Seu nome é Jesus Cristo

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18 de dezembro de 2019

No Natal, recorda-se em todo o mundo o nascimento de uma criança: Jesus! Filho de Maria, o menino nasceu para ser Emanuel, que significa “Deus conosco”. A missão de Jesus esteve, desde sempre, anunciada pelo nome que lhe foi dado. Como recorda o Apóstolo Paulo na Carta aos Filipenses: “Ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e embaixo da terra” (Fl 2,10).
No início do Evangelho de São Mateus, lê-se uma extensa genealogia em que Jesus é lembrado como filho, membro de uma grande família humana e, sobretudo, filho de Deus.
A reflexão sobre o nome de Jesus é oportuna para pensar a respeito dos nomes dados às crianças que nascem hoje, em todo o mundo. Afinal, que critérios se deve ter ao escolher o nome para alguém?

TENDÊNCIAS
No Brasil, em 2019, os nomes mais escolhidos foram Miguel e Helena. O ranking, publicado pela rede Baby Center há dez anos, é feito com base em dados de 480 mil bebês nascidos ao longo do ano e cadastrados na plataforma digital gratuita de informações sobre gravidez e desenvolvimento infantil.
A pesquisa revelou que os nomes femininos mais escolhidos pelas famílias brasileiras foram Helena, Alice e Laura, e os masculinos, Miguel, Arthur e Heitor. 
A escolha do nome de uma criança é muito importante. Se na Antiguidade, muitas vezes, os nomes representavam a missão que a pessoa desempenharia durante a vida, o que motiva a escolha hoje? A referência a algum antepassado ou mesmo aos pais? Uma homenagem a algum personagem da História que se admira? A devoção pessoal a algum santo ou santa da Igreja? O significado que ele traz? Ou simplesmente, nomes que estão na moda ou de gente famosa? 
Na tradição cristã, durante muitos anos, a escolha do nome esteve diretamente ligada ao dia do nascimento da pessoa e à memória do santo do dia, ou a algum santo ou santa a quem os pais tinham devoção. Assim, era comum que meninos que nascessem em 10 de agosto recebessem o nome de Lourenço; em 19 de março, José; em 29 de setembro, o nome de um dos arcanjos – Miguel, Rafael ou Gabriel – e, em 25 de dezembro, Natalino. Muitos desses nomes passaram para o feminino: Rafaela, Gabriela, Maria José, Natalina, em alguns idiomas, Michele, Michela.

ONOMÁSTICO
Na Antiguidade, quem oficializou o Diaes Onomastica foi Cícero, filósofo romano do primeiro século. Isso porque, desde sempre, em diferentes culturas, havia a tradição de celebrar não somente a data do aniversário, mas, principalmente, o nome. A referência à celebração do nome é também citada na Bíblia, como em Lucas 10, 20: “Alegrem-se, porque seus nomes estão escritos nos céus”.
A partir do crescimento do Cristianismo e a introdução, no calendário, do dia dos santos, começou-se a comemorar o dia do santo onomástico, sendo que, ainda hoje, em alguns países, como na Itália, celebra-se mais o onomástico do que o próprio aniversário de nascimento. 

NOMES NA ANTIGUIDADE
Os nomes antigos tinham relação com as circunstâncias do nascimento, do local, da aparência da criança e, em muitos casos, com a missão que a pessoa iria desempenhar. Na tradição judaica, por exemplo, era comum a mudança de nome, o que pode ser visto em figuras essenciais do Cristianismo como a de São Pedro Apóstolo, cujo nome era Simão e recebeu de Jesus o nome aramaico de Kepha, que em português significa “pedra”, e foi traduzido para o grego como Petros.   
Os exemplos no Antigo Testamento também são abundantes: Abrão passou a se chamar Abraão, que significa “pai de muitos povos ou nações”; Jacó passou a se chamar Israel, que significa “vencedor, príncipe de Deus”. 
No que se refere ao Messias, as Sagradas Escrituras mencionam dois nomes. O nome “Yeshua” (Jesus, em hebraico), relativamente popular naquele tempo e região, que significa “Deus é salvação”; e o nome “Emanuel”, da profecia de Isaías (7,14), que significa “Deus conosco” e é usado como um título e não como um nome. De maneira similar, “Cristo” é um título que significa “Ungido”, e faz referência à missão do Salvador. 

NOME DE BATISMO

A escolha do nome de uma criança é importante não somente porque, com o nome, ela será apresentada ao mundo, mas também porque, ao ser batizada, este será o nome com o qual a criança será incorporada à vida da Igreja. 
O artigo 1279 do Catecismo da Igreja Católica explica que “o fruto do Batismo ou graça batismal é uma realidade rica que inclui: a remissão do pecado original e de todos os pecados pessoais; o renascimento para uma vida nova, pela qual o homem se torna filho adotivo do Pai, membro de Cristo, templo do Espírito Santo. Por esse fato, o batizado é incorporado à Igreja, corpo de Cristo, e tornado participante do sacerdócio de Cristo”.
O nome de Batismo, ou seja, o nome com o qual a criança ou adulto recebe o sacramento, tem uma grande importância porque “o sacramento imprime na alma um sinal espiritual indelével, o caráter; que consagra o batizado para o culto da religião cristã”. Por causa do caráter, o Batismo não pode ser repetido e é recebido uma única vez na vida, conforme recorda o parágrafo 1280 do Catecismo.
Assim, a escolha do nome deve ser feita com critério, pois o nome marca a identidade. Muito mais do que seguir tendências ou basear-se em artistas e pessoas famosas, é preciso pensar no significado e como a pessoa se apresentará, durante toda a vida, com seu próprio nome.

