‘Nós que estamos à frente do povo de Deus, somos servidores do rebanho do Bom Pastor’

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04 de mai de 2020

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, celebrou na manhã desta segunda-feira, 4, na capela de sua residência, a missa da 4º Semana da Páscoa, transmitida pelo Facebook da Arquidiocese e pela rádio 9 de Julho.

Na homilia, Dom Odilo recordou a continuidade do Evangelho do 4º Domingo da Páscoa, conhecido como o “Domingo Bom Pastor”. No capítulo 10 do Evangelho de João, Jesus se apresenta como o Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas e faz um contraste com o mal Pastor, que não se preocupa nem se importa com as ovelhas e realiza aquela função apenas porque recebe um salário.

“Jesus se apresenta como o Pastor que conhece e é o dono das ovelhas e as ovelhas também conhecem a sua voz. A toda uma relação de proximidade e amor e estreito interesse do Pastor em relação aos bens das próprias ovelhas. O Bom Pastor ama as ovelhas ao ponto de dar a vida por elas. Esse Pastor é Jesus nosso Senhor, que por nós entregou a vida pela Cruz e por nós ressuscitou.”

CORRESPONDER AO PASTOR

O Arcebispo de São Paulo recordou que esta parábola expressa muito bem a relação que todos devem ter com Cristo: como ovelhas, pedir a graça de permanecer fiéis, firmes e unidos ao Bom Pastor, diante da fragilidade humana, que pode levar a vacilar, seguir os próprios caminhos e ouvir outras vozes.

“As ovelhas devem corresponder ao Pastor, se são realmente ovelhas do Bom Pastor, elas o reconhecem, ouvem a sua voz e o seguem. Elas não vão atrás de estranhos e não darão ouvido a falsos pastores”.

FALSOS PASTORES

O Cardeal reiterou que o tempo pascal ajuda a recordar quais são as condições fundamentais para que cada um permaneça fiel ao Batismo e à vivencia cristã. O cristão deve seguir uma relação de amor, obediência, fidelidade e muita proximidade de Jesus.

“Quem se afasta começa a perder essa serenidade, porque não tem mais aquela segurança que o Bom Pastor proporciona e começa a se dar conta  que caiu nas mãos de falsos pastores e exploradores, daqueles que conduzem por outros caminhos e tiram proveito das ovelhas. Por isso, nós queremos pedir que sejamos fortalecidos e confirmados no caminho da nossa fé, no caminho da vida cristã, na fidelidade a Cristo.”

SERVIDORES DAS OVELHAS

Dom Odilo também recordou Dia Mundial de Oração pelas Vocações, celebrado no domingo, 3, e pediu para que todos rezem por vocações boas e santas e que aqueles que são chamados ao sacerdócio tenham firmeza e perseverança. O Cardeal, também pediu orações por todos os padres que já exercem seus ministérios, para que possam ser bons pastores, fiéis a Cristo, aos mandamentos e atuem sempre em favor das ovelhas.

“Na Igreja, Deus chama aqueles que são encarregados para, em nome de Cristo, estar no lugar do Pastor. Não substituem o Pastor, mas estão como representantes, pois o Bom Pastor continua sendo Jesus. Por isso, os próprios pastores que são chamados, devem fidelidade a Jesus Cristo e não podem achar que as ovelhas são suas, pois elas pertencem a Cristo. Nós que estamos a frente do povo de Deus somos servidores do rebanho do Bom Pastor, somos ministros servidores do Bom Pastor”, concluiu.

 

 

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Paróquias e comunidades intensificam apostolado nas redes sociais

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31 de março de 2020

O isolamento domiciliar recomendado pelas autoridades sanitárias para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus tem desafiado as paróquias, comunidades e organizações eclesiais a usar a criatividade para proporcionar aos fiéis oportunidades de oração, formação religiosa e vínculo com a vida da Igreja mesmo estando em suas casas.

Com maior conscientização de que a rede é mais do que um meio de comunicação, mas um verdadeiro ambiente onde a Igreja é chamada a desenvolver a sua missão, padres, missionários e catequistas estão navegando por essas águas até então pouco conhecidas para anunciar o Evangelho.

O SÃO PAULO mostra, a seguir, algumas dessas iniciativas:

FESTA DA PADROEIRA

A Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, na Vila Guilherme, teve que celebrar a festa de sua padroeira, no dia 25, sem a presença do povo. Desde o ano passado, a solenidade era preparada com entusiasmo pelos fiéis. Contudo, a celebração presidida pelo Pároco, Padre Antonio Laureano, foi acompanhada pelo Instagram da Paróquia.

Para saudar a Paróquia em festa, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, enviou uma mensagem de vídeo gravada direto da capela de sua residência. “A Igreja está presente na vida de cada um de vocês, paroquianos. Por meio da missa diária que o Pároco celebra por vocês e por nossas orações constantes”, afirmou o Bispo.

Já as crianças da catequese, que todos os anos prestam sua homenagem à padroeira no fim da missa, desta vez comemoraram em suas casas, reunidas com os pais. Cada criança enviou uma foto desse momento mariano em casa e, a partir dessas imagens, foi produzido um vídeo, compartilhado com todos os paroquianos.

CATEQUESE

Na Paróquia São João Batista, na Vila Guarani, o Pároco, Padre Ricardo Antônio Pinto, transmitiu no domingo, 29, pelo Facebook, uma celebração da Palavra voltada especialmente para as crianças da Catequese, além da missa dominical para toda a comunidade.

Para envolver as crianças no momento de oração, o Padre as motivou a colocar junto delas símbolos quaresmais como a água, que é aspergida nos fiéis, um crucifixo e uma vela. O objetivo foi criar um ambiente de oração e, ao mesmo tempo, catequisar as crianças sobre o sentido dos símbolos.

SANTUÁRIO ‘VIRTUAL’

Local tradicional de peregrinação na cidade, o Santuário São Judas Tadeu, no Jabaquara, recebe milhares de fiéis, especialmente nos dias 28 de cada mês, em que se comemora a devoção ao padroeiro. Nessas dadas, normalmente, são celebradas 11 missas, sempre lotadas.

