Venezuelanos com fome atravessam fronteiras

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08 de março de 2018

A atual crise política e socioeconômica da Venezuela, País que faz fronteira com os estados brasileiros de Amazonas e Roraima, tem provocado uma intensa emigração de venezuelanos para os vizinhos Colômbia e Brasil, sobretudo após a falta de acesso a alimentos, produtos de higiene e medicamentos, e a desvalorização da moeda local, unida à inflação crescente no País.

A Venezuela, primeiro país da América Latina a conquistar sua independência, viu o agravamento da crise a partir de 2015, sob a presidência de Nícolas Maduro, do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), sucessor de Hugo Chávez – que esteve à frente do País de 1999 até sua morte, em 2013.

Outros fatores, como a queda dos preços do petróleo – que representa mais de 90% da renda do País –, têm agravado a situação. Estima-se que cerca de 70 mil venezuelanos tenham emigrado para o Brasil, quase 40 mil somente para a Região Norte. Em termos legais, há dois tipos de pedido de entrada: como solicitante de refúgio (pois a situação venezuelana já está no patamar de uma crise humanitária) e por meio da Resolução Normativa 126, que concede residência temporária, pelo prazo de até dois anos, ao estrangeiro que tenha ingressado no território brasileiro por via terrestre e seja nacional de país fronteiriço. 

 

MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS

Em São Paulo, instituições como a Cáritas Arquidiocesana, a Missão Paz São Paulo, a Casa do Migrante e a Missão Scalabriniana dão assistência aos imigrantes que chegam, a maioria por terra, enfrentando dias ou até semanas de viagem. 

“Os relatos dos venezuelanos que procuram a Cáritas são múltiplos e pintam um quadro de generalizada escassez de produtos tanto alimentícios quanto fármacos, decorrente da instabilidade política e do conflito entre partidos oposicionistas e governistas. Como resultado dessa escassez, os venezuelanos não conseguem comprar os produtos que precisam para a sua sobrevivência e muitos passam fome ou sofrem de doenças para as quais o tratamento costuma ser simples e barato. Isso faz com que muitos procurem rotas possíveis, como a de Pacaraima, em Roraima”, disse William da Rosa, Coordenador do Programa de Proteção do Centro de Referência para Refugiados da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo. 

Padre Paolo Parise, Diretor do Centro de Estudos Migratórios (CEM), local onde está situada a Missão Paz e a Casa do Migrante, no Centro da Capital Paulista, recordou que, ao falar de migração venezuelana no Brasil, é importante salientar que se trata de um fenômeno que interessa, sobretudo, ao Estado de Roraima. 

“Um estado recente, formado por migrantes internos e que sempre manteve uma relação histórica com a Venezuela. Para se ter uma ideia, nos anos 1980, 7% da população venezuelana era formada por imigrantes, inclusive brasileiros. Hoje, segundo os dados da Polícia Federal, há cerca de 31 mil venezuelanos em Roraima”, explicou o Padre. 

 

REFUGIADOS

O País que mais recebe venezuelanos é a Colômbia, onde o número já chegou a mais de meio milhão; no Chile, são 100 mil e outros países da América Latina têm recebido mais imigrantes do que o Brasil.

Padre Paolo informou que há um crescente número de venezuelanos em São Paulo desde 2014, ano em que a Missão Paz recebeu apenas um imigrante proveniente da Venezuela. Em 2015, foram 12; em 2016, 15, e, durante 2017, 52 venezuelanos passaram pela Instituição. “Este ano, até este momento, foram 23. Porém, não podemos, de maneira alguma, classificar isso como invasão e gerar preocupação e medo na população”, alertou. 

William da Rosa, da Cáritas, explicou também que, devido a um número de solicitações de refúgio superior à capacidade operacional do Governo Brasileiro, o Conare (órgão do Ministério da Justiça responsável pela determinação do status jurídico do refugiado) ainda não enfrentou a atual situação da Venezuela e não fechou um entendimento sobre o assunto. 

“Vale ressaltar que a determinação de status de refugiado no sistema brasileiro ocorre no plano individual. Ainda assim, para dar uma resposta mínima a esse deslocamento, o Conselho Nacional de Imigração (CNIg) editou a Resolução Normativa 126, de março de 2017, com vigência até o dia 2 de março de 2018 e cuja reedição aguardamos. Segundo essa Resolução, cumpridos os requisitos legais, os venezuelanos recebem a residência temporária por dois anos e, assim, têm o direito aos outros documentos como carteira de trabalho e CPF”, continuou William. 

João Carlos Jarochinski Silva, professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), recordou que a Resolução foi importante, mas os procedimentos que exige têm um custo alto para o bolso dos venezuelanos, cerca de R$ 130,00, o que corresponde a sete salários mínimos na Venezuela. 

 

RORAIMA

Hector Palomo, 39, é Advogado. Ele saiu da cidade de Tigre, na Venezuela, rumo à Boa Vista (RR) e, após percorrer 1.031 quilômetros, chegou ao Brasil, em dezembro de 2017. Em entrevista à jornalista Osnilda Lima, Coordenadora de Comunicação da Comissão Episcopal para a Amazônia - Rede Eclesial Pan-Amazônica, Hector contou que conseguiu pagar dois meses de aluguel e comprou, com uma pequena reserva em dinheiro que tinha, algumas roupas e pulseiras para revender. Mas, em seguida, não conseguiu pagar o aluguel e passou a morar nas ruas de Boa Vista, quando foi roubado e sua situação piorou. 

“Quando precisei ir morar na rua, eu chorava muito. Mas a esperança e a fé têm me mantido em pé. Sinto angústia, pois não consegui mandar dinheiro para minha família e sei que eles não têm mais o que comer”, disse o Advogado, que durante a entrevista tinha nas mãos um exemplar do Código Penal Brasileiro. 

Ao abrir a pochete, Hector mostrou toda sua documentação, pois já conseguiu regularização como refugiado no Brasil e aguarda o início da interiorização prometida pelo Governo Federal, para buscar oportunidades em outros estados brasileiros. Ele mora no pátio da Paróquia da Consolata, em Boa Vista, junto a outros imigrantes e refugiados, e tem ajudado nas celebrações litúrgicas e a servir as 300 marmitas que a comunidade oferece diariamente. 

“Nós precisamos da ajuda de vocês. Estamos passando fome na Venezuela, as crianças estão morrendo de desnutrição e de várias doenças”, disse, com a voz embargada e esforçando-se para falar o português, idioma que deseja aprender logo, até encontrar emprego, que, segundo ele, não importa qual, desde que seja digno, para conseguir enviar algum dinheiro à família que permanece na Venezuela.

A situação dos abrigos em Roraima é de grande precariedade.  Informações da Rede Eclesial Pan-Amazônica mostram que, além de superlotados, há poucos banheiros para milhares de pessoas e falta comida. 