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Famílias abrem suas casas para a acolhida

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22 de dezembro de 2017

Oferecer a crianças e adolescentes que esperam pela adoção a oportunidade de viverem uma experiência familiar e amenizar a longa permanência nos abrigos: essa é a proposta de um grupo de casais chamado Famílias para Acolhida, em Salvador (BA).

Iniciativas como essa começam a crescer no Brasil com o apoio dos Juizados de Menores em várias cidades que cadastram famílias da comunidade para receberem em casa, por um período determinado, crianças, adolescentes ou grupos de irmãos em situação de risco pessoal e social, dando-lhes acolhida, amparo, aceitação, amor e a possibilidade de convivência familiar e comunitária. Em alguns países, esses sistemas já funcionam há mais tempo, como na Itália, chamado Affido , e nos Estados Unidos, Foster family . Nesses países, a experiência “temporária” acaba resultando em uma adoção definitiva. 

 
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O grupo de Salvador surgiu a partir de famílias do Movimento Comunhão e Libertação que viviam a experiência da adoção e decidiram se reunir para partilhar vivências e desafios comuns. “Nosso grupo também se voltou para os mais diversos tipos de acolhida, como receber pessoas que estão viajando, que precisam passar períodos na sua casa, ou pessoas que têm filhos com necessidades especiais. Enfim, os vários tipos de realidades que a acolhida abrange”, explicou André Carvalho, Advogado que participa do Famílias para Acolhida

André e sua esposa, Silvana Sá de Carvalho, adotaram três crianças que hoje têm 17, 14 e 11 anos. “Nós adotamos primeiro um garoto. Ele tinha um dia de vida. Conseguimos a guarda da criança e a adoção foi efetivada dois anos depois. A menina que atualmente tem 11 foi adotada com um mês de vida. A terceira, que hoje tem 17, foi adotada por último, com 9 anos”, contou o Advogado, que depois de um tratamento contra um câncer, há 20 anos, ficou estéril e, por isso, desde que se casou, decidiu ter filhos adotivos.

 

Acolhida temporária 

Além de adotarem uma menina que hoje tem 17 anos e um menino de 14, Gilberto Cafezeiro Bomfim, Biólogo e Professor da Universidade Federal da Bahia, e sua esposa, Arlete da Cruz Bomfim, sempre tiveram sua casa aberta para acolher temporariamente crianças e adolescentes. Essas acolhidas são geralmente aos finais de semana. Gilberto destacou ao O SÃO PAULO que atualmente eles se preparam para acolher um adolescente durante as férias de janeiro de 2018.

A experiência de acolhida do casal Bomfim já ajudou, literalmente, a salvar vidas. Em diferentes ocasiões, eles acolheram duas adolescentes entre 14 e 15 anos que estavam grávidas e rejeitavam a gestação. “Nós as acolhemos nos finais de semana, sem retirá-las totalmente do convívio de seus familiares e, graças a Deus, conseguimos dar um respaldo para que elas seguissem a gestação até o fim. Conseguimos estabelecer um vínculo com essas meninas que hoje já são mulheres e ainda entram em contato conosco quando precisam de algum auxílio”, relatou Gilberto.

 

Referência 

Segundo Bomfim, o Famílias para Acolhida tornou-se uma referência para aquelas pessoas que não encontram um suporte em suas famílias de origem, em geral pela situação de fragilidade em que se encontram. Atualmente, as famílias do grupo são indicadas pelo Juizado de Menores para casais que entraram no processo de adoção, para trocarem experiências e não se sentirem sozinhos. O próprio André Carvalho reconheceu a importância do grupo na adoção de seus filhos. “O Famílias para Acolhida foi um grande farol para descobrirmos que é possível enfrentar os desafios da adoção”. 

Gilberto completou que é preciso reconhecer que há muitos adolescentes que vivem em abrigos e completarão 18 anos sem serem adotados. “Nossa proposta é permitir que eles não cresçam apenas com a referência da instituição de acolhida. O contato com uma família, mesmo que temporário, pode gerar um vínculo que certamente servirá de referência no futuro. Imagine, por exemplo, você sair e não ter um telefone para ligar para avisar que deixou a instituição?”, refletiu. 

 

Guarda subsidiada 

A verificação da eficácia da experiência familiar no acolhimento também estimulou a criação do Programa de Acolhimento Familiar, em 2006, pelo Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária. Essa modalidade é também conhecida como guarda subsidiada, pela qual as famílias recebem em casa crianças e adolescentes afastados da família de origem. 

Neste caso, o objetivo prioritário do acolhimento é o retorno da criança ou adolescente à família biológica, que podem ser os pais, irmãos ou parentes próximos. Durante o período de afastamento, todos os esforços são empreendidos para que os vínculos com a família biológica sejam mantidos. Os familiares devem receber do Estado acompanhamento psicossocial para auxílio e superação das situações que provocaram o afastamento. Quando, mesmo após esses esforços, o retorno à família biológica não se mostra possível, a criança é encaminhada para adoção para uma família que esteja devidamente habilitada e inscrita no Cadastro Nacional de Adoção. 

