Papa Francisco manifesta preocupação com tensão no Oriente Médio

Por
06 de janeiro de 2020

O Papa Francisco e toda a Igreja Católica acompanham com preocupação a situação de tensão e conflitos no Iraque, depois do assassinato do general iraniano Qassem Soleimani, em um ataque dos Estados Unidos, em Bagdá, na quinta-feira, 2.  

No sábado, 4, por meio de sua conta oficial no Twitter, o Pontifice manifestou: “Devemos acreditar que o outro tem a nossa mesma necessidade de paz. Não se obtém a paz se não se espera por ela. Peçamos ao Senhor o dom da paz!”.

Durante a oração do Angelus deste domingo, 5, o Santo Padre voltou a expressar sua preocupação com o clima de tensão em várias partes do mundo e voltou a invocar a paz. “Em tantas partes do mundo se sente um terrível ar de tensão. A guerra traz apenas morte e destruição. Convido todas as partes a manterem acesa a chama do diálogo e do autocontrole e a evitarem a sombra da inimizade. Rezemos em silêncio para que o Senhor nos dê esta graça”.

CAMPO DE BATALHA

O Patriarca da Igreja Católica Caldeia, Dom Louis Raphael Sako, afirmou que os iraquianos ainda estão chocados com o que aconteceu na semana passada e temem que o país se torne um “campo de batalha”, em vez de ser “uma nação soberana capaz de proteger seus cidadãos e suas riquezas”.

O Patriarca, pediu, ainda, que seja realizado “um encontro em que todas as partes envolvidas se sentem em torno de uma mesa para um diálogo sensato e civilizado que poupará consequências inesperadas para o Iraque”.

“Nós imploramos a Deus Todo-Poderoso que garanta ao Iraque e à região uma "vida normal, pacífica, estável e segura, à qual aspiramos”, concluiu Sako, em mensagem publicada no site oficial do Patriarcado.

CONFLITO

O funeral do general Soleimani, realizado em Bagdá, no sábado, teve a presença de dezenas de milhares de pessoas, que gritavam slogans contra os Estados Unidos. O Irã ameaça vingança. Mísseis e morteiros foram lançados na área verde de Bagdá, onde se encontra a embaixada norte-americana, e contra uma base militar mais ao norte, onde estão destacados soldados dos Estados Unidos, sem causar vítimas.

O Irã pede a evacuação das bases militares dos Estados Unido na região, prometendo vingança se isso não ocorrer e afirmando que já identificou 35 alvos a serem atingidos. Não seriam descartados ataques no Estreito de Hormuz, por meio do qual passa cerca de 20% do tráfego mundial de petróleo por mar.

O presidente norte-americano, Donald Trump, por sua vez, declarou que no caso de um ataque iraniano, os Estados Unidos estão prontos para a ação contra 52 locais importantes para a cultura iraniana, número igual ao dos reféns norte-americanos sequestrados por Teerã em 1979. No twitter, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Zarif, escreveu que “atingir locais culturais seria um crime de guerra”.

PREOCUPAÇÃO INTERNACIONAL

Líderes mundiais manifestaram preocupação com a tenção entre Estados Unidos e Irã. O presidente francês, Emmanuel Macron, se reuniu, no sábado, com o presidente do Iraque, Barham Salih e afirmou ter conversado com outros líderes mundiais.

“A escalada de tensões no Oriente Médio não é inevitável. A França tem duas prioridades que eu compartilho com todos os líderes envolvidos com os quais entro em contato: a soberania e segurança do Iraque, bem como a estabilidade da região; a luta contra o ISIS e o terrorismo. Nada deve nos distrair desses objetivos”, escreveu Macron no Twitter.

MANTER A CALMA

O ministro das Relações Exteriores britânico, Dominic Raab, afirmou que o Reino Unido sempre reconheceu a ameaça agressiva da força iraniana Al-Qods liderada por Qassem Soleimani. “Após sua morte, pedimos a todas as partes que diminuam a escala. Outro conflito não é de forma alguma do nosso interesse”, declarou.

