Francisco condena posse e uso de armas nucleares

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01 de abril de 2020

Tanto a posse quanto o uso de armas nucleares é imoral, afirmou o Papa Francisco no domingo, 24, durante viagem ao Japão. O forte apelo à humanidade para que nunca mais sejam fabricadas e utilizadas bombas atômicas, como ocorreu durante a 2ª Guerra Mundial, aconteceu em discurso pronunciado na cidade de Nagasaki, uma das atingidas naquela ocasião.
“Um dos desejos mais profundos do coração humano é de paz e estabilidade. A posse de armas nucleares e de outras armas de destruição em massa não é a melhor resposta a esse desejo”, declarou o Santo Padre. “Em vez disso, colocam-no 
continuamente à prova.”
O Papa Francisco chegou ao Japão no sábado, 23, após a primeira fase da viagem à Tailândia. A visita aos dois países asiáticos ocorreu entre os dias 19 e 26 deste mês. Além de visitar as autoridades religiosas e civis de cada país, o Pontífice teve encontros com jovens, catequistas, pessoas com deficiência, profissionais de saúde, além dos monarcas da Tailândia e do Japão.

PROCESSO DESUMANO
O grande paradoxo das armas nucleares é claro, nas palavras de Francisco. Se, por um lado, tem-se a falsa segurança de estar protegido de todas as ameaças militares, por outro lado, há o grande medo da “destruição recíproca” e total, que vem do uso dessas armas de  destruição em massa.
“Esta cidade [de Nagasaki] é testemunha das catastróficas consequências humanas e ambientais de um ataque nuclear”, completou. “Nunca serão suficientes as tentativas de levantar a voz contra a corrida aos armamentos”.
Não só o uso, mas também a posse e o investimento em armas nucleares são atitudes imorais, conforme explicou o Papa. Isso porque milhões de dólares são gastos para produzir, modernizar e vender as armas, “cada vez mais destrutivas”, originando “um atentado contínuo que grita aos céus”.
Atualmente, os países que possuem armas nucleares são os Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido, Índia, Paquistão, China, Israel e Coreia do Norte.

IGREJA A SERVIÇO DA PAZ
É missão da Igreja estar sempre empenhada na promoção da paz entre os povos. Por isso, “este é um dever ao qual ela se sente obrigada diante de Deus e diante de todas as pessoas desta terra”, afirmou o Papa. Com a oração incansável e a promoção de acordos entre diferentes nações, é possível caminhar rumo à justiça e à solidariedade entre os povos.
Com essas palavras, o Papa, que escolheu o nome do Santo de Assis, São Francisco, rezou a oração de paz a ele atribuída: “Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz”.
Também no Japão, o Papa fez uma visita ao Santuário de Nishizaka, em Nagasaki, onde são lembrados os mártires cristãos do país. “Que a Igreja, no Japão do nosso tempo, com todas as suas dificuldades e promessas, sinta-se chamada a escutar, a cada dia, a mensagem proclamada por São Paulo Miki de sua cruz”, disse, recordando o Santo e missionário jesuíta.

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No Japão, Papa encontra testemunho de fé sólida dos católicos

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23 de novembro de 2019

O Papa Francisco desembarcou em Tóquio, no Japão, na noite deste sábado (5h32 no Brasil), para segunda etapa desta sua viagem apostólica internacional, após ter visitado a Tailândia.

Francisco é o segundo Pontífice romano a visitar o país do sol nascente, que também acolheu São João Paulo II, em 1981.

A presença do sucessor o Apóstolo São Pedro no Japão era aguardada com ansiedade pela minoria católica do país onde predomina o xintoísmo e budismo.

Os católicos do Japão representam 0,42% da população, cerca de 500 mil pessoas, segundo as estatísticas oficiais da Igreja Católica japonesa, o país conta com 440.893 católicos. Esses números, porém, são contestados, pois, segundo uma nota da Sociedade para as Missões Estrangeiras de Paris, “não foram considerados os católicos que não estão registrados nas paróquias japonesas”. Portanto o número pode ser bem superior, pelo menos o dobro.

TERRA DE MISSÃO

O catolicismo no Japão tem raízes missionárias, sobretudo após a chegada do jesuíta São Francisco Xavier e seus companheiros, no século XVI.

Em 1588, a Igreja Católica no país já contava com mais de 300 mil fiéis no Japão. Ainda no século XVI, começou uma brutal perseguição que durou praticamente dois séculos e quase exterminou a comunidade católica no Japão.

CRISTÃOS ESCONDIDOS

No entanto, mesmo sem bispos, padres e igrejas onde celebrar as liturgias, alguns cristãos leigos japoneses conseguiram sobreviver e, clandestinamente, transmitiram a fé e a tradição católica a seus filhos por nove gerações. Esta foi a época dos chamados “cristãos escondidos”, recordado com frequência pelo Papa Francisco, que considera esse período de provação como um dos dois pilares da história católica do Japão, juntamente com a época dos missionários.

Durante a visita ad Limina dos bispos japoneses ao Papa, em 2015, Francisco afirmou que, apesar de pequena, a comunidade católica do Japão é hoje muito respeitada pelos japoneses por causa do serviço que ela presta a todos, independentemente da religião. É um ato de servir que se baseia abertamente na identidade cristã, e, por isso mesmo, um testemunho prático de cristianismo verdadeiro.

