Andrea Tornielli: acusar a Laudato si’ de ‘herética’ é uma ‘blasfêmia’

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26 de setembro de 2019

No segundo vídeo da série "Vatican News rumo ao Sínodo da Amazônia", o editor-chefe da agência de notícias do Vaticano, Andrea Tornielli, comenta afirmações feitas por internautas a respeito da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, que acontecerá entre os dias 6 e 27 de outubro, no Vaticano.

O jornalista explicou o conteúdo da Encíclica Laudato si’, sobre o cuidado da casa comum, rebatendo a comentários de que o documento do Papa Francisco seria “herético” e reiterou que o texto faz parte da tradição das encíclicas sociais do Magistério da Igreja.

Tornielli, citou ainda, afirmações do Papa Emérito Bento XVI contidas na Encíclica de Francisco, para reforçar que o documento é expressão do magistério não apenas do atual pontífice como também de seus predecessores. “A salvaguarda do meio ambiente, a tutela dos recursos do clima, exigem que os responsáveis internacionais ajam de forma conjunta, no respeito pela lei e pela solidariedade, principalmente em relação às regiões mais frágeis da terra. Em conjunto, podemos construir um desenvolvimento humano integral, em benefício dos povos, presentes e futuros, um desenvolvimento inspirado nos valores da caridade na verdade”.

E acrescentou: “A fim de que isto se verifique, é indispensável transformar o atual modelo de desenvolvimento global em uma tomada de responsabilidade, maior e mais compartilhada em relação à Criação: exigem-no não só as emergências ambientais, mas inclusive o escândalo da fome e da miséria”.

Por fim, o editor afirmou que chamar a Laudato si’ de herética significa dizer uma falsidade e, ao mesmo tempo “uma pequena blasfêmia”.

Confira o segundo vídeo da série:

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O Dia Mundial do Meio Ambiente chama a atenção para os impactos da ação humana na natureza

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05 de junho de 2019

“Louvado sejas, meu Senhor, cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços: Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe Terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”.

É desta forma que o Papa Francisco escolheu começar Encíclica Laudato Si’, publicada em 24 de maio de 2015. No documento, o Santo Padre relembra o cântico de São Francisco para chamar a atenção do papel da Igreja Católica na preservação da vida da natureza.

Em outro momento, o Pontífice faz uma exortação aos fiéis, convidando-os para, urgentemente, renovar o diálogo sobre a maneira em que está sendo construído o futuro do planeta.

O enorme desafio ambiental, já em 2015, fez com que o Papa Francisco falasse a todos sobre o necessário debate, pautado na certeza que o ser humano é o mais atingido com os impactos do descuido com a natureza e com a ecologia.

EDUCAR E CONSTRUIR

Joaquim Felix é gestor ambiental e gerente de sustentabilidade do estudante no Colégio Dante Alighieri, de São Paulo. Funcionário há 22 anos do centro de ensino, viu e colaborou, em 1999, com o processo de transformação da educação ambiental na escola, pensado e viabilizado pelos próprios estudantes. O projeto desenvolvido baseia-se em administrar como que todos os resíduos produzidos pela escola retornam ao meio ambiente.

“O projeto nasceu com essa cara de uma espécie de cooperativa. Olhar para a coleta seletiva nos obriga a refletir sobre o restante do resíduo que está indo para o aterro, e foi esse pontapé inicial, que fez com que nós desenvolvêssemos um plano de gestão ambiental. Tudo o que é produzindo aqui dentro é mapeado, nós sabemos para onde o nosso resíduo é levado”, salientou.

Joaquim explicou que o material retirado da coleta seletiva gerava uma renda financeira que era dividida para os funcionários da limpeza. Agora, porém, além de mapear todos os resíduos e como eles retornam ao planeta, os dados coletados são transmitidos também aos professores de diversas áreas de ensino, auxiliando no processo educativo.

MUDANÇA DE HÁBITOS     

Para o gestor ambiental, existem dois grandes desafios para o desenvolvimento do trabalho que ele realiza: o primeiro é, justamente, fazer com que dados sobre gestão ambiental em conteúdo educativo, isso porque “fazer gestão de resíduos não significa fazer educação ambiental. Pode-se fazer gestão de resíduos de uma empresa apenas para legislação ambiental e por consciência ambiental”.

Já o segundo aspecto desafiador e, o maior de acordo com Joaquim, é convencer a comunidade local e corpo docente a utilizarem esses recursos.

RECONEXÃO COM O PLANETA

“Eu não sei em que momento a humanidade perdeu a conexão com o planeta. Acredito que o mais urgente é tentar fazer essa conexão de novo. É mostrar que na perspectiva do Planeta Terra não existe o jogar fora. Tudo isso passa pela educação, e, também, pelas políticas públicas – coleta seletiva, fortalecimento das cooperativas, dos catadores”, reiterou Joaquim.