No entanto, no sábado, 28, a programação foi diferente. “Desde a criação da nossa Paróquia, há 80 anos, nunca se passou um dia 28, de qualquer mês, que a casa de São Judas ficasse fechada para seus filhos e filhas. Não há notícias de que tenha havido algo tão ameaçador que exigisse fechar até as igrejas, e impedir que o povo viesse para rezar, agradecer, pedir e receber a bênção de seu Padroeiro”, manifestou o Pároco e Reitor do Santuário, Padre Eli Lobato dos Santos.

O Santuário, portanto, teve que se adaptar. Durante todo o dia, foram transmitidas por suas plataformas digitais quatro missas, intercaladas por momentos de récita do Rosário e uma via-sacra luminosa conduzida pelos padres do Santuário no interior da igreja fechada. “Estamos geograficamente distantes, mas próximos na e pela oração”, ressaltou o Pároco.

PADRES CONECTADOS

Em Cidade Heliópolis, a Paróquia Santa Paulina continua sua missão por meio da transmissão de missas diárias e momentos de formação e oração. Todos os dias, às 15h, o Pároco, Padre Israel Mendes Pereira, conduz a oração do Terço pelo Facebook da Paróquia. Como costumava acontecer presencialmente na igreja matriz, o Padre saúda nominalmente cada paroquiano que ingressa na “igreja virtual” para participar da oração e aguarda a assembleia se formar para iniciar o Terço. 

O Sacerdote oferece cada mistério contemplado pelas intenções de seus paroquianos e reza pelas necessidades concretas dos moradores do bairro. “Rezemos pelas pessoas que perderam seus empregos, pelos pais e mães de família que não têm com o que sustentar seus filhos nesses tempos difíceis. Que o Senhor olhe com misericórdia pelos seus filhos”, rezou o Padre, enquanto, na lateral da tela da transmissão, surgiam os comentários dos fiéis incluindo intenções, pedidos e louvores.

A Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, no Bosque da Saúde, disponibilizou um contato no Whatsapp e e-mail para o envio de pedidos de oração e intenção das missa presididas pelo Pároco, Padre Uilson dos Santos, e pelo Vigário Paroquial, Padre Christopher Velasco, transmitidas por suas redes sociais.

Diariamente, Padre Christopher também transmite a Novena de Santa Teresinha, com a possibilidade do envio de pedidos de oração dos fiéis em tempo real.

DEVOÇÃO MARIANA

A Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Jardim Tremembé, transmite todos os dias, às 12h, pelo Facebook, a oração do Angelus, conduzida pelo Pároco, Frei Guilherme Pereira Anselmo. Além das missas, e do Terço diários, a Paróquia também transmite a Hora Santa da Esperança, momento de oração matutino diante do Santíssimo Sacramento.

A novidade da Paróquia Nossa Senhora das Angústias, na Barra Funda, além das missas, adorações e via-sacra pelas redes sociais, é a oração diária do Terço, conduzida pelo Pároco, Padre Fábio Fernandes, que se conecta a um grupo de paroquianos por meio de um aplicativo de videoconferência. Cada um de sua casa participa ativamente da oração permitindo que todos vejam e ouçam uns aos outros.

Padre Fábio enfatizou ao O SÃO PAULO que se não fosse o trabalho que já havia iniciado nas redes sociais com os paroquianos, seria impossível continuar as atividades nesse período de quarentena. “Nós já usávamos as redes para manter contato com as pessoas e na propagação da devoção à padroeira nos prédios que recebe a visita das capelinha de Nossa Senhora”, relatou.

O Pároco também tem investido em momentos formativos e catequéticos por meio do Youtube. “Já que não podemos distribuir os sacramentos, usamos as redes para intensificar a formação e rezar juntos”, disse.

NA CLAUSURA

Os frades carmelitas da Basílica Nossa Senhora do Carmo, na Bela Vista, transmitem diariamente a missa direto de sua capela conventual, além da homilia diária feita pelo Pároco, Frei Thiago Borges.

Enquanto isso, os monges do Mosteiro de São Bento, no centro, também estão transmitindo suas liturgias por sua página no Facebook. Além da missa diária, os beneditinos transmitem o ofício das vésperas,  com o tradicional canto gregoriano, todos os dias, às 17h25.

ADORAÇÃO PERPÉTUA   

Também as novas comunidades e associações de fiéis presentes na Arquidiocese oferecem a todos a possibilidade de contemplar o mistério eucarístico.

No canal do Youtube da Comunidade Aliança de Misericórdia, o Santíssimo Sacramento está exposto em uma transmissão ininterrupta, direto da Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, no centro, a única igreja da cidade que ficava aberta 24 horas por dia para adoração perpétua e que teve suas portas fechadas devido à pandemia.

Já no Facebook da comunidade, há transmissões de missas, pregações, meditações, momentos de oração e até shows de música católica, voltados sobretudo para ao jovens, principal público da Aliança de Misericórdia.

FORMAÇÃO

A Comunidade Shalom em São Paulo também adaptou duas atividades apostólicas cotidianas para as plataformas digitais. Em cada noite de segunda-feira a quinta-feira, às 20h20, os canais oficias da comunidade no Instagram e Facebook transmitem estudos bíblicos, grupos de estudo do Catecismo da Igreja Católica, grupos de Jovens e na sexta-feira, às 18h, o terço com os jovens.

Todos os domingos, ao meio dia, há a tramissão da missa pelo Youtube e, às 15h, o Terço da Misericórdia.

EM FAMÍLIAS

Os missionários da Comunidade Anjos da Vida também se mobilizaram para continuar o trabalho evangelizador usando as redes sociais.

Todos os dias, na sua página no Facebook, há uma extensa programação que começa à meia noite com a homilia diária; às 8h, um membro da comunidade conduz a oração da manhã direto de sua casa; às 15h, é transmitido o Terço da Misericórdia; às 18h o Terço é conduzido ao vivo por uma família ligada à comunidade; às 20h, acontece momentos de oração ou adoração eucarística; e, às 23h, um missionário conduz a oração da noite. 

ESCUTA

Tanto a Comunidade Shalom quanto a Aliança de Misericórdia disponibilizaram canais para que as pessoas entrem em contato para conversar, desabafar, pedir um aconselhamento ou orações individuais. Para isso, missionários preparados estão disponíveis nas plataformas para esse atendimento.

