Papa pede orações pela Igreja na China e exorta à unidade dos cristãos

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23 de março de 2020

As intenções de oração para o mês de março, divulgadas pelo projeto da Rede Mundial de Oração do Papa, são dirigidas à comunidade cristã na China, onde “a Igreja olha para o futuro com esperança”, afirma Francisco na mensagem em vídeo divulgada nesta quinta-feira, 5. A intenção do Papa é que os católicos do país “perseverem na fidelidade ao Evangelho e cresçam em unidade”:

“Hoje em dia na China a Igreja olha para frente com esperança. A Igreja quer que os cristãos chineses sejam cristãos de verdade e que sejam bons cidadãos. Eles devem promover o Evangelho, mas sem fazer proselitismo, e alcançar a unidade da comunidade católica que está dividida. Rezemos juntos para que a Igreja na China persevere na fidelidade ao Evangelho e cresça na unidade.”

A unidade da Igreja na China

Desde a década de 70, a China tem registrado um crescimento significativo do cristianismo. Em 2010, o Pew Research Center estimou que havia 67 milhões de cristãos no país, aproximadamente 5% da população total. Dados atualizados de 2018, indicam que já pode estar se aproximando dos 100 milhões de cristãos. Esse crescimento mostra como a China continua sendo uma terra fértil para muitas famílias que acreditam em Jesus Cristo.

A Carta de Bento XVI aos católicos chineses, de maio de 2007, e a mensagem do Papa Francisco aos "Católicos chineses e à Igreja Universal", de setembro de 2018, na qual ele próprio apresentou o Acordo Provisório assinado entre a Santa Sé e representantes da República Popular da China, foram medidas já tomadas nesse caminho de recuperação da unidade da Igreja na China.

O caminho da oração e reconciliação

O Pe. Frédéric Fornos, diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, destaca que a intenção da oração de Francisco tem um propósito espiritual e pastoral, porque favorecer a unidade da comunidade católica na China, em sua diversidade, é promover a proclamação do Evangelho. E o sacerdote acrescenta: “É normal que esse caminho seja longo, difícil e cheio de incompreensões, o Evangelho sofre de muitas incompreensões, é por isso que devemos rezar, pois o Senhor, Criador do Céu e da Terra, transforma o coração através da oração e ajuda na reconciliação."

Reflexão sobre o cristianismo na China

São Francisco Xavier, grande missionário jesuíta e padroeiro da Rede Mundial de Oração do Papa, morreu no dia 3 de dezembro de 1552, doente e por exaustão, na ilha de Sanchoão. Ele olhava para o horizonte, onde se encontrava a China – que sempre foi o seu destino de missão mais desejado, mas onde acabou por não entrar.

Depois de um tempo, outros missionários conseguiram entrar no país, tão vasto e de uma cultura tão rica e antiga, para um diálogo muito fecundo entre as duas civilizações até que, por vários motivos, as portas do país se fecharam ao anúncio do Evangelho por muitos anos. Mas permaneceu ali uma pequena Igreja, clandestina e perseguida, fiel ao Papa, ao mesmo tempo em que, já sob o regime comunista, no século XX, se criou uma Igreja própria da China: a Associação Patriótica Católica Chinesa, controlada pelo Estado.

O regime político da China é ateu e, por isso, não favorece o desenvolvimento das religiões, de modo particular o Cristianismo, muito associado ao Ocidente, com o qual a China sempre teve relações diplomáticas e políticas difíceis, até os nossos dias. Contudo, nas últimas décadas, esforços de diálogo entre a Igreja Católica e as instituições do país estão sendo feitos, tendo em vista o reconhecimento da presença da Igreja e da sua liberdade de culto.

São pequenos passos dados, no sentido de uma maior abertura, por parte do Vaticano, à realidade da Associação Patriótica Católica Chinesa e, por outro, de abertura, por parte do governo, à liberdade religiosa dos cristãos da Igreja clandestina. É nesse sentido que o Papa Francisco, neste mês de março, pede a todos os cristãos para terem presente nas orações esses esforços de abertura, diálogo, reconhecimento e unidade, na fidelidade ao Evangelho, por parte das comunidades.