A China, por meio disse um porta-voz da diplomacia, Geng Shuang, expressou sua “preocupação” a todas as partes envolvidas, principalmente aos Estados Unidos, pedindo que “mantenham a calma e exercitem autocontrole para evitar novas tensões”.

Para o presidente russo, Vladimir Putin, o assassinato ameaça “seriamente agravar a situação” no Oriente Médio.

LUTA CONTRA O TERRORISMO

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, chegou a dizer que o governo não se manifestaria sobre o assunto por não ter o “poderio bélico” dos Estados Unidos. Depois, o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota na qual afirmou que apoia a “luta contra o flagelo do terrorismo”.

“Ao tomar conhecimento das ações conduzidas pelos EUA nos últimos dias no Iraque, o governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo e reitera que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo”, diz nota divulgada pelo Itamaraty, na sexta, 3.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, estimou que “o mundo não pode permitir uma nova guerra no Golfo”, e apelou “aos líderes a fazerem prova de máxima contenção” neste momento de tensões.

UNIÃO EUROPEIA

O alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, expressou “profunda preocupação com o aumento dos confrontos no Iraque” e exortou à moderação para evitar uma nova escalada de violência.

Borrell convidou o ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif, para ir a Bruxelas.  Entretanto, continuam as acusações recíprocas entre Washington e Teerã.

(Com informações de Vatican News, Asia News e G1)

 

Comente

‘É um chamado de atenção que poucos católicos creiam na Eucaristia’

Por
15 de agosto de 2019

Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Pew Research, 69% dos católicos americanos acreditam que a Eucaristia é apenas um símbolo, enquanto que somente 31% creem na Transubstanciação, segundo a qual o pão e o vinho se convertem em Corpo e Sangue de Cristo. Entre os católicos que vão à missa ao menos semanalmente, 63% acreditam na Transubstanciação. 


O Bispo Auxiliar de Los Angeles, Dom Robert Barron, muito conhecido por uma série de documentários dirigida por ele, manifestou, em vídeo no YouTube, que os resultados da pesquisa são muito preocupantes e “um chamado de atenção para todos os fiéis: sacerdotes, bispos, religiosos, leigos e catequistas”.


Dom Robert frisou que 75% dos católicos abaixo de 40 anos não acreditam na Transubstanciação, o que indica a necessidade de retomar estratégias para ensinar as verdades básicas do catolicismo. “Todo católico formado sabe que esse é um ensinamento do catolicismo, em que Jesus está real, verdadeira e substancialmente presente debaixo das aparências de pão e vinho. É um princípio básico”, disse o Prelado.


Nessa linha, Dom Barron afirmou que adverte há muito tempo sobre essa situação: “Isso representa um fracasso massivo, do qual todos somos culpados – e eu também –, de parte dos educadores católicos, dos catequistas, dos evangelizadores e dos professores”. O Bispo salientou, ainda, que a fé na Eucaristia está relacionada a outras verdades da fé católica, como “a divindade de Jesus, a Encarnação, os sacramentos da Igreja”. Desse modo, não conhecer a correta doutrina sobre a Eucaristia é colocar essas outras verdades em risco. 
 

Fontes: Pew Research/ ACI Prensa

Comente

EUA vão pressionar Coreia do Norte a respeitar liberdade religiosa

Por
26 de julho de 2019

Uma reunião realizada em Washington, Estados Unidos, sobre a liberdade religiosa, que juntou 106 países e inúmeras ONGs, tratou de maneira central a situação na Coreia do Norte, China e Irã, por serem três dos países nos quais a perseguição religiosa é mais evidente.


O vice-presidente americano, Mike Pence, afirmou que seu país vai “pressionar” o regime de Pyongyang, capital da Coreia do Norte, a respeitar a liberdade religiosa. O estadista referiu-se também ao fato de que, por exemplo, a simples posse de um exemplar da Bíblia pode ser considerada uma “ofensa capital”.


