Edith Stein inspira as mulheres a assumir os desafios do tempo presente

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19 de março de 2020

A filósofa alemã Edith Stein (1891-1942) nasceu judia, converteu-se ao catolicismo após ler a autobiografia “Livro da Vida”, de Santa Teresa de Ávila, e ingressou no carmelo aos 42 anos de idade.
“A vida e obra de Edith Stein inspiram as mulheres a ter coragem de viver seu próprio caminho, com autenticidade, feminilidade, maternidade humana e/ou espiritual”, afirma, nesta entrevista, a pedagoga Magna Celi Mendes da Rocha, 41, mestre e doutora em Psicologia da Educação. Atual assessora da Pastoral Universitária da PUC-SP, Magna dedica-se ao estudo de Edith Stein – Santa Teresa Benedita da Cruz – e em 2014 apresentou a tese de doutorado “O sentido de formação em Edith Stein: fundamento teórico para uma educação integral”. 

O SÃO PAULO  – Judia de nascimento, batizada no catolicismo aos 30 anos e ingressante no carmelo aos 42 anos. Nos dias de hoje, em que se ressalta o protagonismo feminino, Edith Stein, que viveu na primeira metade do século XX, pode ser considerada uma mulher à frente de seu tempo?
Magna Celi Mendes da Rocha – Prefiro considerar que a grande marca de Edith Stein foi a de ser uma mulher “do seu tempo”. Uma mulher que soube viver profundamente imersa nas questões que seu momento histórico lhe impôs, sem sucumbir a elas. Tinha uma percepção muito apurada da realidade e utilizava todos os recursos que possuía para contribuir e transformar. Viveu durante as duas Guerras Mundiais, tendo servido como enfermeira da Cruz Vermelha durante a Primeira Guerra. Viveu como mulher em um período de lutas pela emancipação feminina, pelo direito ao voto, abertura das universidades para as mulheres, entre outras conquistas. Viu o surgimento e crescimento do nazismo, sofreu forte perseguição, mas em cada um desses acontecimentos procurou dar sua contribuição a partir de seus escritos, seu trabalho, seu ser mulher, sua vida colocada a serviço até as últimas consequências.   

A partir da biografia de Edith Stein, como pode ser entendido este protagonismo feminino? Em que difere do que alguns grupos radicais feministas dão a essa expressão?
Edith Stein, em sua história de vida, foi influenciada por três grandes mulheres: sua mãe, Teresa de Ávila e Nossa Senhora. A senhora Auguste Stein ficou viúva, com sete filhos, com idades variando entre 1 e 17 anos, e com dívidas a serem pagas. Os familiares, com quem tinha um relacionamento muito estreito, especialmente os irmãos, aconselharam-
-na a vender o comércio, pagar as dívidas e contar com o apoio familiar para o que fosse necessário.  Contrariando a todos, ela decidiu tocar os negócios do marido e os fez prosperar, tornando-se uma grande comerciante de madeira da região. Com sua mãe, Stein aprendeu o valor da fé, do trabalho e a importância da família. Teresa de Ávila tinha vivacidade, bom humor, coragem e determinação, que marcaram profundamente a vida de Stein, a ponto de, mais tarde, tornar-se carmelita. Em Nossa Senhora, via a expressão mais profunda de maternidade, não restrita apenas ao círculo familiar, mas uma maternidade espiritual, como a Mãe de Misericórdia, arraigada do amor universal. Marcada pelo testemunho dessas mulheres, Edith Stein acreditava no protagonismo e na emancipação femininas. Participou do movimento feminista alemão, do movimento sufragista (em defesa do voto feminino), acreditava no potencial feminino para além do ambiente doméstico, mas não aderia a todas as pautas indiscriminadamente, sobretudo as que negavam as diferenças entre homens e mulheres e propagavam a aversão ao Matrimônio e aos filhos. Para ela, a contribuição que a mulher poderia dar à sociedade seria a partir de sua singularidade feminina, não como uma sósia ou inimiga dos homens, mas em sua feminilidade, maternidade e empatia. 