Desafios propostos para este mês

A Rede Mundial de Oração do Papa também propõe alguns desafios para este mês de março, seguindo a intenção de oração de Francisco:

- procurar conhecer melhor a realidade da Igreja na China, a sua história, a situação política e religiosa;

- organizar, na própria comunidade, um momento de oração onde se possa pedir pelos cristãos chineses e também por todos os cristãos que, em todo o mundo, sofrem perseguição e sentem limites à sua liberdade religiosa;

- promover, na medida do possível, algum encontro com a comunidade chinesa nos locais onde habito, procurando conhecer os seus costumes, tradições e a sua riqueza cultural, favorecendo um clima de fraternidade e acolhimento.

Oração

Senhor Jesus Cristo, que enviaste os teus discípulos a levar a todo o mundo a Boa-Nova, inspira os nossos irmãos e irmãs que Te seguem neste grande país, a China. Que o teu Espírito leve os seus responsáveis a ter no seu coração o desejo de diálogo, abertura, paz e reconciliação. Neste mês, comprometemo-nos a estar mais unidos aos nossos irmãos e irmãs na China que, através de muitas dificuldades, acreditam em Ti e professam o teu nome. Que o teu amor seja para cada um deles a sua força e a sua alegria.

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Por meio da oração, a alma contempla a Deus na vida cotidiana

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15 de março de 2019

Oração, jejum e esmola são o caminho indicado para os cristãos viverem intensamente a preparação para a Páscoa. No entanto, essas práticas não se restringem ao período quaresmal. São hábitos que devem fazer parte da vida dos cristãos e que ganham maior destaque nesse tempo litúrgico. Nesta edição, o O SÃO PAULO dá destaque à oração.

 

O QUE É?

O exercício da oração indica todas as formas de relacionamento pessoal com Deus. “Pela oração, entramos em comunhão com Deus, diante de quem reconhecemo-nos criaturas e filhos”, disse o Papa Francisco na homilia da Quarta-feira de Cinzas de 2014. “Jesus rezou e ensinou a rezar. Sem oração, a vida cristã torna-se abstrata e corre o risco de se converter num extenuante esforço pessoal de busca da perfeição ética sem esperança nem alegria”, completou o Pontífice.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) ressalta que a humildade é o fundamento da oração. “A humildade é a disposição necessária para receber gratuitamente o dom da oração: o homem é um mendigo de Deus” (nº 2559).

 

IMPULSO DO CORAÇÃO

São João Damasceno define a oração como “a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens convenientes”. A doutora da Igreja Santa Teresa de Jesus definia a oração como “um trato de amizade com Deus”.

“Seja qual for a linguagem da oração (gestos e palavras), é o homem todo que ora. Mas, para designar o lugar de onde brota a oração, as Escrituras falam, às vezes, da alma ou do espírito ou, com mais frequência, do coração (mais de mil vezes). É o coração que ora. Se ele estiver longe de Deus, a expressão da oração será vã”, acrescenta o C

 

EXEMPLO DO MESTRE

O próprio Jesus Cristo é o modelo do cristão para a oração. São muitas as passagens dos Evangelhos que mostram o Filho de Deus se retirando a sós para rezar. Esse fato ganha especial destaque nos momentos mais importantes do seu ministério público, por exemplo, na ocasião de seu batismo, na escolha dos apóstolos, na multiplicação dos pães, na transfiguração e antes de viver a Paixão. “A oração de Jesus antes dos acontecimentos da salvação de que o Pai O encarrega é uma entrega humilde e confiante da sua vontade à vontade amorosa do Pai”, reforça o CIC (nº 2600).

Quando ora, Jesus instrui seus seguidores a orar. O maior exemplo disso é a passagem bíblica na qual Ele ensina o Pai-Nosso. É Cristo também quem ensina os cristãos a “procurar”, “bater à porta”, “pedir e receber”.