Para ele, o Dia Mundial do Meio Ambiente não se trata apenas de uma data comemorativa, pois ainda há muito a ser feito: “A natureza como um todo, como a teia da vida, os mares estão todos poluídos, os rios do Brasil, com exceções raras, já estão todos mortos, ou prestes a morrer ou com algum tipo de problema de intervenção humana. O desmatamento aumentou nesses últimos quatro meses, as políticas públicas não têm sido respeitadas, os institutos de controle têm sido negligenciados”.

Porém, o gestor ambiental enfatizou que alguns resultados precisam ser lembrados e valorizados, como, por exemplo, os trabalhos desenvolvidos por empresas e muitas instituições que têm trabalhado, seriamente, para a melhoria na ecologia.

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Semana do Meio Ambiente de 2019 ocorre em meio às celebrações dos quatro anos da encíclica Laudato Si’

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04 de junho de 2019

No próximo dia 18, a encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da Casa Comum, redigida pelo Papa Francisco, completará quatro anos. O documento é considerado um marco na abordagem da temática socioambiental pela Igreja e tem como proposta principal a conversão ecológica, numa perspectiva de uma ecologia integral, na qual relações, pessoas, a natureza e as crises, “tudo está interligado”.

No Brasil e no mundo, diversas iniciativas ressaltam o momento de celebração pelo documento que convida, entre outras provocações, a refletir sobre o futuro do planeta. O bispo de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom José Valdeci Santos Mendes, afirma que celebrar o aniversário da Laudato Si é “exatamente assumir esse compromisso com a questão ambiental, com uma ecologia integral onde se leva em conta as comunidades tradicionais, o equilíbrio ambiental. Isso exige de nós sempre mais esse zelo pela casa comum, pela criação de Deus”.

Dom Valdeci recorda os desafios atuais relacionados ao agronegócio, ao avanço na exploração de minério e nas instalações de parques eólicos, “tudo isso sem o devido cuidado com a casa comum e com as questões ambientais”. O bispo ressalta que a celebração do aniversário da encíclica sobre o cuidado da Casa comum “requer de nós lutar para que de fato haja um equilíbrio, que não haja tanta exploração ambiental, que atinge também nossos irmãos e irmãs indígenas, as comunidades quilombolas, pescadores e pescadoras, quebradeiras de coco, os nossos lavradores e lavradoras”.

O bispo que preside a Comissão que atua junto às Pastorais Sociais da Igreja destaca ainda que esta é ocasião para “reassumir este compromisso com o Papa Francisco”, e ressalta a preparação para o Sínodo para a Amazônia – marcado para outubro – “que, de fato, a gente possa zelar cada vez mais criação de Deus e sermos estes testemunhas da criação, sermos este testemunho de fidelidade do seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo nos comprometendo com a vida, diria a vida humana, mas também a vida de toda a criação”.

O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum
Papa Francisco – Carta encíclica Laudato Si’ (2015), 13

Bioma presente no Brasil que ganhou especial atenção do Papa no documento, a Amazônia também celebra os quatro anos da Laudato Si’. Neste ano em que será realizado o Sínodo, o regional Norte 1 da CNBB, junto com o comitê local da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), produziu vídeos com testemunhos de agradecimento pelo documento papal.

Neste quarto ano da encíclica, estamos vivendo um momento histórico muito bonito que é o Sínodo para a Amazônia. Somos muito gratos a Deus por termos nascido e estarmos vivendo neste chão sagrado da Amazônia. Obrigado ao Papa Francisco pela grande preocupação para com a criação divina. Que possamos ser os guardiões desta criação. Louvemos ao criador por tudo que temos e que somos!”, manifestou o secretário-executivo do regional Norte 1, diácono Francisco Lima.

CELEBRAR O QUARTO ANO DA LAUDATO SI

"Estamos esse ano celebrando o quarto aniversário da Encíclica do Papa Francisco, Laudato SI, que para nós daqui da Amazônia tem sido um documento fundamental em vista que a Amazônia é realmente aquela Casa Comum que o documento fala, que a Laudato SI fala, aliás a Amazônia está presente na Laudato SI, essa ecologia integral, nessa integração do ser humano com a natureza e isso a gente sente e vive aqui na Amazônia. E o documento vêm reforçar, tudo aquilo que nós aqui na Amazônia tem vivido, tem buscado e lutado, que é esse equilíbrio com a natureza, com a presença nossa, nesse ambiente. E juntando a isso tudo o Papa também nos presenteia, nos brinda com um Sínodo para a Amazônia que só vem reforçar espiritualidade da Laudato SI. Nesse sentido nós só que dizer realmente aquilo que é o espírito da Laudato SI que é louvar ao criador por tido aquilo que é de Belo que nós temos aqui na Amazônia. Transcrito por Patrícia Cabral Vídeo: Diácono Francisco LimaComitê REPAM Norte 1

Para a religiosa Roselei Bertoldo, que atua na Comissão Episcopal de Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB, o documento reforça tudo o que o povo da Amazônia e os missionários que ali aquilo têm vivido, lutado e buscado, “que é esse equilíbrio com a natureza, com a presença nossa, nesse ambiente”. Para irmã Rose, como é conhecida, o Papa os presenteou com o Sínodo para a Amazônia, “que só vem reforçar espiritualidade da Laudato Si’”.