Antes da entrada de Edith Stein no carmelo, ela teve intensa produção pedagógica e acadêmica. Quais os traços essenciais dos escritos que ela produziu?
Edith Stein tinha forte interesse pela formação humana. Desejava uma educação que formasse o ser humano em todas as dimensões (corpo, psique e espírito), não apenas uma pseudo formação, voltada somente para a aquisição de conteúdos, o que ela chamava de “formação enciclopédia.” Embora ainda não utilizasse a expressão educação integral, era assim que concebia uma formação autêntica. São, ainda hoje, comuns propostas formativas reducionistas que visam preparar “para o mercado de trabalho”, “para o vestibular”, “para o pensamento crítico.” Isoladamente, nenhuma dessas propostas é suficiente. Sua obra pedagógica sofreu forte influência de São Tomás de Aquino, de modo que não concedia uma formação apenas para essa vida, mas buscava formar homens e mulheres em vista da eternidade. 

Esse olhar para a educação que ajude a uma formação humana integral teve ramificações em outras áreas do saber ao longo do século XX? 
Esse olhar integral ou holístico sobre o ser humano tem sido valorizado nas mais diversas áreas do conhecimento. O Papa João Paulo II, na Encíclica 
Fides et ratio, recorda a necessidade de se alcançar uma “visão unitária e orgânica do saber”, uma vez que “a subdivisão, enquanto comporta uma visão parcial da verdade com a consequente fragmentação do seu sentido, impede a unidade interior do homem de hoje” (1998, 84).  

Na cerimônia de canonização de Edith Stein, São João Paulo II afirmou que ela conseguiu compreender que o amor de Cristo e a liberdade do ser humano se entretecem, porque o amor e a verdade têm uma relação intrínseca. Quais passagens da vida de Edith Stein reforçam o que disse o Papa? 
A busca pela verdade foi um grande motor da vida de Stein. Ela afirmava que quem busca a verdade, ainda que não saiba, busca a Deus. Em sua vida adulta, mesmo quando esteve distante de questões religiosas, tinha uma abertura às pessoas e suas necessidades. Esse compromisso com os outros e às questões do tempo presente colocaram Edith Stein em um compromisso renovado e livre que foram forjando sua personalidade.
Ela vivenciou tempos sombrios, situações-limite. Sabemos que em tempos de crises profundas, é necessário separar o essencial do acessório, o que é precioso do que é vil. Stein foi sendo conduzida a uma busca cada vez mais profunda a respeito da essência das coisas, seguindo o método fenomenológico e, pela via da fé, a uma busca incessante pela verdade sobre o ser humano, sobre si mesma. Suas vivências vão forjando sua personalidade, conduzindo-a por caminhos não planejados, mas livremente assumidos, até as últimas consequências. Edith Stein é uma autora que personifica a coerência entre vida e obra.

O quão importante é atualmente falar de uma mulher com tantas virtudes?
O protagonismo de Edith Stein é fruto de uma vivência autêntica de fé, primeiramente herdada de seus antepassados, depois assumida como algo pessoal. O sentido de pertencimento ao povo judeu e responsabilidade social, ampliadas pela experiência cristã, potencializaram suas marcas de coragem, ousadia e determinação. Ela é um testemunho que inspira muitas mulheres ao redor do mundo a assumir os desafios próprios de seu tempo e comprometer suas vidas, assumindo sua missão pessoal, a serviço do bem comum, onde quer que estejam inseridas: na família, no trabalho, na política, nos estudos etc. 

O que as mulheres de hoje têm a aprender desse itinerário de fé vivido por Edith Stein?
A vida e obra de Edith Stein inspiram as mulheres a ter coragem de viver seu próprio caminho, com autenticidade, feminilidade, maternidade humana 
e/ou espiritual, sabendo que cada pessoa é única e um dom a serviço dos outros. Sua vida nos ensina a não nos deixar aprisionar por extremismos, modismos, visões ultrapassadas que desfiguram ou menosprezam as nossas potencialidades femininas.

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O SÃO PAULO recorda mulheres que fizeram toda diferença

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05 de março de 2020

Nesta quinta-feira, 5, a série “#TBT O SÃO PAULO” recorda a edição 3238 do semanário da Arquidiocese de São Paulo, publicada em 7 de março de 2019, que o Dia Internacional da Mulher, celebrado anualmente, em 8 de março.

Naquela ocasião, O SÃO PAULO selecionou as histórias de mulheres que fizeram a diferença em suas comunidades e cidades de origem e são exemplos para outras de todo o mundo.

Ao longo da história do povo de Deus, desde o Antigo Testamento, antes mesmo do nascimento de Jesus Cristo, a presença e a força das mulheres foram registradas pelos livros bíblicos. Rute, Raquel, Ana e, já no Novo Testamento, Nossa Senhora, Lídia, Marta, Maria e tantas outras fizeram a diferença e demonstraram grande capacidade de seguir a Deus, respeitando seus mandamentos e ouvindo atentamente a sua Palavra.