COMUNIDADE  

O operador de máquinas Massaru Edson Goto, 52, é um dos que aguarda ansioso para ver o Pontífice de perto. Filho de japoneses, Goto nasceu no Brasil e vive no Japão há 29 anos, é casado e tem três filhos. Ele mora na cidade de Honjo-Shi, na província de Saitama, a cerca de 50km de Tóquio.

Embora já tenha sido batizado no Brasil, ele começou a participar mais ativamente da vida eclesial no Japão, após passar por algumas dificuldades pessoais. Hoje ele é catequista na Paróquia Nossa Senhora da Visitação e ajuda a coordenar a comunidade católica de sua cidade.

Para o brasileiro, são grandes os desafios para professar a fé em um país onde o catolicismo é minoria. “Hoje eu não tenho vergonha de manifestar minha fé diante das pessoas. Mas não é fácil, até porque os japoneses que não são católicos não compreendem muito a nossa fé”, afirmou Goto, em entrevista ao O SÃO PAULO, por telefone.

TESTEMUNHO DE FÉ

Sobre os católicos japoneses, Goto destacou que embora sejam muito reservados, têm uma profunda fé. “São pessoas muita oração e devoção. Vivem a fé com bastante seriedade. Para eles, não há meio termo, quando dizem que são católicos são mesmo”, observou, acrescentando que os brasileiros aprendem muito com o testemunho de fé dos japoneses.

Os católicos da comunidade de Goto são acompanhados pelo bispo diocesano, Dom Mario Yamanouchi, que nasceu no Japão, mas foi para a Argentina quando pequeno,  onde ingressou na Congregação do Padres Salesianos e se tornou sacerdote. Anos depois, retornou para seu país natal e, desde julho de 2018 é Bispo de Saitama, que ficou vacante por quase cinco anos.

A diocese possui 54 paróquias, distribuídas em 11 áreas, com um total de 51 sacerdotes e cinco diáconos permanentes. Há quatro congregações masculinas e 17 congregações femininas. Também fazem parte 19 creches, quatro escolas de ensino fundamental e médio, cinco estruturas de assistência à infância e duas casas de saúde.

DESAFIOS

Ainda segundo o brasileiro, embora hoje haja liberdade religiosa no Japão, a cultura e o estilo de vida japoneses dificultam de certa forma a vivencia da fé cristã no país, sobretudo para os jovens. “Meus filhos foram criados aqui. Até uma certa idade, eles nos acompanhavam nas atividades na Igreja. A partir do momento em que eles entraram no colégio, as atividades são tantas, inclusive nos finais de semana, que praticamente não sobra tempo para ir à Igreja”, contou.

Também para os adultos, a rotina intensa de trabalhos dificulta a vivência comunitária da fé e o cumprimento do preceito dominical. Como o país é de tradição budista e xintoísta, a prática religiosa não tem forte a dimensão coletiva da religiosidade. “Um padre daqui costuma dizer que, se no passado os cristãos eram perseguidos e mortos, hoje é o excesso de atividades que nos pressionam a abandonar a fé”, relatou Goto.

PRESSÃO CULTURAL

Goto chamou a atenção também para a pressão que o mercado publicitário faz sobre os artistas e personalidades cristãs, para que não professem publicamente a sua fé ou associem sua imagem ao cristianismo. O brasileiro enfatizou que o testemunho da fé cristã no Japão exige sacrifício, para não dizer um certo martírio, por parte dos fiéis.

Por outro lado, mesmo que timidamente, o catolicismo consegue penetrar na sociedade japonesa. “O primeiro-ministro do Japão, é de origem cristã e casado com uma católica. Porém, poucos japoneses sabem disso. Também é sabido por nós, católicos, que o antigo imperador, tinha um frade franciscano como conselheiro. E os filhos imperador e dos príncipes são enviados para estudar em universidades cristãs na Europa”.

Assim como algumas personalidades artísticas que, por imposição do mercado publicitário, são orientadas a não professarem publicamente a sua fé”.

CONFIRMAR A FÉ

Por essas razões, a presença do Papa Francisco no Japão vem confirmar e fortalecer a fé dos católicos no país. Goto participará da missa que Santo Padre presidirá no estádio Tóquio Dome, em Tóquio, na segunda-feira, 25. Ele contou que foram abertas inscrições pela internet e houve um sorteio de ingressos para o estádio, que tem capacidade para 52 mil pessoas. “Nosso Bispo nos informou que não há mais vagas para a celebração”.

PROGRAMAÇÃO

Francisco permanecerá no Japão até terça-feira, 26. Sua intensa programação conta com o encontros com os bispos japoneses, jovens, sacerdotes e consagrados e missas. O pontífice também fará uma visita privada ao imperador Naruhito.

No domingo, 24, O Santo Padre irá de avião até Nagasaki e Hiroshima, conhecidas pelos dois bombardeios atômicos de 1945. O lema escolhido para a viagem é “Proteger toda a vida”.

 (Com informações de Vatican News e Aleteia)

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