 

SÃO PAULO E A INTERIORIZAÇÃO

Em fevereiro, o Governo Federal brasileiro apresentou um plano de interiorização que tem como atores a Casa Civil, outros órgãos do Governo e as prefeituras. O objetivo é distribuir os imigrantes venezuelanos por outros estados brasileiros, a princípio para os municípios de Manaus (AM), São Paulo (SP), e, em seguida, Cuiabá (MT). 

“É uma tentativa de tornar o município protagonista, com tudo que ele tem a disposição. Como Missão Paz, fomos consultados por órgãos internacionais e nos colocamos à disposição. Se precisar, podemos acolher aproximadamente 30 ou 40 venezuelanos. Obviamente, precisamos de tempo para nos organizar. Mas, a princípio, será a Prefeitura, por meio da Secretaria de Desenvolvimento, da Assistência Social e da Secretaria de Direitos Humanos, que vai coordenar a chegada desses imigrantes”, explicou Padre Paolo.  

Edinson de Jesús Lujan Barrios, 49, veio da Venezuela para o Brasil no mês de novembro de 2016, após ser contratado por uma multinacional para prestar serviços fora do seu País. Porém, um acidente fez com que Edinson ficasse por três meses sem condições de andar e, consequentemente, sem a vaga de emprego. 

Desempregado e como refugiado no Brasil, o venezuelano, que é formado em Administração e licenciado em Ciências Sociais, com mestrado em Psicologia Social, procurou ajuda na Cáritas Arquidiocesana e foi encaminhado para a Missão Paz, onde ficou por pouco mais de uma semana, quando foi transferido para a Missão Scalabriniana, no Pari. A Missão Scalabriniana é uma das últimas casas de acolhida e serviço aos imigrantes aberta em São Paulo. É mantida pela Congregação das Irmãs de São Carlos Borromeo – Scalabrinianas – e acolhe cerca de 200 imigrantes, a maioria provenientes de países africanos. 

Atualmente, Edinson é professor e pesquisador na Faculdade Zumbi dos Palmares, onde leciona Espanhol e Inglês. Para ele, pensar na situação atual do seu País de origem é muito triste. “Meu salário na Venezuela seria algo em torno de 800 mil bolívares, o que corresponde a pouco mais de R$ 50,00”, explicou à reportagem do O SÃO PAULO. 

O Professor, que continua morando na Missão Scalabriniana, citou também que o salário mínimo na Venezuela é de 600 mil bolívares – o que corresponde a 5 dólares –, mas um único quilo de carne chega a custar 500 mil bolívares e um rolo de papel higiênico, 300 mil. 

“Tenho um filho, que já emigrou para a Colômbia. Falo com minha família na Venezuela todos os dias e sinto muito pelo meu pai, que está idoso e doente e não tenho conseguido nem mesmo enviar medicamentos para ele. Mas acredito que em breve tudo vai passar, pois conheço meu povo e sei que se trata de um bravo povo latino-americano”, disse Edinson, que pretende continuar no Brasil e agradece aos brasileiros pela ajuda prestada. 

 

SUPERAÇÃO

Ao ser perguntado sobre os gestos xenófobos que podem surgir em relação aos venezuelanos, sobretudo por questões políticas e ideológicas, Padre Paolo Parise disse que, “às vezes, ficamos marcados por frases nas redes sociais de pessoas que se manifestam, até mesmo sem pensar ou infelizmente pensando”. Ele disse, porém, que existe outra São Paulo, outro Brasil, acolhedor. 

“A cidade de São Paulo já manifestou, inúmeras vezes, gestos de solidariedade e de acolhida com migrantes e refugiados. Mas, infelizmente, frases xenófobas fazem mais barulho. Eu diria que estamos prontos para acolher também esses venezuelanos e temos que atuar em todos os níveis para prevenir a xenofobia e ajudar as pessoas a superarem o preconceito. Muitas vezes, dizem para mim que precisamos ajudar os brasileiros e não os estrangeiros. Eu diria que, em lugar da lógica de um ou outro, que tenta excluir alguém, temos que pensar em uma lógica inclusiva e ajudar um e outro”, afirmou o Padre. 

Ele sugere, também, que se evite a criação da falsa sensação de que o Brasil esteja com grandes números de imigrantes. “Alguns utilizam o termo invasão, mas isso não corresponde à realidade”, acrescentou. “E, para os que se dizem cristãos, há uma razão religiosa, ou seja, quando encontramos um imigrante ou um refugiado, está presente o próprio Cristo”, insistiu Padre Parise, recordando o capítulo 25 do Evangelho de Mateus. 

 

PELA FÉ

Em uma mensagem publicada em dezembro de 2016, a Santa Sé, em Roma, manifestou preocupação acerca da crise na República Bolivariana da Venezuela. A nota informou que o Santo Padre, diretamente e por meio da Secretaria de Estado, acompanha de perto a situação e suas implicações humanitárias, sociais, políticas, econômicas e, inclusive, espirituais. “A Santa Sé pede a todos os atores políticos, e em particular ao Governo, que se assegure o pleno respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais, como também à vigente Constituição. Evitem ou suspendam as iniciativas em curso como a nova Constituinte que, mais do que favorecer a reconciliação e a paz, fomentam um clima de tensão e enfrentamento e hipotecam o futuro.” 

A Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), publicou uma Carta Aberta à Sociedade na segunda-feira, 5. Na Carta, a Comissão informa sobre as visitas que foram realizadas na fronteira Brasil/Venezuela. “Essas atividades nos colocaram em contato com uma realidade cruel e desumana, que grita por respostas rápidas, eficazes e articuladas das igrejas, do Estado e da sociedade em geral”, afirma o texto. “Em nome da CEPEETH, fazemos um veemente apelo às igrejas e à sociedade a uma maior solicitude para com estes nossos irmãos e irmãs imigrantes e refugiados”, continua a Carta, assinada por Dom Enemésio Lazzaris, Bispo de Balsas (MA) e Presidente da Comissão.
 

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Arabesque, ballet para todas no Jardim Brasil

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05 de março de 2018

A música clássica acompanhou o trajeto até a sala onde se podia ouvir: Plié... Relevé e a voz de Talyta Amaral, conduzindo um grupo de meninas. Vestidas com collant e calçando sapatilhas elas se equilibravam nas barras colocadas sobre o linóleo, tapete utilizado especialmente para dança. São 60 meninas, de 5 a 20 anos, que fazem parte do projeto “Arabesque – Ballet para todas”, criado e coordenado pelas irmãs Talyta e Tairine Amaral. Há cinco anos, elas começaram o projeto e hoje utilizam as salas que fazem parte do complexo da Paróquia Nossa Senhora da Livração, no Jardim Brasil, na zona Norte de São Paulo, para realizar o sonho de muitas meninas: dançar ballet.

“Éramos da Pastoral da Juventude e fazíamos apresentações de dança em eventos da Pastoral. Eu sempre era a responsável pelas coreografias”, recordou Talyta, que é professora de História e está terminando sua formação em dança clássica. Entre as jovens do grupo, uma delas sonhava em dançar ballet, mas esbarrava na questão financeira, pois o ballet é uma dança cara. “Comecei a perceber o quanto crianças e adolescentes da comunidade cultivavam esse sonho e, então, minha irmã, que é formada em dança, e eu juntamos algumas delas e começamos a dar aulas”, continuou.