“Enquanto o presidente Trump continua a diligenciar a desnuclearização da Coreia do Norte e uma paz duradoura, os Estados Unidos continuarão a defender a liberdade religiosa de todas as pessoas de todas as religiões na península coreana”, afirmou Pence.


Outra decisão da reunião foi a de criar um órgão internacional que trate da questão da liberdade religiosa. Segundo o secretário de Estado, Mike Pompeo, esta entidade – que poderá ser denominada Aliança Internacional pela Liberdade Religiosa – vai “unir países com ideias semelhantes” para tornar essa questão uma prioridade em nível internacional. “Isso proporcionará um espaço” para a defesa dos “direitos inalienáveis de todos os seres humanos” no que diz respeito à liberdade religiosa.


Na reunião de Washington, além da Coreia do Norte, China e Irã, outros países estiveram no centro das atenções por causa da perseguição religiosa. Entre eles estão Mianmar, Vietnã, Turquia, Cuba, Nigéria, Sudão e Paquistão.


De acordo com o Pew Research Center, aproximadamente 75% da população mundial vive em áreas onde há significantes restrições religiosas. Os cristãos continuam a ser o grupo religioso mais perseguido no mundo. De acordo com o observatório Open Doors USA, em 50 países mais perigosos para os cristãos, 245 milhões de cristãos experimentam altos níveis de perseguição (em âmbito global, um a cada nove cristãos experimentam alto nível de perseguição). Só no ano de 2019, 4.136 cristãos foram mortos devido a questões relacionadas à sua fé (uma média de 11 cristãos mortos por dia); 1.266 igrejas foram atacadas; e 2.625 cristãos foram detidos sem julgamento ou presos. 

Fontes: Aleteia, Open Doors USA
 

Comente

Papa aos bispos dos EUA sobre crise de abuso: oração e discernimento

Por
04 de janeiro de 2019

O Papa Francisco enviou uma carta aos Bispos da Conferência Episcopal dos Estados Unidos reunidos desde a última quarta-feira (02/01) no seminário de Mundelein, na Arquidiocese de Chicago, para um retiro espiritual. Será uma semana de oração como pediu o Papa Francisco no convite dirigido a toda a Conferência episcopal do país, no contexto do escândalo dos abusos que atingiu a Igreja nos EUA.

Na sua carta o Santo Padre escreve que no último dia 13 de setembro, durante o encontro que teve com a Presidência da Conferência Episcopal, propôs “que fizéssemos juntos os Exercícios Espirituais: um tempo de retiro, oração e discernimento como elo necessário e fundamental no caminho para enfrentar e responder evangelicamente à crise de credibilidade que vocês atravessam como Igreja. Vemos isso no Evangelho, o Senhor nos momentos importantes de sua missão se retirava e passava a noite inteira em oração e convidava seus discípulos a fazer o mesmo”. “Sabemos – continua o Papa - que a importância dos eventos não resiste a qualquer resposta ou atitude; pelo contrário, exige de nós pastores a capacidade e sobretudo a sabedoria de gerar uma palavra, fruto de escuta sincera, orante e comunitária da Palavra de Deus e da dor do nosso povo. Uma palavra gerada na oração do pastor que, como Moisés, luta e intercede pelo seu povo”.

No encontro, - escreve o Papa Francisco – “expressei ao cardeal DiNardo e aos bispos presentes o meu desejo de acompanhá-los pessoalmente por alguns dias, nestes Exercícios Espirituais, o que foi acolhido com alegria e esperança. Como sucessor de Pedro, gostaria de unir-me a vocês e com vocês implorar ao Senhor que envie o seu Espírito capaz de "renovar todas as coisas" e mostrar os caminhos de vida que, como Igreja, somos chamados a seguir para o bem de todas as pessoas que nos foram confiadas. Apesar dos esforços realizados, devido a problemas logísticos, não poderei acompanhá-los pessoalmente. Esta carta – sublinha o Santo Padre - quer compensar, de alguma forma, a viagem não realizada. Também me alegra que vocês tenham aceitado a oferta que seja o pregador da Casa Pontifícia a guiar os Exercícios Espirituais com sua sábia experiência espiritual.