As pessoas podem telefonar ou enviar mensagens via Whatsapp para os seguintes números:

Aliança de Misericórdia: (11) 97449-9926 e 97385-1021

Shalom: (11) 93084-9083 e 95235-9544.

(Colaborou Flavio Rogério Lopes)

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Igreja conectada

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Dom Odilo: ‘Estamos redescobrindo as Igrejas nas casas’

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30 de março de 2020

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, realizou no domingo, 29, uma transmissão ao vivo (live) em sua página oficial do Facebook, após a Celebração Eucarística que presidiu às 11h, pelas redes sociais da Arquidiocese. Diariamente às 7h, é possível acompanhar as missas com o Cardeal pelo Facebook e pela rádio 9 de Julho (AM 1600 kHz).

Dom Odilo recordou que mesmo os fiéis não podendo participar presencialmente para evitar aglomerações e a difusão do novo coronavírus em São Paulo, deve-se procurar as mídias sociais da Paróquia ou os meios de comunicação católicos para participar das celebração.

“As pessoas tem muitas possibilidades de participar das celebrações da Igreja e também de acompanhar as catequeses e a vida da paróquia. É importante que  não se dispersem, pois a Igreja não está de quarentena. A igreja é vida e continua fazendo a sua missão, não de uma forma presencial física, mas de uma forma presencial, por meio das mídias sociais”, disse o Arcebispo.

DOMINGO DE RAMOS

No próxima semana em todo o mundo, a Igreja celebra o Domingo de Ramos da Paixão do Senhor, que marca a entrada de Jesus em Jerusalém e o inicio da Semana Santa. Com a impossibilidade da realização com a presença do povo, o Cardeal convidou os fiéis  a colocar nas portas e janelas de suas casas ou apartamentos o principal sinal desta celebração litúrgica.

“Que as janelas e portas das casas e apartamentos estejam com um ramo no final de semana. Isso significa a aclamação ao Senhor Jesus Cristo, e, por outro lado, é a manifestação da alegria e esperança, pois nós não perdemos a esperança, sobretudo nesse período. Deus continua sendo o Senhor da vida e nos ajudará a passar por este momento difícil que estamos enfrentando.”, reiterou o Cardeal Scherer.

‘EVITEM O MÁXIMO SAIR DE CASA’

Como de costume, Dom Odilo respondeu a perguntas diversas dos internautas que estavam acompanhando a live, algumas com inquietações sobre a duração da pandemia e outra sobre a saúde do Arcebispo. “Estou muito bem de saúde, graças a Deus, e me cuidando nessa quarentena. Façam vocês o mesmo, evitem o máximo sair de casa, pois essa é a recomendação, evitem contato com as pessoas. Os idosos fiquem em casa, para que ninguém se contagie.”

SEMANA SANTA DIFERENTE

 “Como viver o Tríduo Pascal em nossas casas, com esse desafio?”, questionou o internauta Robson Martinelli. Dom Odilo respondeu que deve se seguir conforme as  orientações da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, e as orientações específicas já publicadas pela Arquidiocese de São Paulo.

“A Páscoa não pode ser transferida. Vamos celebrar em nossas casas, pois as paróquias terão atividades organizadas para o Tríduo Pascal, que serão transmitidas pelas redes sociais, assim como nós no Facebook da Arquidiocese e na rádio 9 de julho.”

IGREJA DOMÉSTICA

Ao responder um internauta que comentou “as Igrejas não fecharam, mas se multiplicarão, porque elas estão nos lares”, Dom Odilo, acrescentou: “Os templos das nossas Igrejas estão fechadas, para não haver concentração do povo e impedir a proliferação do vírus. Mas estamos redescobrindo as Igrejas nas casas, pois havíamos esquecidos. A Igreja está onde dois ou três estiverem reunidos em nome de Jesus.”

O Cardeal concluiu dizendo sobre a importância das famílias se reunirem para rezar: “Os pais recebem o sacramento do Matrimônio em nome de do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Portanto, as famílias estão unidas em nome de Jesus e são um núcleo ou uma célula da Igreja. É claro, a célula só faz sentido no corpo, por isso, não se pode esquecer da comunidade paroquial e do grande corpo que é a Igreja do mundo inteiro.”

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'Jesus Cristo é a resposta para tudo'

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02 de junho de 2020

Leiden, pequena cidade a 60 quilômetros ao sul de Amsterdã, capital da Holanda, é o local onde nasceu e cresceu o Padre Michel Remery, 46, sacerdote há 15 anos, responsável por um projeto que se tornou grandioso e alcança o mundo todo, graças às facilidades da internet.

Trata-se do projeto “Tuitando com Deus”, que deu origem ao livro homônimo, já traduzido para o português e outras 21 línguas, cujo foco é a evangelização da juventude.

Por meio da utilização de uma linguagem de fácil compreensão e da abordagem expressa dos assuntos que mais suscitam dificuldades entre os jovens, o intuito do projeto, que inclui o livro, site, aplicativo e conteúdo nas redes sociais (Twitter, YouTube, Facebook e Instagram), é elucidar os mais diversos questionamentos que os jovens têm em relação à própria fé e, assim, aproximá-los da Igreja.

A fim de dar suporte ao projeto e estendê-lo para o futuro, há atualmente uma equipe de trabalho voluntário, composta por mais de cem jovens, de 37 nacionalidades, cujos integrantes, além de viverem cada qual em seu país de origem, em sua grande maioria não se conhecem pessoalmente. Assim, as ações para manter o projeto ativo são decididas, coordenadas e executadas remotamente, por meio da conexão de todos a um ambiente on-line.

Em recente passagem pelo Brasil, Padre Michel Remery concedeu entrevista ao  O São Paulo:

O SÃO PAULO: Como surgiu a ideia do projeto “Tuitando com Deus”? E o que o levou a escrever o livro?

Pe. Michel: Na verdade, nunca pensei em escrever o livro ou iniciar o projeto. Comecei a dialogar com os jovens que tinham muitas perguntas e a intenção era abordar cada uma delas, de maneira sistemática. Então começamos a realizar encontros duas vezes por semana e, em cada um deles, abordávamos uma nova questão.

O SÃO PAULO: Onde estavam esses jovens? Eram seus paroquianos?