Na história da Igreja, muitas mulheres tiveram a graça de ser elevadas aos altares e de deixar para todos os cristãos testemunhos de vida e santidade. São mulheres que deram a vida pela causa do Evangelho e, em muitos casos, tiveram a santidade reconhecida pela Igreja.

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Um caminho de superação para a alma feminina

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30 de abril de 2019

Meeting de Mulheres promovido pela Oficina Viva Produções acontece nos dias 13 e 14 de Maio, das 19h30 às 22h, no Teatro Tucarena (R. Monte Alegre, 1024 - Perdizes, São Paulo). O evento é composto por dois dias de formações com a cantora e musicoterapeuta Ziza Fernandes e suas convidadas.

Segundo os organizadores: "Assim, como o Congresso Leveza Feminina, o conteúdo formulado não se restringe à teoria sobre o ser humano e suas necessidades, mas é uma proposta de experiência real e prática, que pode ter sua continuidade mediante esforço e disciplina pessoal de cada participante das atividades". 

"Além de uma fomentação do autoconhecimento e estrutura psicológica, o conteúdo abraça o estímulo de crescimento diante do ideal de mulher sábia e também se estende à formação da mulher virtuosa, como ser moral, político, literário", completou os organizadores. 

As mulheres interessadas em participar do meeting precisam fazer a inscrição no site da produtora e adquirir o convite (dias 13 e 14), visto que os conteúdos dos dois dias serão diferenciados. Contudo as participantes podem comprar seus ingressos conjugados num valor mais econômico.

A palestrante:

Ziza Fernandes é cantora e musicoterapeuta, com mais de 25 anos de carreira na música católica. Além do recente DVD/CD Segredos – ao vivo, tem mais 13 álbuns gravados, numa discografia que conta também com três CDs em espanhol e dois em italiano. Em 2013, Ziza fez a direção musical geral dos Atos Centrais da Jornada Mundial da Juventude com o Papa Francisco, no Rio de Janeiro, ponto marcante em sua trajetória e de onde nasceu o projeto “Segredos”, com o EP Segredos lançado em 2014 e o CD/DVD ao vivo, gravado em 2015.

SERVIÇO

Meeting Leveza Feminina 

Dias 13 e 14 de Maio 2019 | 19h30 às 22h

Teatro Tucarena (R. Monte Alegre, 1024 - Perdizes, São Paulo)

Inscrições

 

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Número de feminicídios sobe 26,6% no Estado de São Paulo

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10 de janeiro de 2019

Dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo revelam que em 2018 o número de feminicídios no estado cresceu 26,6%: de janeiro a novembro do ano passado, foram registrados 119 casos, ante 94 no mesmo período de 2017.

De acordo com um levantamento feito pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP), em 45% dos casos, o crime foi cometido pelo ex-companheiro da mulher agredida depois de ele não ter aceitado o fim do relacionamento.

O MP-SP também analisou 364 denúncias de tentativas de feminicídios e feminicídios consumados entre março de 2016 e março de 2017 e constatou que duas em cada três vítimas foram mortas dentro de casa. Segundo o estudo, 96% das vítimas não tinham registrado boletim de ocorrência nem eram beneficiadas por medidas protetivas para manter os ex-companheiros afastados.

Em todo o País, as mulheres vítimas de violência ou pessoas próximas que tenham testemunhado agressões contra as mulheres podem fazer a denúncia por meio do telefone 180 ou pelo e-mail ligue180@spm. gov.br. O serviço é gratuito e funciona 24 horas todos os dias, inclusive aos finais de semana.

Fontes: G1 e Governo Federal
 

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Apenas uma mulher disputa o 2º turno nos estados

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08 de outubro de 2018

Apenas uma mulher irá concorrer às eleições no dia 28, em segundo turno, e nenhuma conseguiu ser a mais votada no primeiro. Somente a candidata do PT ao governo do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, está na disputa. Com uma carreira política construída no Legislativo, ela é senadora pelo estado e cumpriu três mandatos como deputada federal.

No primeiro turno, Fátima Bezerra ficou na frente do candidato Carlos Eduardo (PDT). Mas, se ela for derrotada, não haverá mulheres governadoras em nenhum estado, antítese em um país cujo eleitorado é formado majoritariamente por mulheres.