Com estas linhas, desejo estar mais perto de vocês e como irmão refletir e compartilhar alguns aspectos que considero importantes, e também estimulá-los na oração e nos passos que vocês dão na luta contra a "cultura do abuso" e na maneira de enfrentar a crise de credibilidade.

“Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o servo de todos” (Mc 10, 43-44). Estas palavras, com as quais Jesus encerra a discussão e ressalta a indignação que nasce entre os discípulos quando ouvem Tiago e João pedir para sentarem-se à direita e à esquerda do Mestre, servirão como guia nesta reflexão que desejo realizar com vocês.

Francisco evidencia na sua carta que o Evangelho não tem medo de revelar e destacar certas tensões, contradições e reações que existem na vida da primeira comunidade de discípulos; pelo contrário, parece fazê-lo ex-professo: busca pelos primeiros lugares, ciúmes, invejas, arranjamentos e acomodações. Assim também como todas as intrigas e complôs que, às vezes secretamente e outras publicamente, se organizavam em torno da mensagem e da pessoa de Jesus pelas autoridades políticas, religiosas e dos mercadores da época. Conflitos que aumentavam à medida que se aproximava a Hora de Jesus no seu dom de si mesmo na cruz, quando o príncipe deste mundo, o pecado e a corrupção pareciam ter a última palavra contaminando tudo de amargura, desconfiança e murmúrio.

Como profetizou o idoso Simeão,  - continua o Papa Francisco na sua carta - os momentos difíceis e cruciais têm a capacidade colocar à luz os pensamentos íntimos, as tensões e as contradições que habitam pessoal e comunitariamente nos discípulos. Ninguém pode ser considerado isento disso; somos convidados como comunidade a vigiar para que, nesses momentos, nossas decisões, opções, ações e intenções não sejam viciadas (ou menos viciadas possível) por estes conflitos e tensões internas, e sejam, acima de tudo, uma resposta ao Senhor que é vida para o mundo. Nos momentos de maior turbamento, é importante prestar atenção e discernir para ter um coração livre de compromissos e de aparentes certezas para ouvir o que mais agrada ao Senhor na missão que nos foi confiada. Muitas ações podem ser úteis, boas e necessárias e até podem parecer corretas, mas nem todas têm "sabor" de Evangelho. Se vocês permitem dizer de modo coloquial: é preciso fazer atenção para que "o remédio não se torne pior do que a doença". E isso requer de nós sabedoria, oração, muita escuta e comunhão fraterna.

Na continuação da carta o Papa Francisco destaca os dois pontos: 1 “Entre vós não deve ser assim”. 2 “Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o servo de todos”.

O Papa destaca que nos últimos tempos, a Igreja nos Estados Unidos foi abalada por muitos escândalos que afetam sua credibilidade no sentido mais profundo. Tempos tempestuosos na vida de tantas vítimas que sofreram em sua carne o abuso de poder, de consciência e sexual por parte de ministros ordenados, consagrados, consagradas e fiéis leigos; tempos tempestuosos e de cruz para essas famílias e todo o povo de Deus.

A credibilidade da Igreja tem sido fortemente questionada e debilitada por esses pecados e crimes, mas especialmente pelo desejo de dissimulá-los e escondê-los, o que gerou um maior sentimento de insegurança, de desconfiança e de falta de proteção nos fiéis. A atitude de ocultação, como sabemos, longe de ajudar a resolver os conflitos, permitiu-lhes perpetuar-se e ferir mais profundamente o entrelaçamento de relações que hoje somos chamados a curar e recompor.