Pe. Michel: Sim. Naquela época, eu era vigário em algumas paróquias de Leiden e, ao término das missas dominicais, tinha o hábito de cumprimentar as pessoas dizendo “Tenha um ótimo domingo”, e os jovens começaram a me fazer algumas perguntas. Começamos a debater esses questionamentos de forma mais extensiva, durante os encontros semanais, sendo que as indagações eram as mais diferentes possíveis. São elas as perguntas reais que agora podem ser encontradas no livro, por exemplo, a respeito do Big Bang, da criação do mundo, entre outras.

O SÃO PAULO: Então foi sendo feita uma coletânea dessas perguntas?

Pe. Michel: Sim, eu dizia aos jovens: “Enviem-me todas as suas perguntas” e fiquei surpreso quando recebi mais de uma centena de questionamentos desse pequeno grupo de paroquianos. Então começamos a nos encontrar e debater essas questões e o grupo começou a crescer, contando com pelo menos 25 pessoas o tempo todo. Ao fim de cada encontro, os jovens me diziam: “A síntese que você nos deu hoje a respeito do que debatemos é muito interessante. Por que você não a escreve para nós?”. Assim, comecei a escrevê-las, tirar cópias e distribuí-las entre eles. Dessa forma, essas cópias acabaram por dar origem ao livro, ou seja, graças a esses jovens, essa obra se tornou possível.

Depois, quando o livro já estava a caminho de se tornar uma realidade, os jovens questionaram: “Quem carrega livros hoje em dia? Ninguém! É algo ultrapassado!”. Então, como todo mundo utiliza telefone celular atualmente, surgiu a ideia de criar um aplicativo para esse fim. Além disso, é fato que, se hoje você não possui um site, você praticamente não existe. Assim, desenvolvemos também um site com todo o conteúdo do projeto.

Como queríamos contar também com uma forma de comunicação mais direta, decidimos utilizar as redes sociais, onde sempre postamos algo a fim de ajudar as pessoas a refletir e tornar sua tomada de decisão possível. Também temos produzido vídeos nos quais explicamos diversos aspectos da fé católica. Esse é o projeto “Tuitando com Deus” hoje, que originalmente nasceu de um pequeno grupo de jovens paroquianos, na Holanda.

O SÃO PAULO: Hoje o senhor conta com a contribuição dos jovens dos mais diversos países?

Pe. Michel: Sim! Na época em que o livro começou a ser escrito, com a colaboração dos jovens de uma simples paróquia holandesa, eu nunca poderia imaginar que aquelas perguntas e suas respostas, naquela ocasião, seriam, hoje, as mesmas das pessoas ao redor do mundo. Hoje posso dizer que temos uma equipe internacional de jovens, dos mais variados países, conectada por diversos meios (redes sociais, Skype, entre outros), sendo que a maioria de seus integrantes nunca se encontrou pessoalmente. As únicas condições para fazer parte dela é o interesse em conhecer melhor Jesus, ajudando-nos com o projeto, e falar inglês, porque precisamos de uma língua própria que facilite a nossa comunicação. Dessa forma, o livro existe, porém todo o material adicional tem sido desenvolvido por jovens espalhados por todo o mundo. 

O SÃO PAULO: O senhor considera que a concretização, o crescimento e a internacionalização do projeto se devem à utilização das redes sociais?

Pe. Michel: Penso que o grande trunfo do projeto em relação ao seu rápido crescimento se deve, em primeiro lugar, ao fato de que não são os meus questionamentos que discutimos, não é aquilo que eu quero falar, mas falamos sobre os questionamentos dos jovens, que são os mesmos ao redor de todo o mundo.

Creio que o primeiro erro do livro esteja na capa, por trazer somente meu nome como autor. Uma vez que houve a ajuda de centenas de jovens em sua elaboração, penso que o correto seria trazer os nomes de todos eles também.

A verdade é que os jovens releram o que elaborei, apontaram palavras de difícil compreensão ou que estavam faltando, ou ainda ideias que não estavam claras, além de perguntas e argumentos para embasar porque determinado pensamento é verdadeiro, entre outros.

A primeira coisa a ser levada em consideração [em relação ao rápido crescimento do projeto] é que os jovens estavam envolvidos desde o princípio; a segunda é que estávamos procurando razões pelas quais acreditamos [em algo]; e, a terceira, é que, desde o começo, a regra básica é que toda e qualquer pergunta era permitida, sem nenhum tabu.

Em muitos casos, as pessoas veem a Igreja como a única a ter permissão para falar a respeito de determinados assuntos que outros nem ousam mencionar. Nós podemos falar sobre tudo: somente precisamos de tempo para desenvolver os argumentos; e nós o tivemos durante nossos encontros. Assim, todo questionamento é permitido e a única regra é que ele seja respeitoso em relação às outras pessoas que podem ter opiniões distintas.

Em virtude dessas premissas, tivemos diálogos maravilhosos, até mesmo em relação a tópicos controversos, em que as pessoas normalmente têm opiniões divergentes. E o mais bonito de se ver é que, em alguns dos tópicos que estávamos discutindo, começamos com uma enorme oposição no grupo em relação a ideias e argumentos e, em muitos casos, passo a passo, as pessoas se convenciam de que o ensinamento da Igreja é a resposta mais lógica. Porque, acredito, cada pergunta é conectada a outra. Se tomarmos a pergunta “Um cristão pode portar uma arma?”, por exemplo, veremos, por fim, que se trata do amor que Deus tem por cada ser humano e, por isso, não se pode supor que uma pessoa possa tirar a vida de seu semelhante. Dessa maneira, se atentarmos para o real amor que Deus tem por cada um de nós, encontraremos a resposta para qualquer questionamento que tivermos. 

Em toda questão que discutirmos, por fim, seremos capazes de enxergar a imagem lógica da nossa fé, ou seja, como tudo está interconectado, como é possível, baseado numa questão prática e concreta, chegar às bases de nossa fé e mostrar como Deus está presente em tudo.

E uma coisa muito importante: não pode haver tabus. Se houver tabus, como, ao se dizer, por exemplo: “Não podemos falar a respeito de sexo”, significa que, quando se exclui certos tópicos da discussão, perde-se a autenticidade e a credibilidade.

