Prepare-se para a Missa da Ceia do Senhor com a ajuda dos papas

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09 de abril de 2020

Nesta Quinta-feira Santa, 9, os católicos do mundo todo iniciam a celebração do Tríduo Pascal com a Missa da Ceia do Senhor, que faz memória da instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Nessa celebração também são recordados o novo mandamento dado por Jesus e o seu gesto de lavar os pés dos apóstolos.

Este ano, a maioria os fiéis acompanhará esses ritos de suas casas, através dos meios de comunicação, devido às medidas de isolamento social para conter o avanço da pandemia de COVID-19. Para ajudar a vivência do mistério celebrado, O SÃO PAULO destacou alguns trechos de homilias dos três últimos papas que auxiliam o aprofundamrnto do sentido dessa celebração.

‘AMOU-OS ATÉ O FIM’

Na homilia de 12 de abril de 1979, no primeiro Tríduo Pascal de seu pontificado, São João Paulo II ressaltou que a última ceia é precisamente o testemunho daquele amor com que Cristo, o Cordeiro de Deus, amou a humanidade até o fim.

Nas palavras do Santo Padre, o amor de Jesus até o fim significa:

“Até àquela realização que devia verificar-se no dia de amanhã, Sexta-feira Santa. Naquele dia devia manifestar-se quanto Deus amou o mundo, e como naquele amor tinha chegado ao limite extremo da doação isto é, ao ponto de dar o seu Filho único (Jo 3, 16). Naquele dia Cristo demonstrou que não há maior amor do que dar a vida pelos seus amigos (Jo 15, 13). O amor do Pai revelou-se na doação do Filho. Na doação mediante a morte”.

Ainda segundo o Pontífice polonês, a Quinta-feira Santa é, em certo sentido, o prólogo daquela doação; é a última preparação.

“De fato, pensamos justamente que amar até ao fim significa até à morte, até ao último suspiro. Todavia, a Última Ceia mostra-nos que, para Jesus, «até ao fim» significa ainda além do último suspiro. Além da morte”.

E acrescenta:

“É este, precisamente, o significado da Eucaristia. A morte não é o seu fim, mas o seu início. A Eucaristia tem início na morte, como ensina São Paulo: Sempre que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha (Cor 11, 26. 6)”.

EUCARISTIA

Na Missa da Ceia do Senhor de 21 de abril de 2011, o hoje Papa Emérito Bento XVI enfatizou: “Com a Eucaristia nasce a Igreja”.

“Todos nós comemos o mesmo pão, recebemos o mesmo corpo do Senhor, e isto significa: Ele abre cada um de nós para além de si mesmo. Torna-nos todos um só. A Eucaristia é o mistério da proximidade e comunhão íntima de cada indivíduo com o Senhor. E, ao mesmo tempo, é a união visível entre todos”.

O Pontífice alemão acrescentou que a Eucaristia é o sacramento da unidade:

“Ela chega até ao mistério trinitário, e assim cria, ao mesmo tempo, a unidade visível. Digamo-lo uma vez mais: a Eucaristia é o encontro pessoalíssimo com o Senhor, e no entanto não é jamais apenas um ato de devoção individual; celebramo-la necessariamente juntos. Em cada comunidade, o Senhor está presente de modo total; mas Ele é um só em todas as comunidades”.

Dois anos antes, na Quinta-feira Santa de 2009, em 9 de abril, Bento XVI afirmou que, no pão repartido, o Senhor distribui-se a si próprio.

“O gesto de partir alude misteriosamente também à sua morte, ao amor até à morte. Ele distribui-Se a Si mesmo, verdadeiro ‘pão para a vida do mundo’ (cf. Jo 6, 51). O alimento de que o homem, no mais fundo de si mesmo, tem necessidade é a comunhão com o próprio Deus. Dando graças e abençoando, Jesus transforma o pão: já não dá pão terreno, mas a comunhão consigo mesmo. Esta transformação, porém, quer ser o início da transformação do mundo, para que se torne um mundo de ressurreição, um mundo de Deus. Sim, trata-se de transformação: do homem novo e do mundo novo que têm início no pão consagrado, transformado, transubstanciado”.