Estamos conscientes – continua Francisco - de que os pecados e os crimes cometidos e todas as suas repercussões em nível eclesial, social e cultural criaram uma marca e uma ferida profunda no coração do povo fiel. Encheram-no de perplexidade, desconcerto e confusão; e isso serve muitas vezes como uma desculpa para continuamente desacreditar e questionar a vida doada de tantos cristãos que "mostram o imenso amor pela humanidade inspirada no Deus feito homem" (Evangelii gaudium, n ° 76). Sempre que a palavra do Evangelho atrapalha ou se torna desconfortável, não são poucas as vozes que pretendem silenciá-la, sinalizando o pecado e as incongruências dos membros da Igreja e, mais ainda, de seus pastores.

A luta contra a cultura do abuso,  - escreve ainda o Santo Padre - a ferida na credibilidade, bem como o desconcerto, a confusão e descrédito na missão exigem, e exigem de nós, uma nova e decisiva atitude para resolver o conflito. "Vocês sabem que aqueles que se consideram governantes - nos diria Jesus - dominam as nações como se fossem os patrões, e os poderosos fazem sentir sua própria autoridade. Isso não deve acontecer entre vocês". A ferida na credibilidade requer uma abordagem particular, porque não se resolve por decretos voluntários ou simplesmente estabelecendo novas comissões ou melhorando os organogramas de trabalho como se fôssemos chefes de uma agência de recursos humanos. Uma similar visão acaba reduzindo a missão do pastor da Igreja a uma mera tarefa administrativa/organizacional no "empreendimento da evangelização. “Sejamos claros, muitas dessas coisas são necessárias, mas insuficientes, porque não conseguem assumir e enfrentar a realidade em sua complexidade e correm o risco de acabar reduzindo tudo as problemas organizacionais”.

A ferida na credibilidade toca em nível neurológico os nossos modos de se relacionar, escreve o Pontífice. “Podemos constatar que existe um tecido vital que foi danificado e, como artesãos, somos chamados a reconstruir. Isso implica a capacidade - ou não - de termos como comunidade de construir vínculos e espaços saudáveis e maduros, capazes de respeitar a integridade e a intimidade de cada pessoa. Implica a capacidade de convocar para despertar e infundir confiança na construção de um projeto comum, amplo, humilde, seguro, sóbrio e transparente. E isso requer não apenas uma nova organização, mas também a conversão de nossa mente (metanoia), de nossa maneira de rezar, de administrar poder e o dinheiro, de viver a autoridade e também de como nos relacionamos uns com os outros e com o mundo”.

Uma nova época eclesial precisa basicamente de pastores mestres de discernimento na passagem de Deus para a história de seu povo e não de simples administradores, pois as ideias se debatem, mas as situações vitais são discernidas. Portanto, em meio à desolação e à confusão que as nossas comunidades vivem, nosso dever é - em primeiro lugar - encontrar um espírito comum capaz de nos ajudar no discernimento, não para obter a tranquilidade fruto de um equilíbrio humano ou de um voto democrático que faça "vencer" uns sobre os outros, isso não!

Mas um modo colegialmente paternal de assumir a situação atual que proteja - acima de tudo - do desespero e da orfandade espiritual o povo que nos foi confiado. Isso nos permitirá mergulhar melhor na realidade, tentando entendê-la e ouvi-la de dentro, sem permanecer prisioneiros.

Sabemos – sublinha o Papa - que os momentos de dificuldade e de provação geralmente ameaçam a nossa comunhão fraterna, mas também sabemos que podem ser transformados em momentos de graça que fortalecem nossa dedicação a Cristo e a tornam crível. Essa atitude nos pede a decisão de abandonar como modus operandi o descrédito e a deslegitimação, a vitimização e a reprovação no modo de se relacionar e, ao contrário, dar espaço à brisa suave que só o Evangelho pode nos oferecer.

Não nos esqueçamos que "a falta de um reconhecimento sincero, sofrido e orante de nossos limites é o que impede à graça de agir melhor em nós, pois não se deixa espaço para provocar esse possível bem que se integra em um caminho sincero e real de crescimento".