 

ORAÇÃO DE MARIA

A doutrina católica também apresenta a Mãe de Jesus como modelo de mulher orante. O Catecismo ressalta, ainda, que aquela que Deus fez “cheia de graça” responde pelo oferecimento de todo o seu ser: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. “‘Façase’ é a oração cristã: ser todo para ele, já que ele é todo para nós”, completa o CIC.

 

NO COTIDIANO

A oração é o principal alimento para a santificação da alma em meio à vida cotidiana. A exemplo disso, os santos da Igreja sempre remetem como modelo o período da vida oculta de Jesus, antes de iniciar o seu ministério público, quando tinha uma vida voltada ao trabalho, oração e estudo na Sagrada Família de Nazaré.

No discurso feito em 2002, São João Paulo II salientou que as atividades diárias se apresentam como um precioso meio de união com Cristo. “O espírito de oração transforma o trabalho e, assim, torna-se possível estar em contemplação de Deus ainda que permanecendo nas ocupações mais variadas”, afirmou.

 

EM FAMÍLIA

Desde a Quaresma do ano passado, a engenheira civil Mércia Maria Bottura de Barros, 56, tem feito o propósito de intensificar suas práticas de oração com seu esposo, o engenheiro eletrônico Marcelo Freire de Barros, 60, a começar pelo esforço de rezar juntos todas as manhãs por meio do oferecimento do dia e da meditação do Evangelho, antes de seguir para o trabalho.

Ao longo do dia, pequenos gestos, como o agradecimento antes das refeições, ajudam a renovar a sua comunhão com Deus. “Eu sempre programo o meu celular para despertar às 15h, hora da misericórdia, para fazer uma oração pessoal”, acrescentou. “Busco estar sempre em sintonia com Deus, mesmo que não seja por meio de orações formais. Quando vou à sala de aula, sempre peço para que Nossa Senhora me auxilie e que eu consiga realizar bem o meu trabalho, iluminada pelo Espírito Santo”, explicou Mércia, que leciona na Escola Politécnica da USP.

 

NO TRABALHO

O jornalista Tiago Oliveira Machado Miranda, 39, busca viver sua rotina diária em meio ao seu trabalho e o cuidado da família, em Brasília (DF).

“Todas as manhãs, após acordar, eu leio a Bíblia e faço uma breve meditação, seguida do exame de consciência. Ao chegar à empresa, faço uma oração oferecendo aquelas horas de trabalho. E, entre uma tarefa e outra, busco agradecer a Deus e oferecer a nova tarefa a Ele e também rezar por alguns colegas”, relatou, explicando que costuma escolher um colega por mês para fazer orações.

À noite, ele realiza uma leitura espiritual acompanhada de algumas orações da Igreja. Para o jornalista, a prática da oração dá um sentido sobrenatural a seus afazeres diários. “Acho que é importante lembrar de Deus ao longo da jornada de trabalho, até para ressignificar o que estou fazendo”, concluiu Tiago.

TIPOS DE ORAÇÃO

* Bênção e a adoração, pela qual se exalta Deus como o Senhor;

* Súplica, pela qual se implora com insistência alguma coisa;

* Intercessão, pela qual se pede por alguém;

* Ação de graças, principalmente a oferta da Igreja por meio da Missa;

* Louvor: dar glória a Deus;

* A oração ao Pai, Filho, Espírito Santo, anjos ou santos intercessores.

 

EXPRESSÕES DE ORAÇÃO

* Oração vocal: por meio da recitação de orações da tradição da Igreja (Liturgia das Horas, cânticos, novenas e devoções etc.);

* Meditação: reflexão por meio do pensamento, da imaginação, da emoção e do desejo. Normalmente, utiliza-se a Palavra de Deus, um livro espiritual ou a meditação dos mistérios do Rosário de Nossa Senhora;

* Oração mental: diálogo espontâneo e silencioso com Deus, sobre a própria vida, trabalhos, anseios, problemas, dúvidas e indecisões.

 

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