Hospital Bambino Gesù, do Vaticano, assina acordo de cooperação com a Rússia

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12 de julho de 2019

No dia 4, a Secretaria de Estado da Santa Sé, em nome do hospital pediátrico Bambino Gesù, assinou com a Rússia um memorando de acordo para reforçar a colaboração bilateral no campo da assistência médica e da pesquisa científica entre hospitais pediátricos de ambos os países. 


Esse documento, que prevê o desenvolvimento de projetos científicos, foi assinado pelo Monsenhor Paolo Borgia, Assessor da Secretaria do Estado da Santa Sé, e por Veronika Skvortsova, ministra da Saúde da Rússia. O acordo ocorreu no contexto da visita do presidente russo, Vladimir Putin, ao Vaticano na última semana.


A ministra russa, acompanhada pelo embaixador da Rússia na Santa Sé, Alexandre Avdeev, visitou os laboratórios de pesquisa do Bambino Gesù, em presença da diretora do Hospital, Mariella Enoc. O diretor científico e o diretor do Departamento de Neurociências apresentaram os laboratórios de pesquisa, que desenvolvem, principalmente, pesquisa de terapias celulares e genéticas para o tratamento de leucemias. 


O Hospital Bambino Gesù já está presente na Rússia com programas de formação especializados no campo da neurologia e da neurocirurgia em dois hospitais de Moscou, capital da Rússia. Esses programas buscam estudar o diagnóstico e o tratamento de crianças afetadas pela epilepsia. 


Pertencente ao Vaticano, o Hospital Bambino Gesù é referência internacional no tratamento pediátrico. Apesar de sua especialização em tratamento de crianças, o Hospital dispõe também de departamento de ortopedia, oftalmologia, otorrinolaringologia e de tratamento de doenças cardíacas. Fundado em 1869 por uma família católica italiana, o Hospital foi confiado à administração das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Em 1978, São Paulo VI concedeu uma vasta área próxima de Roma ao Bambino Gesù.

Fontes: Vatican News/ Aleteia

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Cardeal Parolin vai em missão de diálogo à Rússia

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03 de setembro de 2017

Pela primeira vez na história, um secretário de Estado do Vaticano esteve na Rússia em visita oficial por quatro dias. Braço direito do Papa para as relações internacionais, Dom Pietro Parolin foi à Rússia entre 21 e 24 de agosto, com uma dupla missão que, na verdade, se resume a apenas uma: em primeiro lugar, melhorar as relações entre Santa Sé e o Estado russo para, entre outras coisas, pacificar áreas de conflito onde a Rússia tem grande poder. Em segundo lugar, reforçar os laços ainda frágeis da amizade entre cristãos católicos e ortodoxos russos. De qualquer forma, a viagem do Cardeal Parolin é mais um pequeno ladrilho na construção de uma longa estrada que pode levar – ainda que num futuro distante – a uma histórica visita papal à Rússia.

Conforme o comunicado oficial do Vaticano, o objetivo da viagem era “encontrar as mais altas autoridades civis e os vértices da Igreja Ortodoxa Russa”, além de “manifestar a proximidade espiritual do Papa à comunidade católica local”. Entre os principais temas discutidos estiveram questões de interesse bilateral, como “a busca de soluções pacíficas aos conflitos atuais, com especial atenção aos aspectos de caráter humanitário”. O Cardeal discutiu com o governo russo as questões internacionais que precisam de “soluções justas e duradouras”. Em coletiva de imprensa no dia 22, ele afirmou que uma atenção especial deve ser dada ao Oriente Médio, à Ucrânia e ao Norte da África. “Entre os temas sobre os quais a Santa Sé e a Federação Rússia encontram pontos de convergência, ainda que com abordagens diferentes, devese mencionar a forte preocupação com a situação dos cristãos em alguns países”, declarou.

O encontro com o Presidente Vladimir Putin, no dia 23, teve “clima positivo, cordial, de respeito e escuta recíproca”, resumiu o Vaticano. A guerra na Síria foi discutida de forma mais aprofundada, mas, segundo o Cardeal Parolin, também foram comentados os problemas na Ucrânia e na Venezuela. “Apresentamos algumas situações de dificuldade da comunidade católica. A Rússia, por sua posição geográfica, por sua cultura, pelo seu passado e presente, tem um grande papel a jogar na comunidade internacional. Tem uma responsabilidade especial na construção da paz”, disse Dom Parolin, em entrevista à rádio Vaticano .