Nas eleições de 2014, a atual governadora de Roraima, Suely Campos (PP), foi a única mulher eleita no país. Porém, este ano ela foi derrotada na tentativa de obter a reeleição. Em nota, a governadora afirmou ter recebido o estado em “situação difícil”.

O principal embate de Suely Campos foi com o governo federal e o Judiciário, ao tentar impedir o ingresso de imigrantes venezuelanos no estado.

Pelo menos 30 mulheres disputaram  o cargo de governador nas eleições. Dos 26 estados e o Distrito Federal, não houve candidatas do sexo feminino em oito unidades: Alagoas, Amapá, Ceará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Rio Grande do Sul e Rondônia.

No Distrito Federal, havia duas mulheres candidatas, enquanto em Pernambuco e no Piauí havia três na corrida pelos governos.

 

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Rio terá 1ª edição na América Latina do Festival Mulheres do Mundo

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01 de outubro de 2018

O Rio de Janeiro vai receber - entre os dias 16 e 18 de novembro - o Festival Mulheres do Mundo – WOW, da sigla em inglês para Women of the World e também uma brincadeira com a expressão linguística que representa entusiasmo e admiração, como uau em português.
 
O WOW começou em 2010 no centro cultural Southbank Centre, em Londres, idealizado pela produtora britânica Jude Kelly, e atualmente é replicado em 17 cidades de cinco continentes.

Pela primeira vez ocorre na América Latina e foi um dos temas debatidos no II Diálogo Mulheres em Movimento – Alianças e Ações Coletiva, na semana passada no Rio.
 
Segundo uma das organizadoras do festival no Rio, Shirley Villela, que é coordenadora da Casa Mulheres da Maré, o WOW sempre é proposto e liderado por uma organização social da cidade que vai receber o evento.

No caso do Rio, foi a Organização Não Governamental (ONG) Redes da Maré, que participou da edição de Londres este ano.
 
“A ideia é que as cidades se apropriem disso. Ele foi criado como um momento de celebração dos avanços e das conquistas das mulheres. Não que não haja mais conquistas a serem alcançadas. Há muito o que celebrar e há muito o que lutar por. Ao mesmo tempo, ele está celebrando e está demonstrando o quanto a gente precisa caminhar. A intenção do festival e de toda a programação é baseada nisso”, explica Shirley.

 

Boulevard Olímpico

O Festival Mulheres do Mundo vai ocupar toda a região da Praça 15 e parte do Boulevard Olímpico, na região portuária, com atividades no Museu de Arte do Rio (MAR) e no Museu do Amanhã, ambos na Praça Mauá, “tudo acontecendo ao mesmo tempo, você tem que fazer escolhas de onde vai estar naquele momento”, diz ela.
 
“No Southbank tudo acontece dentro de uma mesma estrutura. Aqui, a nossa experiência vai ser absolutamente diferente. Vai ter coisa acontecendo no Museu do Amanhã, ao mesmo tempo tem coisa no MAR, a feira vai estar ali rolando, o píer vai estar bombando para jovens e adolescentes, com o ativismo digital no Espaço Youtube. Ao mesmo tempo vai ter uma oficina aqui, um espetáculo de dança na praça, um painel de diálogo lá dentro discutindo racismo e xenofobia”, revela.
 
Serão quatro vertentes de interação no evento. Dentro do primeiro tipo, de painéis de diálogos, haverá mesas de debates sobre temas específicos com convidadas de todo o mundo e locais; partilhas de trajetória, com duas ou três mulheres contando sua trajetória em 15 minutos e estimulando que outras mulheres na plateia partilhem suas histórias; e as mentorias, com conversar em pares.

 

Moda, artesanato e serviços

Para o empreendedorismo, um edital selecionou 150 mulheres que participarão do mercado na praça, expondo moda, artesanato e serviços. O ativismo, com os movimentos sociais, acontecerá no mesmo espaço do mercado.

“A pessoa está comprando um vestido, uma bolsa, e vai ter uma ONG do lado falando sobre violência contra a mulher, distribuindo um folheto. A ideia é que esteja um pouco misturado”, diz Shirley.
 
Por fim, a parte artística e cultural terá pequenas apresentações em meio à praça, como teatro, dança ou circo, além de um grande show para encerrar cada dia.