É importante ressaltar que o acolhimento familiar não é um “atalho” para a adoção, que tem critérios e requisitos próprios em conformidade com a Lei de Adoção. 

 

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Para acelerar etapas

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22 de dezembro de 2017

Parece não ser complexo: o casal visita o orfanato, conversa com as meninas que ali vivem e se interessa pela mais sorridente. Capítulos depois, a criança e os futuros pais adotivos já estão em um bom entendimento. Passam-se mais alguns dias e a menina aparece arrumando as malas, despedindo-se das colegas e partindo para uma nova casa.

O enredo em questão, mostrado este ano na reprise de uma telenovela em uma rede nacional, está bem distante da realidade. Extremamente burocrático, até como forma de evitar o tráfico de pessoas, o processo de adoção (veja as etapas no box ao lado) é demorado. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Jurimetria e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no ano de 2015, mostrou que após cumprido todos os trâmites, a efetivação final da adoção dura, em média, mais de dois anos nas regiões Centro-Oeste, Sul e Norte do Brasil, quase um ano e meio no Sudeste e pouco mais de seis meses no Nordeste. 

 
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“O que a gente chama de adoção tem vários passos. O primeiro é a pessoa que está interessada se habilitar para adotar. Depois, ela entra na fila, e é esse tempo que é o que mais demorado e vai variar de acordo com a preferência que o adotante fizer. Chegada a vez dele na fila, começa o estágio de aproximação com a criança, de convivência, que pode durar até 90 dias, prorrogáveis por mais 90. Se tudo der certo na aproximação, tem início o procedimento da adoção, ou seja, o processo para que saia a sentença dizendo que o pretendente à adoção é efetivamente pai daquela criança ou daquele adolescente”, detalhou, ao O SÃO PAULO , o juiz Iberê de Castro Dias, da Corregedoria Geral da Justiça e integrante da Coordenadoria da Infância e JUventude do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

 

Mudanças na lei 

Conforme dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), mantido pelo CNJ, há no Brasil 8.390 crianças e adolescentes aptos para adoção e 42.552 pretendentes nacionais, que em sua maioria preferem crianças brancas e com até 6 anos de idade. Existem ainda 309 pretendentes internacionais, sendo que destes, 91% aceitam adotar menores de qualquer raça e 66% têm preferência por crianças entre 8 e 10 anos.

Geralmente, os menores com algum problema de saúde, que hoje representam 25,6% do CNA (2.149 crianças e adolescentes) são preteridos na hora da adoção. A lei 13.509/2017, sancionada em novembro pelo Presidente Michel Temer, tem um olhar para essa situação e, a partir de mudanças no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), assegura a prioridade no cadastro de adoção para quem queira adotar menores com alguma deficiência, doença crônica ou com necessidades específicas de saúde, além de grupo de irmãos. 

De modo geral, a nova legislação buscar dar mais rapidez a algumas etapas de adoção, a partir de medidas como a redução de seis para três meses do período máximo que a justiça tem para reavaliar a situação de uma criança que esteja em abrigo, orfanato ou em acolhimento familiar; fixação do período de 90 dias para o estágio de convivência entre o menor e a família que pretende adotá-lo (antes não havia um prazo); e a obrigatoriedade de que o processo de adoção seja concluído em até 120 dias, prorrogáveis por igual período. 

A nova legislação também altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a fim de que os pais adotivos tenham as mesmas garantias de pais sanguíneos, como direito à amamentação, estabilidade provisória no emprego após a adoção e licença-maternidade. 

Temer vetou alguns pontos do texto aprovado no Senado, entre os quais o que determinava que “recém-nascidos e crianças acolhidas não procuradas por suas famílias no prazo de 30 dias" iriam para o cadastro de adoção. O Presidente disse que esse seria um tempo muito curto e citou o caso de mães com depressão pós-parto. 

“Foi um veto absolutamente pertinente, porque especialmente ao lidar com a população mais carente, há pessoas absolutamente desassistidas pelo Estado, outras passando por questões emocionais, por alguma dificuldade social ou familiar, e com esse prazo poderiam perder o filho. Além disso, a mãe no puerpério [período pós-parto de intensas modificações físicas e emocionais para a mulher] pode estar em uma condição psíquica que faz com que fique acometida com algo similar à depressão, rejeitando o filho, inclusive”, detalhou o Juiz.

 

Melhorar as condições dos tribunais 

Embora acredite que a nova legislação poderá dar mais agilidade aos processos de adoção, Castro Dias alerta que é preciso melhorar a estruturas das varas da infância e juventude. 

“Não adianta mudar a lei, mas não dar estrutura para as varas que hoje já não conseguem cumprir os prazos. Agora, por exemplo, se fixou que a adoção esteja concretizada em 120 dias, prorrogáveis por mais 120, um prazo que antes não existia. As varas têm estruturas muito distintas. Algumas que são específicas de infância têm uma quantidade adequada de funcionários, psicólogos, assistentes sociais, mas outras são acumulativas, nas quais o juiz tem de fazer de tudo, inclusive as questões sobre a infância, e nem sempre há uma quantidade adequada de pessoas para atender essa demanda”, comentou o juiz. 