O sonho de Thays Pereira, hoje com 19 anos, foi realizado, e o projeto saiu do papel.  “Abraçamos a causa, e o Arabesque foi crescendo. Quando você fala para seus amigos que faz ballet, eles pensam que você faz numa academia e investe muito dinheiro, mas tenho orgulho de explicar que é tudo gratuito e ver a admiração deles”, contou a jovem.

A movimentação é intensa aos sábados pela manhã, e as meninas, acompanhadas pelos familiares, vão chegando para participar das aulas que são dadas tendo como referência o método russo, escolhido pelas professoras por valorizar mais a força e os movimentos de braço. São seis turmas, que acontecem das 8h30 às 13h, e, além de Talyta e Tairine, a jovem Sâmia Mercedes, 17, está dedicando-se ao projeto.

“Fiz quatro anos de ballet em outro projeto, antes de conhecer o Arabesque. Aqui tive oportunidade de transmitir o que aprendi e comecei a dar aulas para as pequenininhas. Tudo é voluntário e fazemos isso porque realmente amamos a dança”, afirmou Sâmia, que sonha em cursar Medicina Veterinária e continuar dançando. 

REALIDADE

O Jardim Brasil, situado na zona Norte de São Paulo, tem índices altos de violência e aparece entre os bairros mais perigosos de São Paulo quando o assunto é estupro ou lesão corporal, por exemplo. De acordo com dados fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública e organizados pelo jornal Estado de S. Paulo , em 2017, os departamentos de Polícia do Jaçanã e da Vila Gustavo, mais próximos geograficamente do Jardim Brasil, ocuparam o 3º e o 4º lugares – respectivamente – em casos de estupro, e o Jaçanã ficou em 3º lugar com maior quantidade de crimes qualificados como lesão corporal, além do 11º lugar no ranking do tráfico de drogas.

O bairro já passou por situações de extremo risco acerca do aliciamento de adolescentes e jovens para o tráfico. Uma matéria publicada em 2004 pelo jornal Folha de S.Paulo trouxe a realidade da convivência diária com traficantes no trajeto entre casa e escola, que fez com que o Jardim Brasil fosse – à época – a região da Capital Paulista com o maior número de internos na Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), atual Fundação Casa, por narcotráfico. 

SUPERAÇÃO

Para crianças, adolescentes e familiares, a questão é clara: o envolvimento com a arte e a dança é capaz de transformar a vida das pessoas e afeta diretamente no envolvimento das crianças, adolescentes e jovens em situações de violência.

Foi o que constatou Regina Celia Gonçalves do Lago, mãe da Gabriela Aparecida do Lago, 10, que participa do Arabesque há mais de três anos. “Minha filha gosta de ouvir música clássica, graças ao ballet. Além disso, ela é mais dedicada em tudo o que faz. Hoje, por exemplo, acordou bem cedo e sozinha”, disse a mãe, que agradeceu a atenção dispensada pelas professoras para ajudar quando as famílias têm dificuldades na compra de uniformes e outros itens necessários para a dança.

A mudança de comportamento e o comprometimento são atitudes comuns entre as bailarinas. Talyta relatou que percebeu tais mudanças em sua própria vida e que isso é um testemunho recorrente dos familiares. “O ballet traz envolvimento para a vida delas. Cresce o interesse pela arte e, devido à disciplina que o ballet exige, muda também o comportamento em casa”, continuou.

Com o apoio da comunidade e inspiradas no Ballet Paraisópolis, outro projeto de ballet que acontece em um bairro da periferia da cidade, as duas irmãs desejam que o Arabesque cresça e atinja mais pessoas e, para isso, estão trabalhando na criação de um CNPJ, que permitirá o recebimento de doações e patrocínios mais facilmente. “Temos total apoio da Paróquia [Nossa Senhora da Livração], mas acolhemos crianças e adolescentes de todas as denominações religiosas, e nosso critério é sempre geográfico, para que possa atingir principalmente a comunidade”, explicou Talyta. É o caso de Letícia Hermínio, 20, e Isabel Oliveira Santos, 13, que moram bem perto da Paróquia e participaram das primeiras oficinas, antes mesmo de o Arabesque ter esse nome.

E assim, partilhando os uniformes que não cabem mais e tentando fazer com que a ponta da sapatilha não quebre, para durar o maior tempo possível, as meninas do Jardim Brasil continuam a cultivar o sonho de serem bailarinas ou de simplesmente continuar dançando. São muitos limites a serem enfrentados: do corpo, do tempo e do dinheiro. A bailarina é aquela que usa a força para transmitir leveza, que transforma dor e sofrimento em beleza.
 

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Superar a violência por meio da mediação de conflitos

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27 de fevereiro de 2018

A prática da mediação na segurança urbana é o que defende Maria Stela Graciani, Doutora e Professora Titular da Faculdade de Educação da PUC-SP e Coordenadora do Núcleo de Trabalhos Comunitários da mesma universidade. Entre 2001 e 2004, ela coordenou um projeto político-pedagógico junto à Guarda Civil Metropolitana (GCM) de São Paulo, que tinha o objetivo de promover uma formação interdisciplinar dos agentes da segurança urbana a partir da prevenção e mediação de conflitos. 

Por ocasião da Campanha da Fraternidade 2018, que trata da superação da violência, Maria Stela enfatizou, em entrevista ao O SÃO PAULO , que a GCM, como próprio nome diz, tem a missão de “guardar”, isto é, garantir a segurança da população e dos lugares públicos. Por isso, o recurso da violência é uma das alternativas em uma situação extrema. “Nesse sentido, é de fundamental importância que esses agentes conheçam o que eles estão ‘guardando’, isto é, a população e as instituições públicas a serviço da sociedade”, afirmou. Confira a entrevista. 

 

O SÃO PAULO – COMO COMEÇOU O PROJETO JUNTO À GCM?

Maria Stela Graciani – Quando o então Secretário de Segurança Urbana, Benedito Mariano, assumiu o cargo, em 2001, ele me convidou para implantar um projeto político-pedagógico na GCM em vista de uma formação que fosse além da preparação policial que os agentes recebiam. Então, por meio do Núcleo de Trabalhos Comunitários da PUC-SP, constituímos uma equipe interdisciplinar, das áreas da Educação, Serviço Social e Direito e até Geografia. Não fomos lá para ensiná-los, mas para ampliar seu conhecimento em relação a atitudes, comportamento, relação entre a Guarda e o atendimento à comunidade e mesmo com a hierarquia da corporação. Foi uma experiência inédita e desafiadora. Mas digo que nunca tive um acolhimento como lá. Eram cerca de 300 agentes alinhados diante de mim, que me respeitavam até na forma de olhar.

 

COMO A FORMAÇÃO ERA REALIZADA?

