Novo documento do Papa: Sínodo dos bispos a serviço do Povo de Deus

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18 de setembro de 2018

Faltando poucos dias para o início do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens, foi publicada esta terça-feira, 18, a Constituição Apostólica do Papa Francisco Episcopalis communio sobre a estrutura do organismo instituído por Paulo VI em 1965.

Pelo bem de toda a Igreja

Francisco define a instituição do Sínodo como uma das “heranças mais preciosas do Concílio Vaticano II”, e destaca a “eficaz colaboração” do organismo com o Romano Pontífice nas questões de maior importância, isto é, que “requerem uma especial ciência e prudência pelo bem de toda a Igreja”. Neste momento histórico em que a Igreja abarca uma nova “etapa evangelizadora”, através de um estado permanente de missão, o Sínodo dos bispos é chamado a se tornar sempre mais um canal adequado para a evangelização do mundo de hoje.

 

A Secretaria Geral

Paulo VI havia previsto que, com o passar do tempo, esta instituição poderia ser aperfeiçoada; a última edição do Ordo Synodi é de 2006, promulgada por Bento XVI. Diante da eficácia da ação sinodal, nesses anos cresceu o desejo de que o Sínodo se torne sempre mais “uma peculiar manifestação e uma eficaz atuação da solicitude do episcopado para com todas as Igrejas”.

 

A escuta

O bispo, reitera o Papa, é contemporaneamente “mestre e discípulo”, num compromisso que é ao mesmo tempo missão e escuta da voz de Cristo que fala através do Povo de Deus. Também o Sínodo então “tem que se tornar sempre mais um instrumento privilegiado de escuta do Povo de Deus”, através da consulta dos fiéis nas Igrejas particulares, porque mesmo que seja um organismo essencialmente episcopal, não vive “separado do restante dos fiéis”.

Portanto, é “um instrumento apto a dar voz a todo o Povo de Deus justamente por meio dos bispos”, “custódios, intérpretes e testemunhas da fé”, mostrando-se, de Assembleia em Assembleia, uma expressão eloquente da “sinodalidade” da própria Igreja, em que se espelha uma comunhão de culturas diferentes. Também graças ao Sínodo dos bispos, ficará mais evidente que nela vige uma “profunda comunhão”, seja entre os pastores e fiéis, seja entre os bispos e o Pontífice.

 

A unidade do todos os cristãos

A esperança do Papa Francisco é que a atividade do Sínodo possa “a seu modo contribuir ao restabelecimento da unidade entre todos os cristãos, “segundo a vontade do Senhor”. Deste modo, o organismo ajudará a Igreja Católica, segundo o auspício de São João Paulo II expresso na encíclica Ut unum sint, a “encontrar uma forma de exercício de primado que, não renunciando de modo algum à essência de sua missão, se abra a uma nova situação”.

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Sínodo dos Bispos será também ‘dos jovens’, diz Cardeal Baldisseri

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26 de fevereiro de 2018

Serão 300 os jovens e especialistas envolvidos na reunião preparatória do Sínodo dos Bispos sobre o tema da juventude. Os nomes dos escolhidos ainda não foram divulgados, mas a maioria deles foi indicada por conferências episcopais ou outros organismos da Igreja. “Trata-se de um evento em que os jovens serão os atores e protagonistas”, afirmou o Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário-Geral do Sínodo, em coletiva de imprensa realizada no Vaticano na sexta-feira, 16. 

“Não se falará somente deles, mas serão eles a falar de si mesmos com sua linguagem, entusiasmo e sensibilidade”, disse o Cardeal. Para ele, o Sínodo não será somente “sobre” e “para” os jovens, mas “dos” e “com” os jovens. A reunião, que será entre 19 e 24 de março, servirá principalmente para confrontar ideias, propostas e dificuldades de jovens de todo o mundo e apresentar um documento preparatório para o Sínodo, cuja assembleia geral será em outubro. “Essa data foi escolhida para que os jovens possam participar do Domingo de Ramos em Roma, data em que tradicionalmente se celebra a Jornada Mundial da Juventude”, explicou.

O documento resultante dos encontros de março será entregue ao Papa e, com base nele, a Secretaria do Sínodo dos Bispos elaborará o instrumentum laboris (instrumento de trabalho) dos padres sinodais. O instrumentum é sempre uma indicação inicial de possíveis temas e direções que o Sínodo poderá tomar.

De acordo com o Cardeal Baldisseri, uma palavra-chave desses encontros será “escuta”, algo muito presente no vocabulário do Papa Francisco. “Nesta reunião pré-sinodal, escutaremos os jovens ao vivo e a cores, para buscar compreender melhor a sua situação: o que pensam de si mesmos, dos adultos, como vivem a fé e quais dificuldades encontram para ser cristãos”, disse. Também serão levados em conta os obstáculos que os jovens enfrentam no discernimento de sua vocação.