Para aumentar o interesse das pessoas na adoção de crianças e adolescentes, o CNJ tem aperfeiçoado o CNA, com medidas como a unificação dos cadastros de adoção e o de crianças acolhidas, e deverá, em breve, permitir a pesquisa do histórico de acolhimento da criança, disponibilizar informações como o relatório psicológico e social e o Plano Individual de Acolhimento, além de consulta a fotos, vídeos, cartas e desenhos dos menores que estão na lista de adoção.

(Com informações da agência Brasil, Câmara Notícias, TJ-SP e CNJ)

 

 

OS 9 PASSOS DA ADOÇÃO

1º Você decidiu adotar
Então, procure a Vara de Infância e Juventude do seu município e saiba quais documentos deve começar a juntar. Independentemente do estado civil (solteiro, casado ou em união estável), a idade mínima para se habilitar à adoção é de 18 anos, desde que seja respeitada a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida.
 
2º Dê entrada no processo
Será preciso fazer uma petição – preparada por um defensor público ou advogado particular – para dar início ao processo de inscrição para adoção no cartório da Vara de Infância. Só depois de aprovado, seu nome será habilitado para constar nos cadastros local e nacional de pretendentes à adoção.
 
3º Faça o curso e a avaliação
O curso de preparação psicossocial e jurídica para adoção é obrigatório. Ao ser concluído, o candidato é submetido à avaliação psicossocial com entrevistas e visita domiciliar feitas pela equipe técnica interprofissional. Poderá haver, ainda, a avaliação da situação socioeconômica e psicoemocional dos futuros pais adotivos apenas com as entrevistas e visitas. O resultado dessa avaliação será encaminhado ao Ministério Público e ao juiz da Vara de Infância.
 
4º Escolha o perfil da criança
Durante a entrevista técnica, o pretendente descreverá o perfil da criança desejada: sexo, faixa etária, estado de saúde, se tem irmãos ou não. Quando a criança tem irmãos, a lei prevê que o grupo não seja separado.
 
5º Certificado de habilitação
A partir do laudo da equipe técnica da Vara e do parecer emitido pelo Ministério Público, o juiz dará a sentença. Se o pedido for acolhido, o nome do pretendente será inserido nos cadastros, válidos por dois anos em território nacional.
 
6º Apto para fazer a adoção
Uma vez incluso na fila de adoção de um estado, o pretendente precisará aguardar uma criança com o perfil que indicou. Vale lembrar que itens como estilo de vida incompatível com a criação de uma criança ou razões equivocadas (como adotar uma criança para aplacar a solidão; para superar a perda de um ente querido; ou superar uma crise conjugal etc.) podem inviabilizar uma adoção.
 
7º Surge a criança com o perfil desejado
A Vara de Infância e Juventude avisa o pretendente quando existe uma criança com o perfil indicado. Depois, o histórico de vida da criança é apresentado ao adotante; se houver interesse, ambos são apresentados. A criança também será entrevistada após o encontro e dirá se quer ou não continuar com o processo. Durante esse estágio de convivência, monitorado pela Justiça e pela equipe técnica, o pretendente pode visitar o abrigo onde está o menor, realizar pequenos passeios para aproximação e conhecimento. O que não existe é a situação de ir ao abrigo e escolher uma criança para adoção [como no exemplo da novela citado na reportagem].
 
8º Conhecendo o futuro filho
Se a etapa anterior de relacionamento ocorrer bem, a criança é liberada e o pretendente ajuizará a ação de adoção. Ao entrar com o processo, ele receberá a guarda provisória, que terá validade até a conclusão do processo. A criança, então, passa a morar com a família. A equipe técnica continua fazendo visitas periódicas e apresentará uma avaliação conclusiva.
 
9º Conclusão do processo de adoção
A última fase se dá quando o juiz profere a sentença de adoção e determina a lavratura do novo registro de nascimento, já com o sobrenome da nova família. Existe a possibilidade também de trocar o primeiro nome da criança. Nesse momento, o menor passa a ter todos os direitos de um filho biológico.
 
Fonte: CNJ

 

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Diferentes formas de amar

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22 de dezembro de 2017

A situação de crianças e adolescentes em todo o mundo inspira cuidados e atenção. Nos países pobres, são eles os mais vulneráveis e a quem são destinados projetos para que se garanta um desenvolvimento adequado em todos os níveis – físico, intelectual e emocional. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que todos têm direitos iguais. Mas, na prática, são inúmeras as situações de risco em que os menores de 18 anos são expostos, às vezes, dentro do próprio círculo familiar. 

Além dos processos de adoção, as Varas da Infância e da Juventude, em todo o País, têm desenvolvido programas específicos para incentivar o apadrinhamento afetivo. O padrinho ou a madrinha é aquela pessoa, ou casal, disposta a passar tempo com a criança ou com o adolescente que está em situação de abrigo e que, na maioria das vezes, não tem vínculos familiares e, se os têm, estes são, de alguma maneira, insuficientes. O principal objetivo, como o próprio nome sugere, é criar com o afilhado um vínculo afetivo estável e dar a ele a oportunidade de conviver com uma família ou comunidade para além da instituição em que está. 

 
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Anita Stefani e Thiago Pedro são casados há pouco mais de dois anos e ainda não têm filhos. Em 2016, Anita assistiu a uma reportagem sobre apadrinhamento afetivo e gostou muito da ideia de doar seu tempo e criar laços diferentes daqueles familiares. Foi quando o casal procurou o projeto e começou a ser acompanhado para compreender melhor como ocorreria o apadrinhamento. 