Já foram confirmadas 73 convidadas locais, 48 nacionais e 28 internacionais, dos mais diversos campos de atuação, como literatura, ativismo social, jornalismo, música e esporte. A programação completa ainda não foi fechada e será disponibilizada na página do festival na internet.

 

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Renda das mulheres é 42,7% menor que a dos homens, diz Pnud

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14 de setembro de 2018

Apesar de as mulheres apresentarem melhor desempenho na educação e terem maior expectativa de vida no Brasil, a renda delas é 42,7% menor que a dos homens (10,073 para mulheres contra 17,566 para homens), segundo dados divulgados hoje, 13, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). A média de renda per capita do país é de 13,755.

Ao apresentar o novo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país e do mundo, o órgão destacou a desigualdade de gênero na taxa que considera o acesso da população à educação, saúde e perspectivas econômicas.

De acordo com o levantamento, no Brasil, enquanto o IDH dos homens é de 0,761, na escala que varia de 0 a 1 ponto, o das mulheres é de 0,755 – quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano. A expectativa de vida das brasileiras é de 79,3 anos contra 72,1 anos dos homens. No quesito educação, a projeção de uma menina que entra no ensino em idade regular é permanecer estudando por 15,9 anos e ter uma média de estudo de 8 anos, contra, respectivamente, 14,9 e 7,7 para os meninos.

Países como Uruguai, Venezuela e Argentina mantêm padrões muito mais equitativos entre homens e mulheres, ainda que todos eles sustentem a disparidade econômica por gênero de quase 50% entre a renda de um e outro.

Parte da justificativa pode estar no menor tempo que a mulher dispõe para o mercado de trabalho formal. Um dos dados divulgados pelo Pnud aponta que o Brasil é o país da região onde há menor divisão das tarefas domésticas entre homens e mulheres. De acordo com o levantamento, elas gastam 13,3% mais do tempo em atividades não remuneradas dentro de casa, trabalhando 4,3 vezes mais nestas funções do que os brasileiros. O número ainda pode ser maior, considerando a subnotificação, neste levantamento, do tempo disposto para cuidar de filhos, idosos e familiares doentes.

Com relação à participação política, as mulheres ocupam 11,3% das cadeiras do Congresso Nacional. O número representa o pior resultado da América do Sul e o terceiro pior da América Latina, atrás somente de Belize (11,1%) e das Ilhas Marshall (9,1%). O país com menor IDH do mundo, Níger, tem mais mulheres com assento no Parlamento (17%) do que o Brasil.

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Matéria sobre violência sofrida por mulheres no campo ganha prêmio 'Dom Helder Câmara'

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29 de agosto de 2018

Ângela Bastos, jornalista profissional, foi a grande vencedora do prêmio Dom Helder Câmara da última edição dos Prêmios de Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) com a matéria “Sozinhas – A história das mulheres que sofrem violência no campo”. Nela, trabalhadoras rurais de Santa Catarina denunciam a cultura de dominação masculina marcada por agressões físicas, psicológicas, torturas, abusos sexuais, feminicídios.

O prêmio “Dom Helder Câmara” se deu por força de uma festa jubilar, em 2002, quando a CNBB completava 50 anos de existência. O objetivo é justamente premiar reportagens e trabalhos jornalísticos voltados à promoção humana e social, cuja finalidade coincida com as propostas da Igreja no Brasil. Ao dar o nome de Dom Helder ao prêmio, a CNBB quis prestar uma homenagem a um dos fundadores da Conferência, que é reconhecido como um grande comunicador na Igreja e na sociedade.

Para essa premiação podem concorrer trabalhos na categoria de jornal, desde que tenham matérias jornalísticas publicadas em impresso (ainda que tenham versões eletrônicas); revista ou matérias publicadas em formato de série. E foi justamente nessa categoria em que Ângela inscreveu o seu trabalho. Sua reportagem deu visibilidade inédita à temática da violência no campo, especialmente no isolamento da área rural de um dos estados de maior IDH do país, e mobilizou organizações nacionais.

Segundo a jornalista, a matéria nasceu de uma vontade e curiosidade de saber o porquê que em um determinado momento houve o aumento no número de casos de violência contra as mulheres, no interior de Santa Catarina.

