Indulgências: participação dos benefícios da redenção de Cristo

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18 de abril de 2020

Neste período de pandemia, o tema das indulgências ganhou destaque entre os católicos e curiosidade entre os que têm uma ideia distante do real significado dessa antiga prática da Igreja de grande valor espiritual para a vida dos fiéis.

No dia 27 de março, o mundo acompanhou a histórica oração do Papa Francisco pelo fim da pandemia na Praça São Pedro, vazia, onde concedeu, no final, a bênção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo) com o Santíssimo Sacramento, por meio da qual concedeu aos fiéis a possibilidade de obter a indulgência plenária. O mesmo aconteceu no domingo de Páscoa, 12, quando conferiu novamente essa bênção, já tradicional nesta data, assim como no dia de Natal.

Dias antes, a Santa Sé publicou um decreto por meio do qual concede a possibilidade de obter indulgência plenária aos doentes com a COVID-19, assim como aos profissionais da saúde e familiares que colocam sua vida em risco para cuidar dos infectados.

O QUE É?

Ao contrário do que alguns meios de comunicação erroneamente noticiaram, as indulgências concedidas pelo papa não são o “perdão total dos pecados”, algo que só pode ser obtido por meio da absolvição sacramental na Confissão.

A doutrina da Igreja ensina que a indulgência é “a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da Igreja”, como explica do Manual das Indulgências, da Penitenciaria Apostólica, tribunal da Santa Sé responsável pelas questões referentes ao foro interno, como o sacramento da Reconciliação e as indulgências.

“Apesar do perdão, carregamos na nossa vida as contradições que são consequência dos nossos pecados. No sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos permanece”, explicou o Papa Francisco, na bula Misericordiae vultus, na proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em 2015.

O Pontífice acrescentou que a misericórdia de Deus por meio da Igreja, “alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado”.

“A indulgência é experimentar a santidade da Igreja que participa em todos os benefícios da redenção de Cristo, para que o perdão se estenda até as últimas consequências aonde chega o amor de Deus”, completou o Santo Padre.

CONSEQUÊNCIAS DO PECADO

O Catecismo da Igreja Católica explica que, para entender essa prática da Igreja, é preciso compreender que o pecado tem uma dupla consequência na vida da pessoa.

“O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, portanto, torna-nos incapazes da vida eterna, cuja privação se chama ‘pena eterna’ do pecado. Por outro lado, todo o pecado, mesmo venial, traz consigo um apego desordenado às criaturas, o qual precisa ser purificado, quer nesta vida quer depois da morte, no estado que se chama Purgatório”, diz o Catecismo (1472).

No entanto, o Catecismo ressalta que estas duas penas não devem ser consideradas como “uma espécie de vingança, infligida por Deus, do exterior, mas como algo decorrente da própria natureza do pecado”, e indica que “uma conversão procedente de uma caridade fervorosa pode chegar à total purificação do pecador, de modo que nenhuma pena subsista”.

Desse modo, o perdão divino recebido pela absolvição sacramental restabelece no fiel a comunhão com Deus e o livra das penas eternas do pecado. No entanto, as penas temporais subsistem. Essas, por sua vez, podem ser redimidas por meio de práticas espirituais cujos méritos são as indulgências.

PARCIAL OU PLENÁRIA

Essas indulgências podem ser parciais ou plenárias na medida que liberta, em parte ou no todo, da pena temporal devida em consequência dos pecados. Desse modo, o cristão pode cultivar orações e práticas cotidianas que purificam seu coração e sua alma de tais penas e o aproximam cada vez mais da graça de Deus e da santidade.

Devido à fé da Igreja na comunhão dos santos, as indulgências podem ser obtidas não apenas em próprio favor dos fiéis, como em favor da purificação daqueles que já faleceram, ou seja, das almas do purgatório.

Para obter a indulgência plenária é preciso fazer uma das práticas indicadas pela igreja, como orações, obras, práticas de piedade e bênçãos recebidas, sempre observando as seguintes condições: confissão sacramental, comunhão eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice. “Requer-se, além disso, rejeitar todo o apego ao pecado, qualquer que seja, mesmo venial”, ressalta o manual.