Em 2017, depois de quatro meses de formação e encontros semanais promovidos pelo Instituto Fazendo História e o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, eles se encontraram pela primeira vez com os adolescentes, que haviam optado por serem apadrinhados. “Fizemos três encontros lúdicos com os adolescentes e, com o auxílio da equipe técnica e dos profissionais que nos acompanharam, fomos sendo aproximados, ou seja, houve uma identificação entre padrinhos e afilhados”, contou Anita à reportagem do O SÃO PAULO.

O afilhado de Anita e Thiago tem 17 anos e já está se preparando para deixar o abrigo. Tendo passado por várias experiências diferentes, ele tem uma irmã que também está no Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto e encontrou nos padrinhos pessoas em quem confiar para contar seus medos e sonhos. “No início, nós tivemos medo também, e eu confesso que, em certo momento, estava cética sobre a possibilidade de desenvolver um vínculo afetivo forte com ele. Mas aconteceu de forma tão natural, que hoje eu não tenho dúvidas que o quero bem”, disse Anita.

 

Projeto Piloto

O apadrinhamento afetivo no Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto teve início em fevereiro de 2017 com um projeto piloto. Ele foi feito e pensado em parceria com o Fórum Central, pela Vara da Infância e da Juventude, junto ao Instituto Fazendo História. 

“A ideia era trabalhar pretendentes a padrinhos e as nossas crianças e adolescentes. Foi utilizada a metodologia do Instituto Fazendo História – que além do apadrinhamento tem atividades com crianças e adolescentes – e divulgadas as vagas para a comunidade, principalmente nas redes sociais. Muitas pessoas se inscreveram. O objetivo é atender crianças que têm dificuldades de se recolocar em alguma família, a maioria devido à idade”, explicou Marina Gomes, Coordenadora de uma unidade do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto.

O apadrinhamento afetivo também começou a ser desenvolvido em junho de 2016, numa parceria entre a Vara da Infância e da Adolescência de Santo Amaro e o Centro Universitário Assun Amar ção (Unifai).  A partir da divulgação do projeto em diferentes mídias e em canais de televisão, muitas pessoas inscreveram-se no site do Unifai. “Foram mais de 400 inscrições desde o começo”, disse, à reportagem, Alessandra Medeiros, Coordenadora do curso de Serviço Social no Unifai.

“Oferecemos um curso de capacitação que fala sobre apadrinhamento do ponto de vista legal, e principalmente no que difere da adoção, bem como quais as características das crianças e adolescentes institucionalizados e outros aspectos importantes para os pretendentes. Para isso, colaboram o curso de Pedagogia, de Direito e de Serviço Social. Depois disso, há uma avaliação social, realizada pelos professores assistentes sociais do Unifai, e a avaliação psicológica com uma professora psicóloga. Emitimos um parecer social e psicológico e encaminhamos esses relatórios para a Vara de Santo Amaro e também a do Jabaquara, que por sua vez, entram em contato com os abrigos”, explicou Alessandra. 

Em contato com uma média de 30 abrigos, o projeto teve, em um ano e meio, 24 apadrinhamentos bem-sucedidos. “Parece pouco, mas é um processo de afunilamento. Temos muitas crianças e adolescentes disponíveis, mas nem sempre os padrinhos interessados se enquadram no perfil. Por exemplo, não é fácil encontrar alguém disposto a apadrinhar uma criança com deficiência num abrigo em Parelheiros, no extremo Sul da Capital”, disse ela. 

Para Alessandra, uma das principais preocupações é justamente a expectativa dos candidatos ao apadrinhamento. “As pessoas buscam um perfil de crianças semelhante ao da adoção. Por isso, ainda temos muitas crianças e adolescentes nos abrigos. É preciso despertar a consciência das pessoas. Apadrinhar requer doação de tempo, não significa só levar para comer um lanche ou passear e devolver para o abrigo”, continuou Alessandra.

Já no Centro Nossa Senhora do Bom Parto, sete adolescentes passarão pela experiência de viver o Natal e o Ano Novo junto às famílias dos padrinhos. É o caso do afilhado de Anita e Thiago. “Vamos passar o Natal com a família do meu esposo, no interior de São Paulo. Quando falamos para os meus sogros sobre levar nosso afilhado, eles foram extremamente receptivos e disseram: ‘aqui é que nem coração de mãe, sempre cabe mais um’. Já o Ano Novo, vamos passar na praia. Acho que será uma experiência bem diferente para ele e nós também estamos ansiosos”, contou Anita.

 

Uma rede de solidariedade

“Como é gratificante escutar do seu afilhado que você é uma das pessoas mais importantes na vida dele. Esse é o caminho. Nem sempre fácil e tranquilo, mas o caminho certo.”

A frase foi escrita por Patrícia Leite Lopes, 51, no dia 14 de outubro, na Página Apadrinhamento Afetivo, que ela mesma criou para compartilhar as experiências com o afilhado. Ela também conheceu o projeto por meio de divulgação na mídia e realizou o curso da capacitação em 2016 para compreender melhor a iniciativa. 