A matéria “Sozinhas – A história das mulheres que sofrem violência no campo” retrata a história de mulheres “maceradas em um cotidiano de violência física, psicológica e financeira”. É o caso de Eraci Terezinha Eichelberger Seibert, 63 anos, que vive em São Miguel do Oeste, proibida pelo marido de se despedir dos pais no leito de morte. Também de Lucimar Roman, 53 anos, moradora de São José do Cedro, escorraçada e mandada embora pelo marido com três filhos pequenos. Elas duas autorizaram a equipe de Ângela a fazer fotografias suas, já as outras que foram entrevistas se esconderam atrás do anonimato por medo de represálias.

Questionada sobre como o seu trabalho pode ajudar outras mulheres que também estão passando pela mesma situação a denunciarem seus agressores, a jornalista é enfática. “Eu penso que a matéria ela tem uma relevância muito grande porque ela tira essa situação da invisibilidade. Em muitos lugares que eu tenho ido apresentar a matéria, falar nas universidades, nos sindicatos, nas associações de moradores, as pessoas se surpreendem porque a gente também tem uma imagem de que o campo é um lugar de paz, de fartura, de segurança”, diz.

Como resultado de seus esforços, Ângela conta que após a publicação da matéria se instalou um amplo debate em Santa Catarina. “Se temos toda essa riqueza que dizem que temos em Santa Catarina, então não se pode ter uma situação onde as mulheres sejam submetidas a essas atrocidades, não é verdade? Então se instalou um amplo debate a respeito dessa questão envolvendo legislativo, envolvendo também o judiciário e, a partir daí, as pessoas pararam para olhar”, diz. Ainda de acordo com ela, foram realizados seminários itinerários por todo o Estado e um dos instrumentos que foram utilizados para o debate foi justamente o documentário realizado.

Quando soube que tinha ganhado o prêmio Dom Helder Câmara, Ângela se sentiu “orgulhosa”. “O prêmio Dom Helder Câmara tem um significado muito grande para mim porque quando eu era adolescente, eu comecei a atuar em grupo de jovens e eu tinha dom Helder como um líder para mim, porque ele nunca se calou mesmo num período de opressão, mesmo num período de ditadura. E ele defendia os pequenos, os pobres (…), então para mim dom Helder foi muito importante e eu acho que de alguma forma na minha vida profissional eu continuo sendo inspirada por dom Helder, pois busco dar voz a essas pessoas”, finalizou.

A Cerimônia

A cerimônia de entrega desta e das outras categorias dos Prêmios de Comunicação da CNBB, que incluem ainda as categorias de TV, Rádio, Internet, Cinema ocorreu no dia 20 de julho, nos estúdios da TV Aparecida e foi exibida nos canais de TV de inspiração católica no Brasil.

Confira a matéria da Ângela Bastos

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Justiça faz novo esforço para julgar ações de violência contra mulher

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20 de agosto de 2018

Tribunais de Justiça de todos os estados e do Distrito Federal começam hoje (20) esforço concentrado para julgar casos de violência contra a mulher que tramitam nesses órgãos. O mutirão é parte da 11ª edição da Semana Justiça pela Paz em Casa, promovida há cinco anos. No total, em todas as edições, ocorreram 140 mil audiências, foram definidas 127 mil sentenças e expedidas 65 mil medidas protetivas.

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), atualmente, tramitam mais de 1 milhão de processos relativos à violência doméstica na Justiça brasileira. Justamente para tentar acelerar a conclusão desses casos, a campanha ocorre três vezes por ano: em março, em homenagem ao Dia da Mulher; em agosto, para marcar a promulgação da Lei Maria da Penha, e em novembro, durante a semana internacional de combate à violência de gênero, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Um levantamento sobre as iniciativas das varas e juizados especializados nesses crimes para esta semana mostra metas como a de Goiás, onde mais de mil audiências de processos referentes à Lei Maria da Penha estão previstas. Apenas em Goiânia, estão agendados 200 julgamentos. No Rio de Janeiro, o objetivo é realizar 1.391 audiências e, na Paraíba, mais de 400 audiências, até 24 de agosto.

No Piauí, estão previstas 300 audiências preliminares, de instrução e julgamentos no Fórum Central de Teresina. Em Porto Velho, dois Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher farão, em média, 50 audiências por dia durante a semana, totalizando 268 audiências. Apenas em junho deste ano, tramitaram 6.772 processos nos dois Juizados. Em Mato Grosso do Sul, estão programadas 150 audiências concentradas no tema.

Os tribunais também organizam, ao longo da campanha, debates e exposições com delegados especializados, promotores e outros profissionais que atuam nas investigações desse tipo de violência.

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