Em âmbito mundial, o Movimento Católico Global pelo Clima tem se comprometido a levar a proposta de conversão ecológica ao mundo inteiro, com o propósito de formar a “Geração Laudato Si’”, cujo principal público são os jovens, como a sueca Greta Thunberg, de 16 anos, que desencadeou paralisações pelo clima em todo o mundo a partir de uma mobilização em frente ao parlamento do seu país.

Após repercussão da iniciativa pela Europa e o encontro de Greta com o Papa Francisco, no mês de abril, os eventos de sexta-feira se estenderam por todo o mundo, com registros na Casa Branca, em Roma, na Nigéria e no Equador, por exemplo.

Com o apoio de autoridades do Vaticano, o grupo tem se portado como os agentes que desafiam “comunidades de fé e a sociedade civil a uma conversão ecológica radical”.

Assinada pelo Papa Francisco no dia 24 de maio de 2015, a encíclica foi apresentada ao mundo, em 18 de junho daquele ano.

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Papa: jovens e indígenas protagonistas da conversão ecológica

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06 de julho de 2018

O Papa Francisco iniciou suas atividades esta sexta-feira, 06/07, recebendo os participantes da Conferência internacional convocada no terceiro aniversário da publicação da Encíclica Laudato Si, sobre o cuidado da casa comum.

O Papa agradece aos participantes que se reuniram para “ouvir com o coração o clamor sempre mais angustiante da Terra e de seus pobres em busca de ajuda e responsabilidade”.

 

Compromisso inadiável

Francisco recorda que a conversão ecológica é um compromisso inadiável, como demonstram os estudos da comunidade científica. “Há o perigo real de deixar às gerações futuras ruínas, desertos e lixo.”

O Pontífice faz votos de que esta preocupação ecológica se traduza numa ação orgânica e comum, citando eventos importantes como a COP24 sobre o clima, programado para dezembro próximo em Katowice (Polônia). No centro, novamente, estará o Acordo de Paris de 2015.

“Todos os governos deveriam se esforçar para honrar os compromissos assumidos em Paris para evitar as piores consequências da crise climática”, afirmou o Papa, recordando que não se pode perder tempo neste processo.

 

Mudança de paradigma financeiro

Mas para a conversão ecológica, a política não basta. Francisco pede o envolvimento também da sociedade civil e de instituições econômicas e religiosas, fazendo votos de que o Encontro sobre a Ação Global de San Francisco (EUA), em setembro próximo, possa oferecer respostas adequadas, com o apoio de grupos de pressão de cidadãos de todas as partes do mundo.

Francisco chama em causa também organizações internacionais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, que podem contribuir para uma mudança do paradigma financeiro através de reformas eficazes para um desenvolvimento mais inclusivo e sustentável.

 

Mudança dos corações

Todas essas ações, reiterou o Papa, pressupõem uma transformação num nível mais profundo, isto é, uma mudança dos corações e das consciências. Nisto, as confissões cristãs têm um papel-chave a desempenhar e citou as iniciativas organizadas em parceria com a Igreja Ortodoxa.

No âmbito católico, Francisco citou os dois Sínodos que terão como protagonistas grupos diretamente interessados na conversão ecológica: os jovens e os povos indígenas, de modo especial os da Amazônia. 

“São os jovens que deverão enfrentar as consequências da atual crise ambiental e climática. Portanto, a solidariedade intergeracional não é uma atitude opcional, mas uma questão essencial de justiça”, afirmou o Papa citando a Laudato Si.

Quanto aos indígenas, o Pontífice manifestou sua tristeza ao ver as terras expropriadas e cultura dos povos nativos espezinhada por uma atitude predatória, por novas formas de colonialismo, alimentadas pela cultura do descarte e do consumismo.

 

A injustiça não é invencível

Francisco encerrou seu discurso agradecendo aos participantes por seu engajamento e os encorajando a perseverarem mesmo diante desta tarefa árdua, onde o interesse econômico chega a prevalecer com facilidade sobre o bem comum.

E citando novamente a Laudato Si, recordou que os seres humanos são capazes de se degradar até o extremo, mas são capazes também de se superar, voltar a escolher o bem e se regenerar.

“ Por favor, continuem trabalhando pela mudança radical que as presentes circunstâncias impõem. A injustiça não é invencível. ”

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