Além dos jovens, participarão da reunião alguns pais, educadores, sacerdotes e agentes de pastoral juvenil, além de especialistas no tema, provenientes de diversas partes do mundo. Entre os jovens, há, inclusive, pessoas de regiões periféricas ou que tenham vivido situações de dependência química, guerra e prisão. 

“Queremos propor um método de troca e colaboração intergeracional, favorecendo o diálogo entre jovens e adultos, que, frequentemente, têm dificuldades de se comunicar na realidade cotidiana”, acrescentou Dom Lorenzo. Assim, os encontros devem propor um modelo que seja possível aplicar nas diversas realidades da Igreja.

 

INOVADORA PARTICIPAÇÃO  ON-LINE

Segundo o Cardeal, o formato desse Sínodo é inovador. A Secretaria do Sínodo dos Bispos colocou no ar, por seis meses, um questionário que foi respondido on-line por milhares jovens de todo o mundo e por pessoas envolvidas com o tema da juventude. Da mesma forma, a ideia é que jovens possam participar agora das discussões preparatórias, mesmo que não presentes em Roma nas atividades pré-sinodais. Por meio de páginas no Facebook, jovens de até 29 anos podem integrar a discussão. 

Cerca de 221 mil pessoas responderam ao questionário proposto pela Secretaria, dos quais 100,5 mil responderam a todas as perguntas. Foram 58 mil moças e 42,5 mil rapazes. Mais da metade tem de 16 a 19 anos. Mais da metade das respostas veio da Europa (56,4%), seguida de América Central (19,8%) e África (18,1%). Mais de 70% dos que responderam se declararam católicos. Em setembro, o Sínodo já havia organizado um seminário para discutir os temas mais recorrentes, que serviu para preparar as etapas posteriores.

“Os jovens usam hoje a internet e, especialmente, as redes sociais como um areópago natural, para se encontrarem, comunicarem e expressarem suas opiniões”, lembrou Dom Lorenzo, ao justificar a decisão de se realizar parte das discussões preparatórias também no ambiente digital. “Assim, os jovens de toda parte da Terra poderão não só seguir à distância os trabalhos em tempo real, mas interagir com os outros da sua mesma idade que estarão presentes em Roma e enviar sua contribuição”, disse. Tudo será considerado para o documento síntese final.

 

REUNIÕES EM MARÇO

De acordo com o Subsecretário do Sínodo dos Bispos, Dom Fabio Fabbene, os trabalhos da reunião preparatória com 300 participantes terão início com um encontro com o Papa Francisco, em 19 de março. O Santo Padre responderá a perguntas de cinco participantes de diferentes continentes. “A reunião pré-sinodal, de certa forma, se inspira na dinâmica da assembleia do próprio Sínodo. Não será simplesmente um congresso, um ciclo de palestras, mas haverá discussões dentro de grupos menores, divididos conforme a língua”, explicou o Bispo. 

Também um vídeo será realizado durante o encontro, além do documento conclusivo. Para Dom Fabbene, “os jovens se expressam mais facilmente com as novas tecnologias digitais e amam se comunicar com esse tipo de linguagem de narração, imagens e música”. Além disso, haverá momentos de oração, como uma Via-Sacra nas catacumbas de São Calisto e uma visita informal a Castel Gandolfo. 

Um subsídio já foi publicado em diversas línguas, que servirá tanto para os jovens presentes em Roma quanto para os jovens que desejam participar on-line. Mais detalhes podem ser encontrados no site do Sínodo (www.synod2018.va). Essa fase das discussões tem sido chamada informalmente de “We walk together”, ou “Nós caminhamos juntos”, em Inglês.

 

DESEJO DO PAPA

Foi um pedido do próprio Papa Francisco que a preparação do Sínodo sobre os jovens fosse mais participativa do que no passado. Ele frequentemente critica a cultura atual, chamando-a de “cultura do descarte”, porque em grande parte exclui os jovens e os idosos das discussões essenciais e das maiores decisões. 

Nesse sentido, durante a oração do Ângelus do domingo, 18, o Papa Francisco repetiu que seu desejo é que os jovens sejam protagonistas desse encontro preparatório. “Espero que possam intervir on-line por meio dos grupos de cada língua, moderados por outros jovens”, declarou. “A participação dos grupos em rede se unirá àquela da reunião que será realizada em Roma. Agradeço pela contribuição de vocês por caminhar juntos!”
 