Todos os esforços- enfatiza o Papa Francisco - que faremos para romper o círculo vicioso de repreensão, deslegitimação e descrédito, evitando o murmúrio e a calúnia, em vista de um caminho de aceitação orante e vergonhosa dos nossos limites e pecados e estimulando o diálogo, o confronto e o discernimento, tudo isso nos permitirá encontrar caminhos evangélicos que despertem e promovam a reconciliação e a credibilidade que nosso povo e a missão exigem de nós. Faremos isso se conseguirmos deixar de projetar nos outros nossas confusões e insatisfações, que são obstáculos à unidade e se nos atrevermos a nos ajoelhar diante do Senhor, deixando-nos interrogar pelas suas feridas, através das quais poderemos ver as feridas do mundo.

2. “Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o servo de todos”.

Francisco destaca na sua longa carta que “o Povo fiel de Deus e a missão da Igreja já sofreram e sofrem muito, por causa dos abusos de poder, consciência, sexuais e da má administração, para acrescentar-lhes o sofrimento de encontrar um episcopado desunido, concentrado em desprestigiar-se mais do que em encontrar formas de reconciliação. Essa realidade nos impele a olhar para o essencial, a nos despojar de tudo que não ajuda a tornar o Evangelho de Jesus Cristo transparente”.

Hoje nos é pedido uma nova presença no mundo conforme à Cruz de Cristo, que se cristalize no serviço aos homens e mulheres do nosso tempo. Lembro-me das palavras de São Paulo VI no início de seu pontificado: "Devemos nos tornar irmãos de homens no ato mesmo que queremos ser seus pastores e pais e mestres. O clima de diálogo é a amizade. Ou melhor, o serviço. Tudo isso devemos recordar, estudar e praticar de acordo com o exemplo e preceito que Cristo nos deixou”.

Esta atitude não reivindica para si os primeiros lugares nem mesmo o sucesso e aplauso para nossos atos, mas pede, a nós pastores, a opção fundamental de querer ser semente que germinará quando e onde o Senhor quiser.

Trata-se de uma opção que nos salva de cair na armadilha de medir o valor de nossos esforços com os critérios de funcionalidade e eficiência que governam o mundo dos negócios; antes, o caminho é abrir-nos à eficácia e ao poder transformador do Reino de Deus que, como um grão de mostarda - a menor e mais insignificante de todas as sementes - é capaz de se transformar em um arbusto que serve para proteger. Não podemos nos permitir, no meio da tempestade, perder a fé na força silenciosa, diária e operante do Espírito Santo nos corações dos homens e da história.

Credibilidade nasce da confiança, e a confiança vem do serviço sincero e cotidiano, humilde e gratuito para todos, mas especialmente para os prediletos do Senhor. Um serviço que não pretende ser de marketing ou estratégico para recuperar o lugar perdido ou o vão reconhecimento no tecido social, mas - como eu quis salientar na última Exortação Apostólica Gaudete et exsultate - porque pertence "à própria substância do Evangelho de Jesus".

Que altíssima tarefa temos em nossas mãos, irmãos; não podemos calá-la e anestesiá-la por causa de nossas limitações e defeitos! Lembro-me das sábias palavras de Madre Teresa de Calcutá, que podemos repetir pessoalmente e em comunidade: "Sim, tenho muitas fraquezas humanas, muitas misérias humanas. [...] Mas Ele se abaixa e faz uso de nós, de você e de mim, para ser seu amor e sua compaixão no mundo, apesar de nossos pecados, apesar de nossas misérias e nossas falhas. Ele depende de nós para amar o mundo e mostrar o quanto ele o ama. Se nos ocupamos muito de nós mesmos, não haverá tempo para os outros"(Madre Teresa de Calcutá).