Por meio de aulas, debates e muita troca de experiências, pudemos conhecer melhor a realidade dos agentes da GCM e, a partir daí, oferecer uma formação integral, tendo o diálogo como um aspecto fundamental. Para desempenhar um trabalho dessa natureza, não basta só o conhecimento militar, policial, saber usar a arma, marchar, bater continências etc. Tudo isso é importante, mas, antes, é preciso ser humano que se relaciona com respeito, dignidade, e em posse dos valores de uma dada sociedade. Conhecê-los melhor e entender a lógica de seu trabalho favoreceu muito na eficácia desse projeto. Não chegamos apenas com referenciais teóricos de como deve agir ou não um guarda civil, até porque não tínhamos essa experiência concreta, mas os ajudamos a perceber a amplitude de sua missão e serviço na sociedade. Umas das formas de colaborar nessa compreensão foi fazer um mapeamento de todas as regiões da cidade com suas especificidades, a fim de compreender qual era o desafio próprio para ação da GCM em cada localidade. Ao mesmo tempo que acompanhamos os trabalhos descentralizados pela cidade, unimos esses grupos diversificados para as formações sistemáticas e trocas de experiências.

 

EM QUE CONSISTE A MEDIAÇÃO NA SEGURANÇA?

A mediação na segurança urbana não é como na Psicologia, na política etc. Há vários níveis, a começar pelo hierárquico, que diz respeito à relação com os superiores e às diretrizes do comando. Há também a mediação entre o agente e a realidade à qual ele é responsável pela segurança. Para isso, ele precisa conhecer bem a comunidade onde desempenha o serviço para identificar os potenciais conflitos e, assim, preveni-los. Outra mediação é a corporal, maneira de olhar, a postura, o posicionamento das mãos, o tom da voz. Tudo isso é mediação. A mediação do conflito é fundamental para que analisemos, interpretemos e saibamos o momento exato de agir. Isso foi aprendido com o referencial teórico, e também com a prática dos agentes nas ruas. 

 

A SENHORA PODE DAR UM EXEMPLO?

Diante de uma situação de aglomeração ou ocupação de um espaço público que precisa ser dispersado pela GCM, a orientação seria de, antes de realizar a operação, analisar a situação e pensar nas estratégias seguras a serem utilizadas, de modo que o recurso da violência seja a última opção. Na experiência em que vivemos, em situações extremas de conflito, os agentes da GCM eram acompanhados por uma equipe técnica para ajudar a pensar em como atuar. Um erro em um momento como esse pode ser fatal e desencadear mais violência e conflito. Por isso, o agente de segurança precisa de uma preparação em várias dimensões. Numa situação como a desse exemplo, a postura, um gesto brusco, mesmo o modo de respiração, que mostre insegurança ou despreparo do guarda, pode piorar a situação. O nosso corpo fala, o nosso olhar emite um determinado foco, a nossa fala define a situação. Apontar uma arma já é um limite. Puxar o gatilho é o último caso, quando há uma situação de ameaça.

 

MAS HÁ CASOS EM QUE A FORÇA ARMADA É NECESSÁRIA?

Certamente. Não estou dizendo que não haja uma guarda armada, mas que essa exerça o seu papel específico de gerar segurança, prevenir o conflito e não criar mais conflito, usando de todo o seu preparo para isso, até porque estou falando especificamente da GCM, que não é Polícia Militar. Guarda é aquele que guarda, que previne, que protege, que garante a ordem. Não uma polícia ostensiva, mas preventiva. Essa é uma das dimensões da segurança urbana. Aquela que, inclusive, deve estar mais próxima do povo e da comunidade. Nesse sentido, é de fundamental importância que esses agentes conheçam o que eles estão guardando, isto é, a população e as instituições públicas a serviço da sociedade. Eu sempre dizia aos agentes que se a corporação não tem a concepção de serviço à comunidade pela mediação de conflito, precisamos reinventar a GCM de São Paulo. 

 

ESSA PRÁTICA PODERIA SER APLICADA À POLÍCIA MILITAR? 

Sem dúvida. O fato de ser uma polícia ostensiva não impede de que haja um preparo mais integral. Esse deveria ser o ingrediente fundamental da formação na segurança pública. Usando a máxima popular de que a “violência gera violência”, percebemos que, infelizmente, muitos policiais recebem uma formação violenta, o que traz uma concepção de vida e de profissão violenta para esses servidores públicos.

 

AINDA HOJE HÁ SINAIS DESSE PROJETO NA GCM?

Essa mentalidade ainda paira na cabeça dos atuais comandantes. Alguns continuam no comando da GCM dando as mesmas diretrizes. Eu continuo sendo convidada para falar com os mais novos do comando sobre essa experiência vivida. Ainda exerço influência pedagógica na corporação pelo trabalho realizado na PUC-SP. Há um respeito por parte dos agentes da GCM. Mas, para que essa mentalidade perdure, deve haver uma política integrada. A decisão superior deve corresponder à cultura da mediação. Nesse sentido, é possível perceber alguns recuos em relação ao período em que realizamos a formação mais integral. O que esperamos é segurança no sentido lato da palavra. O recurso da violência é uma das alternativas, em uma situação extrema, mas não a única, nem a primeira. Estamos falando de uma mudança de lógica. Por isso, reafirmo, se não houver uma compreensão do gestor público sobre a missão da guarda civil, continuarão as diretrizes e políticas públicas de segurança violentas, incompatíveis com a proposta da mediação de conflitos que trabalhamos. 

 

As opiniões expressas na seção “Com a palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.

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Nas arquibancadas, a violência ‘joga contra’ o futebol

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25 de fevereiro de 2018

A paixão pelo futebol parece ter nascido com o brasileiro desde que esse esporte foi trazido ao País, em 1894, por Charles Miller, que, após um período de estudos na Inglaterra, trouxe uma bola e um conjunto de regras na bagagem.

Com a popularização da prática, os estádios ficaram cada vez mais cheios, mas nem tudo é alegria nessa história. As brigas entre torcidas também começaram a fazer parte da cultura do futebol, e é crescente a preocupação com a busca de caminhos para encontrar a paz nos estádios.

TORCIDAS ORGANIZADAS

Na década de 1940, grupos começaram a se reunir para frequentar os estádios juntos, e foi assim que surgiram as primeiras torcidas organizadas no Brasil. No início, os torcedores se reuniam nas próprias sedes dos clubes para ir aos jogos e ficavam em um determinado setor das arquibancadas. Porém, na década de 1960, os grupos deixaram de ter relação com as diretorias dos clubes. E foi justamente no período da ditadura militar no Brasil, entre as décadas de 1960 e 1980, quando os jovens se reuniam nas ruas em busca de paz, igualdade e liberdade de expressão, que surgiram as primeiras torcidas organizadas, que lutavam pela democracia e a busca de maior participação nas decisões dos clubes.

SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA

Atualmente, quando se fala em torcidas organizadas, a primeira coisa que se pensa é em violência, apesar de muitas realizarem ações positivas e projetos sociais.