NOVA ALIANÇA

O Papa emérito continua a reflexão ressaltando que aquilo que é designado por Nova Aliança não é um ato acordado entre duas partes iguais, “mas dom meramente de Deus que nos deixa em herança o seu amor, nos deixa a si mesmo”.

“Através da encarnação de Jesus, através do seu sangue derramado, fomos atraídos para dentro de uma consanguinidade muito real com Jesus e, consequentemente, com o próprio Deus. O sangue de Jesus é o seu amor, no qual a vida divina e a humana se tornaram uma só. Peçamos ao Senhor para compreendermos cada vez mais a grandeza deste mistério, a fim de que o mesmo desenvolva de tal modo a sua força transformadora no nosso íntimo que nos tornemos verdadeiramente consanguíneos de Jesus, permeados pela sua paz e desta maneira também em comunhão uns com os outros”.

SACERDÓCIO

Ainda na homilia de 1979, São João Paulo II destaca que, com a instituição da Eucaristia, Jesus comunica aos Apóstolos a participação ministerial no seu sacerdócio, “o sacerdócio da Aliança nova e eterna, em virtude da qual ele, e somente ele, é sempre e em toda a parte artífice e ministro da Eucaristia”.

“Os Apóstolos tornaram-se, por sua vez, ministros deste excelso mistério da fé, destinado a perpetuar-se até ao fim do mundo. Tornaram-se contemporaneamente servidores de todos aqueles que vierem a participar em tão grande dom e mistério”.

Em 8 de abril de 2004, o mesmo Pontífice novamente salientou a relação entre Eucaristia e sacerdócio:

“Só uma Igreja enamorada da Eucaristia gera, por sua vez, vocações sacerdotais santas e numerosas. E faz isto através da oração e do testemunho da santidade, oferecida de modo especial às novas gerações”.

LAVA-PÉS

O gesto de lavar os pés dos discípulos na última ceia também foi destacado pelos Pontífices, sobretudo o Papa Francisco, que desde o início do seu pontificado, tem o costume de realizar esse rito em cárceres e centros de ressocialização de menores.

Na missa de 28 de março de 2013, o Santo Padre explicou aos menores do Cárcere “Casa del Marmo”, em Roma, que lavar os pés significa “eu estou ao teu serviço”.

“E também nós, entre nós, não é que isto signifique de devamos lavar os pés todos os dias uns dos outros, mas qual é o seu significado? Significa que devemos nos ajudar, uns aos outros. Às vezes, fico com raiva de alguém, de um, de uma... mas deixa para lá, deixa para lá, e se essa pessoa te pede um favor, fá-lo. Ajudar-nos uns aos outros: é isto que Jesus nos ensina e é isto que eu faço, e o faço de coração, porque é o meu dever. Como sacerdote e como Bispo, devo estar ao vosso serviço. Mas é um dever que me vem do coração: amo-o. Amo-o e amo fazê-lo porque o Senhor assim me ensinou”.

GESTO DE FRATERNIDADE

Em 24 de março de 2016, Francisco lavou os pés de doze imigrantes e refugiados de diferentes tradições culturais e religiões. Ele contrapôs o gesto de Jesus ao de Judas, que “vendeu” o mestre por 30 moedas. 

“Hoje, neste momento, quando eu fizer o mesmo gesto de Jesus de lavar os pés a vós doze, todos nós estamos a fazer o gesto da fraternidade, e todos nós dizemos: ‘Somos diversos, somos diferentes, temos culturas e religiões diversas, mas somos irmãos e desejamos viver em paz’. E este é o gesto que eu faço convosco. Cada um de nós tem uma história de vida, cada um de vós carrega uma história consigo: tantas cruzes, tantos sofrimentos, mas também tem um coração aberto que deseja a fraternidade. Cada um, na sua língua religiosa, reze ao Senhor para que esta fraternidade contagie o mundo, para que não haja as 30 moedas para matar o irmão, para que haja sempre a fraternidade e a bondade. Assim seja”.

SERVIÇO

São João Paulo II, na homilia de 20 de abril de 2000, ano do grande Jubileu, recorda que Pedro se recusa a ter os pés lavados pelo Mestre que, por sua vez, o convence.