Nos nossos encontros, minha atividade de moderação na abordagem dos assuntos era justamente não deixar que vários deles fossem discutidos ao mesmo tempo, de uma vez, num único dia. Por exemplo, temas como a Criação e outros mais difíceis, relacionados à Teologia Moral, eram propostos para discussão nas semanas seguintes, justamente para que fossem abordados com a devida profundidade.

A meta sempre foi abordar todos os questionamentos e sempre permitir que diferentes opiniões fossem apresentadas. Nunca disse a ninguém que se sentisse obrigado a acreditar em determinada coisa. Sempre partilhei minha fé, minha fé baseada na Igreja, nos argumentos que a Igreja ensinou e escreveu ao longo do tempo, a fim de ajudar com que os argumentos apresentados fizessem sentido.

Outro ponto importante: os jovens não estão acostumados a serem ouvidos pelos outros. Eles têm que fazer aquilo que seus pais lhes dizem, eles têm que ouvir e repetir o que seus professores lhes apresentam na escola, e sempre que lhes são pedidas a opinião acerca de alguma coisa, frequentemente não há interesse em ouvir suas respostas.

Na plataforma do projeto “Tuitando com Deus”, os jovens podem realmente dizer aquilo que pensam. Isso lhes soa estranho no começo, sobretudo porque não estão acostumados a ter quem os ouça.

O SÃO PAULO: Então se pode perceber que nesse ambiente eles se sentem livres para perguntar e dizer o que quiserem?

Pe. Michel: Sim, outro elemento importante é que eles se tornam capazes de desenvolver seu próprio pensamento. Eles não estão acostumados a ter suas próprias ideias, porque suas ideias hoje são as de seus pais, eles vivem a repetir algo fortemente: “Não, eu não acredito nisso porque meu pai diz que não se deve...”. Quando questionados “por que você segue tal coisa?” ou “por que você acha que tal coisa é importante?”, a resposta é, invariavelmente: “Na verdade eu não sei!”.

Não se trata de um conhecimento intelectual, algo que se aprende para ser decorado, mas sim algo que se torna parte de sua vida, de seu coração, de suas mãos, de seus pés, de uma vivência prática da fé.  

É muito saudável, portanto, que os jovens desenvolvam seus próprios pontos de vista, seus próprios pensamentos. Às vezes os jovens se colocam em oposição a seus pais apenas para mostrar que não acreditam, ou seja, o que estão tentando fazer é ver como essa situação se encaixa no que diz respeito à fé.

Muitos jovens, sobretudo aqueles não crentes, encontraram sua vocação por meio do trabalho que estamos fazendo. Assim, como recebemos diversas respostas e todos são muito bem-vindos a nossas discussões abertas, muitas pessoas estão crescendo na sua fé.

É bonito ver que hoje nosso projeto funciona exatamente do mesmo modo que funcionava no começo, em muitos lugares, obviamente de diferentes formas: às vezes um sacerdote se utiliza do material para falar a um grupo, às vezes um grupo de jovens se senta para discutir juntos um dos tópicos constantes no livro, ou um grupo utiliza o aplicativo para se aprofundar num determinado assunto, ou alguém começa a assistir a uma série de vídeos no YouTube.

O SÃO PAULO:  A fim de atender a quais necessidades esse material pode ser utilizado?

Pe. Michel: Esse material pode ser utilizado de diversas maneiras, tanto pelos jovens como pelos padres, ou em conjunto por ambos, como nas formações de preparação para a Crisma, para uso com adultos, entre outros. Na verdade, percebemos um crescente interesse pelo livro por parte dos adultos, justamente porque muito o adquirem para uso próprio, para aprender, da mesma forma que muitos pais e avós o compram para presentear seus filhos e netos, respectivamente, e assim estimular neles o despertar e a vivência da fé. Também há pessoas que formam grupos de reflexão e se baseiam nas informações do livro para estudar e aprender.

Percebemos que, hoje, todo o material desenvolvido não é utilizado somente por jovens, mas por pessoas de todas as idades, alcançando gerações mais velhas, não havendo, portanto, uma limitação de idade.  

Não reivindico para mim a propriedade do projeto. O que me deixa feliz é perceber as pessoas se aproximando de Deus. Assim, isso não diz respeito a mim nem à minha equipe, mas sim ao fato de as pessoas estarem, por meio dos vídeos e dos livros, se encontrando com Deus. Eu não estou aqui para vender coisas e sim para trazer uma Pessoa às pessoas. Não gosto de dizer que estou vendendo Jesus, mas sim que estou promovendo Jesus, estou falando a respeito dele, estou trazendo pessoas a ele.

O SÃO PAULO: Quais são os grandes desafios de se evangelizar pela internet hoje?

Pe. Michel: Quando se está on-line, pode-se navegar numa rede social, num canal de vídeos, num aplicativo de troca de mensagens e tantas outras possibilidades. A internet tem muitas vozes hoje, muita gente dando sua opinião a respeito de tudo. A opinião da Igreja também é uma no meio de várias.

Nós não temos uma autoridade por nós mesmos quando estamos on-line, somos somente uma voz. Ainda assim, penso ser muito importante a nossa presença porque a nossa voz é uma voz confiável. Não devemos, portanto, falar de assuntos da Igreja, mas sim a respeito do que realmente importa: o relacionamento de cada ser humano com Deus, porque é por isso que nós existimos. Trazer as pessoas para Deus, ser um canal de Deus para as pessoas.

O desafio é que, além de haver muitas vozes, nossa credibilidade, às vezes, não é muito boa. Sejamos honestos: há padres, bispos, irmãs que se comportam mal e eles são a primeira imagem que vemos. Na Igreja há também leigos que se comportam mal e são conhecidos e chamados de católicos por todos. Muitas coisas estão erradas.

Temos que ser capazes de dar um testemunho pessoal, não chamando a atenção para nós mesmos, nossos erros, nossos pecados, mas sim para nosso Jesus Cristo pessoal, aquele com quem, um dia, nós nos encontramos de verdade. Na nossa imperfeição, tentar trazer às pessoas a autenticidade que frequentemente falta ao mundo humano. As pessoas frequentemente estão usando muita “maquiagem”, com o intuito de se esconder atrás de uma certa imagem, criada por si mesmas.