Caros irmãos, o Senhor sabia muito bem que, na hora da cruz, a falta de unidade, a divisão e a dispersão, bem como as estratégias para se livrar daquela hora, teriam sido as maiores tentações que seus discípulos teriam vivido; atitudes desfigurariam e dificultado a missão. Por isso Ele mesmo pediu ao Pai que cuidasse deles para que naqueles momentos eles fossem uma só coisa e ninguém se perdesse. Confiantes e imersos na oração de Jesus ao Pai, queremos aprender com Ele e, com determinada deliberação, começar este tempo de oração, silêncio e reflexão, de diálogo e de comunhão, de escuta e discernimento, para deixar que Ele forje o coração à sua imagem e ajude a descobrir sua vontade.

Neste caminho não prosseguimos sozinhos, Maria acompanhou e apoiou desde o início a comunidade dos discípulos; com sua presença materna, ajudou a garantir que a comunidade não se "perdesse" ao longo dos caminhos dos fechamentos individualistas e a pretensão de salvar-se si mesma. Ela protegeu a comunidade dos discípulos da orfandade espiritual que leva à auto-referencialidade e com sua fé permitiu que ela perseverasse no incompreensível, esperando que chegasse a luz de Deus. Pedimos a ela que nos mantenha unidos e perseverantes, como no dia de Pentecostes, para que o Espírito seja derramado em nossos corações e nos ajude em todos os momentos e lugares a dar testemunho de sua ressurreição.

 

Comente

Cardeal DiNardo após encontro com o Papa: trabalhar juntos para curar as feridas

Por
13 de setembro de 2018

“Somos gratos ao Santo Padre por ter-nos recebido em audiência. Partilhamos com o Papa nossa situação nos EUA, como o corpo de Cristo foi dilacerado pelo mal dos abusos sexuais.” Assim tem início a declaração do bispo de Galveston-Houston e presidente dos bispos dos EUA, cardeal Daniel DiNardo, “sobre a recente crise moral na Igreja católica estadunidense”,  feita ao término da audiência privada com o Papa Francisco.

“Escutou-nos do mais profundo de seu coração”, prossegue o purpurado na declaração publicada no site da Conferência Episcopal dos EUA. “Foi um diálogo longo, frutuoso e bom. Assim que terminou rezamos juntos o Angelus pedindo a misericórdia de Deus e a força no trabalho em conjunto para curar as feridas. Temos a intenção de continuar ativamente nosso discernimento comum para identificar os próximos passos concretos.”

O cardeal DiNardo estava acompanhado do arcebispo de Los Angeles e vice-presidente da Conferência episcopal, Dom José Horácio Gómez; do arcebispo de Boston e presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, cardeal Séan Patrick O’Malley; e do secretário geral dos bispos estadunidenses, Dom Brian Bransfield.

Comente

Papa Francisco envia carta ao povo de Deus: ‘Se um membro sofre, todos sofrem’

Por
21 de agosto de 2018
O Papa Francisco publicou na segunda-feira, 20, uma “carta ao povo de Deus”, em resposta à recente divulgação de um longo relatório da Suprema Corte da Pensilvânia que detalha o grave problema dos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja nos últimos 70 anos nos Estados Unidos. O relatório fala de aproximadamente mil vítimas e 300 criminosos.
 
Assim inicia a carta do Papa: “Se um membro sofre, todos sofrem com ele. Estas palavras de São Paulo ressoam com força em meu coração ao constatar mais uma vez o sofrimento vivido por muitos menores, por causa de abusos sexuais, de poder e de consciências, cometidos por um notável número de clérigos e pessoas consagradas.”
 
Ponderando que “a maioria dos casos correspondem ao passado”, ele reitera que “com o passar do tempo conhecemos a dor de muitas vítimas e constatamos que as feridas nunca desaparecem”. O Pontífice escreve que isso “nos obriga a condenar com força essas atrocidades, assim como unir esforços para erradicar essa cultura de morte. As feridas nunca prescrevem”.
 
