Publicada Exortação Apostólica Pós-Sinodal "Querida Amazônia"

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12 de fevereiro de 2020

O Papa Francisco acaba de publicar a Exortação Apostólica “Querida Amazônia”, documento feito a partir da realização da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, realizado entre os dias 6 e 27 de outubro de 2019, no Vaticano.

O documento compartilha os “Sonhos para a Amazônia” do Papa Francisco, cujo destino deve preocupar a todos, porque esta terra também é “nossa”. Assim, formula “quatro grandes sonhos”: que a Amazônia “lute pelos direitos dos mais pobres”, “que preserve a riqueza cultural”, “que guarde zelosamente a sedutora beleza natural”, e que, por fim, as comunidades cristãs sejam “capazes de se devotar e encarnar na Amazônia”.

 

Confira o documento aqui: Exortação Apostólica Pós-Sinodal "Querida Amazônia"

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Igreja na Amazônia: conversão integral, pastoral, ecológica e sinodal

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23 de janeiro de 2020

Cresce em todo o mundo a expectativa pela publicação da exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco sobre a vida e a missão da Igreja na Amazônia. O documento será fruto da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos, realizada em outubro de 2019.

Com o tema “Amazônia, novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral”, o Sínodo teve a participação dos bispos e representantes dos nove países que constituem a chamada Pan-Amazônia – Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela, incluindo a Guiana Francesa como território ultramar –, envolvendo sete conferências episcopais.

Ao término do Sínodo, que tem caráter consultivo, foi apresentado ao Pontífice um Documento Final, como fruto das reflexões e trabalhos sinodais. Nesse texto, foram destacados diagnósticos sobre a realidade dos povos amazônicos e apresentadas sugestões para a ação evangelizadora da Igreja na Amazônia. Esses diagnósticos, como afirmou o Papa Francisco em seu discurso conclusivo dos trabalhos do Sínodo, são a parte mais consistente do caminho sinodal.

Conversão, missionariedade, defesa da vida e da criação foram as palavras-chave do Documento Final. Nesta edição, o jornal O SÃO PAULO recorda os principais diagnósticos apontados pelo Sínodo:

CONVERSÃO INTEGRAL

O Sínodo ressaltou a beleza da vida na Amazônia, que hoje é “ferida e deformada” pela dor e violência. Dentre as ameaças apontadas, estão: apropriação e privatização dos bens da natureza; modelos predatórios de produção; desmatamento; poluição das indústrias extrativistas; mudanças climáticas; narcotráfico; alcoolismo; tráfico de seres humanos; a criminalização de líderes e defensores do território; e grupos armados ilegais.

O crescente fenômeno migratório também foi ressaltado, tanto no âmbito da mobilidade de grupos indígenas em territórios de circulação tradicional quanto no deslocamento forçado de populações indígenas, na migração internacional e de refugiados.

 

CONVERSÃO PASTORAL

Os padres sinodais enfatizaram que a comunidade eclesial deve ir ao encontro de todos para anunciar com alegria o Cristo ressuscitado, gerando filhos para a fé entre os povos a que serve.

A assembleia não deixou de mencionar os muitos missionários que deram a vida para anunciar o Evangelho em terras amazônicas e reconheceu a necessidade de que as congregações religiosas do mundo estabeleçam pelo menos um posto missionário em um dos países da Amazônia.

O Sínodo considerou o diálogo ecumênico e inter-religioso como “caminho indispensável da evangelização na Amazônia”, e recordou a urgência de uma pastoral indígena, especialmente para os jovens, imersos em uma crise de valores, vítimas da pobreza, violência, desemprego, novas formas de escravidão e dificuldade de acesso à educação.

Também houve uma profunda reflexão sobre a pastoral urbana, com um foco particular nas famílias, que, sobretudo nas periferias, sofrem com a pobreza, desemprego, falta de moradia e problemas de saúde.

 

CONVERSÃO CULTURAL

Na perspectiva da inculturação, foi dada atenção à piedade popular, cujas expressões devem ser valorizadas, acompanhadas, promovidas e, às vezes, “purificadas”, pois são momentos privilegiados de evangelização que devem conduzir ao encontro com Cristo.