Se nós, católicos, começarmos a ser cada vez mais nós mesmos, cada vez mais  autênticos quando estivermos on-line, essa situação irá mudar. Um exemplo é Elisabel, uma jovem da Estônia [país do Leste europeu visitado pelo Papa Francisco em setembro de 2018], que deu um testemunho ao Pontífice naquela ocasião, o qual presenciei: “Eu era ateia, nunca tive nenhum relacionamento com Deus, porém encontrei alguns cristãos on-line que eram tão plenos da presença de Deus que cheguei a pedir para conhecê-los para que me batizassem”.

A verdadeira interconexão de cristãos católicos on-line está permitindo encontrar uma série de pessoas que está afastada ou ainda não conhece a Deus. Como católicos, somos mais de 1 bilhão de pessoas. Isso dá cerca de 1/6 da população do planeta. Imagine se todo esse contingente de católicos começar a se comportar on-line da mesma maneira que se supõe que se comporte quando não está on-line, aí teremos grandes e maravilhosos testemunhos.

O problema é que, em nossa abordagem, estamos acostumados a olhar para nossos padres, nossos bispos e nossas irmãs religiosas como aqueles que receberam um chamado a fim de contribuir com a Igreja e esquecemos que todos nós também recebemos, de outra forma, tal chamado para igualmente contribuir com ela. Se calcularmos o número de padres, bispos, irmãs, religiosos e consagrados, teremos 0,3% de toda a população católica. Assim, não trabalharemos de forma eficiente se não colocarmos os 99,97% de nossa capacidade para trabalhar.

Assim, precisamos encontrar meios de expressar a nossa fé, para ser mais claros em relação àquilo em que acreditamos e dar testemunho real do que vivemos. Não se trata de querer saber tudo, mas se trata de saber uma coisa: o amor de Jesus por cada ser humano.

O SÃO PAULO: É possível perceber a sede que os jovens sentem, essa necessidade do despertar interior num primeiro momento para, posteriormente, ansiar pela pessoa de Cristo? O que o senhor diria a eles?

Pe. Michel:  Sim, é perfeitamente perceptível a sede que os jovens sentem, porém, em sua grande maioria, eles nem inferem que têm essa sede. Em minhas conversas com os jovens, eles frequentemente começam com o que é importante para si mesmos e que impacta o momento presente. Isso pode ser, por exemplo, a morte de sua avó, e então eles dizem: “Se Deus de fato existe, como pôde permitir que um acontecimento terrível como esse acontecesse?”. Ou estão preocupados com o futuro de seu animal de estimação: “Meu animal de estimação irá para o céu também?”. Ou então estão preocupados com seus resultados na escola: “Tenho estudado tanto e não sei como pode ter sido o meu desempenho nas provas”. Tudo isso são questionamentos a respeito das coisas que eles levam em conta na vida.

Eles também se preocupam com o que as outras pessoas podem pensar a seu respeito, estão preocupados com a imagem que as outras pessoas fazem deles. Tudo isso faz com que sua relação com as outras pessoas se torne um pouco complicada: “O que a outra pessoa pensa de mim? Será que me visto adequadamente? Será que me apresentei da forma correta?”

A nossa sociedade cobra muito das pessoas e isso é decorrência desse novo mundo em que vivemos, que supõe que todas as pessoas estejam on-line e, portanto, contatáveis o tempo todo. Assim, se eu não curtir uma foto de um amigo que também está on-line, ele poderá pensar que me esqueci dele. Dessa forma, há uma pressão e uma expectativa muito grandes para se viver à altura do que se espera de nós.

Eu encontro muitos jovens que estão com depressão. Em minhas conversas com eles, percebo elementos que denotam depressão, justamente em decorrência das altas expectativas envolvidas em todos os relacionamentos, sejam elas reais, sejam pressupostas.

O que os jovens estão procurando de fato são novas relações. Para se viver a felicidade em família, para se encontrar a paz, para encontrar um relacionamento verdadeiro, hoje, não é fácil. Também porque confiar em outro ser humano é um desafio e nós vemos a dificuldade e todos os perigos on-line que tornam desagradáveis ou mesmo tristes essas experiências, fazendo com que os jovens sejam cautelosos em seus relacionamentos. 

Outro ponto importante é que a secularização também conduziu as pessoas a uma maneira superficial de encarar os relacionamentos íntimos. O casamento não é mais considerado como algo que seria bom para as pessoas.

Os relacionamentos hoje tendem a se tornar cada vez mais raros. Se você não sabe exatamente o que é ter uma relação apropriada de amizade com alguém, alguém com quem você possa simplesmente conversar a respeito de tudo, alguém em quem possa confiar, aconteça o que acontecer, se você não tiver essa experiência, torna-se muito difícil entender, em todos os sentidos, que Deus quer se tornar o seu melhor amigo.

O SÃO PAULO: Se o senhor percebe que as pessoas têm essa dificuldade de confiar umas nas outras, o que fazer para que possam confiar em Deus?

Pe. Michel: Se nos voltarmos para nós mesmos, veremos que existe essa desconfiança entre relacionamentos reais, porque é algo inerente a todo ser humano. Nós inclusive sabemos, e eu acredito profundamente, que cada ser humano tem um anseio por Deus, embora não o conheçamos, não saibamos o seu nome, não saibamos onde está.

Para nós, Jesus Cristo é o amigo mais confiável, a companhia mais confiável, o pai mais confiável, a mãe, o irmão, dependendo de qual for a melhor imagem para você. E assim nós poderemos ajudar, até mesmo se não conhecerem relacionamentos perfeitos em suas vidas, a encontrar um relacionamento perfeito com Deus. Especialmente porque não existe em nossa vida diária, ao menos Deus nos permitirá encontrar o verdadeiro relacionamento. Isso, porém, requer coragem porque você tem que se entregar e, em muitos casos, entrar em uma luta interior entre aquilo que você sabe que no mais profundo do seu ser é verdadeiro, que, no fim, Deus o ama, e dar esse passo, por causa das más experiências nos relacionamentos humanos e também por causa da falta de testemunhos dos próprios católicos, em muitos casos.

Não se pode ver Deus, é impossível tocá-lo. Então você tem que experimentá-lo de uma maneira que não é a maneira que vivemos no nosso dia a dia, pois esta é muito superficial, e para encontrar Deus é preciso ir até seu ser interior, encontrar seu mais profundo ser, porque Deus está em nós, em todo ser humano.