“Logo depois, porém, retomando as vestes e tendo-se posto de novo à mesa, Jesus explica o sentido deste seu gesto: 'Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, visto que o sou. Ora, se Eu vos lavei os pés, sendo Senhor e Mestre, também vós deveis lavar os pés uns aos outros' (Jo 13, 12-14). São palavras que, unindo o mistério eucarístico ao serviço do amor, podem ser consideradas preliminares à instituição do Sacerdócio ministerial.”

PURIFICAÇÃO

Na sua primeira Quinta-feira Santa como Pontífice, em 13 de abril de 2006, Bento XVI afirmou que, pelo gesto do lava-pés, é possível perceber que a santidade de Deus não é só um poder incandescente, “é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece”.

“Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte”.

E continua, refletindo sobre o que significa concretamente lavar os pés uns dos outros:

“Eis que, qualquer obra de bondade pelo outro especialmente por quem sofre e por quantos são pouco estimados é um serviço de lava-pés. Para isto nos chama o Senhor: descer, aprender a humildade e a coragem da bondade e também a disponibilidade de aceitar a recusa e contudo confiar na bondade e perseverar nela”.

Na homilia de 18 de abril de 2019, o Papa Francisco reforça a dimensão do serviço e da humildade ao recordar a recomendação de Jesus,  que diz: “Prestai atenção: os chefes das Nações dominam, mas entre vós não deve ser assim. O maior deve servir o mais pequenino. Quem se sente o maior, deve ser o servidor”.

“Também todos nós devemos ser servidores. É verdade que na vida existem problemas: discutimos entre nós... mas isto deve ser algo que passa, algo passageiro, porque no nosso coração deve existir este amor de serviço ao próximo, de estar ao serviço do outro”.

 

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Francisco convida fiéis do mundo inteiro a viver este tempo de provação com esperança

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27 de março de 2020

A Praça São Pedro, no Vaticano, que recebe anualmente milhões de peregrinos, estava completamente vazia na tarde desta quarta-feira chuvosa, 27. Às 14h (Horário de Brasília), o Papa Francisco, em meio a este cenário inédito, conduziu o momento de oração e adoração ao Santíssimo Sacramento, em comunhão com católicos do mundo inteiro, que acompanharam por meio das mídias.

ESTAMOS NO MESMO BARCO

A passagem bíblica escolhida para reflexão foi a tempestade acalmada por Jesus, extraída do Evangelho de Marcos. Em sua homilia, Francisco convidou os fiéis de todo mundo que, neste momento, encontram-se em meio à tempestade causa pela pandemia do novo coronavírus, a abraçar o Senhor, para abraçar a esperança.

“Há semanas, parece que a tarde caiu. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador… Nos vimos amedrontados e perdidos”, afirmou o Pontífice.

Porém esses sentimentos, segundo o Papa, fizeram todos entender que estão no mesmo barco e são chamados a remar juntos. Francisco recordou que nesse barco está Jesus, que, em um inédito relato da Bíblia, está dormindo e ao acordar questiona os discípulos “Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” (Mc 4, 40).

“A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade.”, disse o Santo Padre.

UM MUNDO DOENTE

O Pontífice alertou que com a tempestade não se pode cair no “ego” sempre preocupado com a própria imagem e vem à tona o sentimento comum que não pode ser ignorado: a pertença como irmãos.

“Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: ‘Acorda, Senhor!’”, destacou Francisco.

O Papa continuou afirmando que o Senhor dirige a todos um apelo fé e chama a viver este tempo de provação como um tempo de decisão: o tempo de escolher o que conta e o que passa, de separar aquilo que é necessário daquilo que não é. “O tempo de reajustar a rota da vida rumo ao Senhor e aos outros”, frisou.   

PESSOAS QUE DOARAM A SUA VIDA

Francisco citou o exemplo de pessoas que doaram a sua vida e estão escrevendo hoje os momentos decisivos da história humana. Não são pessoas famosas, mas são “médicos, enfermeiros, funcionários de supermercados, pessoal da limpeza, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho”.