Os bispos identificaram, ainda, a relevância dos centros de pesquisa da Igreja para estudar e recolher as tradições, as línguas, as crenças e as aspirações dos povos indígenas, encorajando o trabalho educativo a partir da sua própria identidade e cultura.

 

CONVERSÃO ECOLÓGICA

A expressão conversão ecológica teve grande destaque no Sínodo, que indica a ecologia integral, apontada pelo Papa Francisco na Encíclica Laudato Si’, como o único caminho possível para a Amazônia. A esperança é que, reconhecendo “as feridas causadas pelo ser humano” ao território, sejam procurados “modelos de desenvolvimento justo e solidário”.

Os bispos reunidos em Sínodo reafirmaram o empenho da Igreja em defender as futuras gerações, a virtude da justiça e a vida “desde a concepção até o seu fim” e propuseram, inclusive, a definição de “pecado ecológico” como “ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a comunidade, o meio ambiente”.

 

CONVERSÃO SINODAL

Os bispos enfatizaram a necessidade da “sinodalidade do povo de Deus”, em que todos os seus membros caminhem juntos. Apontaram a necessidade de maior participação dos leigos na vida e missão da Igreja, por meio de uma sólida formação e da valorização dos ministérios que lhes são próprios. Nesse sentido, refletiu-se sobre uma maior participação das mulheres, religiosas e leigas, na vida das comunidades eclesiais. Consideraram igualmente urgentes a promoção, formação e apoio aos diáconos permanentes.

Ao refletirem sobre a centralidade da Eucaristia à vida cristã, os padres sinodais ressaltaram a dificuldade de algumas comunidades terem acesso a este sacramento, assim como à Reconciliação e à Unção dos Enfermos, devido à falta de sacerdotes.

De igual modo, constataram a importância de que a vida consagrada nessa região tenha uma identidade amazônica, a partir de um reforço das vocações autóctones.

Espera-se que a exortação apostólica pós-sinodal sobre esse tema seja publicada nos próximos dias. Como aconteceu com os documentos pontifícios anteriores de Francisco, será apresentada pelos bispos locais nas dioceses, que promoverão eventos e estudos para conhecimento e aprofundamento de seu conteúdo.

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Cardeal Hummes: Sínodo sobre a Pan-Amazônia pode ser de novos horizontes à Igreja

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18 de abril de 2018

A preparação do Sínodo dos Bispos sobre a Pan-Amazônia, convocado pelo Papa Francisco para outubro de 2019, no Vaticano, foi um dos assuntos em destaque na coletiva de imprensa da tarde desta quarta-feira, 18, em Aparecida (SP), durante a 56ª Assembleia Geral da CNBB.

O Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo e Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), falou aos jornalistas sobre os preparativos do Sínodo que “pode se tornar realmente um momento histórico para a Igreja universal e não apenas para a Igreja na Amazônia. Pode ser um momento de grandes mudanças e de novos horizontes da Igreja na sua caminhada na história da sociedade humana”, afirmou.

Dom Cláudio afirmou que os primeiros interlocutores do sínodo são os indígenas e o povo simples ribeirinho, “todos aqueles que trabalham no interior da Amazônia, o povo mais pobre e mais esquecido”, a quem a Igreja deve chegar para que escute o que eles têm a dizer.

Encontros com o Papa

O Presidente da Repam lembrou do recente encontro que o Papa teve no Vaticano, nos dias 12 e 13 deste mês, com os membros do conselho que está preparando o Sínodo: “Nos dois dias de trabalho, o Papa estava presente praticamente todo tempo, sentado conosco, ouvindo o que estava sendo proposto, porque esse momento será para preparar um documento, que desperte no público em geral, portanto na comunidade das igrejas na diocese, o interesse pelo Sínodo, dando a oportunidade para que todos possam falar sobre isso”.

Dom Cláudio lembrou que o Papa já tinha se encontrado com bispos, padres e indígenas da região em Puerto Maldonado, no Peru, durante a visita apostólica que realizou àquele país em janeiro deste ano. “Foi realmente fundamental aquele encontro. Agora, devemos continuar com pequenos encontros regionais locais e haverá um grande programa para isso”.

Desafios

O Arcebispo Emérito de São Paulo disse que o olhar da Igreja para a Amazônia deve ser tanto missionário quanto de preocupação com uma área ameaçada pelo desmatamento, pelos grandes projetos, pela mineração e pela agropecuária.