“É tudo realizado de maneira muito séria. Não há, por exemplo, uma escolha do afilhado. É a equipe multidisciplinar que faz o pareamento e identifica o que é mais adequado para todos”, explicou Patrícia à reportagem. Ela salientou que o mais importante é que os adultos possam tornar-se referência para os adolescentes abrigados nas instituições. “É bom lembrar que se trata de um apadrinhamento afetivo, não material. É preciso ter disponibilidade de tempo, perceber as necessidades deles, demonstrar carinho, e criar uma rede de acolhimento. Com o tempo, o padrinho também é aquele que ajudará a fazer uma ponte entre o afilhado e o mundo fora do abrigo”, continuou ela. 

Aos 16 anos, o afilhado de Patrícia está em abrigos públicos desde os 5 anos e hoje cursa o primeiro ano do ensino médio. “Ele tem uma irmã no abrigo e outro irmão que já completou 18 anos e saiu do abrigo. A mãe e esse irmão mais velho o visitam frequentemente”, contou Patrícia. Para ela, o objetivo é criar um elo forte de confiança e amor, “quem sabe para o resto de nossas vidas”.

 

Doações também são bem-vindas

Mas para quem não consegue apadrinhar uma criança ou adolescente, devido a questões pessoais, há outros modos de colaborar. Além do apadrinhamento afetivo, muitas instituições trabalham com padrinhos financeiros. São, na maioria, projetos que possibilitam às crianças mais oportunidades de educação e cultura, ou até mesmo em relação a cuidados básicos, como higiene e alimentação. 

A Comunidade Católica Missão Belém, por exemplo, mantém, com a doação de padrinhos, uma escola no Haiti, num dos lugares mais afetados pelo terremoto de 2010. Em entrevista ao O SÃO PAULO, publicada em outubro de 2016, a Irmã Renata Lopes, que está há sete anos no Haiti, enfatizou que as pessoas têm sofrido com a miséria e que grande parte das crianças não vai à escola. “Nossa principal ação tem sido com a educação. O centro educacional atende 1.100 crianças que iniciam no berçário e vão até o 5º ano. Elas passam o dia todo conosco e têm direito a atendimento médico, odontológico, três refeições diárias e a oportunidade de ter e sonhar com uma vida melhor”, disse a Religiosa. Para apadrinhar uma criança no Haiti, basta doar R$ 50,00 por mês. Mais informações pelo e-mail soscriancahaiti@gmail.com. 

Outras instituições mantêm projetos semelhantes internacionalmente. É o caso do “Fé e Alegria”, idealizado pelos jesuítas. Por meio de doações e do trabalho voluntário de jovens do mundo inteiro, eles mantêm centros de atendimento a crianças e adolescentes. Na cidade de Manaus (AM), por exemplo, há centros com aulas de línguas estrangeiras e de esportes, num dos bairros mais carentes daquela capital. No site www. feealegria.org.br é possível doar a partir de R$ 30,00 e ser informado, imediatamente, quantas crianças serão ajudadas com o valor. 

Criado em 1939, com o apoio do à época Arcebispo de São Paulo, Dom José Gaspar d’Affonseca e Silva, o Amparo Maternal acolhe gestantes e mães com bebês que se encontram em situação de vulnerabilidade. O Amparo realiza o acolhimento social e assistência à saúde materno-infantil. A instituição recebe vários tipos de doações, também financeiras. De janeiro a junho de 2017, o Amparo realizou 3 mil intervenções obstétricas, sendo a maior parte delas partos normais.  Para contribuir é só entrar em contato pelo (11) 5089-8275 ou pelo e-mail doacoes@amparomaternal.org. 

A Casa Bakhita, por sua vez, é uma instituição que funciona como um lar transitório. As crianças que vão para a Casa Bakhita, no bairro do Belém, são retiradas das famílias pela justiça, porque estas não têm condições de cuidar das crianças ou as submetem a maus tratos. Ligada ao Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, a instituição atende crianças até os 3 anos e também trabalha com doações. Informações pelo número (11) 2692-4569 ou pelo e-mail casabakhita@ig.com.br.
 

 

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Cresce o número de adoções no Brasil

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22 de dezembro de 2017

Segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), houve em 2017, até o mês de outubro, 1.142 adoções no Brasil. Se comparado com o total de crianças adotadas em 2011 – 648 – o número praticamente dobrou. Os mesmos dados informam que atualmente existem 8.390 menores cadastrados à espera de uma família e, por outro lado, há 42.552 pretendentes buscando adotar uma criança ou um adolescente. 

Por trás desses números, existem histórias de alegria, tristeza, abandono e esperança de pessoas que desde os primeiros anos de vida esperam ser acolhidas em uma família e daqueles que desejam oferecer a experiência da paternidade e da maternidade para meninos e meninas. Por isso, nesta edição especial de Natal, o jornal O SÃO PAULO apresenta a realidade das adoções no Brasil como uma forma concreta de acolher o Menino Jesus.

 

 

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Números

O tema da adoção no País ainda é um desafio de enormes dimensões. Segundo o Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (Cnca), organismo também do CNJ, o Brasil tem 47 mil crianças e adolescentes atualmente vivendo em abrigos. Se há tantas pessoas dispostas a acolher uma criança sem família, por que o número de meninas e meninos do cadastro não para de crescer? Na avaliação do próprio CNJ, a resposta pode estar na discrepância entre o perfil da maioria das crianças do cadastro e o perfil da criança imaginada pelos que aguardam na fila da adoção. 