É essencial perceber o quanto a mensagem de Jesus pode mudar a vida de indivíduos, de jovens e também de pessoas de mais idade, porém sobretudo os jovens, que estão crescendo e se tornando de fato quem são, têm que se tornar a criança dos adultos, a qual se tornará pai ou mãe e assim assumirá responsabilidades por si mesma, terá ideias por si mesma,  tomará  decisões por si mesma. Se conseguirem isso com Deus, a vida diária ficará muito mais perfeita, mais realizada; talvez não sejam capazes de perceber que a vida se torna também mais fácil, porém, nós podemos afirmar: como nossa vida é muito melhor e, não importa o que aconteça, Deus sempre estará lá para nos amar, nos acompanhar e nos reunir.

Muita gente tem imagens distorcidas de Deus e acreditam que Ele só se faz presente para checar e punir. Acredito que Deus não está nem um pouco interessado em nossos pecados. Deus é o perfeito amor e é totalmente o oposto do pecado. Ele está preocupado em nos ajudar para que nos levantemos novamente.

Ele sempre nos perdoa para que possamos alcançá-lo, justamente porque o pecado nos faz ficar distantes dele, porém seu amor faz com que nos reaproximemos, por meio do seu perdão. Penso que devemos tomar cuidado com imagens distorcidas de Deus, porque, de certa forma, somos chamados a viver como cristãos, porém se começarmos pelo lado errado, iremos dar ouvidos aos velhos preceitos e a obedecer a antigos mandamentos.

Em outras palavras, se prestarmos atenção à maneira como as pessoas olham para a Igreja, parece não haver espaço para a justiça nunca. É muito triste isso. Se você cresceu como cristão católico, você aprendeu como responder ao amor de Deus, você percebe o quantos os Mandamentos são úteis, porém precisamos dar um grande sim para nos comunicarmos, um grande sim para a vida, um grande sim para o amor, um sim para a presença de Deus, e a partir de então você será capaz de começar a entender melhor a fé.  

Acredito que nós precisamos considerar até que ponto estamos falando de Jesus. Nós iniciamos o nosso caminho pelo lado correto e, por isso, é preciso perguntar: como estamos vivendo a nossa fé? Nunca perfeitamente, claro, mas tentamos cada vez mais fazer o nosso melhor para progredir.

O SÃO PAULO: Sabemos que “Tuitando com Deus” foi seu primeiro projeto e já há um segundo em andamento. Poderia nos adiantar do que se trata essa nova iniciativa?

Pe. Michel: Como você já sabe, “Tuitando com Deus” é um livro, um site, um aplicativo, vídeos e conteúdo nas redes sociais, algo que você já conhece. O novo projeto também tem a mesma estrutura, com uma pequena diferença, que nós percebemos: há novas questões sendo enviadas, além das 200 já presentes no livro do primeiro projeto, com situações da vida diária como o uso de tatuagens e piercings, como Deus pode me ajudar quando estou deprimido, ou como posso utilizar os meios on-line para evangelizar.

Também percebemos nas redes sociais um apelo muito grande em relação à vida dos santos, com muitas curtidas daquilo que é vinculado a eles. As pessoas gostam muito de se inspirar na vida daqueles que foram santos. As pessoas são carentes de bons exemplos, gostam de saber das histórias de vida daqueles que conseguiram viver de uma maneira que muitas delas não conseguem. Penso também que é esse o contexto pelo qual as pessoas ficam furiosas quando alguém se comporta mal na igreja. Essas pessoas têm o desejo de se tornar santas. Assim, baseados nas perguntas que nos têm chegado, no fascínio exercido pelos santos, além de sua popularidade, e nas conversas que temos tido com os jovens, descobrimos que fazer algum projeto envolvendo os santos e suas histórias de vida seria uma opção acertada.

Assim, com a participação de uma grande equipe formada por jovens, começamos a desenvolver o novo projeto cujo nome é “On-line com os santos”. A ideia é que, por meio de um aplicativo, já disponível agora para download pelas lojas on-line, você consiga localizar o perfil do santo desejado nas redes sociais, como se fosse um Facebook dos santos, sendo que é como se fossem eles mesmos a fazer postagens a respeito do que acontece no seu dia a dia. Assim, por exemplo, um deles pode ter postado: “Hoje estava no jardim, meditando em Deus, e cheguei à conclusão de que o Senhor é maravilhoso”. Ou então: “Estou travando uma batalha porque não tenho conseguido viver de acordo com minha vida cristã”.

Dessa forma, diversas considerações postadas pelo próprio santo retratado, além de um pequeno vídeo no qual ele também aparece como que interagindo com que o assiste. A mesma imagem do santo encontrada no vídeo interativo pode ser encontrada também no livro homônimo.

O livro possui página dupla e por meio dele, logo num primeiro contato, pode-se aprender alguma coisa a respeito da vida do santo. Essa obra encontra-se disponível atualmente em inglês e romeno, sendo que seu conteúdo já está em produção para uma terceira língua; a versão em português, embora ainda não tenha sido iniciada, será contemplada futuramente, dado o grande interesse despertado pelos brasileiros até agora. 

O aplicativo já está disponível e mais material está em desenvolvimento para ele, sendo que, posteriormente, o livro acaba sendo um material de apoio.

O SÃO PAULO: Quais as impressões de alguém como o senhor que veio a São Paulo pela primeira vez? O que está achando da experiência de estar aqui em nossa cidade?

Pe. Michel: Tenho adorado estar aqui porque as pessoas sempre demonstram felicidade e alegria genuínas. Até mesmo na Igreja, durante as celebrações, é possível sentir que o povo aqui é muito alegre! Chamou-me a atenção o fato de as pessoas aqui nos receberem com os braços literalmente abertos! Sou estrangeiro, sou de fora, porém, mesmo assim, recebi esse tratamento tão bom!

Outra coisa que me chamou a atenção é quantidade de pratos diferentes que vocês comem aqui. Percebi que terei que voltar uma segunda vez porque foi simplesmente impossível experimentar tudo!

As pessoas aqui são realmente muito sinceras naquilo que dizem e penso que isso é muito positivo!

O SÃO PAULO: O senhor gostaria de deixar uma mensagem ao povo brasileiro?