 

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Padre Zezinho: ‘A Igreja está querendo que os jovens falem’

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27 de setembro de 2017

Junto aos jovens há mais de 50 anos, o Padre Zezinho, SCJ, cantor e compositor reconhecido por várias gerações de católicos, foi convidado pela Secretaria-Geral do Sínodo dos Bispos para participar do seminário “a condição juvenil no mundo”, entre 11 e 15 de setembro, no Vaticano. Trata-se da preparação para a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. O tema escolhido pelo Papa Francisco para o próximo sínodo, que será em outubro de 2018, é “o jovem, a fé e o discernimento vocacional”.

Ele conversou com O SÃO PAULO, nos bastidores do último dia de encontros, sobre os resultados do encontro e sobre as particularidades da juventude católica brasileira. Para ele, no momento atual, “os jovens sentem que têm toda a liberdade de falar” e não só devem aprender, mas também ensinar. “Vamos criar jovens pensadores, em tudo o que é diocese. O Papa está querendo que os jovens repensem a Igreja conosco”, disse.

Padre Zezinho falou, ainda, sobre como a tecnologia muda a comunicação com os jovens. 

Aos 76 anos, depois de superar um AVC e um câncer disse que está bem de saúde. “Me deixam descansar bem e estou medicado”, afirmou.

 

O SÃO PAULO - Há quantos anos o senhor trabalha com os jovens?

Há 50 anos. Aliás, mais, porque comecei antes. Trabalho com jovens há 54 anos, antes de ser padre já.

 

Nunca houve um Sínodo dos Bispos sobre os jovens. Como o senhor vê essa iniciativa?

A Igreja está querendo que os jovens falem. E com liberdade. É pedido do Papa. Está levando isso tão a sério que está pedindo a nós, formadores de jovens, a motivar o jovem a falar. E nós devemos falar menos. Eles, mais. Além disso, está fazendo a preparação do sínodo em duas etapas. Primeiro, agora em setembro, com os formadores. Depois, em março, vai ter um novo encontro, só que desta vez com mais jovens. Só depois de tudo o que eles e os especialistas falarem, vão falar com os bispos. Isso é novo, pois antigamente se falava sobre o jovem. Agora, o jovem fala. E fala sobre nós, sobre a Igreja, sobre os bispos. 

 

Isso é uma ideia do Papa Francisco?

O Papa está querendo isso: falem de nós. Como podemos ser para vocês? O que está faltando? Os jovens sentem que têm toda a liberdade de falar. Não serão cerceados. Ninguém vai dizer: você não devia ter dito isso. O que disserem vai ser ouvido. Isso é muito bom. Uma perspectiva de jovens da Igreja, jovens para a Igreja, e jovens com a Igreja. Nunca foi feito dessa forma, com essa perspectiva.

 

É uma mudança no método, certo?

Antigamente, na pedagogia, tínhamos que pensar no que ensinar para os jovens. Agora, os jovens mesmos têm de ensinar. E eles sabem coisas que nós não sabemos, porque eles estão em ambientes onde nós não estamos. Há uma cultura jovem importante. Antigamente, Platão, Aristóteles e todos os grandes pensadores falavam sobre o jovem, mas não deixavam o jovem falar. Não havia jovens escritores, cantores, que atingissem a humanidade. Tampouco havia os veículos. Para escrever um livro, estar no teatro, ele tinha de ser alguém famoso. Tinha de ter vivido. Era impossível esperar dos jovens. Podia, talvez, ser maestro e grande compositor, mas acho que só no campo da música, porque era um talento, como [Wolfgang Amadeus] Mozart. Mas o que o jovem tinha a dizer como pessoa não contava.

 

Na sua opinião, quando é que isso mudou?

Só nos anos 1960, com as guitarras, microfones, televisão e multidão. Nem o Frank Sinatra tinha essa força, porque era um indivíduo cercado de orquestra. De repente, apareceram os jovens com duas guitarras e algum instrumento, e não precisava mais do que isso. Eles iam falando e gritando. E virou um fenômeno de massa. Em pouco tempo, tinham milhões de jovens querendo ouvir outros jovens, não mais os adultos. Começaram a falar a si mesmos. Depois começaram a falar para nós, às vezes até agredindo, mas dizendo muita verdade. O Bob Dylan, por exemplo, se pegar o livro dele, é um filósofo. Muitos jovens começaram a dizer: não temos só canção, temos ideias e podemos ajudar o mundo com nossa opinião. Foi uma revolução melhor que a política.

 

O que pode sair de concreto em um Sínodo dos Bispos sobre os jovens?