No intuito de aumentar o diálogo entre as organizadas, em dezembro de 2014 surgiu a Associação Nacional das Torcidas Organizadas (Anatorg), que hoje conta com 119 torcidas associadas. Elas participam de reuniões com o Ministério do Esporte e atuam para o entendimento entre torcidas rivais.

“Esta tentativa das próprias torcidas, de promover, de alguma forma, esse diálogo entre elas e com o poder público, parece-me ter sido muito bemsucedida”, afirmou, ao O SÃO PAULO, Felipe Tavares Paes Lopes, Professor do Mestrado em Comunicação e Cultura na Universidade de Sorocaba e estudioso sobre violência no futebol.

Após uma série de incidentes, sobretudo na década de 1980, o poder público vem adotando medidas para tentar conter a violência dentro e fora dos gramados. Em São Paulo, por exemplo, o Ministério Público do Estado e a Secretária de Segurança Pública adotaram a torcida única em clássicos. Assim, apenas torcedores da equipe mandante do jogo podem ir ao estádio. A medida foi implementada em abril de 2016, após um confronto entre integrantes das torcidas Mancha Alvi Verde e Gaviões da Fiel, que deixou dezenas de feridos e um morto.

Segundo Felipe Lopes, a adoção da torcida única não resolve o problema. “A maior parte dos enfrentamentos ocorre fora dos estádios, então, um clássico com torcida única, por exemplo, não evita esse tipo de enfrentamento”, afirmou, lembrando, ainda, que em algumas situações ocorrem confrontos até entre torcedores do mesmo time.

Em julho de 2017, na sede da Federação Paulista de Futebol (FPF), o Ministério Público e Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo dialogaram sobre o retorno da torcida visitante aos clássicos, mas descartaram essa possibilidade ao constatar que desde a adoção da torcida única, houve redução de 50% no número de confrontos, e os jogos demandaram 33% menos policiais. Além disso, segundo o MP, os 27 clássicos com torcidas únicas aumentaram em 25% a quantidade de público.

ESTATUTO DO TORCEDOR

O Estatuto do Torcedor (lei nº 10.671/2003) busca uma normatização mais racional das atividades esportivas, com especial foco para o futebol. “Nós temos um estatuto especializado no torcedor, são poucos os países que têm uma legislação, em que estão especificados uma série de comportamentos que não podem ser realizados dentro do próprio âmbito esportivo”, afirmou Felipe Lopes.

Em um dos artigos do Estatuto (Art. 2-A), há a previsão de que a torcida organizada precisa manter um cadastro atualizado de seus associados e membros. As punições aos envolvidos em brigas e confrontos estão presentes em outro artigo (Art. 39), que prevê que a torcida e seus associados que promoverem tumulto, incitação à violência ou invasão de local restrito no estádio, estarão impedidos de frequentarem eventos esportivos. Além disso, a torcida organizada é responsável civilmente por danos cometidos pelos seus membros ou associados no local do evento esportivo, em suas imediações ou no trajeto de ida e volta.

INICIATIVAS POSITIVAS

De acordo com Felipe Lopes, o que ainda não há no Brasil, mas que já acontece em países como a Alemanha, Bélgica e Colômbia, são projetos de prevenção à violência das torcidas organizadas.

Na Alemanha, no início da década de 1980, surgiu a iniciativa Fanprojekt (Projeto Torcidas), que aposta em medidas sociopedagógicas que envolvem os clubes e seus torcedores. A ação conta com espaços físicos nos grandes centros do futebol alemão, onde os torcedores se encontram. A iniciativa se expandiu rapidamente para outros países da Europa, como a Bélgica.

“Os espaços contam com educadores e assistentes sociais, que de alguma forma participam da mediação dos torcedores e destes com o poder público, para uma cultura menos violenta que forma um torcedor menos intolerante”, concluiu Felipe.
O Brasil possui uma comissão específica, conhecida como Comissão Paz no Esporte, fundada em 2004, com o principal objetivo de elaborar medidas concretas de combate à violência relacionada ao esporte em geral e ao futebol em particular. A Comissão também promove reuniões plenárias com especialistas no assunto, além de fazer visitas em países como Inglaterra, Espanha, Bélgica, Holanda, Portugal e Alemanha para estudar as iniciativas de combate à violência.

Alguns clubes também têm agido pela paz entre as torcidas. Em 1º de março de 2015, o clássico gaúcho entre Grêmio e Internacional entrou para história. Um setor do Estádio Beira-Rio foi reservado para uma torcida mista, com colorados e gremistas torcendo lado a lado. A iniciativa partiu da diretoria do Internacional. Desde então, já ocorreram oito jogos entre as equipes com o setor misto.

(Colaborou: Jenniffer Silva)
(Com informações de Ministério do Esporte, UOL e Gazeta Esportiva)

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CNBB realiza abertura oficial da Campanha da Fraternidade

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16 de fevereiro de 2018

Na manhã da quarta-feira, 14, na sede provisória da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi aberta oficialmente a Campanha da Fraternidade (CF) 2018, que este ano tem como tema “Fraternidade e a superação da violência”.

O Cardeal Sergio da Rocha, Presidente da CNBB, e Dom Leonardo Steiner, Secretário-geral da Conferência, receberam as autoridades para o evento: a Ministra Cármen Lúcia, Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF); e o deputado Alessandro Molon, Coordenador da Frente Parlamentar pela Prevenção da Violência e Redução de Homicídios; além de Carlos Alves Moura, Presidente da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP).

Padre Luís Fernando da Silva, Secretário-executivo de Campanhas da CNBB, leu a mensagem enviada especialmente pelo Papa Francisco para a CF 2018, na qual o Pontífice expressa o desejo de que a Campanha deste ano “anime a todos para encontrar caminhos de superação da violência, convivendo mais como irmãos e irmãs em Cristo".

Cármen Lúcia agradeceu à CNBB pelo convite para participar da solenidade. Ela lamentou que hoje as pessoas vejam umas as outras com desconfiança, e fez votos de que a Campanha ajude “a ver o outro como aliado, como irmão”. 

“Não basta que se faça parte da sociedade humana. É preciso atuar por ela para que se criem espaços de fraternidade”, acrescentou a Ministra.

O Presidente da CNBB lembrou que embora seja importante a ação de cada pessoa, iniciativas comunitárias são fundamentais. “A Igreja não pretende oferecer soluções técnicas para os problemas que aborda, mas o valor da fé e do amor que mostra que o semelhante não é um adversário, mas um irmão a ser amado”, concluiu o Cardeal.

Fonte: CNBB

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Papa envia mensagem aos brasileiros por ocasião da CF 2018

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14 de fevereiro de 2018

Todos os anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apresenta a Campanha da Fraternidade como caminho de conversão quaresmal. Um caminho pessoal, comunitário e social que visibilize a salvação paterna de Deus. “Fraternidade e superação da violência” é o tema da Campanha para a Quaresma, em 2018. O Evangelho de Mateus inspira o lema: “ Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).