Segundo o Papa, a tempestade mostra que ninguém é autossuficiente, que sozinhos todos afundam. Por isso, é preciso convidar Jesus a embarcar em suas próprias vidas. Quem está com ele Ele a bordo não naufraga, porque esta é a força de Deus: transformar em bem tudo o que acontece, inclusive as coisas negativas. Com Deus, a vida jamais morre.

TEMOS UMA ESPERANÇA

“Temos uma âncora: na sua cruz fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor”, manifestou o Pontífice.

Abraçar a sua cruz, explicou o Papa, significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a ânsia de onipotência e posse, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. “Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança.” Aqui está a força da fé e que liberta do medo.

Francisco então concluiu: “Deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nesta tarde de confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade. Desta colunata que abraça Roma e o mundo, desça sobre vocês, como um abraço consolador, a bênção de Deus.”, concluiu o Santo padre, que, em seguida adorou o Santíssimo Sacramento exposto em um altar colocado na entrada da Basílica de São Pedro, com o qual concedeu a bênção Urbi et Orbi.

BENÇÃO URBI ET ORBI

A benção Urbi et Orbi, que, em latim, significa “à cidade de Roma e ao mundo” é tradicionalmente dada pelo Pontífice nos dias do Natal, da Páscoa e é a primeira bênção dada por um papa ao povo após sua eleição.

A Penitenciária Apostólica esclareceu em uma nota que à Igreja Católica ofereceu a possibilidade de obtenção de indulgencia plenária aos fiéis enfermos pelo Covid-19, bem como para profissionais de saúde, familiares e todos aqueles que, de qualquer forma, mesmo em oração, cuidam deles.

A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida aos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da Igreja, a qual, “como dispensadora da redenção, distribui e aplica, com autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos”, explica o Manual das Indulgências, da Penitenciária Apostólica.

Habitualmente, para receber a indulgência plenária, o fiel precisa ter se confessado recentemente, rezar nas intenções do Papa e fazer um ato de caridade. Contudo, a Penitenciária Apostólica deu orientações específicas para a obtenção da indulgência nesse período de emergência pandêmica.

As pessoas impossibilitadas de se confessar e comungar são orientadas, manifestar o seu sincero arrependimento diante de Deus, diante do qual, em oração reconhecem seus pecados, rezar um Pai-nosso, uma Ave-Maria e o Glória pelas intenções do Papa, acompanhada de uma comunhão espiritual.

ÍCONES MILAGROSOS

Nas proximidades da porta central da Basílica de São Pedro, estava colocada a imagem da Salus Populi Romani (protetora do povo romano). A devoção especial do Pontífice pelo ícone mariano é conhecida: Francisco reza diante do ícone não somente por ocasião das grandes festas marianas, mas também antes e depois de uma viagem internacional. Em 593, o Papa Gregório I a levou em procissão para pedir o fim da peste e, em 1837, Gregório XVI a invocou para cessar uma epidemia de cólera

Outro lado estava o conhecido crucifixo milagroso da Igreja de São Marcelo, em Roma, venerado pelo Papa Francisco no último dia 15, foi levado para Praça de São Pedro. A devoção ao Crucifixo nasceu em 1519 quando, após o incêndio da igreja entre 22 e 23 de maio, tudo foi destruído, exceto o Crucifixo de madeira que permaneceu intacto.

Depois disso, em 1522, o Crucifixo foi levado às ruas de Roma quando a cidade enfrentava uma grande epidemia. A procissão foi repetida por 16 dias e, segundo a tradição, a epidemia foi extinta.

(Com informações de Vatican News)

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Papa Francisco: ‘Rezemos ao Senhor a fim de que nos ajude a ter confiança e a tolerar e vencer os medos’

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26 de março de 2020

Na Missa ao vivo em streaming nesta quinta-feira, 26, da Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, Francisco rezou a fim de que o Senhor nos ajude a vencer o medo neste tempo caracterizado pela pandemia do Covid-19. Estas, as suas palavras, introduzindo a celebração eucarística:

Nestes dias de tanto sofrimento, há tanto medo. O medo dos anciãos, que se encontram sozinhos, nas casas de repouso ou no hospital ou na casa deles e não sabem o que pode acontecer. O medo dos trabalhadores sem trabalho fixo que pensam como prover o alimento a seus filhos e veem a fome chegar. O medo de tantos agentes sociais que neste momento ajudam a sociedade a seguir adiante e podem pegar a doença. Também o medo – os medos – de cada um de nós: cada um sabe qual é o próprio. Rezemos ao Senhor a fim de que nos ajude a ter confiança e a tolerar e vencer os medos.