Vamos criar jovens pensadores, em tudo o que é diocese. O Papa está querendo que os jovens repensem a Igreja conosco, e não “vamos pensar uma Igreja para os jovens”. Na verdade, o Papa Paulo VI queria algo do tipo. Foi líder dos jovens, e na política, quando era bispo e cardeal.

 

A diferença é que agora, com a tecnologia, é possível falar para o mundo inteiro…

Desde que chegou o celular na mão, ele se tornou um dos maiores instrumentos que a Igreja não tinha. Os jovens usam isso quase 15 horas por dia. Os bispos e os padres estão usando um pouco menos. Mas estão percebendo que precisam ler o que os jovens estão falando. Estamos lendo o que eles estão dizendo. E eles estão lendo o que nós falamos [na internet] mais do que livros. Agora, a conversa é aqui [no celular]. Eu chego até 4 ou 6 milhões de likes em alguns casos. Ou, no mínimo 80 mil, depende do assunto. Se é assunto quente, aí os jovens falam, respondem. Deixo entrar na minha página gente que não é nem católica. Pode falar. Mas se me ofender muito, vou conversar com ele e dizer “É a terceira vez, você não quer dialogar. Vou bloquear você”. Mas discordar é bom para nós.

 

O confronto de ideias faz pensar, certo?

Recebo coisas lindas de jovens ateus, pessoas políticas, alguns mais conservadores, que descobriram que eu deixo falar e respeito. Eles todos podem falar, mas ofender, não. Mas [o celular] é um instrumento de diálogo espetacular e a Igreja sabe disso. Ela está incentivando isso nas universidades. O jovem pode falar para 100 mil, 200 mil pessoas. Cada mensagem que ele manda para mim, ele é lido por milhares de outros. O mesmo para o Padre Fábio de Melo, por exemplo. É um instrumento espetacular de pedagogia. Só no Brasil deve haver mais de 300 organismos católicos, sites grandes, páginas para isso. 

 

O que o senhor destaca deste seminário em preparação para o Sínodo?

Um senso de eclesialidade que os jovens têm. Eles não são só católicos. São abertos para o mundo inteiro. Havia uma menina da Síria, muito preparada, falava em 4 línguas, muito consciente do que ela quer. Foi expulsa do seu país porque era católica. Por 5 anos ela não pôde estudar nada, porque estava ameaçada. Há 5 milhões de jovens que não estão podendo estudar na Síria, por causa da guerra. Atrasaram em pelo menos 6 anos os estudos. E disse uma frase espetacular: “Quando eu saí da Síria, eu sabia que tinha uma casa, pois onde há um templo católico, é a minha casa.” Muito forte. Isso é eclesialidade, em uma moça de 25 anos.

 

Qual é uma particularidade dos jovens do Brasil, que podemos transmitir a toda a Igreja?

O Brasil aprendeu a usar a pastoral de massa, coisa que aqui na Europa eles têm menos. Nós enchemos estádios a qualquer momento, com a pastoral da juventude. Aprendemos a conversar com jovens em multidão e em pequeno grupo. Há um espaço na Igreja para o jovem de mentalidade política, pois nós não expulsamos ninguém. Há espaço para o padre de esquerda e o outro mais conservador. Os dois podem falar. Isso é bom, porque o jovem ouve e escolhe. Não existe uma única direção. É como um parlamento. É um bom conceito. Aqui na Europa, o discurso é sempre acadêmico. Mas no Brasil é mais tête à tête, olho no olho. Na Europa, há uma tendência a ser hierárquico. É bom que uns aprendam com os outros. Estamos tentando formar os jovens para a democracia e os radicais vão ter de baixar a bola.

 

Como foram escolhidas as pessoas para vir a este seminário?

A organização nos convidou, pessoas que há muito tempo trabalham com jovens. Eu, por causa dos meus 50 anos de livros e canções. Eles me pediram “venha ao menos desta vez”. Não precisa vir de novo em março. Eu disse que tenho problema de saúde e perguntei: “Posso não falar nada?” E o cardeal [Lorenzo Baldisseri] falou que poderia, mas queria que eu visse isso. Então, eu vim para fazer falar, pois o sínodo é para os jovens. Para a próxima vez, vou indicar outros, principalmente leigos do Brasil, que estão em falta aqui.

 

Padre Zezinho, como está a sua saúde?

Recuperei-me bem do câncer. A diabetes está bem controlada. Não tenho tido problema nenhum, graças a Deus. Deixam-me descansar bem e estou medicado. Não está muito puxado. O médico falou: “Pode voltar a fazer tudo o que você fazia, mas mantenha a boa alimentação”. E tem dado certo.
 

Leia a noticia mostra seminário no Vaticano inaugura preparativos para próxima assembleia sobre a condição dos jovens.

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