Pe. Michel: Claro! Gostaria de convidar todos os brasileiros para que tirassem um minuto de seu tempo para considerar o seguinte: o que é mais importante para você e para a sua vida pessoal? Não permaneça na superfície, você poderá de alguma coisa prática para fazer, independentemente do que seja, porém reflita sobre o que pode ser mais importante para a sua existência. E posso ver que, neste caso, a resposta só pode ser Jesus Cristo. E tenho confiança de que seja, porque todo ser humano é convidado a realizar-se, agora ou futuramente. Nunca tenha medo dos questionamentos que você possa ter, porque há respostas a serem encontradas e, no fim, Jesus Cristo é a resposta para tudo, sejam as dificuldades, sejam as alegrias, sejam os sonhos da sua vida!

 

 

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Fotos das crianças nas redes sociais?

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16 de agosto de 2019

Um estudo da empresa de segurança digital AVG, a partir de dados de cidadãos dos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Reino Unido, França, Espanha, Itália, Austrália, Nova Zelândia e Japão, revelou que três a cada quatro crianças com menos de 2 anos de idade têm fotos colocadas no ambiente on-line.


O estudo mostra o fenômeno das redes sociais e a publicação, muitas vezes compulsiva, de fotos de crianças e adolescentes, na maioria das vezes pelos próprios pais.


A pesquisa revela que, em média, os pais de crianças menores de 6 anos publicam 2,1 informações por semana sobre elas. Dos 6 aos 13 anos, há uma queda: 1,9 informação por semana. Quando o adolescente completa 14 anos, o ímpeto se reduz a menos de uma menção por semana (0,8). 

Existe um limite?

Auris Sousa é jornalista e mãe da pequena Cecília, de 1 ano de idade. Com o esposo, ela divide a rotina de trabalho, casa e cuidado com a filha. Ao comentar sobre o tema e a exposição de fotos e vídeos da pequena nas redes, Auris disse que “é bem difícil controlar a emoção diante de uma carinha, do olhar tão amoroso de um filho”. 


Sobre esse aparente descontrole dos pais, Adriana Friedmann, doutora em Antropologia, mestre em Educação, pedagoga e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento (Nepsid) e do Mapa da Infância Brasileira, recordou que os pais são, por um lado, os guardiões da informação pessoal de seus filhos e, por outro, os narradores de suas vidas. “Ao narrar, compartilhamos informações sobre os filhos, ao mesmo tempo em que os privamos do direito a fazê-lo eles mesmos em seus próprios termos. E isso é uma fonte potencial de dano à qual prestamos pouca atenção”, disse.


Mas, por que muitos pais, mesmo sabendo dos riscos dessa exposição, continuam a publicar tais imagens?


Auris, por exemplo, pela própria profissão que exerce, disse que sempre soube dos riscos e se questionou, várias vezes, sobre os possíveis exageros de postagens de crianças antes de ser mãe.


“Porém, desde que minha filha nasceu, o meu Instagram parece dela. Tento evitar e hoje já diminuí muito as postagens, mas sei o quanto queremos dividir com o mundo as fofurices, a inteligência, o desenvolvimento tão fascinante e até mesmo as dificuldades. Contudo, acho que tudo precisa ter limite, e, sem dúvida, há outros aspectos que vão além de uma reprovação futura da criança”, continou Auris. 


Para Adriana, as redes sociais têm se tornado, para muitos pais, álbuns compartilhados das suas vidas e, principalmente, das dos seus filhos. 


“A tentação de publicar, compartilhar fotos ou fatos de crianças, pode ter diversas motivações: orgulho dos filhos, mostrar para o mundo (em princípio para seus contatos) as conquistas, feitos, imagens, comemorações e eventos, relatar vivências, comunicar doenças, férias etc. Raramente esses adultos têm consciência das potenciais consequências desses compartilhamentos, sobretudo para a vida de seus filhos, uma vez que, em geral, não os consultam sobre seu desejo ou consenso. Quanto mais novas as crianças – ainda antes de nascerem, quando estão sendo gestadas – mais e mais imagens são veiculadas, fase esta da primeira infância, em que as crianças não têm compreensão nem ideia desse tipo de divulgação das suas vidas”, continuou a pesquisadora.

Há perigo?

O que parece uma foto inocente e atrairá uma série de likes, pode, porém, tornar-se um pesadelo para os pais e para a própria criança ou adolescente. 


“Nunca fiz postagens da minha filha de uniforme escolar, nem de nada que identifique o lugar em que ela estuda. Acho também perigoso apontar as comidas preferidas, porque fica muito fácil para um estranho tentar atrair a confiança por meio da alimentação. Amo fotos, mas não quero trocar histórias por imagens, experiências por exposição. Por isso, curto muito cada evolução, cada novidade com a minha filha, depois penso na foto. Se tiver os dois, ótimo. Caso contrário, minha prioridade é viver o momento”, disse Auris.


Adriana salientou o que tem sido discutido nas formações de educadores, pesquisadores e especialistas: “Há, na verdade, uma ‘violência’, um ‘atravessamento’ sendo praticado pelos adultos todo dia e em todos os grupos com relação às crianças. Não respeitar as crianças, não ter a capacidade de se colocar no lugar delas, não é somente uma violação à sua individualidade. Pode, também, trazer quebra de confiança e consequências aos seus comportamentos e desenvolvimento futuros”.

Foto X experiência

As fotografias marcam momentos inesquecíveis e ajudam a família a recontar a própria história. Mas, quando a fotografia perfeita se torna o objetivo principal, deixando de lado a experiência, pode tornar-se um problema. E, se a superexposição parece estar naturalizada hoje, as curtidas, compartilhamentos e interações nas redes sociais parecem ter mais importância do que a convivência.

 
“Certa vez, ainda quando eu não tinha a Cecília, vi uma mãe tirando fotos do seu filho em frente aos enfeites de Natal de um shopping center. O pátio estava lindo, eu me encantei e imaginei que a criança tivesse ainda mais encantada. Mas a mãe não deixou o menino viver a experiência e fez com que ele parasse para inúmeras poses, ficasse paradinho até que ela conseguisse a selfie perfeita. Depois, para minha surpresa, saiu com ele dali. Nem percorreu todo cenário. Acredito que, por trás de uma superexposição, também mora o risco de enfraquecimento dos laços”, afirmou Auris.

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