As crianças mais velhas que vivem em abrigos continuam tendo maior dificuldade para conseguir famílias que as adotem. Das crianças adotadas neste ano, 351 tinham mais de 5 anos ao ser concretizada a adoção – ou seja, 30,7%. Em 2011, apenas 6,7% dos pretendentes cadastrados aceitavam crianças com mais de 5 anos; em 2017, esse percentual aumentou para 20,2%. A aceitação de crianças negras também melhorou: em 2011, apenas 31% dos pretendentes estavam abertos a adotá-las; em 2017, esse percentual é de 52,3%. Isso, de acordo com o perfil do CNA, desmente a crença comum de que a principal dificuldade das adoções seja a racial.

Outro fator que costuma ser sério entrave à saída de crianças e adolescentes das instituições de acolhimento, de acordo com as estatísticas do CNJ, é a baixa disposição dos pretendentes (34,91%) para adotar irmãos. Entre os aptos à adoção do CNA, 59,49% possuem irmãos. Como os juizados de Infância e Adolescência dificilmente decidem pela separação de irmãos que foram destituídos das famílias biológicas, as chances de um par (ou número maior) de irmãos achar um novo lar é pequena.

 

Adolescentes

O Advogado José Paulo Militão de Araújo, que já atuou em processos de adoções nacionais e internacionais, explicou ao O SÃO PAULO que muitos casais pretendentes temem adotar crianças mais velhas ou adolescentes não por razão de preconceito, mas pelo receio de não saberem lidar com as dificuldades próprias da idade, que podem ser agravadas pela situação de abandono vivida por esses menores. “O pré-adolescente ou adolescente adotado não é diferente dos demais, mas pode ter algumas características que precisam ser levadas em consideração. Essas crianças, por exemplo, podem entrar em conflito com a nova regra da casa, a nova rotina. E muitas famílias não estão preparadas para lidar com isso”. 

 

Demora na disponibilização

Para José Paulo, um dos principais problemas é a demora do sistema para disponibilizar as crianças para a adoção. Depois que a criança é retirada da guarda dos pais, após a constatação de alguma forma de abandono, são feitas inúmeras tentativas de reinseri-la na família.  Porém, esse processo é lento, chegando a durar até quatro anos. “Muitas vezes, os pais se comprometem em acolher as crianças, mas isso nunca se concretiza. Essas crianças vivem um abandono dentro do abandono. Por conta disso, não são disponibilizadas para adoção até que entra na adolescência e começa a ficar mais difícil de ser adotada”, destacou o Advogado.

 

Acompanhamento pós-adoção

Segundo José Paulo, uma maneira de mudar a mentalidade das pessoas quanto à adoção de crianças mais velhas é oferecer apoio e acompanhamento às famílias após a conclusão do processo. Ele mesmo é pai adotivo de uma menina que hoje tem 14 anos e foi adotada quando estava completando 8 anos. Além da garota, o Advogado tem dois filhos mais velhos. “Por isso que eu digo da importância de um acompanhamento pós-adoção. Felizmente, nós temos condições de arcar com isso, mas, no geral, as pessoas não têm esse acompanhamento”, ressaltou. 
 

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Adoção, uma opção pelo amor

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22 de dezembro de 2017

“ As crianças” - como carinhosamente são chamados pelo pai - Yuri, 16; Pedro, 11 e Tiago, 10, estavam no ensaio do coral de Natal do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), quando Itamar Alves Rodrigues concedeu esta entrevista, na casa onde mora com a esposa e seus quatro filhos, em Araçuaí (MG), à reportagem do O SÃO PAULO . 

Bárbara Martins Rodrigues e Itamar são casados há 25 anos e moravam na Capital Paulista até o nascimento do primeiro filho, Carl Jung Rodrigues, em 1996. “Quando ele era pequeno, percebemos que não queríamos que ele crescesse numa cidade tão grande”, disse Itamar. 

 
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A família se mudou para o sul de Minas Gerais, mas acabou indo para o Vale do Jequitinhonha, na região Nordeste do estado, onde nasceu Bárbara. Neste meio tempo, o casal conheceu Reno Riboni e Anna Rossi, casal de italianos responsável pela Associação Comunidade Papa João XXIII, uma família espiritual composta por pessoas de diferentes idades e estados de vida. A vocação da Comunidade consiste em seguir Jesus e compartilhar diretamente a vida com os excluídos pela maioria da sociedade. 

Eles então resolveram entrar para a Comunidade e, desde então, perceberam que a vida nunca mais seria a mesma. No início, eles acolhiam temporariamente crianças e adolescentes que estavam esperando para serem reinseridos na família ou adotados. “Passaram, com certeza, mais de 15 crianças pela nossa casa e os três que adotamos são aqueles que não tinham para aonde ir”, disse Itamar.

Os membros da Associação seguem o princípio de paternidade responsável, que procura cuidar dos acolhidos e fazê-los sentir-se parte da família. Independentemente de serem filhos naturais ou não, eles devem ser amados como se tivessem que ficar para sempre no lar. No Brasil, há casas nos estados de Minas Gerais, Paraíba, Bahia e Pará, de acordo com informações do site.

