Países latino-americanos condenam intervenção militar na Venezuela

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17 de setembro de 2018

O Grupo de Lima, que reúne países latino-americanos incluindo o Brasil, condenou qualquer ação ou declaração que "implique uma intervenção militar ou o exercício da violência, a ameaça ou o uso da força na Venezuela". A declaração do bloco foi divulgada após o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, ter afirmado que não se pode descartar uma ação militar para tirar Nicolás Maduro do poder.

Além do Brasil, apoiaram a manifestação os governos da Argentina, do Chile, da Costa Rica, Guatemala, de Honduras, do México, Panamá, Paraguai, Peru e de Santa Lúcia. O Grupo de Lima foi criado em agosto do ano passado para buscar uma saída pacífica à crise da Venezuela.

Na nota, disponível no portal do Itamaraty, os países reafirmam "o compromisso de contribuir para a restauração da democracia na Venezuela e para superar a grave crise política, econômica, social e humanitária que esse país atravessa, por meio de uma saída pacífica e negociada". Para isso, comprometem-se a adotar ações baseadas no Direito Internacional.

O Grupo de Lima cobra do regime venezuelano o fim das violações dos direitos humanos, a libertação dos presos políticos, o respeito à autonomia dos poderes do Estado. Afirma ainda que o governo Maduro tem de assumir "a responsabilidade pela grave crise que a Venezuela vive hoje".

O governo venezuelano anunciou que denunciará Almagro, nas Nações Unidas, por estimular a intervenção militar no país.

"A Venezuela denunciará na ONU e em outras instâncias internacionais Almagro que, de forma vulgar e grotesca, tem usado a Secretaria-Geral da OEA para promover a intervenção militar em nossa Pátria e atentar contra a paz na América Latina e Caribe", disse, em sua conta no Twitter, a vice-presidente Delcy Rodríguez. Para ela Almagro pretende reviver "os piores expedientes de intervenção militar imperialistas" no continente.

*Com informações da EFE

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Entre as ruas, a linha férrea e a antiga rodoviária

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13 de junho de 2017

Mais do que se localizar em ruas específicas, a Cracolândia tem sua história em diferentes ambientes dos bairros dos Campos Elísios, Luz e Santa Ifigênia, no chamado centro velho de São Paulo.

Esses bairros tiveram desenvolvi- mento impulsionado com a instalação das estações de parada da estrada de ferro que passou a ligar, em 1867, os cafezais do Oeste paulista ao Porto de Santos.

Segundo reportagem da revista aU- Arquitetura e Urbanismo, de junho de 2005, já no fim do século XIX, começaram a ser construídos nestes bairros hotéis e pensões para viajantes e imigrantes, cortiços, cômodos para aluguel e algumas residências para fazendeiros de café. Nos anos 1950, houve a ampliação da quantidade de cortiços. Nos anos 1960, o número de habitações precárias no entorno aumentou com a instalação da estação rodoviária de São Paulo, na Praça Júlio Prestes, que ficaria neste espaço da cidade até 1982, quando foi transferida para o Terminal Tietê.

Nesse ambiente de habitações precárias, carente de serviços públicos e envolto por grandes avenidas, como a Rio Branco e Duque de Caxias, usuários de crack – droga que chegou ao Brasil na segunda metade dos anos 1980 – encontraram um “refúgio” no início dos anos 1990. Muitos iam ao que inicialmente se chamou de “Quadrilátero do Crack” - ruas Guaianases, Vitória e Mauá e a avenida Duque de Caxias – após contraírem dívidas impagáveis com traficantes ou cometerem pequenos delitos nos bairros onde moravam nas regiões periféricas da cidade.

Ao longo dos anos, diferentes intervenções policiais e programas da Prefeitura e do Governo do Estado de São Paulo (veja histórico de ações abaixo) foram realizadas para tentar acabar com a Cracolândia ou diminuir seus impactos negativos para a cidade. No entanto, a maioria das intervenções resultaram apenas na mudança do fluxo de usuários e traficantes.

“É possível notar que a ação da polícia os leva a sair rapidamente das calçadas onde estão situados, migrando para outro local próximo; por fim, em intervalos de tempo variáveis, retornam aos pontos anteriores de concentração. Alguns seguranças privados também fazem, em menor escala, algum tipo de ação quanto à permanência e à circulação desses usuários. A maior parte deles consome o crack nas calçadas (vários ocultam a prática sob cobertores), embora haja também o uso de hotéis e pensões do entorno para tanto, além dos mocós em casas, sobrados ou prédios abandonados ou lacrados pela Prefeitura”, detalham, no artigo “Territorialidades da(s) Cracolândia(s) em São Paulo e no Rio de Janeiro”, Heitor Frúgoli Junior, professor do Departamento de Antropologia da USP, e Mariana Cavalcanti, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getulio Vargas, com base em visita realizada na região da Cracolândia no ano de 2007.

Após a mais recente ação da Prefeitura e do Governo do Estado na Alameda Dino Bueno e na rua Helvétia, em 21 de maio, traficantes e usuários passaram a se concentrar, principalmente, na Praça Princesa Isabel.

(Com informações da Folha de S. Paulo e revista aU)

 

Histórico de tentativas para o fim da cracolândia

 

1995 Governo de SP cria delegacia específica para tratar das questões do crack;

1997 Governo de SP lança Operação Tolerância Zero, para prender traficantes na Cracolândia, mas o resultado foi dispersão de usuários para região central;

1999 e 2000 – Intensificação da ação da PM no fechamento de pontos de tráfico e uso de drogas na região central;

2001 Prisão de 5 policiais envolvidos com o tráfico na região da Cracolândia;

2005 Prefeitura lança o Projeto Nova Luz, com a meta de revitalizar a Cracolândia, em parceria com a iniciativa privada. Projeto foi extinto em 2013;

2008 –2012: Ação Integrada Centro Legal – Parceria do Governo de SP e da Prefeitura propunha atendimento a dependentes químicos que quisessem sair de tal situação. No decorrer dos anos, houve intervenções da Polícia, com megaoperações para prender traficantes e dispersar usuários;

2013 Governo de SP lança o programa Recomeço, prevendo tratamento ambulatorial para os usuários de drogas. Foco da ação são as pessoas na Cracolândia;

2014 Prefeitura de São Paulo lança o programa Braços Abertos, após ação de limpeza e retira- da de usuários da Cracolândia. Meta era que gradativamente as pessoas deixassem o vício. Em contrapartida, ganhariam moradia e capacitação profissional;

2015 Ação integrada do Governo de SP e da Prefeitura dispersa usuários e traficantes, mas cenário volta ao que era antes poucas semanas depois.

2016 Operação policial prendeu 32 pessoas em agosto na região central, incluindo traficantes no Cine Marrocos e na Cracolândia.

2017 Prefeitura lança o programa Redenção, para recuperar os usuários a partir de tratamento clínico. Uma das ações da iniciativa foi a retirada de usuários e traficantes da Cracolândia, em 21 de maio, com uso de força policial. Tráfico e consumo de drogas estão espalhados pela região central da cidade, principalmente na Praça Princesa Isabel.

Fontes: Reportagens publicadas na imprensa entre 1995 e 2017 (Pesquisa: Daniel Gomes)

 

Leia também as matérias sobre os efeitos do Crack e o mesmo problema em Nova York

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