Na homilia, comentando a primeira leitura, extraída do livro do Êxodo (Ex 32,7-14), que conta o episódio do bezerro de ouro, Francisco falou dos ídolos do coração, ídolos por nós escondidos muitas vezes de modo astucioso, ressaltando que a idolatria nos faz perder tudo, nos faz perder os próprios dons do Senhor. A idolatria nos leva a uma religiosidade errônea. Em seguida, o Papa pediu para se fazer um exame de consciência para descobrir nossos ídolos escondidos.

A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

Na primeira Leitura encontra-se a cena do amotinamento do povo. Moisés subiu ao Monte para receber a Lei: Deus a deu a ele, em pedra, escrita com seu dedo. Mas o povo se entediou e se comprimiu em torno a Aarão e disse: “Mas, este Moisés, faz tempo que não sabemos onde está, para onde foi e nós estamos sem guia. Faça-nos um deus que nos ajude a seguir adiante”. E Aarão, que depois será sacerdote de Deus, mas ali foi sacerdote da estupidez, dos ídolos, disse: “Sim, deem-me todo o ouro e a prata que têm”, e eles deram tudo e fizeram aquele bezerro de ouro.

No Salmo ouvimos o lamento de Deus: “Construíram um bezerro no Horeb e adoraram uma estátua de metal; eles trocaram o seu Deus, que é sua glória, pela imagem de um boi que come feno”. E ai, neste momento, quando começa a Leitura: “O Senhor disse a Moisés: 'Vai, desce, pois corrompeu-se o teu povo, que tiraste da terra do Egito. Bem depressa desviaram-se do caminho que lhes prescrevi. Fizeram para si um bezerro de metal fundido, inclinaram-se em adoração diante dele e ofereceram-lhe sacrifícios, dizendo: 'Estes são os teus deuses, Israel, que te fizeram sair do Egito!'” Uma verdadeira apostasia! Do Deus vivo à idolatria. Não teve paciência para esperar que Moisés retornasse: queriam novidades, queriam algo, espetáculo litúrgico, alguma coisa...

Gostaria de acenar algumas coisas sobre isso: Em primeiro lugar, aquela saudade idolátrica: neste caso, pensava nos ídolos do Egito, mas a saudade de voltar aos ídolos, voltar ao pior, não saber esperar o Deus vivo. Essa saudade é uma doença, também nossa. Inicia-se a caminhar com o entusiasmo de ser livres, mas depois começam as lamentações: “Mas sim, este é um momento duro, o deserto, tenho sede, quero água, quero carne... mas no Egito comíamos as cebolas, as coisas boas e aqui não se tem...” Sempre, a idolatria é seletiva: leva você a pensar nas coisas boas que lhe dá, mas não o deixa enxergar as coisas ruins. Neste caso, eles pensavam como era quando estavam à mesa, com essas refeições tão boas das quais gostavam tanto, mas esqueciam que aquela mesa era a mesa da escravidão.

A idolatria é seletiva

Depois, outra coisa: a idolatria faz você perder tudo. Aarão, para fazer o bezerro, pede ouro: “Deem-me ouro e prata”: mas era o ouro e a prata que o Senhor tinha dado a eles, quando lhes disse: “Peçam ouro emprestado aos egípcios”, e depois foram embora com o ouro. É um dom do Senhor e com o dom do Senhor fazem o ídolo. E isso é muito feio. Mas esse mecanismo acontece também conosco: quando temos atitudes que nos levam à idolatria, somos apegados a coisas que nos distanciam de Deus, porque nós fazemos outro deus e o fazemos com os dons que o Senhor nos deu. Com a inteligência, com a vontade, com o amor, com o coração... são os próprios dons do Senhor que nós usamos para fazer a idolatria.