EXCEÇÕES NA PANDEMIA

Nesse período de pandemia, contudo, em que as pessoas estão impossibilitadas de participar da missa e receber a comunhão sacramental, a Penitenciaria Apostólica publicou um decreto em que concede a indulgência plenária aos fiéis que:

“Oferecerem uma visita ao Santíssimo Sacramento, ou a adoração eucarística, ou a leitura da Sagrada Escritura durante pelo menos meia hora, ou a recitação do santo rosário, ou o exercício piedoso da via-sacra, ou a recitação do rosário da Divina Misericórdia, para implorar de Deus Todo-Poderoso o fim da epidemia, alívio para os aflitos e salvação eterna para aqueles que o Senhor chamou a si”.

O decreto determina, ainda, que para obter a indulgência plenária, os doentes de coronavírus, os que estão em quarentena, os profissionais de saúde e familiares que se expõem ao risco de contágio para ajudar quem foi afetado pela COVID-19, também poderão simplesmente recitar o Credo, o Pai-Nosso e uma oração a Nossa Senhora.

Na impossibilidade de se confessar e de receber a absolvição sacramental, a Penitenciaria Apostólica recordou, por meio de uma nota, que “a contrição perfeita, vinda do amor de Deus amado acima de tudo, expressa por um sincero pedido de perdão (aquilo que o penitente é atualmente capaz de expressar) e acompanhada do votum confessionis, ou seja, da firme resolução de recorrer à confissão sacramental o mais rápido possível, obtém perdão dos pecados, até mortais”.

MEIOS PARA OBTÊ-LAS

São vários os meios e circunstâncias pelas quais uma pessoa pode obter indulgências parciais ou plenárias. Leia, a seguir, os meios mais comuns indicados pela Igreja:

Concede-se indulgência plenária ao fiel que:

  • Visitar com devoção uma das quatro basílicas patriarcais de Roma e lá recitar o Painosso e o Creio:

1) no dia da festa do titular;
2) em qualquer festa de preceito;
3) uma vez no ano, em dia à escolha do fiel.

  • Receber com piedade e devoção a bênção dada pelo Sumo Pontífice a Roma e ao mundo (Urbi et Orbi), ou dada pelo bispo aos fiéis confiados ao seu cuidado;
  • Passar pela porta santa de um santuário durante um Ano Santo Jubilar;
  • Visitar devotamente um cemitério, entre os dias 1 e 8 de novembro, e rezar pelos falecidos, sendo aplicável somente às almas do purgatório;
  • Participar da adoração da cruz na celebração da Paixão do Senhor na Sextafeira Santa;
  • Participar com devoção do solene rito de conclusão de um congresso eucarístico;
  • Realizar exercícios espirituais aos menos por três dias;
  • Visitar a igreja paroquial na festa do titular;
  • Visitar a igreja ou o altar no próprio dia da dedicação e aí piedosamente rezar o Painosso e o Creio;
  • Visitar piedosamente urna, igreja ou oratório de religiosos na festa de seu fundador e aí rezar o Painosso e o Creio.

Concede-se indulgência parcial ao fiel que:

  • No cumprimento de seus deveres e na tolerância das aflições da vida, ergue o espírito a Deus com humilde confiança, acrescentando alguma piedosa invocação, mesmo só em pensamento;
  • Levado pelo espírito de fé, com o coração misericordioso, dispõe de si próprio e de seus bens no serviço dos irmãos que sofrem falta do necessário;
  • Absterse de coisa lícita e agradável, em espírito espontâneo de penitência;
  • Recitar atos de virtudes teologais (fé, esperança e caridade) e de contrição.
  • Visitar o Santíssimo Sacramento para adorálo; se o fizer por mais de meia hora, a indulgência será plenária;
  • Visitar devotamente um cemitério, em qualquer dia do ano, e rezar pelos falecidos. O mesmo se aplica na visita a um cemitério de antigos cristãos ou “catacumba”;
  • Fazer a comunhão espiritual, por meio de qualquer fórmula piedosa;
  • Recitar piedosamente o Creio, seja o símbolo apostólico, seja o nicenoconstantinopolitano;
  • Dedicarse a ensinar ou aprender a doutrina cristã;

Para saber mais detalhes sobre a obtenção de indulgências e os meios para consegui-las, acesse o Manual das Indulgências, da Penitenciaria Apostólica. 

