela Vale em 2001, a barragem da Mina do Feijão, segundo informações da mineradora, não recebia mais rejeitos, estando em processo de descomissionamento (encerramento de atividades). Um laudo emitido pela empresa alemã Tüv Süd em setembro do ano passado atestava a estabilidade da barragem.

No dia 29 de janeiro, três funcionários da Vale envolvidos no licenciamento da barragem e dois engenheiros terceirizados que atestaram a estabilidade da estrutura foram presos. Na terça-feira, 5, o Superior Tribunal de Justiça concedeu liberdade aos profissionais.

 

É POSSÍVEL PREVER?

Antonio Eduardo Giansante, engenheiro civil com mestrado e doutorado nas áreas de saneamento básico e recursos hídricos e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, explicou ao O SÃO PAULO que barragens como a de Brumadinho não entram em colapso de uma hora para outra. “Elas [as barragens] vão dando sinais de que têm algum problema, algum recalque, um lado está mais baixo que outro, ou existe uma trinca, caminhos ‘preferenciais’ da água e que podem estar prejudicando o funcionamento estrutural normal de uma barragem”, afirmou, acrescentando que, às vezes, esse processo pode ser mais perceptível somente por meio de equipamentos que atualmente a tecnologia disponibiliza.

O Engenheiro também chamou a atenção para os laudos apresentados pela Vale os quais atestam que a barragem possuía baixo risco e que são de julho e setembro de 2018, épocas de baixa quantidade de chuvas. Porém, nos meses de dezembro e janeiro houve um grande volume de chuvas. “Tudo indica que houve o fenômeno que chamamos de liquefação, o peso enorme de água acumulada sobre os resíduos começou a arrastar sólidos da barragem, do corpo da barragem, e ela desestabilizou e colapsou, ruiu”, acrescentou.

 

TECNOLOGIA ULTRAPASSADA

Na semana passada, a Vale anunciou que irá desativar as 19 barragens ainda existentes iguais à de Brumadinho, cujo método de construção é considerado ultrapassado e já foi abolido em muitos países, justamente por ser menos seguro.

A barragem que ruiu foi construída com método conhecido como “alteamento a montante”, no qual a barreira de contenção recebe camadas do próprio material do rejeito da mineração. A barragem da Mina do Fundão, que rompeu em Mariana, em 2015, também foi feita nesse método.

Giansante explicou que, em muitos países, é utilizado um equipamento chamado filtro prensa, que literalmente comprime o rejeito de minério até sair toda a água contida nele, deixando-o completamente sólido. “Neste caso, há muito menos massa e peso dentro da barragem, o que aumenta a segurança”, explicou o Engenheiro. Esse modelo de barragem de rejeitos sólidos existe, inclusive, em uma mina também localizada no município de Brumadinho.

 

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Arquidiocese de BH se solidariza com vítimas de tragédia em Brumadinho

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25 de janeiro de 2019

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte (MG), Dom Walmor Oliveira de Azevedo afirmou que “Minas esta de luto” ao manifestar seu pesar pelo rompimento de uma barragem da mineradora Vale nesta sexta-feira, 25, em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo informações do Copo de Bombeiros, até o momento, há quatro feridos e pelo menos 200 desaparecidos.

“Mais uma ‘abominação da desolação’, como disse Jesus no Evangelho de Marcos, referindo-se aos absurdos nascidos das ganâncias e descasos com o outro, com a verdade e com o bem de todos: mais uma barragem rompida em Minas Gerais, agora em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte”, afirmou Dom Walmor. 

O Arcebispo expressou a solidariedade da Arquidiocese de Belo Horizonte a todos os atingidos. “Nossas comunidades de fé, especialmente às que servem ao Vale do Paraopeba, estejam juntas, para levar amparo, ajuda, a todos que sofrem diante de tão lamentável tragédia”, acrescentou.

DANOS IRREPARÁVEIS 

Ainda segundo Dom Walmor, o danos humanos e socioambientais são irreparáveis e apontam para uma urgência, que ele considera evidente: “É preciso repensar modelos de desenvolvimento que desconsideram o respeito à natureza, os parâmetros de sustentabilidade”. 