Sim, alguém de vocês pode me dizer: “Mas eu não tenho ídolos em casa. Tenho o Crucifixo, a imagem de Nossa Senhora, que não são ídolos...” – Não, não: no seu coração. E a pergunta que hoje devemos fazer é: qual é o ídolo que você tem no seu coração, no meu coração. Aquela saída escondida onde me sinto bem, que me distancia do Deus vivo. E nós temos também um atitude, com a idolatria, muito astuto: sabemos esconder os ídolos, como fez Raquel quando fugiu de seu pai e os escondeu na sela do camelo e entre as roupas. Também nós, entre as nossas roupas do coração, escondemos muitos ídolos.

A pergunta que gostaria de fazer hoje é: qual é o meu ídolo? Aquele meu ídolo do mundanismo... e a idolatria chega também à piedade, porque eles queriam o bezerro de ouro não para fazer um circo: não. Para fazer adoração. “Prostraram-se diante dele”. A idolatria leva você a uma religiosidade errônea, aliás: muitas vezes o mundanismo, que é uma idolatria, faz você mudar a celebração de um sacramento numa festa mundana. Um exemplo: não sei, penso, pensemos, não sei, uma celebração de casamento. Você não sabe se é um sacramento onde realmente os recém-casados dão tudo e se amam diante de Deus e prometem ser fiéis diante de Deus e recebem a graça de Deus, ou se é uma exposição de modelos, como um e o outro estão vestidos e o outro... o mundanismo. É uma idolatria. Isso é um exemplo. Porque a idolatria não cessa: segue sempre adiante.

Hoje a pergunta que eu gostaria de fazer a todos nós, a todos: quais são os meus ídolos? Cada um tem os seus. Quais são os meus ídolos. Onde os escondo. E que o Senhor não nos encontre, no final da vida, e diga de cada um de nós: “Você se corrompeu. Você se distanciou do caminho que eu tinha indicado. Você se prostrou diante de um ídolo”.

Peçamos ao Senhor a graça de conhecer nossos ídolos. E se não podemos expulsá-los, ao menos os coloquemos de lado...

Por fim, o Papa terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual.

A seguir, a oração recitada pelo Santo Padre:

Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!

Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo, foi entoada a antiga antífona mariana Ave Regina Caelorom (“Ave Rainha dos Céus”).

 

 

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"Economia de Francisco" adiado para novembro

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02 de março de 2020

O comitê organizador da “Economia de Francisco” informou na noite de domingo, 01, que o evento desejado pelo Papa Francisco previsto para os dias 26, 27 e 28 de março na cidade de Assis, foi transferido para o mês de novembro.

Em breve serão fornecidas informações detalhadas sobre a preparação do encontro, que prossegue com grande empenho e entusiasmo e que despertou muito interesse em todo o mundo. De fato, 2.000 jovens de 115 países inscreveram-se para participar. O Brasil é o segundo país com maior número de inscrições.

Para favorecer o melhor desenvolvimento da iniciativa, dada a dificuldade objetiva que tantos jovens têm encontrado atualmente para viajar internacional e nacionalmente, o Santo Padre, em acordo com o comitê, definiu 21 de novembro de 2020 como a nova data de seu encontro com os jovens em Assis, precedido pelos dias de estudo já previstos.

No dia 28 de março, do Salão Papal do Sacro Convento de Assis, haverá um encontro via Webinar com os jovens dos países participantes, para dar continuidade à jornada com um entusiasmo ainda maior.

Os objetivos do encontro

Na carta-convite dirigida a jovens economistas, empreendedores e empresários do mundo inteiro, divulgada em 11 de maio do ano passado, o Papa Francisco explica que Assis é o lugar apropriado para inspirar uma nova economia, pois foi ali que Francisco se espojou de todo mundanismo para escolher Deus como bússola da sua vida, tornando-se pobre com os pobres e irmão de todos. Sua decisão de abraçar a pobreza também deu origem a uma visão econômica que permanece atual.

O Papa Francisco convida a Assis os jovens empreendedores, economistas, para fazer um pacto, no espírito de São Francisco, a fim de que a economia de hoje e de amanhã seja mais justa, fraterna, sustentável e com um novo protagonismo de quem hoje é excluído.