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Almoço do Papa com pessoas pobres será no próximo domingo

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04 de dezembro de 2018

No próximo domingo, 18 de novembro, será celebrado o II Dia Mundial dos Pobres, nascido no final do Jubileu da Misericórdia, por vontade do Papa Francisco. Uma iniciativa, como recordado pelo Santo Padre no Angelus de domingo, de "evangelização, oração e partilha", que "promove maior atenção às necessidades dos últimos, dos marginalizados, dos famintos".

Nesta ocasião, o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, que é responsável pela organização e promoção do evento nas dioceses em todo o mundo, tem coordenado algumas iniciativas para transmitir a preocupação da Igreja, sobretudo em relação àqueles que vivem à margem.

Entre essas iniciativas, o almoço do Papa Francisco com pessoas pobres, após a celebração da Santa Missa presidida pelo Papa na Basílica Vaticana, às 10 hora do domingo, com a participação de cerca de 6.000 pobres, juntamente com voluntários que os acompanham, além de representantes de várias entidades que se preocupam dessas pessoas necessitadas. A celebração será transmitida pelo Vatican News a partir das 9h55, horário italiano (6h55, horário de Brasília).

O almoço do Papa com os pobres

O Santo Padre Francisco convidou cerca de 3.000 pobres para participarem do almoço organizado na Sala Paulo VI, que se transformará em um grande refeitório. A refeição a ser servida será oferecida pela Rome Cavalieri - Hilton Itália, em colaboração com a organização sem fins lucrativos Tabor.

O Papa se sentará à mesa com os pobres, compartilhando com eles um momento informal, na maior simplicidade. Este momento de convívio terá lugar simultaneamente nos refeitórios de muitas paróquias, universidades, realidades assistenciais e associações de voluntariado que aderiram à iniciativa, como a Caritas, a Comunidade de Santo Egídio, Legionários de Cristo, Círculo de São Pedro, Colégio Leoniano, Convitto Lateranense Beato Pio IX, Universidade Europeia de Roma, Regina Apostolorum, Instituto Villa Flaminia e a ACLI de Roma.

Posto de Saúde Solidário

Também neste ano, está sendo repetida a experiência do Posto de saúde Solidário, iniciativa que quer oferecer atendimento gratuito a todos os necessitados, que normalmente teriam muitas dificuldades para acessá-lo.

Este ano, o Posto de Saúde Solidário foi instalado no lado esquerdo da Piazza São Pedro,  adjacente ao Braço de Carlo Magno. A estrutura entrou em funcionamento na segunda-feira, 12 de novembro, e permanecerá aberta até domingo, 18 de novembro, com horários de atendimento das 10h às 22h. Já o laboratório de análises, ficará aberto das 8:00 às 13:00.

Este ano, o calendário foi deliberadamente alargado para ir de encontro às necessidades das pessoas que, muitas vezes, pela sua natureza e necessidades, preferem deslocar-se à noite.

As especialidades médicas disponibilizadas são medicina geral, cardiologia, infectologia, ginecologia e obstetrícia, podologia, dermatologia, reumatologia, oftalmologia e, tal como especificado acima, o laboratório de análises clínicas.

As instituições de saúde que disponibilizaram seus seus serviços são: Fundação Policlinico Universitario A. Gemelli, Universidade de Roma Tor Vergata, grupo Bios S.p.A., a ONG Roma Cares, o hospital San Giovanni Addolorata.