“Como defender essa Amazônia, os rios, as matas, as biodiversidades, e os próprios povos originários que estão ali? Como, de fato, ajudar para que eles não sejam atropelados, destruídos e degradados? E como é que a Igreja, sendo uma luz e guia, pode anunciar Jesus Cristo, dentro dessa problemática?”, foram alguns dos pontos elencados por Dom Cláudio.

De uma ‘Igreja indigenista a uma Igreja indígena’

O Cardeal Hummes também afirmou que o Sínodo em 2019 colocará em reflexão o rosto local da Igreja na Amazônia, que precisa envolver um maior número de agentes pastorais que sejam da própria população e um clero de nascidos na região, com vistas a manter a frequência na vivência dos sacramentos.

“Se pensa muito em um clero indígena, um clero que nasça de dentro das próprias comunidades, que fica ali, pois já é dali”, afirmou, complementando: “Fala-se de uma Igreja indigenista. Significa uma Igreja que defende os indígenas, que está do lado dos indígenas, uma Igreja que luta pelos direitos dos indígenas. E nós precisamos passar de uma Igreja indigenista a uma Igreja indígena, ou seja, uma Igreja que nasce de dentro dos próprios indígenas, onde eles são os sujeitos da sua história religiosa, são os pastores e, portanto, fazem a história religiosa do seu povo. A igreja deve brotar de um próprio povo, da cultura desse povo, da história desse povo, identificando-se com esse povo a partir do próprio povo que crê em Jesus Cristo. É por aí que esperamos deste Sínodo”.

Região Pan-Amazônia

Com um território de aproximadamente 6,9 milhões de quilômetros quadrados, a Pan-Amazônia compreende o Brasil (67%), Peru (13%), Bolívia (11%), Colômbia (6%), Equador (2%), Venezuela (1%), além de Suriname, Guiana e Guiana Francesa, que somam 0,15% do restante do território.

Na região habitam mais de 30 milhões de pessoas, sendo 2.779.478 indígenas pertencentes a 390 povos autóctones e 137 povos “isolados” (não contatados). São pessoas que falam 240 línguas diferentes, pertencentes a 49 ramos linguísticos. Atualmente, a Igreja se organiza na região em 56 circunscrições eclesiásticas, entre arquidioceses, dioceses e prelazias.

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Vozes da amazônia são ouvidas na preparação do Sínodo

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13 de abril de 2018

Na Secretaria para o Sínodo estiveram reunidos na manhã desta quinta-feira, 12 de abril, os 18 membros do Conselho Sinodal e mais 13 especialistas em questões amazônicas, na abertura dos trabalhos do pré-Sínodo. O encontro de abertura foi presidido pelo Santo Padre, o Papa Francisco.

O cardeal Lorenzo Baldisseri, secretario do Sínodo, definiu a Amazônia como um jardim de imensas riquezas e recursos naturais, terra mãe de povos indígenas, com uma história própria e um rosto inconfundível. Terra ameaçada pela ambição sem limites e o afã de domínio dos poderosos.

Outro elemento, foram os novos caminhos que estão no título deste Sínodo que se realizará em outubro do ano que vem, enquanto a terra amazônica apresentada como um espaço sócio cultural que implica um duplo desafio: por um lado, um desafio para a Igreja, no sentido que a Amazônia é uma terra de missão, com características próprias que exigem caminhos novos e soluções apropriadas para inculturação no Evangelho; por outro lado, não menos importante, está o desafio apresentado pela problemática ecológica, que exige como resposta uma ecologia integral na linha com a Encíclica Laudato Si.

Os trabalhos do Conselho pré-sinodal para a Amazônia continuam até sexta-feira, 13 de abril, pela tarde. Os encontros contam sempre com a presença do Papa Francisco. Os documentos preparatórios, chamados lineamenta, baseiam-se no método ver, julgar e agir.

Padre Justino Rezende, da etinia Tuyuca, era o único indígena presente. É um missionário salesiano há 34 anos e sacerdote há 24. Na sua apresentação ao Santo Padre e aos demais membros do pré-Sínodo, falou de sua alegria de ser um dos participantes, de estar pela primeira vez diante do Santo Padre e da presença da Igreja no meio de seu povo.