Quando perguntado sobre o porquê dessa escolha pela adoção, Itamar disse que é uma opção de vida e que ele viveu exemplos próximos de adoção na família que, de alguma maneira, os inspiraram. “Minha avó adotou uma filha e também minha mãe teve uma filha adotiva, minha irmã mais nova, que mora atualmente em São Paulo”, afirmou.

 

Especial

O maior desafio do casal aconteceu há sete anos, quando eles receberam Yuri, o único que, legalmente, ainda não é filho de Itamar e Bárbara. Eles têm poucas informações sobre a história de Yuri, que já tinha passado por casas de outros membros da Comunidade e tem vários distúrbios psicológicos, uma deficiência mental leve e transtorno do espectro autista. “O Fórum da região nos chamou para dizer que o processo de adoção está parado e que eles não têm mais defensores públicos disponíveis. Se quisermos, devemos contratar um advogado particular. Mas nós não temos condições financeiras e nem tempo de ir várias vezes à promotoria pedir que revejam essa decisão”, explicou Itamar, que trabalha na área de Tecnologia da Informação. 

Atualmente, o casal tem a guarda ampla de Yuri, que, além do acompanhamento psiquiátrico, faz muitas outras terapias que têm ajudado enormemente no seu desenvolvimento. “O serviço de cuidar dos filhos de outras pessoas, qualquer um pode fazer. Mas nós escolhemos viver este tipo de vida”, falou Itamar, que agora está atravessando, como pai, as crises de adolescência e pré-adolescência dos filhos. 

 

 

 

Cumplicidade

O pai de Carl, que atualmente aos 21 anos está em Diamantina (MG) estudando o 3º semestre do Curso de Humanidades, disse que a acolhida de outros três filhos só foi possível devido ao forte relacionamento com a esposa. “Além de casados, nós somos amigos e temos muita cumplicidade”, disse Itamar. “Bárbara é mais equilibrada do que eu e tem muita força nos momentos mais difíceis. Mas, às vezes, sentimos que falta um pouco de espaço para nós”, continuou ele, que salientou o fato de há muitos anos não sair sozinho em companhia da esposa e que os dois aproveitam a noite, quando todos já foram dormir, para conversar entre eles. 

Bárbara e Itamar têm também uma rotina de oração, que os sustenta espiritualmente, e assumiram viver uma vida pobre e simples, em que o que conta é o essencial. “Não temos condições de acolher mais crianças até por uma questão de espaço”, contou Itamar, que falou sobre a rotina corrida de trabalho, e o acompanhamento das atividades dos filhos. “Eles fazem esporte, música e muitas outras atividades além daquelas escolares, e nós estamos sempre muito atentos para não incorrer em nenhuma injustiça, pois como eles têm temperamento totalmente diferente, às vezes, podemos nos aproximar mais daqueles que são mais carinhosos”, confessou Itamar.

No que se refere à adoção de forma mais ampla, o pai de Carl, Yuri, Pedro e Tiago disse que já tentou criar, na cidade onde mora, grupos que se simpatizam com a adoção. “Eu sei que o medo é normal em cada um de nós. O medo de se abrir ao outro, ao desconhecido. Não é simples acolher como filho alguém que você não conhece. O mais importante, a meu ver, é considerar a pessoa para além do seu passado.” 

Outro aspecto levantado por ele é o fato de as pessoas idealizarem os filhos a serem adotados. “Escolher a idade, a aparência ou até mesmo a raça é um obstáculo para os pretendentes à adoção. É natural que a gente não consiga se libertar nesse aspecto. Mas o que eu digo para as pessoas que querem adotar é que é preciso largar tudo nas mãos de Deus e confiar Nele. Na verdade, o nosso sonho é que não existissem crianças disponíveis para adoção e que todas as crianças encontrassem amparo e cuidado dentro das suas famílias”, salientou Itamar. 

 

Apoio

Sandra Maria Mahfoud Marcoccia tem 63 anos, é casada e atualmente está aposentada, depois de trabalhar muitos anos como psicóloga. Mãe do Rafael, 36; da Camila, 34, e da Karina, que foi adotada com 3 anos e hoje tem 27, ela mora em São Bernardo do Campo (SP) e contou como foi sua experiência de adoção, ligada à Comunidade que frequentava. 

“Uma vez, por meio da Comunidade, soubemos de quatro irmãos que ficaram órfãos e isso provocou em mim e no meu marido muita comoção. Foi quando começamos a pensar na possibilidade de adoção. Depois de alguns anos, conhecemos a Karina e sua situação de vida e decidimos entrar com o pedido de adoção. O processo foi longo dentro do esperado, mas não foi complicado”, contou Sandra. 

Ela explicou que a adaptação foi tranquila para todos, tanto por parte do casal como da Karina e dos irmãos. “Existia, evidentemente, uma preocupação, mas tivemos o acompanhamento de um sacerdote, de amigos, o apoio da família, uma decisão de superar os problemas que pudessem vir e, graças a Deus, foi tudo muito bom. A nossa experiência foi muito positiva.” 

Outro aspecto que Sandra ressaltou foi o apoio recebido. “Eu diria que a adoção é uma aventura que vale a pena ser vivida, mas que nunca se deve vivê-la de maneira solitária. Para nós, o fato de estarmos inseridos numa comunidade cristã foi muito importante, porque tínhamos ajuda nas dificuldades e, principalmente, porque nos lembravam o motivo maior por que fazer todas as coisas”, disse ela.
 

 

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