Uma ambulância estará sempre presente e disponível no Posto de Saúde, para aqueles que porventura possam precisar de cuidados especiais que não podem ser realizados dentro da própria estrutura.

No ano passado, mais de 600 pessoas foram atendidas e tratadas, algumas das quais em estado grave.

Voluntariado

No sábado, 17 novembro, às 20h00, na Basílica de São Lourenço Fora dos Muros, haverá uma Vigília de Oração para as associações de voluntariado, que como verdadeiros agentes de misericórdia, no silêncio e na discrição, oferecem um serviço constante para essas pessoas que vivem as diferentes formas de pobreza e exclusão, que infelizmente produzem a sociedade de hoje.

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Papa Francisco: "a misericórdia é o caminho para o coração de Deus"

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21 de setembro de 2018

A liturgia nos fala hoje da chamada de Mateus, o publicano, escolhido por Deus e instituído apóstolo segundo o seu desenho de misericórdia. O Papa destaca três expressões na missa matutina na Casa Santa Marta: desenho de misericórdia, escolher, instituir.

Mateus era um corrupto “porque traia a pátria por dinheiro”. Um traidor do seu povo: o pior”. Alguém pode dizer que Jesus “não tem bom gosto para escolher as pessoas”, observou o Papa, e parece que realmente não tem, porque além de Mateus escolheu muitos outros pegando-os “do lugar mais desprezado”. Foi assim com a Samaritana e muitos outros pecadores e os fez apóstolos.

"E depois, na vida da Igreja, muitos cristãos, muitos santos que foram escolhidos do mais raso … escolhidos do mais raso. Esta consciência de que nós cristãos deveríamos ter – de onde fui escolhido, de onde fui escolhida para ser cristão – deve durar toda a vida, permanecer ali e ter a memória dos nossos pecados, a memória que o Senhor teve misericórdia dos meus pecados e me escolheu para ser cristão, para ser apóstolo."

 

Mateus não esqueceu suas origens

Depois, o Papa descreve a reação de Mateus à chamada do Senhor: não se vestiu de luxo, não começou a dizer aos outros: eu sou o príncipe dos Apóstolos, aqui eu comando. “Não! Trabalhou toda a vida pelo Evangelho.”

Quando o Apóstolo esquece as suas origens e começa a fazer carreira, se afasta do Senhor e se torna um funcionário; que trabalha muito bem, mas não é Apóstolo. Será incapaz de transmitir Jesus; será um organizador de planos pastorais, de tantas coisas; mas, no final, um negociante. Um negociante do Reino de Deus, porque esquece de onde foi escolhido.

Por isso, prosseguiu Francisco, é importante a memória das nossas origens: “Esta memória deve acompanhar a vida do Apóstolo e de todo cristão”.

 

A nós falta a generosidade

Ao invés de olhar para si mesmo, porém, nós somos levados a olhar os outros, seus pecados e a falar mal deles. Um costume que envenena. É melhor falar mal de si próprio, sugeriu o Papa, e recordar de onde o Senhor nos escolheu, trazendo-nos até aqui.

O Senhor, acrescentou o Pontífice, quando escolhe, escolhe para algo maior.

“Ser cristão é algo grande, belo. Somos nós que nos afastamos e ficamos na metade do caminho”. A nós falta a generosidade e negociamos com o Senhor, mas Ele nos espera.
Diante da chamada, Mateus renuncia ao seu amor, ao dinheiro, para seguir Jesus. E convidou os amigos do seu grupo para almoçar com ele para festejar o Mestre. Assim, àquela mesa se sentava “o que havia de pior naquele tempo. E Jesus estava com eles”.

 

O escândalo dos doutores da Lei

Os doutores da Lei se escandalizaram. Chamaram os discípulos e disseram: “Mas como é possível que seu Mestre faça isso, com essas pessoas? Mas, se torna impuro!”: comer com um impuro é se contaminar com a impureza, não é mais puro. E Jesus toma a palavra e diz esta terceira expressão: “Vão aprender o que significa ‘Quero misericórdia e não sacrifício”. A misericórdia de Deus procura todo mundo, perdoa a todos. Pede somente que diga: “Sim, ajude-me”. Só isso.