Agradeço ao Papa Francisco, ao cardeal Baldisseri, aos bispos, padres e assessores que fazem parte do conselho sinodal. Estou aqui falando em nome dos povos da Amazônia, especialmente em nome dos povos indígenas, sou o único indígena presente. Com gratidão digo que a Igreja está olhando para nós, com o coração e a mente voltados para nós. Está depositando em nós, povos da amazônia, esperança de receber contribuições importantes para que a Igreja seja cada vez mais universal. Nós povos indígenas, fomos evangelizados, evangelizadores hoje, também vamos contribuir para o enriquecimento da nossa Igreja.

O Senhor é nosso irmão maior, é nosso guia e nosso Pastor. Através deste sínodo temos a importante oportunidade para inovar a nossa Igreja presente na Amazônia. Agradecemos também a todos os missionários, bispos e padres, que deram a vida pelos nossos povos, defendendo nossas vidas e nossas culturas, sendo martirizados dando o sangue para banhar as terras amazônicas.

Se não fosse a Igreja já teríamos acabado. A Igreja está presente, muitos missionários adquiriram os rosto indígena, aprendendo a cultura, o idioma, as tradições e não quiseram mais retornar. Estão sepultados conosco. Graças ao nosso bom Deus, pelo trabalho missionário surgiram muitos leigos comprometidos com a Igreja – catequistas, ministros extraordinários, religiosos e sacerdotes. E este é o rosto que temos a oferecer enquanto Igreja. Estamos lá, mas também aqui no coração da nossa Igreja. 

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Em comunhão com os povos nativos, plasmar uma Igreja com rosto amazônico

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23 de janeiro de 2018

Após a visita do Papa Francisco a Puerto Maldonado e seu encontro com as populações originárias, a cidade peruana hospedou um encontro preliminar para a preparação do Sínodo Pan-amazônico em programa para outubro de 2019.

Convocados pelo Papa Francisco, mediante o Secretário Geral do Sínodo, Cardeal Lorenzo Cardeal Baldisseri, reuniram-se nos dias 19 e 20 de janeiro bispos de Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Inglesa, Peru, Suriname e Venezuela, membros da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, representantes do Conselho Episcopal Latino-americano, CELAM, da Conferência dos Religiosos, CLAR, e da Caritas.  

Foi uma sessão de consulta na qual foram expressas as inquietudes dos povos e os desafios pastorais das realidades amazônicas. No final desta série de encontros, manifestando satisfação pelo processo formal do Sínodo ter tido início em território amazônico, a REPAM difundiu um comunicado em que informa quais serão as seguintes etapas:

“O seguinte passo será a elaboração dos documentos preparatórios, como corresponde em todo processo sinodal, mediante os quais os bispos do território amazônico e seu povo continuarão sendo consultados. Estes passos seguirão as orientações dadas pelo Papa Francisco, sobretudo na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” e na Encíclica Laudato Si: sobre o cuidado da Casa Comum”.

“Queremos fazer nossas as palavras do Santo Padre sobre o reconhecimento dos nossos povos como interlocutores que, com sua sabedoria ancestral e sua diversidade cultural, tornam possível o cuidado da Casa Comum”.

“Confiamos que, em comunhão com nossos povos originários, possamos encontrar novos caminhos para plasmar uma Igreja com Rosto Amazônico”.

A nota é assinada pelo Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, Cardeal Cláudio Hummes.

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Há tempos, Papa planeja Sínodo para Amazônia, diz Cardeal Baldisseri

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06 de novembro de 2017

A atenção especial do Papa Francisco à região da Amazônia já é de longa data. Conforme explicou o Cardeal Lorenzo Baldisseri ao O SÃO PAULO , em breve entrevista por e-mail, há mais de um ano o Pontífice já pensava em uma assembleia do Sínodo dos Bispos dedicada especialmente às questões da região Pan- Amazônica. “Cerca de um ano e meio atrás, recebi uma ligação telefônica do Papa, na qual me expressou a intenção de um possível Sínodo especial sobre a Amazônia”, contou Dom Lorenzo, que foi Núncio Apostólico no Brasil por dez anos e hoje é Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos.

“Depois, passou bastante tempo e o Papa me disse que, naquele momento, era só uma ideia. Agora, como podemos ver, é um programa concreto”, afirmou o Cardeal. A chamada região da “Pan- Amazônia” inclui todo o território da floresta que se estende pelo Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, Guianas e Suriname. 