A Campanha será lançada oficialmente nesta Quarta-feira de Cinzas e tem como objetivo geral: “Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”.

De acordo com o Secretário-Geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrichs Steiner, sofremos e estamos quase estarrecidos com a violência. Não apenas com as mortes que aumentam, mas também por ela perpassar quase todos os âmbitos da nossa sociedade. A ética que norteava as relações sociais está esquecida. Hoje, temos corrupção, morte e agressividade nos gestos e nas palavras. Assim, quase aumenta a crença em nossa incapacidade de vivermos como irmãos.

Por ocasião do lançamento da Campanha da Fraternidade 2018 o Papa Francisco enviou uma mensagem ao Presidente da CNBB, o arcebispo de Brasília, Cardeal Dom Sérgio da Rocha.

 

Eis na íntegra a mensagem do Papa:

Queridos irmãos e irmãs do Brasil!

Neste tempo quaresmal, de bom grado me uno à Igreja no Brasil para celebrar a Campanha “Fraternidade e a superação da violência”, cujo objetivo é construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência. Desse modo, a Campanha da Fraternidade de 2018 nos convida a reconhecer a violência em tantos âmbitos e manifestações e, com confiança, fé e esperança, superá-la pelo caminho do amor visibilizado em Jesus Crucificado.

Jesus veio para nos dar a vida plena (cf. Jo 10, 10). Na medida em que Ele está no meio de nós, a vida se converte num espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos (cf. Exort. Apost. Evangelii gaudium, 180). Este tempo penitencial, onde somos chamados a viver a prática do jejum, da oração e da esmola nos faz perceber que somos irmãos. Deixemos que o amor de Deus se torne visível entre nós, nas nossas famílias, nas comunidades, na sociedade.

“É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (1 Co 6,2; cf. Is 49,8), que nos traz a graça do perdão recebido e oferecido. O perdão das ofensas é a expressão mais eloquente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir. Às vezes, como é difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração, a paz. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança é condição necessária para se viver como irmãos e irmãs e superar a violência. Acolhamos, pois, a exortação do Apóstolo: “Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento” (Ef 4, 26).

Sejamos protagonistas da superação da violência fazendo-nos arautos e construtores da paz. Uma paz que é fruto do desenvolvimento integral de todos, uma paz que nasce de uma nova relação também com todas as criaturas. A paz é tecida no dia-a-dia com paciência e misericórdia, no seio da família, na dinâmica da comunidade, nas relações de trabalho, na relação com a natureza. São pequenos gestos de respeito, de escuta, de diálogo, de silêncio, de afeto, de acolhida, de integração, que criam espaços onde se respira a fraternidade: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), como destaca o lema da Campanha da Fraternidade deste ano. Em Cristo somos da mesma família, nascidos do sangue da cruz, nossa salvação. As comunidades da Igreja no Brasil anunciem a conversão, o dia da salvação para conviverem sem violência.

Peço a Deus que a Campanha da Fraternidade deste ano anime a todos para encontrar caminhos de superação da violência, convivendo mais como irmãos e irmãs em Cristo. Invoco a proteção de Nossa Senhora da Conceição Aparecida sobre o povo brasileiro, concedendo a Bênção Apostólica. Peço que todos rezem por mim.

 

Vaticano, 27 de janeiro de 2018.

[Franciscus PP.]

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Campanha da Fraternidade desafia sociedade a combater a violência

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15 de fevereiro de 2018

Em 1964, realizou-se a primeira Campanha da Fraternidade (CF) em âmbito nacional, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Desde lá, muitos temas foram propostos para a reflexão quaresmal no País. Para o ano de 2018, foi escolhido o tema “Fraternidade e superação da Violência” e o lema: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23, 8), com o objetivo geral de construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da palavra de Deus. O texto a seguir foi escrito a partir de informações e dados contidos no texto-base da CF deste ano. 

MÚLTIPLAS FORMAS DE VIOLÊNCIA

Segundo o texto-base da CF 2018, publicado pela CNBB: “O tema da superação da violência e da segurança tornou-se uma das principais realidades a serem discutidas e tem inspirado diversas formas de políticas públicas.” 

O Brasil, apesar de possuir menos de 3% da população mundial, responde por quase 13% dos assassinatos que ocorrem em todo o mundo. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2014, o País chegou ao topo do ranking , tendo registrado 59.627 mortes por homicídio. 

A violência vem sendo potencializada pelas tecnologias digitais de comunicação e de informação.  As redes sociais têm contribuído para dar visibilidade à violência expressa sob a forma de preconceito ou ódio de classe, de raça, de sexo, de política e até mesmo de intolerância religiosa. 

O texto da CF 2018 assume que as soluções para os problemas relacionados à segurança pública oriundas de práticas de violência não são responsabilidade exclusiva do Estado, mas dizem respeito a todos os brasileiros e brasileiras. Não existe a possibilidade de se encaminhar uma solução sem ampla participação de toda sociedade.

CULTURA DA VIOLÊNCIA

A definição mais clara da palavra cultura é “cultivo”. Propagar uma cultura é cultivar um modo de ser, de estar e de agir. Quando se apresenta a violência como cultura, parte-se de uma análise da realidade em que determinados comportamentos foram assimilados como “normais”, “comuns”. Essa cultura é produzida pelos indivíduos, que, ao mesmo tempo, se tornam vítimas do próprio sistema de violência. O texto da CF 2018 explica esse processo da seguinte maneira: “Por violência cultural entendem-se as condições em razão das quais uma sociedade não reconhece como violência atos ou situações em que determinadas pessoas são agredidas. Criamse processos que fazem aparecer como legítimas certas ações violentas. Elaboram-se discursos para apresentar razões e justificativas como se uma ação violenta fosse devida, uma consequência de determinadas condutas da própria pessoas que sofreu a violência. Portanto, a violência cultural não é, necessariamente, uma causa da violência direta, mas cria as condições em meio às quais chega a tornar-se difícil, para a sociedade, reconhecer um ato ou sistema como violento”.

Assim, a violência cultural não estabelece a causa primeira da violência, mas é condição para que a sociedade tenha uma visão míope dos atos violentos. Em outras palavras, uma consciência anestesiada, pois aquilo que deveria ser considerado violento, porque é um mal em si, passa a não ser assim considerado. 

O ROSTO E OS NÚMEROS DA VIOLÊNCIA

Os números apontados pelo Mapa da Violência 2016 mostram que, no Brasil, 5 pessoas são mortas por arma de fogo a cada hora. A cada dia, são 123 pessoas assassinadas dessa forma.  

De acordo com o texto-base da CF 2018, esses números revelam que, no Brasil, ocorrem mais mortes por armas de fogo do que nas chacinas e atentados que acontecem em todo mundo. Homicídios, sequestros, estupros e diversas outras formas de violência são traduzidos em números e constituem a principal e a mais imediata preocupação dos cidadãos. 