Para quem se escandaliza, Jesus responde que não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os doentes e: “Quero misericórdia e não sacrifício”.

“Entender a misericórdia do Senhor – conclui Francisco - é um mistério; mas o maior mistério, o mais belo, é o coração de Deus. Se quiser realmente chegar ao coração de Deus, siga o caminho da misericórdia, e se deixe tratar com misericórdia”.

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Papa Francisco: "a misericórdia é o estilo do cristão"

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13 de setembro de 2018

"Ser cristão não é fácil", mas faz "feliz": o caminho que o Pai Celeste nos indica é o da "misericórdia" e da "paz interior". Na Missa celebrada na Casa Santa Marta, o Papa Francisco fala novamente sobre os traços distintivos do "estilo cristão", a partir do Evangelho de Lucas proposto pela liturgia do dia (Lc 6,27-38). O Senhor - precisa o Pontífice - sempre nos indica como deve ser "a vida de um discípulo", por exemplo, por meio das bem-aventuranças ou das obras de misericórdia.

 

Ir contra a lógica do mundo

De maneira particular, a liturgia do dia se concentra em "quatro detalhes para viver a vida cristã": "amar seus inimigos, fazer o bem àqueles que vos odeiam, abençoar aqueles que vos  amaldiçoam, rezar por aqueles que vos tratam mal" .

Em sua homilia, o Papa Bergoglio observa que os cristãos nunca devem entrar "nos mexericos" ou "na lógica dos insultos", o que gera apenas "guerra", mas encontrar sempre o tempo de "rezar pelas pessoas incômodas":

“Este é o estilo cristão, este é o modo de vida cristão. Mas se eu não fizer essas quatro coisas? Amar os inimigos, fazer o bem àqueles que me odeiam, abençoar aqueles que me amaldiçoam e rezar por aqueles que me tratam mal, não sou cristão? Sim, você é um cristão porque recebeu o Batismo, mas não vive como um cristão. Vive  como um pagão, com o espírito do mundanismo”.

 

A loucura da Cruz

Certo, é mais fácil “falar mal dos inimigos ou daqueles que são de um partido diferente”, mas a lógica cristã vai contracorrente e segue a “loucura da Cruz”. O fim último – acrescenta o Papa Francisco – “é chegar a comportar-nos como filhos de nosso Pai”:

“Somente os misericordiosos se assemelham a Deus Pai. "Seja misericordioso, como vosso pai é misericordioso". Este é o caminho, o caminho que vai contra o espírito do mundo, que pensa o contrário, que não acusa os outros. Porque entre nós existe o grande acusador, aquele que sempre vai nos acusar diante de Deus, para nos destruir. Satanás: ele é o grande acusador. E quando eu entro nesta lógica de acusar, amaldiçoar, procurar fazer mal ao outro,  entro na lógica do grande acusador que é destruidor. Que não conhece a palavra "misericórdia", não conhece, nunca a viveu”.

 

A misericórdia do cristão

A vida, portanto, oscila entre estes dois convites: o do Pai e aquele do “grande acusador”, “que nos impele a acusar os outros, para destruí-los”:

“Mas é ele quem está me destruindo! E você não pode fazer isso ao outro. Você não pode entrar na lógica do acusador. "Mas padre, eu devo acusar". Sim, acuse a você. Vai fazer bem a você. A única acusação lícita que nós cristãos temos é acusar a nós mesmos. Para os outros, somente a misericórdia, porque somos filhos do Pai que é misericordioso”.

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Cardeal Scherer faz análise sobre jubileu da misericórdia e conjuntura brasileira

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04 de outubro de 2017

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, participa nesta semana, em Roma, da plenária do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização e de uma reunião da Congregação para o Clero.

No primeiro evento, já encerrado, os membros do Conselho fizeram uma avaliação do Ano Santo da Misericórdia e analisaram o novo diretório catequético. No encontro da Congregação para o Clero, serão debatidas as diretrizes da Santa Sé para a formação sacerdotal.