Segundo Dom Lorenzo, foi o Arcebispo Emérito de São Paulo, Cardeal Cláudio Hummes, quem estimulou esse projeto do Papa Francisco. “Já faz um bom tempo que o Santo Padre falava de uma atenção especial para a Amazônia e o Cardeal Hummes foi quem percebeu melhor do que ninguém esse desejo do Papa.” O Cardeal Baldisseri explicou que o objetivo é levar a Amazônia ao centro das atenções de toda a Igreja. “É uma terra de missão, no sentido clássico, onde houve a ‘ implantatio Ecclesiae ’, mas ainda carente de estruturas, de pessoal, de novas ideias.”

A associação entre problemas sociais e problemas ambientais que o Papa Francisco fez de forma inovadora na Encíclica Laudato Si’ se manifesta de forma explícita no contexto amazônico. De acordo com Dom Lorenzo, a Encíclica pode ajudar a orientar propostas para a região. “Para o mundo, é uma região única com problemáticas que dizem respeito à sobrevivência. O clima e o ecossistema foram fragilizados pela intervenção insensata e catastrófica do homem.” A Laudato Si ’ poderá ajudar a identificar “a urgência de uma intervenção positiva em favor dessa região”, diz.

O Papa Francisco anunciou em 15 de outubro sua decisão de convocar uma reunião especial do Sínodo para a Amazônia, que deve acontecer em outubro de 2019, no Vaticano. Ele disse que o objetivo é encontrar novas formas de evangelização, especialmente para indígenas, um povo esquecido e sem perspectiva. 

“Temos dois anos para preparar, mas os tempos ‘amazônicos’ são diferentes dos ritmos de outras regiões da terra. Temos que trabalhar desde já!”, disse o Cardeal Baldisseri. “A reação ao anúncio foi de entusiasmo e grande interesse, inclusive na Europa e na Ásia, onde se começa a aumentar a conscientização”, afirmou. 

Até o momento, desde 2014, existe a Rede Eclesial Pan-Amazônica, da qual Dom Cláudio Hummes é Presidente. A instituição reúne as conferências episcopais dos nove países da região. Dom Cláudio também é Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Em breve, teremos encontros na região com sucessivo e imediato contato da Secretaria-Geral do Sínodo dos Bispos”, contou Dom Lorenzo.
 

 

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Sínodo buscará ‘rosto amazônico’ da Igreja

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31 de outubro de 2017

A convocação da Assembleia do Sínodo dos Bispos para a região da Pan-Amazônia, que acontecerá em outubro de 2019, em Roma, é fruto de uma antiga preocupação da Igreja Católica com essa vasta região que abrange nove países da América do Sul. No próprio anúncio feito durante a oração do Ângelus, no dia 15, o Papa Francisco afirmou que o Sínodo foi convocado “atendendo o desejo de algumas conferências episcopais da América Latina, assim como ouvindo a voz de muitos pastores e fiéis de várias partes do mundo”.

Ainda de acordo com o Pontífice, o objetivo principal desse Sínodo é “identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta”. 

Com um território de aproximadamente 6,9 milhões de quilômetros quadrados, a Pan-Amazônia compreende o Brasil (67%), Peru (13%), Bolívia (11%), Colômbia (6%), Equador (2%), Venezuela (1%), além de Suriname, Guiana e Guiana Francesa, que somam 0,15% do restante do território. Na região habitam mais de 30 milhões de pessoas, sendo 2.779.478 indígenas pertencentes a 390 povos autóctones e 137 povos “isolados” (não contatados). São pessoas que falam 240 línguas diferentes, pertencentes a 49 ramos linguísticos.

A ação evangelizadora da Igreja na Amazônia começou há 400 anos com a colonização europeia na região. Atualmente, a Igreja se organiza na região em 56 circunscrições eclesiásticas, entre arquidioceses, dioceses e prelazias. 

 

Repam

Em 2014, foi criada, em Brasília (DF), a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), organismo ligado ao Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), que reúne os países que compõem a Amazônia. A Repam, que tem como Presidente o Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo, nasceu como uma oportunidade de apoio, solidariedade e fortalecimento da ação evangelizadora no contexto amazônico. 