Neste pacto, a construção de novos caminhos buscando a solução dos problemas estruturais da economia mundial. Para isso, é preciso questionar as “leis” econômicas que produzem desigualdade e exclusão, compreender que elas são fruto de decisões políticas e que, portanto, podem ser questionadas e transformadas.

Trata-se de construir uma nova economia à medida do homem e para o homem. Em síntese, o objetivo do Santo Padre é que tenhamos no mundo uma economia socialmente justa, economicamente viável, ambientalmente sustentável  e eticamente responsável.

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Papa Francisco: ‘Ser cristão significa aceitar o caminho de Jesus até a cruz’

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20 de fevereiro de 2020

“Quem dizem os homens que eu sou?” E vós, quem dizeis que eu sou?'” São as perguntas feitas por Jesus no trecho do Evangelho da liturgia de hoje e sobre as quais Francisco se baseou para fazer a sua homilia ao celebrar a missa na capela da Casa Santa Marta nesta quinta-feira, 20.

As três etapas

O Evangelho, afirmou, nos ensina as etapas já percorridas pelos apóstolos para saber quem é Jesus. São três: conhecer, professar e aceitar o caminho que Deus escolheu para Ele.

Conhecer Jesus, observou o Papa, é o que “fazemos todos nós” quando pegamos o Evangelho, procuramos conhecer Jesus, quando levamos as crianças ao catecismo, quando as levamos à missa, mas é só o primeiro passo. O segundo é professar Jesus.

E isso nós, sozinhos, não podemos fazer. Na versão de Mateus, diz: “Jesus disse a Pedro: ‘Isso não vem de ti. O Pai te revelou”. Somente podemos professar Jesus com a força de Deus, com a força do Espírito Santo. Ninguém pode dizer Jesus na confissão e confessá-Lo sem o Espírito, diz Paulo. Nós não podemos confessar Jesus sem o Espírito. Por isso, a comunidade cristã deve buscar sempre a força do Espírito Santo para professar Jesus, para dizer que Ele é Deus, que Ele é o Filho de Deus.

Aceitar o caminho de Jesus até a cruz

Mas qual é a finalidade da vida de Jesus, por qual motivo Ele veio? Responder a esta pergunta significa realizar a terceira etapa no caminho do conhecimento de Cristo. E o Papa recordou que Jesus começou a ensinar aos apóstolos que deveria sofrer, morrer e depois ressuscitar.

Professar Jesus é professar a Sua morte, a Sua ressurreição; não é professar: “Tu és Deus” e parar ali. Não: “Viestes por nós e morreste por mim. E ressuscitastes e nos deste a vida, nos prometeste o Espírito Santo para nos guiar”. Professar Jesus significa aceitar o caminho que o Pai escolheu para Ele: a humilhação. Paulo, escrevendo aos Filipenses, diz: “Deus enviou o Seu Filho, o qual aniquilou a si mesmo, se fez servo, humilhou a si mesmo, até a morte e morte de cruz”. Se não aceitamos o caminho de Jesus, o caminho da humilhação que Ele escolheu para a redenção, não somos cristãos e merecemos o que Jesus disse a Pedro: “Vai para longe de mim, Satanás!”

A Igreja não pode se tornar mundana

Francisco explicou que Satanás sabe que Jesus é o Filho de Deus, mas Jesus rejeita a sua “confissão”, assim como afasta Pedro quando não quer aceitar o caminho escolhido por Jesus. “Professar Jesus – afirmou Papa – é aceitar o caminho da humildade e da humilhação. E quando a Igreja não percorre este caminho, erra e acaba mundana”.

E quando nós vemos tantos cristãos bons, não? Com boa vontade, mas confundem a religião com um conceito social de bondade, de amizade, quando nós vemos tantos clérigos que dizem seguir Jesus, mas buscam as honras, o caminho da mundanidade, não buscam Jesus: buscam a si mesmos. Não são cristãos; dizem ser cristãos, mas de nome, porque não aceitam o caminho de Jesus, da humilhação. E quando lemos na história da Igreja tantos bispos que viveram assim e também tantos Papas mundanos que não conheceram o caminho da humilhação, não o aceitaram, devemos aprender que aquele não é o caminho.