Francisco reafirmou a sua política de “tolerância zero” ao problema dos abusos e pediu que toda pessoa batizada se envolva em uma verdadeira transformação social, isto é, uma conversão pessoal e comunitária. “A magnitude e a gravidade dos acontecimentos exigem assumir este fato de maneira global e comunitária”, lamentou.
 
Papa Francisco convidou, ainda, toda a Igreja a unir-se em oração e penitência. A única maneira de responder a esse mal, afirma o Papa, é vivê-lo “como uma tarefa que nos envolve e compete a todos como Povo de Deus”. Isso requer “reconhecer os pecados e erros do passado, com abertura pare deixa-se renovar por dentro”.
 
É preciso “aprender a olhar para onde o Senhor olha, a estar onde o Senhor quer que estejamos, a converter o coração diante de sua presença. Para isso, ajudará a oração e a penitência”, disse. “Que o Espírito Santo nos dê a graça da conversão e a unção interior para poder expressar, diante destes crimes de abuso, nossa compunção e nossa decisão de lutar com valentia”, afirmou.
 
A carta do Papa foi amplamente divulgada pelos meios de comunicação do Vaticano e pela imprensa internacional – está, inclusive, na primeira página do jornal oficial L’Osservatore Romano. Na quinta-feira, 16, o porta-voz do Vaticano, Greg Burke, já havia publicado uma nota aos jornalistas dizendo que só duas palavras definem o problema dos abusos: “vergonha e dor”. O diretor da Sala de Imprensa declarou, ainda, que nada é capaz de anular a dor das vítimas, mas elas precisam saber “que o Papa está ao seu lado”.
 
A carta completa pode ser acessada no site da Santa Sé.

Comente

Estados Unidos saem do Acordo de Paris

Por
08 de junho de 2017

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu sair do Acordo de Paris, que estabelece, para cada país, metas de redução de emissão dos gases do efeito estufa, com o objetivo de impedir ou limitar o aquecimento global a partir de 2020. Segundo o presidente norte-americano, o acordo era desfavorável à economia do País e desvantajoso para os Estados Unidos em comparação com outras nações, como a Índia e a China. Ainda segundo o Presidente, o Acordo custaria à economia norte-americana 3 trilhões de dólares e 6,5 milhões de empregos.

O Acordo de Paris foi escrito no final de 2015 e tem como objetivo limitar o aquecimento global a 2 graus Celsius em comparação com a temperatura anterior à revolução industrial. A teoria do aquecimento global é que a industrialização e o aumento da emissão dos gases do efeito estufa – devido ao uso de fontes de energia não renováveis, como o petróleo e o carvão – causariam, com o passar dos anos, um aumento na temperatura média do planeta. Para limitar esse efeito, cada país precisaria limitar o seu uso de energias não renováveis, o que implica um aumento do custo da energia e um efeito negativo na economia.

O grupo de cientistas da Convenção sobre a Mudança do Clima da Organização das Nações Unidas endossa de forma unânime a teoria do aquecimento global, mas muitos outros cientistas a questionam, dizendo que a temperatura do planeta muda naturalmente de uma época para outra e que a industrialização e as emissões de gases do efeito estufa têm muito pouco ou nenhuma relação com a temperatura global.

A saída do Acordo de Paris ocorreu pouco depois da visita de Trump ao Papa Francisco, na qual o Pontífice presenteou o presidente norte-americano com uma cópia assinada de sua carta encíclica Laudato Si’, na qual menciona o aquecimento global.

A saída do Acordo tem sido vista como uma derrota político-diplomática do Vaticano. Diversas autoridades eclesiásticas criticaram a decisão. O Cardeal Peter Turkson, presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, disse que a saída “é algo que esperávamos que não acontecesse”. Diversos bispos norte-americanos também se pronunciaram contra a decisão, como Dom Oscar Cantu of Las Cruces, que afirmou que a encíclica Laudato Si’ foi feita para incentivar os países a protegerem o planeta.

Fontes: BBC/ CAN

Comente

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.