“É urgência minimizar a dor dos atingidos por mais esse desastre ambiental, sem se esquecer de acompanhar, de perto, a atuação das autoridades, na apuração dos responsáveis por mais um triste e lamentável episódio, chaga aberta no coração de Minas Gerais”, enfatizou o Arcebispo. 

DOAÇÕES

Diante da tragédia, a Arquidiocese de Belo Horizont, por meio do Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política, iniciou campanha solidária para arrecadar roupas, alimentos e água, destinados aos atingidos pelo rompimento da barragem. Também é possível fazer doações por meio de depósito bancário. 

Leia a íntegra da mensagem: 

Minas está de luto – Mensagem de dom Walmor

Mais uma “abominação da desolação”, como disse Jesus no Evangelho de Marcos, referindo-se aos absurdos nascidos das ganâncias e descasos com o outro, com a verdade e com o bem de todos: mais uma barragem rompida em Minas Gerais, agora em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte. A Arquidiocese de Belo Horizonte une-se a cada um dos atingidos, compartilhando suas dores. Nossas comunidades de fé, especialmente às que servem ao Vale do Paraopeba, estejam juntas, para levar amparo, ajuda, a todos que sofrem diante de tão lamentável tragédia.

Os danos humanos e socioambientais são irreparáveis e apontam para uma urgência, já tão evidente: é preciso repensar modelos de desenvolvimento que desconsideram o respeito à natureza, os parâmetros de sustentabilidade. Uma triste coincidência: nesta sexta-feira, dia 25, quando uma barragem se rompe no coração da nossa amada Brumadinho, entrou em pauta, no Conselho da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, autorização para a retomada da mineração na Serra da Piedade. Uma tragédia se efetiva e outra se anuncia.

A Arquidiocese de Belo Horizonte defende, incansavelmente, de modo inegociável, a natureza, obra do Criador, compreendendo que o ser humano, as plantas e os animais devem viver em completa harmonia, pois são todos habitantes do planeta, a Casa Comum.

Rezemos pelas vítimas desta tragédia, unidos ao coração de cada pessoa e de todas as famílias que sofrem, renovemos, mais uma vez, o nosso compromisso com a solidariedade. É urgência minimizar a dor dos atingidos por mais esse desastre ambiental, sem se esquecer de acompanhar, de perto, a atuação das autoridades, na apuração dos responsáveis por mais um triste e lamentável episódio, chaga aberta no coração de Minas Gerais. A justiça seja feita, com lucidez e sem mediocridades que geram passivos, com sentido humanístico e priorizando o bem comum, com incondicional respeito e compromisso com os mais pobres. Minas Gerais está de luto.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
 

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‘Uma das maiores tragédias que a Califórnia jamais enfrentou’

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19 de outubro de 2017

Assim definiu Jerry Brown, o governador da Califórnia, os terríveis incêndios que o Estado tem enfrentado nos últimos dias, que se estendem por mais de 150 quilômetros. Milhares de casas foram destruídas e ao menos 40 pessoas morreram. Muitas das vítimas foram completamente cremadas, ao ponto de não poderem mais ser identificadas. Cerca de 100 mil pessoas receberam ordem de evacuarem suas cidades ameaçadas pelo fogo.

O combate aos incêndios é mais difícil devido aos fortes ventos e à baixa umidade. No fim de semana, ainda havia 17 grandes focos de incêndio na região Norte do Estado. Mais de 9 mil bombeiros trabalham noite e dia para tentar controlar o fogo, usando aviões, helicópteros e mais de mil máquinas de combate a incêndio. Várias equipes têm trabalhado para cavar linhas de defesa que impeçam o fogo de atingir outras áreas residenciais. Os estados vizinhos e até o Canadá e a Austrália enviaram mais homens e equipamentos de combate a incêndio. 

Dom Frank Dewane, Bispo de Venice, pediu a intercessão de Deus: “Hoje, pedimos a intercessão de Deus Todo-Poderoso, enquanto os incêndios florestais afetam o norte da Califórnia”, disse em um comunicado. “Como homens e mulheres corajosos, respondemos a essas catástrofes lutando contra os incêndios e ajudando as pessoas a estarem seguras; pedimos a Deus que melhore o clima e envie a bênção da chuva e dos ventos favoráveis”, afirmou o Bispo.

Fontes: ACI/ The Guardian/ CNN

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