Em visita à sede brasileira da rádio Vaticano, Dom Odilo concedeu entrevista ao jornalista Silvonei José.

 

CLIQUE E OUÇA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

O Cardeal detalhou que foi feita uma análise positiva sobre o jubileu da misericórdia, que levou aproximadamente 20 milhões de peregrinos a Roma durante esse período.  “O tema do Ano Santo da Misericórdia era realmente tocante e se refere a uma questão central da nossa fé e da vida cristã, conforme acentuava o Papa Francisco. Realmente, houve uma boa resposta à proposta do Ano Santo da Misericórdia”, afirmou

Dom Odilo também falou sobre a atual conjuntura econômica, política e social no Brasil. “Atravessamos um período difícil, em que apareceram muitos fatos que estavam encobertos no passado e que, felizmente, vão sendo desvendados. De alguma maneira, a sociedade começa a tomar não só conhecimento sobre eles, mas a tomar atitude. Só assim, penso eu, é possível corrigir certas distorções na vida social, na vida econômica, na vida pública, certas imoralidades, certas formas de corrupção, de desvio de conduta, e assim por diante. Isso também traz esperança. Talvez, diante do volume de malfeitos, poderíamos ser levados ao desânimo, ao abatimento, mas quando se começa a encarar a realidade, a desvendar e a tomar as medidas consequentes para sanear uma situação que não está bem, já estamos na boa direção”, afirmou.

 

(Com informações da rádio Vaticano)

 

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‘Testemunha da misericórdia divina’

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21 de julho de 2017

Em 22 de julho, os católicos de todo o mundo celebram a festa de Santa Maria Madalena. Chamada por São Tomás de Aquino como a “apóstola dos apóstolos”, Maria Madalena foi a primeira a ver Jesus Ressuscitado e a dar o testemunho da Ressurreição aos apóstolos. O secretário da Congregação para o Culto Divino, Dom Artur Roche, explicou que Francisco tomou essa decisão exatamente no contexto do Jubileu extraordinário da Misericórdia, para significar a importância dessa mulher, que mostrou um grande amor a Cristo e Cristo por ela, chamada por São Gregório Magno de “testemunha da misericórdia”.

Santa Maria Madalena é venerada pelos cristãos do século I pela sua fidelidade e adesão a Jesus Cristo, como manifestou São João Paulo II na carta apostólica Mulieris dignitatem: “Santa Maria Madalena é o exemplo de verdadeira e autêntica evangelizadora, isto é, de uma ‘evangelista’ que anuncia a mensagem alegre e central da Páscoa”.

Pecadora Arrependida?

A tradição da Igreja no Ocidente, sobretudo depois de São Gregório Magno, identifica na mesma pessoa Maria Madalena, a pecadora arrependida que derramou perfume na casa do fariseu Simão, como narra o capítulo 7º do Evangelho de Lucas, e a irmã de Lázaro e Marta. Numa homilia proferida no ano 591, o Papa Gregório associa Madalena como uma pecadora pública, o que posteriormente se popularizou como sendo uma prostituta. Isso se deve ao fato de o relato da mulher pecadora vir imediatamente antes da passagem em que Maria Madalena é citada nominalmente no capítulo 8º. Outro fator que pode ter contribuído para essa associação era a má fama que sua cidade natal, Magdala, tinha por causa da imoralidade. A única coisa concreta que a Sagrada Escritura diz sobre o passado dessa Santa é que dela tinham saído sete demônios (Lc 8,2).

A interpretação de que Madalena e Maria, irmã de Lázaro, eram a mesma pessoa manteve-se e teve influência nos autores eclesiásticos ocidentais, assim como na arte cristã e nos textos litúrgicos relativos a ela. Embora não existam nos Evangelhos objeções à opinião de que Maria Madalena era uma prostituta, também não há provas bíblicas concretas que permitam afirmá-lo. Esse pode ser o motivo pelo qual, em 1969, com a reforma litúrgica proposta pelo Concílio Vaticano II, as leituras da Bíblia empregadas na missa foram revistas e decidiu-se não continuar a usar o relato da pecadora arrependida como leitura na memória da Santa.