JOVENS

Entre os jovens de 15 a 24 anos, os homicídios são a principal causa da morte. Dados referentes ao ano de 2011 mostram a gravidade da tragédia. Naquele ano houve, em todo o País, mais de 52 mil mortos por homicídio. Desse total, mais da metade das vítimas eram jovens (52,63%).  

Dentre os jovens vitimados, a imensa maioria era composta por negros (71,44%), majoritariamente do sexo masculino (93,03%). O número de homicídios por arma de fogo cresceu 592,8% entre 1980 e 2014. Quando se consideram apenas vítimas jovens, constata-se um aumento de 699,5%, por meio dos números divulgados pelo texto- base da Campanha da Fraternidade. 

RACIAL

A violência racial no Brasil é uma situação que faz supor uma forte correlação entre as três formas de violência (direta, estrutural e cultural). Os casos de violência direta parecem ser o resultado mais concreto e evidente de questões socioeconômicas históricas, além de deixarem entrever representações culturalmente produzidas e já naturalizadas a respeito da população negra, do índio, dos migrantes e, mais recentemente, também do imigrante. 

A xenofobia, por exemplo, que atinge pessoas de origem e culturas diferentes, faz as pessoas se sentirem ameaçadas ou invadidas. Essas e outras formas de preconceito se configuram como racismo, caracterizado pela suposição de quem existam raças humanas distintas e de que umas são superiores a outras. Nessa mentalidade, o sujeito considera inferiores as pessoas que não possuem as mesmas características que ele, constata o texto-base da CF.

Divulgação

DOMÉSTICA

A violência contra a mulher ocorre, principalmente, dentro de casa. 71,8% das agressões registradas pelo SUS em 2011 aconteceram no domicílio da vítima. Frequentemente, o agressor é o parceiro ou ex-parceiro da vítima (43,3%). 

Quando se consideram apenas as mulheres na faixa de 30 a 39 anos de idade que sofreram violência, em 70,6% dos casos o parceiro ou ex-parceiro é o agressor. Pais (19,8%), irmãos ou filhos (7,5%) respondem pelo restante dos casos. 

Outro grupo vítima da violência dentro de casa é o das crianças e adolescentes. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), não há dados que revelam a extensão dessa forma da violência. O abuso sexual, os ataques verbais ou físicos e a negligência atingem em grande escala os adolescentes no ambiente doméstico.

Segundo a ONU, a pobreza é causa da morte de pelo menos 17 mil crianças e jovens todos os dias. 61 milhões de crianças estão fora da escola, em dezenas de países. Cerca de 1 bilhão de crianças vive na pobreza em todo mundo.

EXPLORAÇÃO SEXUAL E TRÁFICO HUMANO

“O tráfico de pessoas é, atualmente, uma das formas mais violentas de exploração do ser humano no mundo inteiro”, afirma o texto-base. Trata-se de uma modalidade de crime organizado transnacional.

Este crime está fortemente atrelado à exploração sexual, ao comércio de órgãos, à adoção ilegal, à pornografia infantil, às formas ilegais de imigração com vistas à exploração do trabalho em condições análogas à escravidão, e ao contrabando de mercadorias. 

Segundo a ONU, 75% das vítimas de tráfico de pessoas são mulheres e meninas. A ONU Mulher considera o tráfico de pessoas uma das três atividades criminosas mais rentáveis do mundo, ao lado do tráfico de drogas e de armas.

NARCOTRÁFICO

O narcotráfico movimenta mais de 400 bilhões de dólares por ano, sendo um dos setores mais lucrativos da economia mundial. Dados da Secretaria Nacional Antidrogas e do escritório da ONU sobre drogas e crimes indicam que no Brasil há entre 20 e 30 milhões de viciados em álcool, contra 870 mil dependentes de cocaína. 

A cada ano, cerca de oito mil pessoas morrem em decorrência do uso de drogas lícitas e ilícitas no Brasil. Um estudo elaborado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) apontou que, entre 2006 e 2010, foram contabilizados 40,6 mil óbitos causados por substâncias psicoativas. O álcool aparece na primeira colocação entre as causas, sendo responsável por 85% dessas mortes. 

RELIGIÃO

“Assim, as religiões – que têm em comum a promoção da vida, da liberdade, da justiça e da solidariedade – podem constituir fundamental instrumento para a promoção de uma cultura da paz e da vida”, afirma o texto-base da Campanha.

Dito de outro modo, as religiões são mecanismos importantes de mobilização social no enfrentamento da violência e da criminalidade. As religiões podem ser um contraponto positivo frente à onda de morte que toma conta de sociedade.

Contudo, também é possível que a experiência religiosa se converta em uma forma de violência. No Brasil, tem sido comum que a intolerância e o fanatismo religiosos se concretizem no desrespeito à liberdade de expressão, nas proibições de uso de vestimentas rituais em público, nas agressões físicas de pessoas e a monumentos religiosos, além do uso indevido de símbolos de outra religião como o fim de desmerecer, condenar ou mesmo demonizar práticas religiosas. 

SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA

A superação da violência pede compromisso e ações que envolvam a sociedade civil, os membros da Igreja e os poderes constituídos, a fim de que não somente os direitos humanos, mas também a promoção da cultura da paz, sejam assegurados pela criação de políticas públicas emancipatórias. 

“A Campanha da Fraternidade deste ano nos convoca a viver a prática de Jesus no exercício da escuta, da saída missionária, do acolhimento, do diálogo, do anúncio e da denúncia da violência na dimensão pessoal e social. A lógica do amor é o único instrumento eficaz dantes das ações violentas”, afirma o texto-base da CF 2018. 

A relação com o outro é um importante passo para superação da violência, e a família é o primeiro lugar que o ser humano aprende a se relacionar. Os comportamentos e estímulos de superação da violência exercitadas na família nos convidam a desenvolver essas atitudes na comunidade e na sociedade. 

A superação da violência passa pela conversão pessoal. É preciso assumir a espiritualidade do seguimento de Jesus, o modelo de pessoa que escolheu não ser violento, mesmo diante das injustiças. A conversão, compreendida como mudança de atitudes e comportamentos, é a principal proposta que a liturgia quaresmal oferece. A oração é um importante instrumento para superação da violência.
 

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CF 2018: caminhos que abrem horizontes de construção da paz e de superação da violência

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08 de dezembro de 2017

“Eu sempre penso que a violência é uma coisa aprendida. E se é aprendida, também pode ser desaprendida”. Desta forma padre Vilson Groh, 62 anos, sintetiza a compreensão que orienta sua atuação nas periferias da grande Florianópolis (SC), há 35 anos, num reconhecido trabalho que chegou a chamar a atenção do papa Francisco.

O padre que busca “agarrar” a esperança que se esconde por traz dos olhos da população empobrecida, especialmente dos jovens negros, público prioritário do seu trabalho, só acredita ser possível construir um caminho de paz por meio da atuação em redes de projetos, que envolvam governos e sociedade civil na criação de novos espaços públicos não estatais e de controle social, num grande pacto de luta contra a violência.