O Papa concluiu com o convite a pedir “a graça da coerência cristã” para “não usar o cristianismo para fazer carreira”, a graça de seguir Jesus no seu mesmo caminho, até a humilhação.

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A Igreja deve ser fiel à sua missão de evangelização e serviço

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11 de fevereiro de 2020

Ser sal da terra e luz do mundo, uma linguagem simbólica usada por Jesus para indicar àqueles que pretendem segui-lo, “alguns critérios para viver a presença e o testemunho no mundo.”

Dirigindo-se aos milhares de peregrinos e turistas reunidos na Praça São Pedro para o Angelus dominical, o Papa refletiu sobre o Evangelho de Mateus proposto pela liturgia do dia, explicando o significado destas duas imagens: sal e luz.

SER SAL

O sal – observou Francisco - “é o elemento que dá sabor e que conserva e preserva os alimentos da corrupção”, motivo pelo qual o discípulo “é chamado a manter afastados da sociedade os perigos, os germes corrosivos que poluem a vida das pessoas”.

“Trata-se de resistir à degradação moral, ao pecado, testemunhando os valores da honestidade e da fraternidade, sem ceder às tentações mundanas do carreirismo, do poder e da riqueza.”

E explicando o que é ser sal, enfatiza o quanto é necessário hoje o testemunho de fidelidade aos ensinamentos de Jesus:

É “sal” o "discípulo" que, apesar dos fracassos cotidianos - porque todos nós os temos - reergue-se do pó dos próprios erros, recomeçando com coragem e paciência, a cada dia, a buscar o diálogo e o encontro com os outros. É "sal" o discípulo que não busca o consenso e o aplauso, mas se esforça para ser uma presença humilde e construtiva, na fidelidade aos ensinamentos de Jesus, que veio ao mundo não para ser servido, mas para servir. E há tanta necessidade desse comportamento.

SER LUZ

O Papa explica então o significado de ser luz. “A luz – recordou - dissipa a escuridão e permite ver. Jesus é a luz que dissipou as trevas, mas elas ainda permanecem no mundo e nas pessoas”.  Neste sentido, “é tarefa do cristão dissipá-las, fazendo resplandecer a luz de Cristo e anunciando seu Evangelho”.  E essa “irradiação”, deve brotar sobretudo “de nossas boas obras".

“Um discípulo e uma comunidade cristã são luz no mundo quando direcionam os outros para Deus, ajudando cada um a fazer a experiência da sua bondade e da sua misericórdia.”

O discípulo de Jesus é luz quando sabe viver a própria fé fora de espaços restritos, quando contribui para eliminar os preconceitos, a eliminar as calúnias e a deixar entrar a luz da verdade nas situações deterioradas pela hipocrisia e pela mentira. Iluminar. Mas não é a minha luz, é a luz de Jesus. Nós somos instrumentos para que a luz de Jesus chegue a todos.

IGREJA NÃO PODE FECHAR-SE EM SI MESMA

Diante dos conflitos e pecados existentes no mundo - recordou o Papa - Jesus nos convida a não temer. De fato, na Última Ceia, Ele não pediu ao Pai para que tirasse os discípulos do mundo, mas que os protegesse do espírito do mundo. E enfatizou:

Diante da violência, da injustiça, da opressão, o cristão não pode fechar-se em si mesmo ou esconder-se na segurança do próprio recinto. Também a Igreja não pode fechar-se em si mesma, não pode abandonar sua missão de evangelização e de serviço.

A Igreja se dedica com generosidade e ternura aos pequenos e aos pobres: este não é o espírito do mundo, esta é a sua luz, é o sal. A Igreja escuta o clamor dos últimos e dos excluídos, porque tem consciência de ser uma comunidade peregrina chamada a prolongar a presença salvífica de Jesus Cristo na história.

O Papa concluiu, pedindo a Virgem Santa para nos ajudar “a ser sal e luz em meio às pessoas, levando a todos, com a vida e a palavra, a Boa Nova do amor de Deus”.

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