Anunciadora da Ressurreição

“De fato, Maria Madalena fez parte do grupo dos discípulos de Jesus, seguindo-o até aos pés da cruz e, no jardim onde se encontrava o sepulcro, foi a primeira ‘testemunha da misericórdia divina’. O Evangelho de João conta que Maria Madalena chorava, pois não tinha encontrado o corpo do Senhor (cf. Jo 20,11), e Jesus teve misericórdia dela fazendo-se reconhecer como Mestre, transformando as suas lágrimas em alegria pascal”, afirma Dom Roche. Ao ver o Senhor ressuscitado, Madalena cumpriu o mandato dado por Ele e foi ao encontro dos discípulos para anunciar: “‘Vi o Senhor’. E contou o que Ele lhe tinha dito” (Jo 20, 17-18). “Ela é testemunha de Cristo Ressuscitado e anuncia a mensagem da Ressurreição do Senhor, como os outros apóstolos. Por isso, é mais apropriado que a celebração litúrgica dessa mulher tenha o mesmo grau de festa que as celebrações dos apóstolos no Calendário Romano Geral, revelando a especial missão dessa mulher, que é exemplo e modelo para cada mulher na Igreja”, acrescenta o secretário do Culto Divino.

Lendas e tradições

Embora não haja precisão histórica sobre passos dessa “apóstola” após a ascensão de Jesus, existem duas versões bastante difundidas entre os cristãos. Um dos relatos populares é que durante a segunda grande perseguição aos cristãos de Jerusalém, após o ano 45, os discípulos de Jesus se dispersaram pelo mundo. Os cristãos gregos afirmam que Maria Madalena teria acompanhado a Virgem Maria e São João Evangelista para Éfeso, tendo morrido e sido enterrada naquela cidade.

Outra tradição igualmente popular acredita que ela e outros cristãos teriam sido presos em Jerusalém e lançados ao mar num barco sem remo, velas ou leme, a fim de perecerem num naufrágio. Entretanto, o barco dirigiu-se milagrosamente para a Sicília, e de lá para a França, chegando finalmente a Marselha, que era então um dos principais portos das Gálias, no sul da França. Depois de ter trabalhado na conversão dos marselheses, Madalena retirou-se para viver na solidão em uma montanha entre Aix, Marselha e Toulon, onde permaneceu aproximadamente por 30 anos, levando vida contemplativa e penitencial até sua morte. No século VIII, suas relíquias foram trasladadas para um lugar seguro, tendo ficado esquecidas até que Carlos II, rei da Sicília e conde da Provença, as encontrou em 1272. Entretanto, a urna de Santa Maria Madalena desapareceu no século XVI, durante as guerras de religião entre católicos e protestantes.

Ovo vermelho

A iconografia ao longo da história retrata Santa Maria Madalena segurando um ovo vermelho nas mãos. Diz uma tradição que, após partir para a Europa, Maria Madalena conseguiu uma audiência em Roma com o imperador Tibério César. Sua intenção era denunciar o crime cometido pela negligência de Pilatos, e para isso contou-lhe a vida do Cristo, sua morte e Ressurreição. Ao terminar seu relato, ela pegou sobre a mesa de jantar um ovo branco para ilustrar seu ponto de vista sobre a Ressurreição. Ao ver isso, César replicou que era mais fácil um ovo branco se tornar vermelho do que existir alguém que retornou dos mortos. No mesmo instante, o ovo nas mãos de Maria se tornou vermelho como sangue.

Embora seja fruto de uma tradição popular, esse símbolo perpetua o principal aspecto da vida dessa seguidora de Cristo: o testemunho da Ressurreição.

Publicado originalmente no jornal O SÃO PAULO, edição 3111, de 20 a 26 de julho de 2016. 

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