O religioso tira conclusões da própria experiência. Ele chegou a Florianópolis (SC) aos 22 anos, após cursar filosofia na Fundação Educacional de Brusque, sua terra natal. Na capital do estado começou a fazer Teologia. Em 1983, no último ano do curso, iniciou um trabalho no morro Mocotó, uma das áreas mais pobres da cidade. Foi aí que iniciou a luta pela regularização fundiária, urbanização do local e acolhimento de crianças, jovens e adultos, trabalho que se expandiu para outros territórios. Neste período, segundo ele, foram regularizadas e urbanizadas mais de 64 áreas de terra na grande Florianópolis.

Há cinco anos, o padre criou o Instituto Vilson Groh (IVG), organização que articula uma série de projetos e entidades e que, só nos primeiros dois meses de 2017, atendeu mais de 5 mil crianças, adolescentes e jovens por meio de seus diferentes projetos. Em 2016, foram 16 mil.

Tendo a educação como prioridade, o IVG apresenta um horizonte palpável de esperança às crianças, adolescentes e jovens, com os quais desenvolve um projeto pedagógico e de vida que vai dos 6 anos ao ingresso na Universidade. Foi este trabalho que despertou a atenção do papa Francisco que o convidou para uma audiência no Vaticano, em fevereiro deste ano.

A capacidade de mobilização do padre Vilson Groh vem mudando não apenas o acesso à moradia, mas também o colorido das paisagens por onde passa. Por meio do projeto Mocotó Cor e do trabalho voluntário, um exemplo de intervenção nos bairros onde atua, ele vem dando um colorido especial às fachadas das casas.

“Só por meio da nossa capacidade de fazer uma opção pelas periferias geográficas, como diz o papa Francisco, e se deixar tocar por essas realidades; Por meio da compreensão de uma Igreja em saída, entrando nestas ‘galileias’ empobrecidas e voltando ao método de Jesus, o método do encontro”, o religioso que vem transformado territórios e pessoas, acredita ser possível superar a violência e construir um caminho de paz.

As ideias do padre foram tomando forma na década de 80 primeiro por meio da Associação de Amigos da Casa da Criança do Adolescente do Mocotó, que hoje faz parte do Instituto Vilson Groh. Hoje a rede IVG abrange o Centro de Educação Popular, o Centro Cultural Escrava Anastácia, o Centro Social Elisabeth Sarkamp, o Centro Cultural Marista São José, a Associação João Paulo II e o Centro Educacional Marista Lúcia Mayvorne. O IVG oferece ainda cursinho pré-vestibular gratuito para os jovens da periferia.

 

As periferias geográficas de que fala o papa Francisco coincidem com a reflexão proposta pela Campanha da Fraternidade 2018 que, encarando o tema da violência, fala em seu texto-base da existência de territórios marcados pela extrema violência. No próximo ano, a Igreja no Brasil vai refletir sobre o tema e suas diferentes formas de manifestação direta, indireta e institucional na perspectiva da sua superação e da construção de uma cultura da paz.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a violência pelo uso intencional da força contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo de pessoas, de modo a resultar em dano físico, sexual, psicológico ou morte.

Segundo o arcebispo de Brasília (DF) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Sergio da Rocha, há um clamor pela superação da violência, nas suas variadas formas, que tanto sofrimento tem trazido ao povo brasileiro. “Com a CF 2018, esperamos poder envolver as comunidades e a todos, estimulando a reflexão e a busca de soluções para a sua superação”, diz.

Guerra letal e silenciosa – O tema que está no centro das preocupações dos brasileiros figura nas pesquisas que apontam o Brasil como um dos países mais violentos do mundo. A nota técnica do Atlas da Violência, de março de 2016, fruto da parceria do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, demonstra que apesar de possuir menos de 3% da população mundial, o país responde por quase 13% dos assassinatos no planeta. Em 2014, o Brasil chegou ao topo do ranking, considerado o número absoluto de homicídios. Foram 59.627 mortes segundo o Ipea.

Os números apontados pelo Mapa da Violência 2016, organizado pela Flacso, mostram que, no Brasil, cinco pessoas são mortas por arma de fogo a cada hora. A cada único dia são 123 pessoas assassinadas dessa forma. Essas cifras revelam que, no Brasil, ocorrem mais mortes por arma de fogo do que nas chacinas e atentados que acontecem em todo o mundo. Contam-se mais homicídios aqui do que em diversas das guerras recentes.

O especialista em segurança pública Robson Sávio Reis Souz, professor da PUC Minas, chama a atenção para o fato do Brasil ser o décimo país mais desigual, apesar de ser a oitava maior economia do mundo, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2016. A desigualdade social, segundo ele, é um dos principais fatores do crescimento da violência no país.

Com o aumento da criminalidade a partir da década de 80, consolidou-se um contexto de impunidade que, somado à maior procura por drogas ilícitas e a maior disponibilidade de armas de fogo, formou o ambiente no qual se deu o crescimento dos homicídios e de outros crimes contra a pessoa e contra o patrimônio, explica o professor que integra o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Autor do livro Quem comanda a segurança pública no Brasil: atores, crenças e coalizões que dominam a política nacional de segurança pública, da editora Letramento, diz que a violência no Brasil tem um caráter seletivo. “A maioria das vítimas da violência são pobres, negros, jovens e moradores da periferia. É uma violência seletiva. Não atinge a todos. No Brasil, há locais mais seguros que a Europa e mais violentos que a Síria”, disse.

Um dado que exemplifica o caráter seletivo da violência citado pelo professor é o que aponta que entre jovens de 15 a 24 anos, os homicídios são a principal causa de morte. Dados referentes ao ano de 2011 mostram a gravidade da tragédia. Naquele ano houve, em todo o país, mais de 52 mil mortos por homicídio. Desse total, mais da metade das vítimas eram jovens (52,63%). Dentre tais jovens vitimados, a imensa maioria era composta por negros (71,44%), majoritariamente do sexo masculino (93,03%).

Entre 2001 e 2011, os homicídios de mulheres cresceram 17,2%. Somente no ano de 2013, houve 4,8 homicídios por 100 mil mulheres, segundo o Mapa da Violência publicado em 2015. Tendo registrado naquele ano 4.762 homicídios de mulheres – 13 homicídios diários, em média –, o Brasil ocupa a quinta colocação, numa lista de 83 países. Ocorrem aqui 2,4 vezes mais homicídios de mulheres do que a média internacional.

O presidente da CNBB, cardeal dom Sergio Rocha, reforça que a superação da violência necessita da ação efetiva dos três poderes, especialmente da implantação de políticas públicas. “Os caminhos de superação passam sempre pelo diálogo, pela misericórdia, pela justiça social e pela educação para a paz”, afirma. O arcebispo lembra que nas campanhas da fraternidade, a palavra de Deus sempre ilumina e orienta o caminhar da Igreja. Na CF 2018, reforça o cardeal, o lema “Em Cristo, somos todos irmãos”, motiva a construir a fraternidade como caminho para alcançar a paz.

Matéria publicada na edição nº 21 da Revista Bote Fé da Edições da CNBB

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