Em entrevista ao O SÃO PAULO , na edição 3115, Dom Cláudio explicou que entende que o Papa Francisco deseja uma Igreja que, em sua evangelização, se envolva realmente com a cultura, a história, os problemas, os sonhos e os projetos do povo amazônico, incluindo, de modo, particular o universo dos povos indígenas, que são originários da região.

 

Desafios

Dentre os desafios da evangelização na Amazônia, o Cardeal destacou o número insuficiente de missionários, que chegam a percorrer enormes distâncias para visitar povoados, o que faz que comunidades de indígenas e de ribeirinhos raramente recebam os sacramentos da Eucaristia, Reconciliação e Unção dos Enfermos. “Como pode uma comunidade católica florescer se faltam quase totalmente esses três sacramentos fundamentais do cotidiano dos católicos, somado à ausência física quase constante dos seus pastores?”, indagou. 

Ainda segundo Dom Cláudio, muitas comunidades indígenas que foram contatadas por missionários no passado e aderiram à fé católica, hoje estão migrando para seitas protestantes neopentecostais, devido à intensa atividade desses grupos e por falta de presença maior dos sacerdotes católicos. Dom Cláudio informou que há poucas dioceses na Amazônia que possuem um significativo número de clero autóctone. “Se considerarmos a evangelização específica dos índios, padres indígenas infelizmente quase não há”, ressaltou. 

Os desafios da evangelização na Amazônia não se limitam aos povos da floresta. O fluxo migratório para os centros urbanos causa um crescimento desordenado das cidades, gerando bolsões de pobreza. Paralelo a isso, existem as questões ambientais, como desmatamento e o impacto socioambiental gerado pela construção de novas usinas hidrelétricas. Essa questão foi abordada pelo Papa Francisco na Encíclica Laudato Si’ (2015). “Cada vez mais nos damos conta de que a floresta em pé pode trazer muito mais riquezas a um país do que uma floresta derrubada. O desafio é como fazer a floresta produzir sem que precisemos derrubá-la. Os povos da Amazônia têm direito ao progresso e desenvolvimento, mas é preciso respeitar que eles é que devem decidir que tipo de desenvolvimento querem”, afirmou Dom Cláudio, ao apresentar o trabalho da Repam ao episcopado brasileiro durante a 55ª Assembleia Geral da CNBB, em abril.

 

Teste decisivo para a Igreja

O desejo de um sínodo para a Pan-Amazônia já havia sido manifestado há alguns meses pelo Papa em encontros com bispos sul-americanos. Em maio, ao receber o episcopado peruano, Francisco tratou do desafio da evangelização em comunidades remotas. Em setembro, durante a visita dos bispos da Conferência Episcopal do Equador, o Papa manifestou a intenção de realizar um sínodo para a Igreja na Pan-Amazônia. Em entrevista à rádio Vaticano , Dom René Coba Galarza, Secretário-Geral da conferência equatoriana, relatou que o Pontífice insistiu principalmente quanto ao respeito pela identidade desses povos e a proximidade que a Igreja deve lhes oferecer. 

Desde o início de seu pontificado, o Papa Francisco chamou a atenção para a evangelização na Amazônia, seguindo seus predecessores, Bento XVI, São João Paulo II e o Beato Paulo VI, que, em 1972, afirmou que “Cristo aponta para a Amazônia”.

Em seu discurso aos bispos brasileiros durante a Jornada Mundial da Juventude de 2013, no Rio de Janeiro, o Papa Francisco definiu a Amazônia como “teste decisivo, banco de prova para a Igreja e a sociedade”. Ele recordou a presença dos missionários, congregações religiosas, sacerdotes, leigos e bispos. “A Igreja está na Amazônia, não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam”, disse.

Na ocasião, o Santo Padre acrescentou a necessidade de ser “mais incentivada e relançada a obra da Igreja” na Amazônia. “Fazem falta formadores qualificados, especialmente formadores e professores de Teologia, para consolidar os resultados alcançados no campo da formação de um clero autóctone, inclusive para se ter sacerdotes adaptados às condições locais e consolidar, por assim dizer, o ‘rosto amazônico’ da Igreja”.

(Com informações de CNBB, Repam, Rádio Vaticano e IHU)
 

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