Um Contexto Complexo

A maioria das missões diplomáticas da Santa Sé no resto mundo tem estas duas faces: uma política e outra religiosa. No caso da Rússia, trata-se, atualmente, do mesmo desafio. A Igreja Ortodoxa Russa é praticamente vinculada ao Estado, e o presidente Vladimir Putin é, na verdade, o principal aliado do Patriarcado de Moscou.

Sob Putin, com a expansão da influência política e militar da Rússia no Oriente, a Igreja Ortodoxa Russa também tem crescido além das fronteiras de seu País. Vladimir Putin vê na fé um elemento essencial de sua agenda expansionista. Desse modo, ainda que sob o comando cada vez mais centralizador de Putin, cresce também a autoridade moral da Igreja Ortodoxa Russa.

Essa influência pode ter aspectos positivos e negativos para o catolicismo.

Por um lado, a religião e os valores cristãos voltaram ao centro da vida pública, diferentemente do que acontecia no Estado comunista e ateu da União Soviética. Hoje, há cerca de 140 mil católicos na Rússia, principalmente descendentes de poloneses, lituanos, alemães e ucranianos. Também as igrejas protestantes têm um melhor fluxo de fiéis. Em sua viagem ao Azerbaijão, há um ano, o Papa Francisco disse que as religiões são uma necessidade, com a missão “de nos fazer entender que o centro do homem é fora de si, que somos direcionados para o alto infinito e para o outro”. Por outro lado, em alguns países que fizeram parte da antiga União Soviética, como Ucrânia, Geórgia, Armênia e Azerbaijão, as relações entre cristãos católicos e ortodoxos ligados à autoridade russa ainda hoje são tensas. Na Geórgia, as normas da Igreja Ortodoxa proíbem que cristãos ortodoxos rezem ou celebrem junto com católicos. Conflitos existem até mesmo no dia a dia, especialmente quando o assunto são templos e terrenos da Igreja Católica confiscados pela União Soviética, e que hoje estão nas mãos da Igreja Ortodoxa. Tocar nesse tema é a receita para uma calorosa discussão – e o Cardeal Parolin pediu aos russos que esses templos e terrenos sejam devolvidos.


A visita de Parolin é histórica

A missão de Dom Parolin acontece nesse contexto extremamente complexo. Mas, há interesse de todas as partes em fazer essa amizade dar certo. Nunca antes um representante vaticano foi recebido com tanta atenção, não só por líderes religiosos locais, mas também por ministros de relações exteriores e pela maior autoridade do Kremlin: o próprio Presidente Putin.

Soma-se, ainda, ao igualmente histórico encontro do Papa Francisco com o Patriarca de Moscou, Cirilo, em fevereiro de 2016, na ilha de Cuba. O cisma entre Oriente e Ocidente ocorreu em 1054, mas a sede metropolitana de Moscou foi criada somente no século XV. De qualquer forma, jamais o bispo de Roma e o patriarca ortodoxo de Moscou haviam se reunido, apesar de várias tentativas de reaproximação. Em declaração conjunta, prometeram trabalhar pela unidade dos cristãos.

Também o Cardeal Parolin se reuniu com o Patriarca de Moscou. “Falamos um pouco sobre esse novo clima que reina entre as Igrejas Católica e Ortodoxa. Essa nova atmosfera se instaurou nos últimos anos e teve um momento particularmente significativo e de forte aceleração graças ao encontro, em Havana, entre o Patriarca e o Papa”, explicou à rádio Vaticano .

O Cardeal Parolin também encontrou o Bispo Ortodoxo Metropolita Hilarion Alfeev, representante de relações exteriores da igreja russa, além de autoridades da Igreja Católica local. O Cardeal definiu sua visita à Rússia como “uma viagem útil, interessante e construtiva”. Talvez as relações entre Rússia e Vaticano, entre católicos e ortodoxos, entre Ocidente e Oriente ainda não estejam prontas para que um dia o Papa possa ir à Rússia, mas os passos para que isso possa acontecer estão sendo dados e, um dia, a visita histórica deve ocorrer.
 

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